Pela Liderança durante a 151ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre as revelações feitas pelo programa Fantástico acerca da espionagem americana no Brasil.

Autor
Randolfe Rodrigues (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AP)
Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA, POLITICA ENERGETICA.:
  • Considerações sobre as revelações feitas pelo programa Fantástico acerca da espionagem americana no Brasil.
Aparteantes
Wellington Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2013 - Página 61547
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA, POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • COMENTARIO, DENUNCIA, ESPIONAGEM, AUTORIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), VITIMA, GOVERNO BRASILEIRO, ENFASE, ATIVIDADE ECONOMICA, DEFESA, SUSPENSÃO, REALIZAÇÃO, LEILÃO, CAMPO, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, PRE-SAL, LOCAL, SANTOS (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, NECESSIDADE, CONVOCAÇÃO, PRESIDENTE, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), COMPARECIMENTO, SENADO, OBJETIVO, ESCLARECIMENTOS, ASSUNTO.

            O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Apoio Governo/PSOL - AP. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Caríssimo Presidente Senador Eduardo Suplicy, obviamente, venho à tribuna continuar, na linha dos colegas que me antecederam, a tratar dos notórios acontecimentos, das revelações de ontem feitas pelo programa Fantástico da Rede Globo, através de dados revelados pelo Sr. Snowden, transferidos através de reportagem e pesquisa do jornalista Glenn Greenwald, transmitidos ontem, ineditamente, em uma série de reportagens, inicialmente feitas pelo jornal O Globo e ontem no programa Fantástico da Rede Globo.

            Os dados de ontem dão continuação ao estarrecimento com aquilo de que nós temos sido vítimas, demonstram a extensão da espionagem americana sobre o nosso País.

            Na semana passada, as revelações davam conta de que a própria Presidenta da República havia sido espionada. E não só a Presidenta, como seus principais assessores. Ontem, a reportagem fundamentada do Fantástico trouxe algo que já era de desconfiança nossa. Obviamente, quando a primeira revelação sobre esses fatos ocorre, feita por reportagem do jornal O Globo de junho deste ano, nos traz uma primeira constatação.

            Qual o interesse que a NSA, a agência de inteligência norte-americana, tinha em investigar um país que tem mais de dois séculos de tradição de independência e não tem nenhum tipo de relação com atividades terroristas? Se o intuito, o interesse da espionagem americana é proteger os cidadãos americanos de atividades terroristas, de Estados que protegem atividades terroristas, de organizações terroristas, a primeira questão que vem à tona é: qual é o interesse em espionar o Brasil? Um país que, desde a sua independência, desde a sua República, não tem nenhum tipo de tradição, de relação com algum tipo de organização ou Estado que tenha tradição desse tipo? Um país que, tradicionalmente, ao longo da sua história, sempre manteve uma relação cordial com os Estados Unidos. Obviamente, vem uma conclusão em decorrência disso, o interesse na espionagem em relação ao nosso país não tem nada de interesse, e isso é apontado nos dados da NSA, que nos são revelados pelo Sr. Snowden, os interesses da NSA em Estados estrangeiros são em atividades terroristas, em atividades políticas, em atividades militares e em atividades econômicas.

            Obviamente, não há nenhum interesse terrorista em relação ao nosso País e não há nenhum interesse militar em relação ao nosso País. Obviamente que o interesse político em relação ao nosso País e ao continente latino-americano existe já há algum tempo, desde a Guerra Fria, porque a localização geopolítica da potência americana compreende o continente latino-americano dentro da geopolítica de influência estadunidense. Obviamente que o principal interesse em acessar os dados e as informações brasileiras é, em especial, o interesse econômico.

            Claro que no decorrer de todas as revelações que temos tido desde as primeiras reportagens do jornal O Globo, desde os primeiros documentos revelados pelo Sr. Glenn Greenwald, desde os primeiros acontecimentos e eventos que passam, desde a prisão, a detenção arbitrária do companheiro do Sr. Glenn Greenwald, na Grã-Bretanha, passando pelas revelações de documentos, inclusive na vinda do Sr. Glenn Greenwald aqui, à Comissão de Relações Exteriores do Senado, e nas últimas duas reportagens da Rede Globo, do programa Fantástico, começa a ficar claro qual era o interesse norte-americano, Senador Pedro Taques.

            Os documentos que temos visto revelam que, além de Governo e de diplomatas, os americanos têm interesse em espionar companhias aéreas, companhias de energia e organizações financeiras.

            É dito textualmente nos documentos da NSA que 50% a 80% do que a NSA consegue coletar nas redes privadas de tráfego de dados, 50% a 80% de tudo que é coletado nas redes privadas por parte da agência, são importantes para esta agência de espionagem norte-americana.

            O Presidente Obama e seus diplomatas, a imprensa americana, inglesa e de outros países, tentam justificar essa espionagem, como já disse, em nome do combate ao terrorismo. O próprio Presidente americano disse que espiona o mundo para melhor conhecê-lo.

            Cada brasileiro sabe que ter acesso à tecnologia é primordial para ser poderoso, seja em tempos remotos, seja, principalmente, no mundo atual. A pergunta inevitável é: que ações terroristas estariam infiltradas na Petrobras, em sua rede privada? Que ações terroristas estariam infiltradas nos computadores, nas pesquisas e na tecnologia de extração de petróleo em águas profundas da nossa empresa, que é a quarta empresa petrolífera do Planeta?

            Logo após as revelações de espionagem, alguns ministros foram convocados por esta Casa. Nas audiências realizadas, fiz questão de lembrar que o relatório europeu de 2001 detectou que o sistema de espionagem denominado Echelon foi usado pelos Estados Unidos para colaborar com a empresa americana Raytheon, por ocasião da disputa lançada pelo Governo brasileiro por serviços e equipamentos para o Sistema de Vigilância da Amazônia, o Sivam. Os americanos, obviamente, venceram a disputa.

            Então, vejam, meus senhores, minhas senhoras: logo no começo dessa década, nos primeiros anos deste século, existia claramente um compartilhamento dos dados, que eram buscados pela CIA e pela NSA com as empresas privadas norte-americanas para que as empresas privadas norte-americanas fossem beneficiadas das concorrências realizadas por governos estrangeiros. O caso do Sivam é o mais notável neste sentido.

            Diante desses fatos, mesmo antes de terem ocorrido, mesmo antes das revelações de ontem, do programa Fantástico, da Rede Globo, existia uma pergunta inevitável, óbvio: Se nós não temos atividades terroristas, se nós temos uma relação cordial com o governo dos Estados Unidos da América, se não existe de nossa parte ameaça militar ao governo norte-americano, qual o interesse em nos espionar?

            Fica latente que o único interesse é econômico. Obviamente, a primeira pergunta que fiz aos ministros, quando estiveram aqui na Comissão de Relações Exteriores, ao Ministro Celso Amorim, ao Ministro-Chefe da Segurança Institucional da Presidência da República e ao então Ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota, era qual a garantia que tínhamos, se tínhamos alguma garantia do risco de vazamento de informações estratégicas do futuro leilão do campo de Libra, marcado para o próximo dia 10 de outubro.

            De tudo que pode haver sobre espionagem, da espionagem que houve sobre a Presidente da República, da espionagem que houve sobre os assessores da Presidente da República, essas com todo o respeito, são informações que menos interessam a essa altura.

            O que interessa a nós brasileiros, o que interessa ao Estado brasileiro, o que interessa ao povo brasileiro é saber quais informações que os americanos, que a NSA americana teve sobre a Petrobras e sobre o leilão do campo de Libra. Foi isso que perguntei ao Ministro Celso Amorim e ao Ministro Antonio Patriota quando os convocamos aqui, quando das primeiras revelações do Sr. Glenn Greenwald, quando das revelações dos primeiros documentos do Sr. Snowden. Faço questão aqui de trazer a pergunta que fizemos e a resposta do Ministro Celso Amorim naquela ocasião.

            A pergunta que fiz: Essas informações dão conta de outra questão, da vulnerabilidade das nossas informações diante da NSA? Faço, inclusive ao General José Elito, ao Ministro Celso Amorim, ao Ministro Patriota, por exemplo: qual a garantia que nós temos, se não temos garantia nenhuma, se temos vulnerabilidade nas nossas empresas, nas nossas informações estratégicas? Qual a garantia que nós temos? Que informações estratégicas como, por exemplo, a do próximo leilão do pré-sal, previsto para outubro, riqueza estratégica nossa para o futuro? Essas informações não estão vulneráveis? Não estão vulnerabilizadas para empresas norte-americanas? Qual a segurança que temos para o próximo leilão? É a pergunta que faço, foi feita há duas semanas ao General José Elito, ao Ministro Celso Amorim, ao Ministro Antonio Patriota. O General José Elito não respondeu. O Ministro Patriota, o então Ministro das Relações Exteriores, não respondeu.

            O Ministro Celso Amorim, respondeu o seguinte:

            Senador Randolfe Rodrigues, em primeiro lugar, obrigado pelas palavras; em segundo lugar, queria dizer que a questão que V. Exª levantou é muito pertinente. Quero dizer lendo informações que inclusive estão disponíveis até na Internet sobre esses programas; eles sim visam também a informações econômicas, eles visam a obter informações sobre contratos aparentemente. Não tenho nenhuma informação reservada que diga isso, as próprias informações disponíveis na Internet demonstram isso. Eu queria só reiterar - continua o Ministro -, algo que eu disse no início, nem o Brasil, o nosso Centro Cibernético, nem nenhum outro país têm capacidade de proteger de maneira absoluta todas as informações. Eu acho que o exemplo que V. Exª mencionou... Bem uma rápida divergência, nós não temos acesso às informações estratégicas sobre as reservas de pré-sal americanas. Nós não temos acesso, a nossa Petrobras, que eu saiba, não tem acesso às informações estratégicas sobre reservas de petróleo americanas ou de outra nação.

            O que me foi dito então é que não temos garantia de que eles não podem ter acesso às nossas informações estratégicas. Ou seja, nós não temos acesso às informações deles e eles podem ter acesso às nossas informações.

            Continua o Ministro:

            Nem talvez de espionar tudo, se bem que o tal programa que mencionei aqui tinha essa ambição, mas de qualquer maneira não há essa possibilidade.

            Eu acho que o que nós temos... Acho que isso cabe muito ao gabinete de segurança institucional, por isso não vou entrar, difundir uma consciência e a necessidade de proteger a informação pelos meios de que nós podemos dispor. Criptografia... Que alguém já perguntou se ela era absoluta? É difícil dizer, mas você vai criando dificuldades para que isso exista. Comportamentos que garantam menor vazamento desse tipo de informação, por exemplo, sobre esse tema que V. Exª mencionou do leilão do pré-sal.

            Eu quero dizer que, mesmo num cenário ideal, mesmo que o nosso centro de defesa cibernética venha a se desenvolver muito, ele não vai ter condição de criar um escudo sobre todas as informações do Brasil. Essa foi a resposta do Ministro Celso Amorim, pessoa por quem tenho profundo respeito e considero pessoa adequada para o posto que ocupa no Ministério da Defesa, mas foi a resposta clara sobre a fragilidade que existe, sobre as informações relativas ao nosso pré-sal e sobre o leilão do campo de Libra.

            Óbvio está que, mais cedo ou mais tarde - não tenho nenhum dom de profeta para ter feito essa pergunta, não tenho nenhum dom, não tenho nenhuma vocação -, parece que qualquer lógica dedutiva sugeriria que... Qual era o interesse norte-americano em espionar o Brasil?

            Quando fiz essa pergunta há duas semanas, repito, não tenho nenhum dom profético, Senador Eduardo Suplicy, estava óbvio e patente que o interesse da NSA americana aqui era claramente econômico. Ontem a reportagem do Fantástico só veio a concretizar o que nós já suspeitávamos.

            Portanto, Senador Suplicy, meus senhores e minhas senhoras, todos os alertas foram feitos e estava patente, o próprio Ministro nos disse, da fragilidade que havia sobre as informações relativas ao nosso pré-sal. Mesmo assim, o Governo brasileiro insistiu em lançar um edital para licitação do campo do petróleo da área do pré-sal, mesmo o Estado brasileiro à mercê de espionagem de uma potência internacional.

            O edital de licitação do pré-sal foi lançado. Mas é mais do que isso. Segundo a ANP, as recentes descobertas no campo de Libra, mostram um volume de óleo, de gás existente em uma região, esperado de 26 bilhões a 42 bilhões de barris. Com uma recuperação estimada em 30% do volume total, a perspectiva é que Libra seja capaz de produzir de 8 bilhões a 12 bilhões de barris de petróleo, o que pode nos dar a autossuficiência na produção de petróleo.

            Nós estamos diante de um bilhete premiado para o nosso futuro; nós estamos diante de uma riqueza indefinida sobre o seu valor; e nós estamos diante de uma constatação: o nosso País, essa riqueza, esse bilhete premiado, onde estão localizados esses campos estratégicos, foi espionado. Foram verificadas essas informações pelas empresas e pelo Estado norte-americano. Mais do que isso: nós temos a informação de que o Estado norte-americano, a NSA trabalhou, atuou em cooperação com as suas empresas privadas, como no caso Sivam. Tudo indica que isso deve estar ocorrendo também com as suas empresas de petróleo nesse caso específico. Até as mais profundas pedras da costa brasileira sabem que nos computadores da Petrobras se encontram duas joias raras imensamente cobiçadas por seus concorrentes: a tecnologia de exploração em águas profundas e os locais há mais óleo na área do pré-sal.

            Pois bem. Essas duas joias raras que estão nos computadores da Petrobras foram acessadas, pelas informações que nós obtivemos, pela empresa de espionagem norte-americana.

            Hoje já devem ser informações que estão de posse de empresas norte-americanas; hoje já são informações que estão de posse das empresas petrolíferas norte-americanas.

            Mais do que isso: os documentos revelados pelo Fantástico não somente confirmam que a Petrobras foi espionada, mas também afirmam que tais informações são socializadas com o que eles chamam de Five Eyes, ou seja, os cinco olhos, as cinco nações as quais os Estados Unidos definem como principais aliados. São estes os cinco olhos: Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Coincidência ou não, nos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e Canadá estão localizadas as principais empresas petrolíferas do mundo. São essas empresas que devem estar, neste momento, inscrevendo-se para participar do leilão no próximo dia 10 de outubro do campo de Libra. São essas empresas que já devem ter tido acesso às informações da NSA, que foram criminosamente capturadas dos computadores da Petrobras. São essas empresas que, neste momento, já podem ter tido acesso às informações estratégicas da Petrobras e que vão participar do leilão do campo de Libra no dia 10 de outubro com informações privilegiadas.

            Por isso, Sr. Presidente, por essas circunstâncias, algumas medidas cabem a nós a partir de agora. Se o governo americano nos espiona, essa medida, essa atitude é do governo americano. Nós podemos nos indignar, como tenho visto a indignação de muitos colegas Senadores aqui. Se o Estado norte-americano nos espiona para acessar os dados da Petrobras e compartilhar esses dados com as suas empresas e com as outras empresas que são consorciadas da Austrália, da Nova Zelândia e do Canadá, essa é uma atitude deles. Eles devem ter, como o próprio Presidente Obama já disse, as suas atitudes e medidas de salvaguarda e defesa dos seus interesses nacionais.

            Agora, cabem a nós brasileiros, cabem ao Estado brasileiro as medidas de defesa e salvaguarda dos nossos interesses - cabem, agora, as nossas medidas.

            A Presidente da República pode, neste momento... Nós estamos a mais ou menos um ano da eleição presidencial, e eu não quero que a Presidente da República tome medida populista ou eleitoralista. Mas a Presidente da República pode tomar uma medida de estadista. Neste momento em que a Nação é agredida, em que uma riqueza nossa está sob a temerária condição de estar à mercê de ficar vulnerável à cobiça e aos interesses estrangeiros, a Presidente da República pode tomar a medida de líder nacional, de estadista e, imediatamente, pedir, determinar à Petrobras a suspensão do leilão do campo de Libra, marcado para o próximo dia 10 de outubro. É o primeiro apelo que faço aqui desta tribuna. Não há condições morais ou políticas de o leilão do próximo dia 10 de outubro, do campo de Libra, ocorrer. Esse leilão já está viciado, esse leilão não corresponde ao interesse nacional. Nós já sabemos quem vencerá esse leilão: as empresas norte-americanas, os trustes norte-americanos. As grandes empresas americanas e seus associados australianos e canadenses já sabem onde está o filé-mignon desse leilão, é um leilão com carta marcada, é um leilão do qual alguns vão participar com informações privilegiadas. Não há condição de ele ser realizado, não há como ele ser realizado. Então, o primeiro apelo que faço desta tribuna é para que a Senhora Presidente da República determine, de imediato, a suspensão desse leilão.

            Mas não posso ficar aqui da tribuna, como agente público, a fazer só um apelo, não é meu dever só fazer um apelo porque pecaria por omissão. Estou protocolizando um requerimento. Vou conversar hoje com o Presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e com o Presidente da Comissão de Relações Exteriores, Senadores Lindbergh e Ricardo Ferraço respectivamente. É urgente convocarmos aqui a Presidente da Petrobras, convocarmos aqui o Ministro das Relações Exteriores e convocarmos aqui, se necessário, o Ministro da Defesa e o Ministro-Chefe da Segurança Institucional da Presidência da República. É necessário que a nossa CPI, como já disse há pouco, tome posição em relação a isso e aprove também uma moção pela suspensão imediata do leilão do campo de Libra.

            E mais do que isso: é necessário que haja uma manifestação, inclusive jurídica. O nosso partido vai buscar inclusive os meios jurídicos, se assim for necessário. No meu entender cabe, e é necessário, um urgente mandado de segurança junto ao Supremo Tribunal Federal, em nome da soberania nacional, para suspender a realização desse leilão do próximo dia 10 de outubro.

            Esse leilão se encontra, Sr. Presidente - e falo isso já para concluir - completamente viciado. Aliás, esse leilão já era, por si só, uma concessão ao mercado. Não me parece que seria necessário começarmos tão cedo a exploração dessa importante reserva, muito menos entregá-la à exploração das vorazes empresas dos Five Eyes por alguns trocados para equilibrar a nossa balança de pagamentos. Se, antes dos primeiros dados da espionagem americana, estava patente e evidente para todos nós o interesse econômico dessa espionagem, ficaram mais claros e patentes quais são os interesses da espionagem americana em Território nacional.

            A Presidente e o Governo brasileiro têm reagido bem até agora, e com firmeza, no meu entender, Senador Wellington Dias, diante das agressões que temos sofrido. Eu acho que é o momento de termos uma reação definitiva diante dos dados mais recentes que têm sido revelados.

            Senador Wellington, é com prazer enorme que ouço o aparte de V. Exª.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Sou eu que agradeço a V. Exª e ao Senador Suplicy por esta oportunidade. Primeiro, quero lhe dizer que estávamos agora, com o Senador Suplicy, tratando exatamente do momento em que a Presidenta sancionou - Senador Suplicy, V. Exª participou deste trabalho, e destaco aqui a importância do trabalho do Senado - a regulamentação de recursos dos royalties e da participação especial, de pré-sal e de pós-sal, de gás e de petróleo voltados para a educação e também, por uma vontade do Congresso Nacional, para a saúde. A Presidenta Dilma encaminhou um projeto em que a ideia era destinar 100% da parte relacionada a resultados do fundo social e da parte de recursos da própria União de área já licitada para a educação, mas ela compreendeu. E aqui houve uma negociação com o Ministro Aloizio Mercadante, o Ministro Padilha, a Ministra Ideli e outros que representaram aqui o Governo, em que tivemos a aprovação - pela Câmara, depois pelo Senado e depois pela Câmara novamente - da destinação de recursos na ordem de 75% para a educação e de 25% para a saúde. E o que isso tem a ver? Isso tem a ver com o que V. Exª coloca, que é o leilão do campo de Libra. E ela citava, há pouco, Libra, Lula e outros que são campos que estão entre os maiores do mundo. Os lotes, os blocos de petróleo estão dentre os maiores em vazão prevista do mundo. É uma reserva muito grande. Pois bem. Certamente, eu acho que o próprio Governo está indo a fundo sobre a espionagem. É claro que se trata de algo com que precisamos ter cuidado. O cancelamento de uma licitação internacional, aguardada há tanto tempo pelo Brasil, principalmente de interesse dos brasileiros... Eu mesmo aqui venho cobrando isso sistematicamente, porque é uma fonte de recurso. Aliás, será uma das grandes fontes para a saúde e para a educação, porque é um recurso próprio da União, é todo da União; a fonte dali retirada é toda da União. O fato, Senador Randolfe, é que o Governo está analisando com o pensamento...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Wellington Dias (Bloco Apoio Governo/PT - PI) -... de V. Exª, aqui, hoje, e o Senador Pedro Simon também fez um pronunciamento nessa direção. Como Líder do PT e Líder de um Bloco de partidos nesta Casa - também tenho a honra de partilhar essa responsabilidade com o PSOL -, podemos ter a clareza de examinar qual é o prejuízo, qual é a informação vazada de forma ilegal, via espionagem, por exemplo, que poderia permitir uma desigualdade na concorrência, além de permitir que alguém obtivesse mais informação do que os outros que estariam participando dessa concorrência e favorecer quem quer que seja, inclusive investidores americanos ou investidores do seu interesse. Então, é por essa razão que é vital este momento. Aliás, estamos vivendo um momento... Eu, que gosto muito de cinema, confesso que não tinha noção de que pudesse chegar a essa agressividade que se viu. Normalmente vemos, em filmes de espionagem, um país tecnologicamente avançado, de Primeiro Mundo, investigando um país pequeno; ou, durante muito tempo, nessa luta entre Rússia e Estados Unidos, quem espiona mais o outro. O fato concreto é que é algo que marca a história do mundo. Isso abre um debate. A Presidenta participou agora de um evento internacional em que ela, como uma estadista, como representante do Brasil, mostrava, pela soberania do País, a indignação com o que aconteceu. Ela, inclusive, estuda a possibilidade de não ir aos Estados Unidos numa missão que já estava agendada. Isso interfere profundamente numa nova relação do Brasil com países da Europa e de outras partes do mundo que também foram espionados, como a França e vários outros, para que haja medidas que permitam um controle eficiente.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Wellington Dias (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Não basta só: “Sim, desculpe-me”. E para frente, como é que vai ser? Então, é algo que realmente marca muito. Se nós avançamos com satélites, com formas de comunicação, nós precisamos avançar na democracia do uso desses instrumentos de comunicação. Então, queria aqui dizer a V. Exª, através da Rádio Senado e da TV Senado, e a todos os que nos assistem que, da parte do Governo da Presidenta Dilma, não tenham dúvidas, não haverá um leilão, uma licitação, se ela não tiver plenas condições de igualdade. Se houver um mínimo de possibilidade de alguém tirar proveito de informações, informações feitas de forma criminosa, certamente essa será uma medida a ser tomada, apenas para que se tenha a checagem da realidade. Qual é o lado bom? O Brasil já tem acesso às informações que permitirão deduzir a verdade desses fatos. Deverá, nas próximas horas, nos próximos dias, anunciar uma posição. Queria parabenizar V. Exª, como Parlamentar, como brasileiro, repito, a exemplo do Senador Pedro Simon. Ainda há pouco conversava com o Senador Suplicy, enquanto estávamos lá na solenidade com a Presidenta Dilma, e tratávamos exatamente desse tema. Não tenha dúvida, a posição do Governo brasileiro, a posição de nossa Bancada, de nosso Bloco, será a mesma, no sentido de que se tenha total correção, retidão, enfim, isenção nesse processo. Muito obrigado.

            O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Apoio Governo/PSOL - AP) - Caríssimo Líder, Senador Wellington Dias, não poderia esperar de V. Exª atitude, iniciativa diferente pela postura de V. Exª, pelo compromisso social de V. Exª e pela defesa do interesse nacional. Quero reiterar...

(Soa a campainha.)

            O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Apoio Governo/PSOL - AP) - E falo isso, Senador Suplicy, para concluir o meu pronunciamento.

            Os dados colocados - o que foi revelado -, desde o início, desde as primeiras informações reveladas pelo jornal O Globo, mostram claramente qual o interesse de espionagem que havia em nossa nação - de tradição pacífica, com nenhuma cooperação em atividade terrorista internacional -, por parte da maior potência política, militar, bélica, econômica e internacional.

            Acredito que a reportagem de ontem responde a essa questão. O interesse é fundamentalmente econômico. É por isso que, no meu entender - obviamente, ouço e respeito a posição de V. Exª, Senador Wellington -, creio que a Presidente da República está apurando todas as informações e quero acreditar que terá todas as informações necessárias para tomar a única posição que é possível neste momento: resguardar os interesses nacionais, com a imediata suspensão do leilão do próximo dia 10 de outubro, do leilão do campo de Libra. A imediata suspensão! E, para isso, é fundamental que também nós do Parlamento busquemos os meios necessários para auxiliarmos nessa medida.

            Por isso, compreendo necessário, fundamental e indispensável ouvirmos aqui a Presidente da Petrobras. E considero necessário tomar todas as medidas necessárias e urgentes… Esse leilão, no meu entender, já está viciado, porque as informações desse leilão hoje já, lamentavelmente, não são mais de posse da Empresa Brasileira de Petróleo; elas hoje, lamentavelmente, já são de posse da Shell, já são de posse das empresas norte-americanas, já são de posse das empresas australianas…

(Soa a campainha.)

            O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Apoio Governo/PSOL - AP) - … das empresas canadenses, enfim, já são de posse das grandes empresas de petróleo, que já querem participar desse leilão com interesse de abocanhar o nosso bilhete premiado, de abocanhar as nossas riquezas.

            Portanto, a única medida possível, nesse momento, é a suspensão imediata desse leilão em defesa dos interesses do Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2013 - Página 61547