Discurso durante a 141ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa do Programa Mais Médicos do Governo Federal.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PROGRAMA DE GOVERNO, SAUDE. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.:
  • Defesa do Programa Mais Médicos do Governo Federal.
Aparteantes
Anibal Diniz, Armando Monteiro, Cristovam Buarque, Eduardo Braga, Eduardo Suplicy, Sergio Souza, Waldemir Moka, Wellington Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 29/08/2013 - Página 57675
Assunto
Outros > PROGRAMA DE GOVERNO, SAUDE. DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
Indexação
  • DEFESA, PROGRAMA DE GOVERNO, GOVERNO FEDERAL, REFERENCIA, CONTRATAÇÃO, MEDICO, ESTRANGEIRO, EXERCICIO PROFISSIONAL, LOCAL, INTERIOR, BRASIL, OBJETIVO, ATUAÇÃO, REGIÃO, DEFICIENCIA, ATENDIMENTO, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), CRITICA, ENTIDADE, MEDICINA, INCENTIVO, POPULAÇÃO, XENOFOBIA, CHEGADA, PESSOA FISICA, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA.
  • CRITICA, JORNALISTA, REGIÃO NORDESTE, MOTIVO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, REFERENCIA, CHEGADA, ESTRANGEIRO, CUBA.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE. Para proferir o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores ouvintes da Rádio Senado, senhores telespectadores da TV Senado, volto à tribuna, na tarde de hoje, para novamente discutir um tema da maior importância e da maior atualidade do nosso País. Eu me refiro ao Programa Mais Médicos.

            Na verdade, eu retorno por entender que é preciso fazer um debate político importante, neste momento, sobre um tema que diz respeito ao interesse de toda a população brasileira. Eu quero repetir, mais uma vez, antes de iniciar minha fala, que sou médico, que entendo as razões que, muitas vezes, os médicos têm. À época em que eu ingressei no mercado de trabalho, nós tínhamos, de fato, uma profissão aviltada pela falta de consideração por parte da população, por salários absolutamente incompatíveis com a importância da profissão. Portanto, conheço essa problemática. Por essa razão, penso que tenho autoridade para falar sobre esse tema nos dias atuais.

            Todos nós sabemos que não vamos resolver o problema da saúde unicamente trazendo mais médicos e levando mais médicos para os lugares que precisam. Nós sabemos que a solução para o problema da saúde, de modo geral, é mais ampla, necessita mais recursos. E é por isso que nós apresentaremos, na semana que vem, a nossa proposta de aumento dos recursos para a área da saúde, concorde ou não o Governo com essa proposição. Nós sabemos que é preciso instituir, no Brasil, uma carreira que seja atraente para os médicos, para que eles possam se espalhar pelo País.

            Não é à toa que estamos conversando sobre isso. O Senador Vital do Rêgo apresentou uma proposta, e o Senador Paulo Davim está elaborando o seu relatório sobre essa questão. Nós sabemos que tudo isso é necessário. Sabemos que é necessário investir na área da média complexidade, do atendimento especializado, mas, obviamente, sabemos também que a carência de profissionais, especialmente de médicos, é um problema.

            Foi por isso que o Governo Federal apresentou a proposta do Programa Mais Médicos, que não é - como alguns querem fazer crer - apenas a vinda de médicos estrangeiros para trabalhar no Brasil. É uma proposta mais ampla, que trata de pensar a formação de médicos no Brasil no curto, no médio e no longo prazos, que começa, pela primeira vez na história da saúde pública do Brasil, a planejar a formação de novos profissionais.

            O Mais Médicos é a abertura de novas faculdades de medicina. O Mais Médicos é a ampliação do número de vagas nas escolas já existentes. O Mais Médicos é a residência médica obrigatória para todos os profissionais formados no nosso Brasil. O Mais Médicos é um conjunto de investimentos de bilhões de reais que vão fortalecer a atenção básica, que vão fortalecer o atendimento de média e de alta complexidade.

            Obviamente que uma proposta como essa, que pensa o longo e o médio prazo, precisa pensar também o curto prazo. E foi por isso, Sr. Presidente, que o Governo brasileiro apresentou dois editais de chamamento de médicos nacionais. No primeiro chamamento, de mais de 16 mil profissionais, menos de 2 mil concluíram as inscrições e decidiram participar do programa nas áreas mais carentes do Brasil. Portanto, está claro, é óbvio que hoje, no Brasil, nós temos um mercado de trabalho médico extremamente aquecido. E não é por maldade ou por qualquer outra questão negativa que os médicos não vão trabalhar aonde nós mais precisamos, mas porque em Brasília, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Recife e em Salvador é perfeitamente possível trabalhar ganhando bem e vivendo em áreas onde o acesso a bens e serviços é muito amplo. Por isso é que nós precisamos de profissionais de outros países para atender a nossa população aonde os médicos brasileiros não vão.

            É triste o episódio a que nós estamos assistindo hoje. Certamente os médicos devem ter razões, e as têm, em relação a pontos dessa medida provisória, mas, em vez de travarem o debate, de estabelecerem o diálogo, de virem aqui para o Congresso convencer os Parlamentares de quais são os melhores caminhos para viabilizar uma solução para o problema da falta de profissionais médicos no Brasil, as entidades médicas - e eu tenho certeza de que não são os médicos brasileiros, mas os dirigentes dessas entidades - terminam por favorecer o surgimento de ações que não somente envergonham todos nós médicos, mas envergonham todos nós brasileiros.

            O preconceito, a xenofobia e o racismo não podem ser o fator e a linha para a construção de uma nova sociedade. Não. Antes de pensarmos nos interesses corporativos, temos que pensar nos interesses do cidadão, como o índio do Amapá, que, pela primeira vez na nossa história, terá, em cada aldeia indígena, um profissional médico 24 horas por dia para atender a população. O interior do Pernambuco, do Piauí, do Ceará e do Rio Grande do Norte, onde, muitas vezes, não há um médico sequer que resida em algumas cidades, a partir de agora, terá médicos - ou brasileiros ou cubanos ou espanhóis ou argentinos, pouco importa - para atender a população.

            Por isso, nós temos de dizer hoje aqui, com todas as letras: por essa visão estreita, as entidades médicas estão jogando o movimento dos médicos a uma situação de isolamento. Não precisaria ser assim. Todos nós aqui temos absoluta sensibilidade para discutir as questões que forem justas. O próprio Governo já admitiu ser incorreto tentar ampliar o número de anos para formação de um médico no Brasil, até porque precisamos também de médicos especialistas, e, quanto mais rapidamente essa especialização se fizer, melhor para o nosso País. Também há outros temas que podem ser objeto dessa discussão, mas não da forma como isso está sendo discutido hoje no Brasil.

            E aí há aqueles oportunistas de plantão, a direita empedernida que não consegue debater o tema sem tentar trazer um viés ideológico à discussão de médicos cubanos e a presença deles na Venezuela. Aqueles que trazem esse debate, que é da época da Guerra Fria, da época da ditadura, precisam se informar. Cuba é um país que tem um dos melhores sistemas de saúde do mundo. A mortalidade infantil é menor que a nossa, a mortalidade materna é menor que a nossa, o desenvolvimento tecnológico de produtos para a área de saúde é melhor que o nosso, a formação dos médicos cubanos é mais longa que a nossa. Portanto, o que hoje se tenta propagar é preconceito, é um debate ideológico que já deveria ter sido enterrado há muito tempo.

            Ora, a primeira discussão era que não se deveriam abrir novas faculdades de medicina - perderam esse debate; que não deveriam ser ampliadas as vagas nas escolas públicas nos cursos médicos - perderam esse debate; que não poderiam ir para o interior, porque faltavam condições de trabalho - perderam esse debate; que se houvesse abertura de vagas para médicos brasileiros, eles iriam, e não foram - e perderam esse debate.

            E agora aqueles que não estão preocupados com os brasileiros que não têm nenhum acesso ao sistema de saúde estão agora preocupados com as condições de trabalho daqueles que vêm de outros países.

            Sr. Presidente, os médicos cubanos não são desempregados. Eles são funcionários públicos do governo cubano. Eles têm os seus salários e sobrevivem com dignidade nos seus países.

(Soa a campainha.)

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Portanto, não cabe a nós aqui travar este debate rasteiro de que se está fazendo a escravidão de profissionais de saúde. Aliás, são esses que sempre viveram da senzala; são esses que sempre exploraram e escravizaram o nosso povo que fazem o coro agora de que nós estamos escravizando profissionais de outros países. Não, Sr. Presidente.

            E nós vamos ganhar esse debate na população brasileira. Tenho certeza de que o Congresso Nacional dará a resposta correta, porque aqui nós não somos advogados, nem médicos, nem engenheiros, nem empresários; somos representantes do povo. E aqui nós temos de pensar no povo e não no corporativismo de quem quer que seja.

            Por isso, Senador Suplicy...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - (...) eu tenho certeza de que o Programa Mais Médicos deve (Fora do microfone.) ser aprovado aqui no Senado Federal e na Câmara dos Deputados por larguíssima maioria, porque o Congresso, porque o Brasil, porque o Senado, eles estão preocupados com o povo; não estão preocupados com aqueles que querem preservar o mercado de trabalho, onde eles podem dizer quanto ganham e quanto devem ganhar.

            Mas eu ouço o Senador Eduardo Suplicy, com anuência de V. Exª, Sr. Presidente.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Eu também gostaria de um aparte, Senador.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Quero neste aparte a V. Exª, Senador Humberto Costa, também transmitir a minha solidariedade aos médicos cubanos que se portaram de uma maneira mais respeitosa logo ao chegarem ao Brasil. Infelizmente, alguns médicos, numa atitude que não me pareceu adequada, resolveram hostilizá-los com palavras que não são as mais educadas nem respeitosas. Quero aqui dar as boas-vindas aos médicos cubanos e também aos argentinos, aos espanhóis e aos de outros países que estão vindo ao Brasil com a disposição de colaborar o quanto antes com a saúde do povo brasileiro, especialmente das regiões mais distantes, às vezes até das periferias, inclusive da minha São Paulo, onde falta número suficiente de médicos. Que um maior número de médicos possa hoje, tal como em outros países, colaborar conosco. Isso significará uma interação muito positiva com os próprios médicos brasileiros nessa convivência com médicos de outros países. Todos nós aprenderemos mais, e acredito que devemos, sim, apoiar o Programa Mais Médicos na direção daquilo que V. Exª está propugnando. Parabéns!

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Agradeço e incorporo o aparte de V. Exª.

            Ouço o Senador Armando Monteiro.

            O Sr. Anibal Diniz (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Senador Humberto.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Também peço um aparte, Senador.

            O Sr. Armando Monteiro (Bloco União e Força/PTB - PE) - Senador Humberto Costa, eu queria me congratular com V. Exª. Acho que V. Exª coloca muito bem essa questão e repõe no debate, infelizmente, enviesado muitas vezes. V. Exª recoloca bem a questão. Há, no Brasil, algo que nós devemos, nesse momento, refletir, que é esse corporativismo exacerbado. As corporações estão perdendo a medida de onde se coloca verdadeiramente o interesse da sociedade.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Armando Monteiro (Bloco União e Força/PTB - PE) - E aí se afetam a determinadas (Fora do microfone.) conquistas e perdem a visão de conjunto da realidade brasileira. Eu acho que essas manifestações xenófobas, que depõem contra a imagem do País, que passam uma visão que não tem nada com a generosidade do nosso povo, que não se coaduna com o traço cordial que é a marca do brasileiro; isso representa a pior forma, a mais abominável forma de intolerância desse corporativismo exacerbado. Então eu quero me congratular com V. Exª, que conhece profundamente essa problemática da saúde e dizer que, nesse momento, fundamentalmente, o que interessa é melhorar a atenção básica de saúde neste País, e, para isso, é imperativo que o Governo mobilize profissionais em qualquer lugar do mundo para garantir o atendimento da população.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Agradeço o aparte de V. Exª e o incorporo ao meu pronunciamento.

            Pela ordem, ouço o Senador Anibal Diniz.

            O Sr. Anibal Diniz (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Senador Humberto Costa, quero me congratular com V. Exª pelo pronunciamento que faz e reafirmar que o que está havendo em relação aos médicos cubanos não é outra coisa senão preconceito. Senão, vejamos só: na Alemanha, no ano 2000, havia 15 mil médicos estrangeiros (romenos, gregos, russos, sírios, iranianos, espanhóis e chineses). Uma década depois, em 2010, esse número havia aumentado para 30 mil. Esses médicos, depois de seis meses de exercício da profissão, são submetidos ao exame de proficiência. O que nós temos, neste momento, no Brasil, com o Programa Mais Médicos, é uma resposta eficiente do Governo Federal procurando levar assistência de saúde a quem mais precisa. Digo isso vindo do Estado do Acre, onde a maior dificuldade do mundo é convencer um médico a ir a Porto Walter, a Thaumaturgo, a Jordão, a Santa Rosa, que são cidades isoladas, em plena floresta. Tenho certeza de que, da mesma forma, milhares de outros Municípios, de outras regiões pobres, que têm os piores indicadores de saúde do Brasil, precisam desses médicos. Então, o que nós temos de fazer é somar esforços para isso. O Governo Federal está dando essa resposta com eficiência. É uma questão de brasilidade, é uma questão de patriotismo trabalhar em prol de todos os brasileiros que precisam de assistência à saúde; e defender o Programa Mais Médicos, sobre o qual vou, mais tarde, me pronunciar também, porque tenho outros argumentos a apresentar que são muito importantes e que devem chegar ao conhecimento do povo brasileiro.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Agradeço o aparte de V. Exª e o incorporo ao meu pronunciamento.

            Ouço o Senador Wellington Dias.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco Apoio Governo/PT - PI) - Senador Humberto, quero parabenizar V. Exª como profissional da saúde, como alguém que conhece a saúde não só por ter sido Ministro, mas porque conhece a realidade do Estado de Pernambuco e de outras regiões do Brasil. Esses dias, eu estive visitando vários Municípios do meu Piauí, lá na região do semiárido. Em Canto do Buriti dialoguei com pessoas de Brejo, de Pajeú. Fui a Eliseu Martins, onde vai terminar a ferrovia Transnordestina - essa primeira etapa -, a Colônia do Gurguéia, a região de Alvorada, Cristalândia, Currais, Santa Luz, Palmeiras, Bom Jesus. Enfim, em todos esses Municípios, o programa mais destacado pela população em importância é o programa da possibilidade de ter um médico nesses Municípios. Então, eu quero aqui, de um lado também, me somar a V. Exª pela indignação, que é do povo brasileiro. Ou seja, o Senador Armando Monteiro usou a palavra correta aqui. Nós estamos falando de tolerância. Mesmo que alguém possa discordar, não se pode dar o tratamento que está sendo dado. E quero aqui parabenizar o povo do Ceará, que fez um gesto que é próprio dos brasileiros. Indignado com aquele ato que ali aconteceu, foi lá receber com flores esses profissionais. Eu quero dizer que nós temos é que agradecer essas pessoas que saem de Portugal, da Espanha, de Cuba e de outros países para dar solução a um problema que é nosso, do Brasil. Era isso o que eu tinha a dizer. Muito obrigado.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Eu agradeço o aparte de V. Exª e o incorporo ao meu pronunciamento.

            Se o Presidente me permitir, gostaria de ouvir o Senador Sérgio Souza.

            O Sr. Sérgio Souza (Bloco Maioria/PMDB - PR) - Obrigado, Senador Casildo, que preside esta sessão. Senador Humberto, esse é um tema sobre o qual o Parlamento precisa debater com mais exaustão, pela importância que tem. Primeiro, quero parabenizar V. Exª pelo pronunciamento, pela qualidade do pronunciamento. Vou à tribuna mais tarde também falar sobre o mesmo tema. Mas, especificamente, no que diz respeito aos médicos de Cuba, ninguém está vindo forçado. Nenhum governo os obrigou a saírem do seu país. Nós não obrigamos nenhum governo a obrigar aqueles a virem ao Brasil. São funcionários públicos. Se são funcionários públicos, deixaram de prestar um serviço em Cuba e vão prestar aqui, e o Brasil tem que ressarcir aquele estado. Eles vivem um regime diferente do Brasil. Lá tem um regime comunista. Nós somos um regime democrático. Eu imagino que três mil cubanos - parece que esse é o número que vem ao Brasil -, que vão experimentar, por dois ou três anos, uma democracia consolidada, como é no Brasil, vão voltar àquele país e dizer aos seus familiares e amigos o que é viver numa democracia. Além de dar ao brasileiro a atenção básica da saúde de que precisamos tanto, e nós sabemos que só a teremos no futuro, com a instalação das centenas de universidades que estão sendo autorizadas no Brasil. Daqui a dez anos, talvez, teremos o número de médicos suficiente. Iniciativas como essa têm que ser aplaudidas. Parabéns pelo seu pronunciamento!

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Agradeço seu aparte e o incorporo ao meu pronunciamento.

            Peço licença ao Presidente para ouvir o Líder do Governo, Senador Eduardo Braga, que também me pede um aparte.

            Peço um pouco da paciência de V. Exª, Presidente.

            O Sr. Eduardo Braga (Bloco Maioria/PMDB - AM) - Senador Humberto Costa, primeiro, cumprimento V. Exª, não apenas pela pertinência do discurso, mas também pelo conteúdo que traz a um debate que ganha, cada vez mais, as ruas brasileiras, inclusive, já se aproximando a chegada dos médicos às nossas comunidades. É importante destacar o que V. Exª acabou de colocar aqui no seu pronunciamento e destacar a expectativa e o que acontecerá no futuro. Muitos querem resumi-lo apenas à chegada de médicos estrangeiros, mas o Programa Mais Médicos é muito maior do que isso. Às vezes, quando nós ouvimos alguns críticos desse Programa, nós ficamos sem entender por que eles não debatem que esse Programa está praticamente dobrando o número de novas vagas em novos cursos de Medicina neste País, que nós estamos aumentando, quase que também para o dobro, o número de novas vagas de residências médicas.

            (Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Casildo Maldaner. Bloco Maioria/PMDB - SC) - Tendo em vista, inclusive, a importância da matéria (...)

            O Sr. Eduardo Braga (Bloco Maioria/PMDB - AM) - É que o meu som foi cortado aqui, Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Casildo Maldaner. Bloco Maioria/PMDB - SC) - É o tempo. E aí, excepcionalmente, a Mesa concede, porque o tema é muito relevante, sem dúvida alguma.

            O Sr. Eduardo Braga (Bloco Maioria/PMDB - AM) - Eu agradeço a V. Exª. Mas, dizendo, portanto, à população brasileira que acompanha o discurso de V. Exª, que esse Programa cria novas condições para novos médicos se formarem, nas regiões periféricas do Brasil, cria novas condições de novas residências médicas, que era um funil gigantesco que existia para os médicos formados no Brasil. Às vezes, era mais difícil entrar numa residência do que passar no vestibular para fazer Medicina, numa absoluta dificuldade para abrir novos horizontes no mercado brasileiro de Medicina. Portanto, o Programa Mais Médicos precisa ser, obviamente, cada vez mais debatido, cada vez mais compreendido, e até mesmo aprimorado pelo Congresso Nacional. Eu não tenho dúvida nenhuma de que V. Exª diz aquilo que a grande maioria do povo brasileiro está dizendo, que a Presidenta teve a coragem, a ousadia e, mais do que isso, a vontade política de enfrentar uma das grandes deficiências que o Brasil tinha para poder avançar na área de saúde. Há médicos cubanos muito bem formados. Eu tive a experiência, no Governo do Estado do Amazonas, de ter recebido médicos cubanos, inclusive, para o combate à dengue, para a erradicação da dengue no Amazonas. Houve um esforço gigantesco, com parceria de tecnologias de ponta, com diversos institutos de Cuba.

Fizemos, com os cubanos também, um trabalho enorme em torno da malária. Portanto, é discriminatório querer dizer que, porque são de Cuba, não são bons médicos; ao contrário, tenho aqui o testemunho do Estado do Amazonas de que trabalhou em inúmeras parcerias, não apenas com Cuba, mas também com a Colômbia, o Peru, a Bolívia. Como cá temos bons e maus médicos, também temos bons e maus médicos em qualquer lugar do mundo. Assim, caberá ao Governo brasileiro e ao povo brasileiro redescobrir um caminho para que nós possamos, cada vez mais, levar saúde, medicina e médicos para populações mais excluídas de nosso País.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Agradeço o aparte de V. Exª e o incorporo ao meu pronunciamento.

            Ouço nosso querido companheiro Waldemir Moka, que inclusive tem sido um ator importante para construirmos um diálogo com a categoria médica.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB MS) - Senador Humberto Costa, vou ser bem pragmático. Acho que esta discussão é importante, mas eu quero trazer outro foco.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Tenho comigo, Senador Humberto Costa - e V. Exª é inclusive Relator -, que nós não vamos resolver o problema em três anos, quatro anos ou cinco anos com médicos estrangeiros. Nós temos de ter um plano de carreira para fixar o médico no interior. Essa é a solução permanente - ponto um. Ponto dois: não dá mais para postergar a votação dos 10% na receita, o financiamento público! Nós temos um sistema universal, e o atendimento básico vai acontecer; mas é atendimento básico; os nossos hospitais vão continuar com pacientes em maca, com médicos trabalhando 30 horas, 40 horas - ontem apareceu isso em um programa. É preciso ver também o médico abnegado, aquele que está ali cuidando, tirando a dor e salvando vidas. Aquele colega que está decidindo quem fica e quem sai da UTI.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - São essas as questões, e eu tenho comigo que V. Exª fará... Eu acabei de participar de uma reunião da Mesa Diretoria com o Presidente da Comissão de Assuntos Sociais. Dois temas eu acho importantes no esforço. Primeiro: votarmos o plano de carreira do médico e, no mesmo grau de importância, votarmos um projeto que garanta, que obrigue o Governo Federal a colocar um percentual, sob sua responsabilidade, para ajudar no financiamento público da saúde. Aí, a partir disso, nós vamos realmente encontrar o caminho para melhorar a qualidade da saúde da nossa população. Muito obrigado, Senador Waldemir Moka.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Obrigado, Senador Waldemir Moka. Incorporo integralmente o pronunciamento de V. Exª.

            Ouço, para terminar, o ilustre Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, eu quero parabenizá-lo pelo discurso e dizer que há uma frase do Brecht que diz: “Feios os tempos em que a gente precisa dizer obviedades”. Tanto eu como o senhor, nesta semana, estamos dizendo coisas - e isso não é nenhuma crítica; ao contrário, é um reconhecimento - tão óbvias, que nem precisávamos estar falando aqui. Lamentavelmente, o Brasil precisa até que a gente venha justificar colocar mais médicos nas cidades. Médicos que nós não conseguimos dentro do corpo de médicos que nós temos. Não havia alternativa. Se existisse robô médico, a gente traria o robô médico, e era capaz de ser aceito, porque equipamento pode, médico não pode. Então, se houvesse um robô médico, seria aceito, porque seria considerado equipamento. Não há. Trouxemos médicos estrangeiros.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - A Presidenta e o Governo estão de parabéns por isso. Se eu fosse fazer uma crítica, seria que demorou muito, mas foram dois anos de estudos. Então, o senhor está de parabéns por desmistificar as críticas que são feitas. Não vou entrar nisso mais, até porque já falei, e isso é perfeito. Eu quero falar uma coisa. Eu queria sugerir que nós fizéssemos um compromisso, aqui e na Câmara, de que todas as nossas emendas fossem para a área de saúde, numa rubrica específica para essas cidades, para comprar equipamentos. Eu vejo a oposição, sobretudo na Internet, o tempo todo criticando a minha defesa, dizendo que faltam equipamentos. A oposição tem dito aqui que faltam equipamentos. Pois bem, vamos testar. Vamos ver se somos capazes de colocar, todos nós, parlamentares, nossas emendas numa rubrica dirigida a equipar as cidades que vão receber esses médicos.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu vou trazer essa proposta formalizada. Isso pode dar um valor de R$6 milhões para cada cidade, se forem os 100%. Mas vamos supor que a gente reduza para os 30%; isso significará R$600 mil por cidade. Acaba definitivamente o argumento de que falta equipamento. Só depende de nós colocarmos isso como nossa emenda, e o Governo, com um orçamento impositivo, não o contingenciar. É isso que eu queria dizer, porque ao seu discurso não preciso acrescentar nada.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Senador Cristovam Buarque, agradeço o aparte de V. Exª, incorporo-o ao meu pronunciamento, e fico muito feliz que uma pessoa com o conhecimento e com o humanismo que V. Exª tem tenha sido o último aparteante do meu discurso porque a preocupação...

(Soa a campainha.)

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - ... que V. Exª sempre manifestou, ao longo da sua vida pública e do seu mandato, é com as pessoas. Por isso, nesta hora, quero fazer um chamamento às entidades médicas: que venham ao Congresso debater essa proposta, apresentar suas ideias, trazer o que pensam sobre como é possível levar o atendimento médico à saúde da população.

            Quero terminar as minhas palavras, Senador Cristovam Buarque, aqui trazendo uma coisa que nos envergonhou a todos nós, nordestinos, embora os nordestinos não pensem assim. Uma jornalista nordestina postou no seu Facebook, no dia de ontem, que as médicas cubanas que estavam aqui não tinham cara de médicas, elas tinham cara de empregadas domésticas.

(Interrupção do som.)

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - Quero dizer, Sr. Presidente, que... (Fora do microfone.)

            O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Com a palavra, V. Exª.

(Soa a campainha.)

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Apoio Governo/PT - PE) - ... feliz será o dia - e eu tenho certeza de que não vai demorar - em que a maioria dos nossos médicos do Brasil forem filhos de empregadas domésticas, forem filhos de pedreiros, forem filhos do povo; aí, sim, com certeza, nós teremos começado a promover uma grande mudança social no nosso País.

            Muito obrigado pela tolerância, Sr. Presidente, e a todos os Senadores e Senadoras.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/08/2013 - Página 57675