O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, inicialmente, congratular-me com as organizações juvenis e populares, em manifestação pelo Brasil afora, em defesa de bandeiras muito significativas, que têm - e quero entender assim - o objetivo de não deixar o nosso País regredir naquilo que nós conquistamos, com o sentido de consolidação democrática e de avanços econômicos, no sentido de modernizar o sistema público de transporte coletivo do Brasil e de aumentar os recursos destinados à educação e à saúde pública.

            Que consigamos colocar na ordem do dia as lutas que travamos no Congresso Nacional - o Senador Paulo Paim está aqui comigo - pela redução da jornada de trabalho - trata-se de uma emenda à Constituição que denota uma luta já antiga dos trabalhadores brasileiros -; pelo fim do fator previdenciário, que atinge a aposentadoria de todos os trabalhadores brasileiros; e também pela redução da taxa de juros. É um verdadeiro roubo! Isso é que é roubo! É roubo grande! Não é roubo pequeno, não! Só que é um roubo chamado de legal. Só no ano passado, foram R$219 bilhões para os banqueiros. Atenção, Brasil, juventude, trabalhadores! Foram R$219 bilhões que a banca levou do País, o que não é pouca coisa! Repito: não é pouca coisa! É muito dinheiro! É praticamente um roubo oficializado, porque está baseado em regras legais no nosso País.

            Considero muito importante a mobilização popular, para que possamos aprofundar o sentido das mudanças no nosso País, esse caminho mais avançado e mais arrojado das mudanças. Que não deixemos, não permitamos que o movimento seja instrumentalizado, com o falso discurso de antipartidário, por setores conservadores da direita brasileira que têm muita força na mídia monopolizada e oligopolizada no Brasil.

            Temos de ter essa consciência da batalha política que se trava em torno de bandeiras muito importantes que a juventude brasileira tem abraçado, meu caro Senador Paulo Paim, que esteve conosco na busca de diálogo entre nós e os manifestantes. Nós o fizemos muito corretamente. Acho que é assim que devemos proceder sempre, com diálogo.

            Quero registrar a atitude da segurança da Casa, que teve a tranquilidade de, em nenhum momento, aceitar qualquer tipo de provocação, e também de parte majoritária dos manifestantes que estavam ali, na tranquilidade. Apenas alguns tentavam invadir o prédio do Congresso Nacional, mas a segurança teve tranquilidade e paciência. Ficamos por longo tempo no Congresso Nacional, no Senado. Estávamos atentos. Se fosse preciso dialogar e debater, estávamos ali eu, V. Exª, o Senador Suplicy e também o Senador Rollemberg.

            Concedo um aparte ao Senador Paulo Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Mais uma vez, peço a tolerância da Senadora Vanessa.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - É claro!

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Sei que, no espaço de breves comunicações, nenhum aparte seria permitido, mas, neste momento, acho que é legítimo até mesmo rompermos um dos artigos do Regimento,...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - ...para que possamos, no plenário do Senado, falar sobre o que aconteceu ontem no Brasil e que repercutiu em todo o mundo. Nos cinco continentes, repercutiu o fato de milhares e milhares de jovens e de outros não tão jovens estarem nas ruas. Senador Inácio Arruda, alguns pensam que está correto, ao ver o movimento dos jovens, abandonar os aposentados, os pensionistas e os idosos. Conversei, hoje pela manhã, com jovens do meu Rio Grande, e muitos me disseram: “Paim, o meu velho, lá em casa, pediu, pelo amor de Deus, que eu fosse para as ruas. Ele não podia ir, mas eu estava na rua, representando-o e também me lembrando dos idosos e dos aposentados.” Esse apelo...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Essa manifestação não tem idade, mas é liderada pela juventude. Mas os pais, as mães... Nos corredores do Senado, encontrei diversos funcionários que me disseram: “Meus filhos estavam lá, Senador. Obrigado por apoiar. Eles estavam lá por mim, fazendo um movimento, porque a situação nossa está insustentável.” Estou falando aqui de aposentados e de pensionistas, porque esses que falaram comigo falavam dos pais, dos avós. Por isso, quero cumprimentar V. Exª.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - Eu o cumprimento.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Nós sabemos que esse movimento não terminou hoje.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - É claro!

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Ele vai continuar, e nós todos temos de abrir as portas dos Poderes constituídos para atender à demanda que o povo brasileiro está colocando na pauta.

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - A minha opinião é a de que as centrais sindicais que emitiram nota ontem convoquem a mobilização em torno da redução da jornada, em torno do fim do fator previdenciário e da reposição adequada do salário dos aposentados, usando o Facebook, usando as redes sociais. Acho que isso agora é um fator importante da mobilização, um instrumento adicional que os manifestantes ganharam no mundo inteiro, evidentemente também no Brasil.

            Mas, Srª Presidente, ao concluir meu pronunciamento, quero registrar a estranheza de todos nós e fazer repercutir no Senado uma nota de repúdio que foi lançada pelo Conselho Nacional de Engenharia no nosso Estado do Ceará em razão da suspensão do tráfego ferroviário da Linha Sul do Estado do Ceará. Esse trecho da Linha Sul liga o Ceará com Pernambuco, com a Paraíba, com o Rio Grande do Norte e com parte do Piauí. Estranhamente, esse trecho foi suspenso com a ideia de que, com a construção da nova linha da Transnordestina, as operações teriam de ser suspensas. Mas o dono da empresa que ganhou esse trecho no processo de privatização da malha ferroviária da antiga RFFSA, a Rede Ferroviária Federal, anuncia que não há carga, que não há material para transportar. É impressionante!

(Soa a campainha.)

            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE) - O País cresceu, o País se desenvolveu, há mais mercadorias sendo transportadas por tudo quanto é canto do Brasil. Será que, somente na nova empresa, na Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), que é a concessionária, não há carga? Nós precisamos de uma explicação mais clara da CFN a respeito dessa matéria, dessa nota do Conselho Regional de Engenharia, que precisa de uma resposta que explique melhor o que aconteceu para paralisarem as atividades da rede ferroviária que liga o Nordeste e, no caso, o Ceará com vários Estados do Nordeste.

            Então, Sr. Presidente, quero deixar registrada nos anais esta nota do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Ceará.

            Muito obrigado.

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR INÁCIO ARRUDA EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

- Nota de repúdio do Crea-CE. Suspensão do Tráfego Ferroviário da Linha Sul.