Pela Liderança durante a 128ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas aos gastos do Governo Federal com publicidade; e outro assunto.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas aos gastos do Governo Federal com publicidade; e outro assunto.
Aparteantes
Pedro Taques.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2013 - Página 53269
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, EXCESSO, GASTOS PUBLICOS, PUBLICIDADE.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Governo. PT/DF. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador Jarbas Vasconcelos trouxe aqui a denúncia, a convicção, a ênfase no fato que nós estamos enganados.

            Nós estamos enganando quando falamos em uma agenda positiva, que é uma agenda de marketing do Senado, casada com a agenda de marketing do Governo, querendo enfrentar as manifestações, concretas, reais, Senador Taques, do povo nas ruas.

            Mas é mais do que isso, Senador Roberto Requião. Pela sua fala, nós estamos querendo usar as manifestações do povo com a desculpa de que estamos fazendo a reforma que eles querem para tirar o poder deles.

            Quando o senhor diz nós estamos, hoje, no Senado, querendo caçar nossa palavra através de uma censura neoliberal, Senador Taques, que é não transmitir nossos discursos na intensidade que se deve, o que se está fazendo é dizer ao povo: vocês querem mudar todos os deputados e senadores. Pois vamos tomar uma medida que dificultará a nossa mudança por vocês, porque a medida que o tempo de campanha encurta fica mais difícil tirar cada um de nós daqui. É uma medida de manutenção dos nossos mandatos contra os candidatos que as ruas vão apresentar em 2014, porque um jovem que está nas ruas hoje, ele não têm a exposição que nós temos. Se eles são candidatos, eles já entram com uma desvantagem em relação a nós, que estamos aqui, na Câmara dos Deputados, na Assembléia Legislativa e na Câmara de Vereadores.

            Ao reduzir o tempo de campanha, nós estamos amarrando a democracia brasileira àqueles que já têm mandatos. Isso não é o que o povo quer. O povo quer exatamente o contrário. O povo quer mudar a gente e colocar outros no lugar. Eu falo isso dos democratas, porque tem uns que não querem nem colocar outros no lugar; querem simplesmente nos tirar e fechar isso aqui.

            Então, Senador, a sua colocação foi muito oportuna. Eu confesso que não estava sabendo disso, mas espero que nós aqui nos rebelemos contra essa decisão que aparentemente foi da Mesa, não sei, e que não é possível de se fazer. Nem a ideia de reduzir o prazo de campanha, que ainda virá para cá, e a gente tem que reverter aqui, nem isso...

            O Sr. Roberto Requião (Bloco Maioria/PMDB - PR) - Na verdade, Senador, já foi reduzido pela metade há algum tempo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Governo/PDT - DF) - Já foi reduzido, isso mesmo. Vão reduzir tanto que vão acabar com ela e vão dar mandato vitalício para cada um dos que hoje são parlamentares.

            Então, contra isso a gente tem que lutar aqui, na hora em que chegar a proposta.

            O outro é essa ideia da transmissão de nossas falas sendo restritas a horários sem audiência. Mais uma vez também, Senador, é não entender o que está acontecendo nas ruas. As audiências estão caindo - se é que estão, mas eu imagino que sim - pela falta de credibilidade nossa. Em vez de nós fazermos mandatos que retomem a credibilidade para que a audiência da TV Senado aumente, jogamos programas alternativos que busquem a audiência no lugar dos nossos discursos, porque o povo está percebendo que são vazios. É jogar contra, é não entender, é estupidez não sentir o que a política está dizendo nas ruas. É omissão e é cinismo também. 

            Eu digo isso, Senador, mas ao mesmo tempo eu quero falar de outra coisa aqui.

            Os jornais de hoje dizem - e eu comprovei pelas análises estatísticas da minha assessoria - que o Governo da Presidenta Dilma gastou 3,56 bilhões de publicidade, em 2010 e 2011 -, 3,56 bilhões. É dinheiro pra caramba, não é? Mas isso fica muito mais visível quando a gente compara com o quanto foi gasto na construção de creches: 2% disso, 100 milhões. Cem milhões, se a gente considera que as 50 creches feitas são do maior custo possível. Se elas não são, aí sim, a situação é ainda pior.

            Nós não podemos continuar com essa ideia, também manipuladora, de gastar muito dinheiro em publicidade para dar impressão de que o Brasil vai bem enquanto não se gasta dinheiro com aquilo de que o Brasil tanto precisa, que são creches para as nossas crianças e as mães e as famílias dos nossos meninos e meninas na primeira infância. Mas é o que está acontecendo. Gasta-se dinheiro com publicidade para dar impressão de que não se está precisando de creche, que o Governo vai bem, que o Governo está produzindo, funcionando, fazendo o trenzinho de que o Senador Requião falou ainda há pouco.

            É um absurdo esse uso do orçamento em que se gasta 50 vezes mais em publicidade do que em creche. Eu não vou comparar com outros itens, mas também daria para comparar. O próprio jornal Folha de S.Paulo, que faz a denúncia dos gastos com publicidade, compara com a quantia necessária para a obra de transposição do Rio São Francisco.

            Eu acho que muito mais grave é o resultado dessa comparação com o gasto em creche. Com esses três bilhões daria para fazermos 1.700 creches em vez das 50 que foram feitas. Vejam bem: 50 no lugar de 1.700 que poderiam ter sido feitas!

            Alguns dizem: “Mas são campanhas importantes”! Essas campanhas importantes não custariam mais do que 100 ou 200 milhões por ano. “Use camisinha no Carnaval”, por exemplo. Não há muitas campanhas dessas. “Dê gotinhas”, da campanha de vacinação. A imensa maioria dessas campanhas é institucional, inclusive aquelas feitas pelas estatais, que querem passar a ideia de que o Governo está fazendo um Brasil muito melhor do que ele é, em vez de usar esse dinheiro para fazer com que o Brasil fique melhor e não para que o Brasil seja mostrado como se fosse melhor.

            Eu fico muito preocupado quando vejo o povo na rua exigindo, e a gente tendo um governo que gasta dinheiro com publicidade para dar a impressão de que as coisas vão bem, em vez de gastar com aquilo que é preciso para que, de fato, fiquemos bem, como esse item que escolhi: creche para as nossas crianças na primeira infância.

            Eu quero pedir licença ao Presidente para passar a palavra ao Senador Pedro Taques.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco Governo/PDT - MT) - Senador Cristovam, o Senador Requião trouxe uma novidade. Quer dizer que, até 20h30, a TV Senado transmitirá, como vem fazendo, o pronunciamento dos Senadores e a participação nas comissões - algumas comissões se iniciam às 18 horas. E, depois das 20h30, não mais a fala dos Senadores, mas a repetição do que foi feito desde as 14 horas. Isso é um absurdo. Em Estados do Norte, Centro-Oeste e Nordeste, a audiência da TV Senado é altíssima, porque o cidadão quer ouvir o que o seu representante tem a dizer, não programas feitos por jornalistas competentes - é bom que se diga - desta Casa, programas para debater assuntos outros, matérias frias, por exemplo. Como nós poderemos perder um debate como esse que aqui foi travado entre o Senador Jarbas, o Senador Requião e V. Exª, tratando da questão econômica? Quem vai assistir de madrugada não é o trabalhador. De madrugada, o trabalhador está dormindo para acordar às 5 horas da manhã para voltar a trabalhar. Portanto, nós temos que discutir isso sim com a Presidência, temos que debater isso sim com a Mesa do Senado. Quanto à segunda parte do discurso de V. Exª, é um governo cerveja, é um governo sabonete, é um governo refrigerante, que precisa fazer propaganda. É óbvio que nós precisamos de que o Governo faça propagando institucional, como V. Exª fez referência à saúde, à educação, à segurança, a propagandas institucionais. Agora, gastar essa fábula, quase o orçamento de uma produtora de Hollywood para divulgar as obras - muitas vezes, obras inacabadas - do próprio Governo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

            Eu concluo dizendo, Senador, que o povo na rua quer acabar com o voto secreto, e a gente criando o discurso secreto, porque é isto que vai haver agora. Além de votar secretamente, sem ninguém saber em quem votamos, agora nós vamos fazer discursos secretos, para que o povo não saiba o que cada um de nós está dizendo.

            É isso Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2013 - Página 53269