Discurso durante a 140ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2013 - Página 57337

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, creio que todos estão de acordo com que foi um absurdo o Governo boliviano manter o Senador preso por 430 dias, se não me engano, sem dar o salvo-conduto. Creio que, se ele tivesse cometido um crime comum, ao ser asilado pelo Brasil, a Bolívia deveria dar o salvo-conduto, mas não deu.

            Se ela não deu, Senadores, o que a gente faz? Manda um helicóptero, com tropas, resgatar o exilado brasileiro lá? Não poderíamos fazer isso. Mas foi o que nós fizemos. Não fizemos com um helicóptero, mas com dois fuzileiros que, ao longo de toda essa distância, acompanharam o Senador. Foi uma operação militar, não foi apenas uma operação diplomática. E se eles fossem parados pela polícia? O que é que os nossos fuzileiros fariam? Resistiriam dando tiros na Polícia boliviana ou entregariam as armas das Forças Armadas brasileiras a policiais bolivianos?

            Foi uma inconsequência. Além disso, foi uma indisciplina de um diplomata reputadíssimo, querido por todos que o conhecem em Brasília. E aqui em Brasília nós todos, quase, o conhecemos. Não poderia ter tomado uma decisão dessas por conta própria, colocado o Senador no seu carro, dois fuzileiros navais, e sair pelo território boliviano sem autorização, sem o conhecimento do Governo brasileiro.

            É um gesto que traz consequências muito profundas, não porque a Bolívia esteja reagindo, mas pelo precedente aberto. A partir de agora, qualquer um que conseguir entrar na Embaixada da Bolívia em Brasília vai poder usar o argumento junto ao Governo boliviano para ser resgatado nas caladas da noite. Isso não é correto.

            Agora, ao mesmo tempo, eu quero dizer que me preocupa a fala do Senador Aécio - não sei se está aqui -, porque, embora nós sejamos todos iguais aqui, há diferenças. Cada um de nós representa o seu Estado. O Senador Aécio, hoje, representa o seu Estado e encarna a postura de um pretendente a Presidente da República. E, como Presidente da República, ele incentivou a indisciplina do corpo diplomático brasileiro. Isso é muito grave. Ele tem que encarnar a Nação brasileira neste momento menos do que ficar num discurso puramente de enfrentamento com o Governo. Ele tem que dizer aqui o que ele diria, ou dirá, se for Presidente da República. E nenhum Presidente da República justificaria um ato desses.

            Eu lamento muito que tenha acontecido o fato, e gostaria que o Senador candidato a Presidente Aécio Neves refletisse como um Presidente da República em potencial e percebesse que o nosso corpo diplomático serve à Nação brasileira, e não ao seu coração. O Saboia fez um gesto heroico e fez um gesto humanista, mas fez um gesto indisciplinado, não fez um gesto de diplomata. Eu o respeito bastante pelo seu humanismo, mas não pelo seu profissionalismo. Ele estava ali como profissional da Nação brasileira, que tem uma Presidente, que tem um Senado, tem uma Câmara, tem um Ministro das Relações Exteriores, a quem ele deveria não apenas se reportar, mas cumprir. E, se não estivesse de acordo, pedisse para mudar de Embaixada. Mudasse de profissão, como tanta gente fez durante a ditadura, deixando as Forças Armadas, mas simplesmente ir pelo seu humanismo, seu coração, que nós respeitamos e admiramos, e ignorar o papel do Estado brasileiro foi um ato muito grave, que, felizmente, já acarretou uma decisão com a demissão do Ministro Patriota.

            Foi um gesto correto da Presidenta ao mostrar para a Bolívia e ao mundo que o Governo brasileiro não compactua com indisciplinas.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2013 - Página 57337