Discurso durante a 174ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamentos sobre as ações do Governo Federal para atender às manifestações ocorridas no País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MANIFESTAÇÃO COLETIVA.:
  • Questionamentos sobre as ações do Governo Federal para atender às manifestações ocorridas no País.
Aparteantes
Casildo Maldaner, Eduardo Suplicy, Mário Couto, Pedro Taques.
Publicação
Publicação no DSF de 09/10/2013 - Página 70225
Assunto
Outros > MANIFESTAÇÃO COLETIVA.
Indexação
  • COMENTARIO, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, OCORRENCIA, BRASIL, DEFESA, SENADO, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, PARTICIPAÇÃO, LIDERANÇA, MOBILIZAÇÃO, OBJETIVO, DEBATE, ASSUNTO, REGISTRO, IMPORTANCIA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROVIDENCIA, SOLUÇÃO, CRISE.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cumprimento os alunos do Mato Grosso que estão aqui.

            Sr. Presidente, creio que nós, os Líderes deste País, que somos os políticos eleitos -- não apenas os Senadores, Deputados Federais, mas também os Estaduais, os Vereadores, Presidente da República, todos --, não estamos atentos ao que está acontecendo neste País, nem estamos entendendo direito o que está acontecendo, sobretudo, visivelmente, desde junho. Mas isso já vem há muito tempo.

            Senador, vi hoje o Bom Dia Brasil. É inacreditável o que a gente está vendo sem fazer nada. As manifestações daquilo que eu falava aqui, Senador Mozarildo, que um dia aconteceria: os desiludidos junto com os desesperados. Os desiludidos, os professores; os desesperados, os mascarados, que por aí estão chamando de vândalos.

            Nós não estávamos entendendo que isso ia acontecer. Não fomos capazes, como Líderes, de perceber que isso ia acontecer.

            Mas há mais: estamos cometendo o gravíssimo erro de achar que as manifestações ocorrem por meia hora, uma hora, duas horas e depois terminam. No mundo de hoje, as manifestações são permanentes. São invisíveis, inclusive. As pessoas vão para a rua, fazem manifestações ou depredam -- sejam desiludidos, pacificamente; sejam desesperados, que querem apenas quebrar -- e vão para casa, mas continuam mobilizados. Continuam mobilizados por uma coisa que hoje faz, Senador Couto, com que a praça seja o mundo todo, que é a internet. As pessoas estão mobilizadas até quase quando dormem, porque elas têm esse instrumento.

            Aí, o que a gente vê é que aqueles que querem mudar -- os desiludidos -- encontram-se com aqueles que querem quebrar -- os desesperados. E o risco do que pode vir a acontecer, na medida em que isso vá se generalizando, é muito grave. E, quando digo “generalizando”, Senador Maldaner, não o faço sob o ponto de vista geográfico do Brasil. Digo “generalizando” do ponto de vista temporal: cada dia uma manifestação diferente; cada dia um quebra-quebra diferente.

            Essa situação merece uma reflexão, merece um cuidado. E, mais que isso, merece que a grande Liderança deste País, que é a Presidenta da República, assuma que o País vive uma guerrilha que tenho chamado de cibernética, porque ela não usa fuzil, usa computador para organizar seus movimentos.

            E aí, Senador Maldaner, quando se juntam os desiludidos, pela frustração de anos de um Governo que não atendeu às suas promessas, com os desesperados, que já não acreditam em mais nada; quando se juntam aqueles que vão às ruas pacificamente para mudar o Brasil com aqueles que vão às ruas para quebrar as coisas do Brasil, à medida que isso se generalize no espaço e no tempo, vamos entrar num período muito, mas muito difícil, um período de desarticulação do tecido social.

            Somos os Líderes. Temos não apenas que perceber que isso está acontecendo como saber o que fazer para impedir que essa bomba, que já está explodindo aos pouquinhos, exploda de maneira mais geral. E aí não vejo outra maneira: além de entender o problema, deve-se começar um grande diálogo por uma reordenação do tecido social brasileiro, por um novo pacto social, em que se descubra como fazer para que o povo, desiludido, volte a ter vontade de fazer as coisas, e os desesperados passem a ter vontade e esperança. Trazer a esperança de volta exige algum gesto maior.

            Sugiro aqui, Senador, que comecemos a fazer audiências no Senado em que possamos ouvir essas pessoas. Vão dizer: “Mas é impossível saber quem chamar. Não há lideranças”. Coloquemos na internet, para que quem quiser se inscreva, e depois fazemos sorteio e vamos ouvir, Senador Maldaner. Vamos chamar aqui essas pessoas. A única coisa que a gente pede é que tirem a máscara na hora em que chegarem aqui e que deixem lá fora os aparelhos que usam para quebrar vidros.

            Vamos ouvir o que esses meninos têm a dizer. Vamos ouvir o que os desiludidos, como os professores do Rio, têm a dizer. Não podemos deixar de convocar aqui, numa audiência, os professores do Rio de Janeiro, mas não é porque são do Rio. É porque são do Brasil. Eles não falarão aqui só pelo Rio. Falarão pelo Brasil inteiro.

            Sugiro uma audiência para ouvir o que está acontecendo no Rio de Janeiro, trazendo professores, trazendo outros desiludidos e trazendo também alguns dos desesperados.

            E a Presidente da República, que, pelo que vejo, tem dito que isso é bom, precisa entender que isso é bom, não podemos parar, mas isso pode ficar ruim, e não devemos parar na marra. Não devemos parar de maneira forçada. Devemos parar pela nossa liderança, pela capacidade de conduzir esse processo na direção do que é bom.

            Não falei do bem, porque o bem significaria não quebrar. Eu quero mais que isto: quero seguir na direção de um País melhor, e que ninguém precise parar o seu dia a dia de trabalho para fazer greves tão longas, como a dos professores do Rio, e que as pessoas não se animem a pegar carona nessas manifestações e a sair quebrando tudo que veem pela frente.

            A Presidenta deveria convocar, por exemplo, as Lideranças, inclusive a Oposição. Eu acho que o Senador Couto não se recusaria, se um dia ela chamasse todas as Lideranças e perguntasse: “Onde estamos errando?”

            Não é possível que a Presidenta não perceba que nós estamos errando. Esse povo não vai à rua porque está cansado da casa! Nós estamos errando e não temos como controlar mais da forma tradicional, seja por cooptação, como o governo a partir de Lula tem feito muito, que coopta os grupos. Nota-se, por exemplo, que CUT, CGT e UNE não estão lá, porque são cooptáveis e foram cooptados. Quem está lá é quem não foi cooptado e nem é cooptável, porque não está nem organizado.

            Vamos fazer o debate entre nós, os Líderes deste País. Não dá para juntar todo mundo.

            O Governo Federal, desde o governo Lula, tem um tal de Conselho do Desenvolvimento Econômico e Social. Como esse Conselho não discute o que está acontecendo nas ruas do Brasil, por que está acontecendo, como está acontecendo e para onde vai? Esse Conselho que está aí não vai debater, porque é feito de pessoas que só pensam o problema econômico e social pela tal cooptação. Por que, de repente, ela não faz um conselho, Senador Jorge Viana, com a liderança que o senhor tem, inclusive junto ao Governo? Por que ela não faz uma reunião tipo Conselho Econômico, para debater a crise que nós estamos atravessando? Que juntem 20, 30, 50 Líderes deste País, do Governo e da Oposição. Escute, pergunte, chegue lá e diga: “Pessoal, onde nós estamos errando?” Não precisa ela dizer “onde eu estou errando”, porque não é só ela.

            Onde nós estamos errando? Nós cometermos erros, criamos uma dívida com o povo, caiu a ficha, e o povo percebeu que nós, os políticos, estamos endividados com ele. E com a internet se mobilizam facilmente. Aí se unem os desiludidos e os desesperados, ameaçando a instabilidade do dia a dia das pessoas.

            Não há hoje ameaça às instituições, mas há uma ameaça ao dia a dia. É o cidadão que quer ir para casa e não consegue, porque há uma manifestação. Quem vai para o aeroporto não consegue chegar, porque há uma manifestação. Quem quer ir ao banco tirar dinheiro não vai poder, porque o banco foi quebrado.

             Isso se espalhando sai de uma dimensão pequenininha, como está hoje, para uma dimensão grande neste País, o que inviabiliza o dia a dia, podendo chegar também a inviabilizar as próprias instituições, que hoje, felizmente, não estão ameaçadas.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Por isso, elas, as instituições, têm obrigação de enfrentar o problema para proteger o dia a dia do cidadão sem forçar, impedir autoritariamente as mobilizações.

            É isso, Sr. Presidente.

            Deixo aqui essa proposta ao Governo Federal, que é a maior Liderança do Executivo, para nós aqui fazermos isso. Peço ao Presidente do Senado que considere a ideia de audiências, para debatermos o porquê e como estão acontecendo essas coisas no Brasil.

            Eu quero saber se posso dar a palavra ao Senador Maldaner.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Eu serei breve, Senador Cristovam Buarque. Quando há esses movimentos e quebra-quebra, a primeira coisa que vem à mente é: “Baixe o pau, acabe com isso! Que vergonha esse quebra-quebra! Baixe o pau”! É a primeira motivação que parece que vem à cabeça das pessoas. E V. Exª falando agora, eu comecei a refletir também, a ruminar cá comigo, numa reflexão mais profunda: por que isso? Por que isso está ocorrendo? Por que muitas pessoas se infiltram nesses movimentos, pacíficas, como disse V. Exª, e aproveitam para se expandir, para jogar para fora aquilo que está trancado? Quais são as razões? O que pode ser? E aí é preciso ouvi-las, é preciso haver um espaço democrático, assegurando-lhes o direito de opinar com garantia.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Devem opinar sem máscaras, é claro, mas colocar isso à mesa, fazer uma reflexão bem aberta, para saber por que não estão conseguindo. Será que é porque há muitos privilegiados, e a gente convive ao lado, sendo espezinhado, humilhado, e outros esbanjando? Será que é um pouco disso? Como? Por quê? Será que isso ocorre por causa da situação política do Brasil? Será que são esses movimentos dos últimos dias também? Até o movimento Marina foi uma resposta, mexeu com estruturas -- acho que mexeu; mexeu. Quer dizer, alertou para o fato de que temos que pôr os pés no chão, pensar com mais humildade. Eu acho que deu uma sacudida. O que é que está havendo? Eu acho que devemos colocar o direito de haver uma garantia de essas pessoas se sentarem de igual para igual. Por que alguns põem a máscara e procuram depredar? Qual é a razão? Vamos tentar auscultar isso -- a ideia é interessante --, dar oportunidade. Que o Governo, ou os encarregados, a comissão daqui ou dali, o Congresso Nacional, enfim, ouça, e que seja noticiado que se está ouvindo também esse lado para tentar, socialmente, sentir, compreender, ver se há razões nisso, e que medidas se devem tomar, sem se descuidar, claro, da segurança, que deve haver, nas circunstâncias da atividade pública e da privada, do direito de ir e vir, mas saber por que está havendo isso. A oportunidade que V. Exa levanta me chamou a atenção. Quero lhe dizer isso com muita franqueza.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Couto, com muito prazer.

            O Sr. Mário Couto (Bloco Minoria/PSDB - PA) - Sr. Presidente, permita-me porque o tema é de extrema relevância para o País. Senador Cristovam, a preocupação de V. Exa não é de hoje. V. Exa já manifestou essa preocupação até por escrito, que vem ao encontro da preocupação de muitos brasileiros hoje. Eu estou muito preocupado. Lembro uma frase da artista Regina Duarte, que, quando perguntada sobre o que pensava da vitória de um tal candidato, disse: “Eu tenho medo.” E está acontecendo isso hoje. V. Exa está preocupado…

(Soa a campainha.)

            O Sr. Mário Couto (Bloco Minoria/PSDB - PA) - … com o fato concreto de que o Governo Federal não está dando a mínima bola. Senador Cristovam, já houve mortes nas ruas, já houve feridos nas ruas. Proibiram o uso da máscara, e aumentou o uso da máscara. Proibiram a fabricação de bombas, e aumentaram a fabricação de bombas caseiras. E a coisa está aumentando. Outro dia, eu fui à tribuna e falei em guerra civil. Talvez eu tenha exagerado. Mas, pelo que eu sinto, o aumento da insatisfação…

(Soa a campainha.)

            O Sr. Mário Couto (Bloco Minoria/PSDB - PA) - … é incontrolável. O aumento da insatisfação é incontrolável. V. Exª, daqui a pouco tempo, não precisa muito, vai dizer… E eu sou testemunha de que V. Exª, no mínimo, fez uma coisa: alertou a Nação, alertou os Poderes de que a coisa é preocupante. Às vezes, alguém que está na rua é entrevistado e perguntam a ele: “Por que você está aqui?”. Uns respondem, outros se embaralham para responder. É uma vontade que ninguém sabe explicar. Isso é muito sério, Senador. Tem profundidade? Tem. Porque está aumentando. A cada dia aumenta. A cada dia explode numa cidade. E a coisa não tem uma direção de acabar. É isso que V. Exª está falando hoje. Preocupado, e tentando a todo custo buscar um caminho, buscar um diálogo, mas parece que ninguém escuta ninguém. E as coisas acontecem. Agora mesmo, eu vou para a tribuna falar de acontecimentos antissociais, que o povo não quer ouvir, mas que eu tenho a obrigação de falar. E este País, sinceramente, Senador, está sem rumo.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Mário Couto (Bloco Minoria/PSDB - PA) - O País, Senador, V. Exª tem toda razão, o País está sem rumo. Não se contém mais o que se expressa na rua. Não se contém. Não se contém. V. Exª está buscando o jeito de conter, mas ninguém lhe ouve. Todas as iniciativas que V. Exª propôs da vez passada, pelo meu conhecimento, nenhuma fluiu. E o povo brasileiro, eu não tenho a menor dúvida… Em cada casa há um sentimento igual ao seu, um sentimento de preocupação. Parabéns. Parabéns pela sua preocupação, por V. Exª estar mais uma vez com o direito constitucional de Senador da República alertando,…

(Interrupção do som.)

            O Sr. Mário Couto (Bloco Minoria/PSDB - PA) - … alertando as autoridades e alertando aquilo que V. Exª ama, que é a Nação. Parabéns.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador Couto. Eu concordo que há uma falta de rumo, realmente, do Governo e nossa. Estamos sem rumo. O povo percebeu isso e tem uma arma.

            Senador Maldaner, hoje, a única maneira de impedir que o povo faça manifestações, já que as pessoas estão atentas, a cada instante, preocupadas e ligadas para participar de um ato, é quebrando todos os computadores, a fim de interromper a conexão entre as pessoas, ou atendendo ao que elas querem. Eu acho que quebrar todos os computadores não só é impossível como é absurdo, frear a conexão que hoje permite que cada pessoa chame outras para uma passeata, sem precisar de jornal, sem precisar de rádio, sem precisar de partido, sem precisar de sindicato. Então, é tentar atender.

            E quando eu vejo a Presidenta falando que isso é ótimo,…

(Soa a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - … e o pior é que é mesmo, do ponto de vista de que as pessoas despertaram, eu me preocupo. Porque dá a impressão, às vezes, Senador Couto, de que é um deboche. Quando se diz: “Esse é o resultado. A gente fez tanto, que o povo quer mais”, não é possível que essa seja a explicação para o povo estar na rua. Quando se diz que nós já fizemos muito, por isso o povo vai para a rua, parece deboche. Não parece uma afirmação sincera.

            Concluindo, pelo que o senhor falou, o que mais me preocupa hoje é que são poucos os preocupados. O que mais me preocupa é saber que o número de preocupados é pequeno. Há uma indiferença. E a indiferença talvez seja o maior combustível para que essas pequenas manifestações, quando a gente somá-las, cada uma pequenininha, mas somando, a gente vê o tamanho delas. Porque a gente vê, Senador Taques, as grandes manifestações, mas…

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu estou tentando concluir.

            Nós não estamos vendo, nós não estamos somando as pequenininhas. E a soma das pequenininhas, ao longo do tempo, é muito mais forte e complicadora do funcionamento da sociedade do que, de vez em quando, uma grande, ordeira, pacífica, em que todo mundo vai para casa. Nós não estamos suficientemente preocupados. E esta é a minha tentativa: trazer o debate para cá, fazer audiências com essas pessoas e conosco. De repente, só nós mesmos. Onde é que nós estamos errando? Esta é a pergunta: onde é que nós estamos errando? Porque a falta de rumo é prova da falta de acertos.

            Senador Taques; depois, Senador Suplicy.

            O Sr. Pedro Taques (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - Senador Cristovam, parabéns pela fala e pelo convite ao debate. Esta Casa precisa debater, sim, esses temas. Me parece que nós estamos vivendo um momento de impaciência do cidadão.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Taques (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - Impaciência com o que está a ocorrer, impaciência com o status quo. Me parece que existe quase que um ar de fim de festa, um olhar meio blasé, no sentido de o cidadão estar perdido e nós muito mais ainda, porque não encontramos a razão pela qual o cidadão está assim. Eu ouso dizer, Senador Cristovam, que é uma total desvinculação, uma total separação entre o cidadão e a classe política. Não adianta nós falarmos do partido A, B, C, D. Nós políticos -- e eu tenho orgulho de ser político -- não estamos…

(Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Taques (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - … atendendo as demandas sociais. Não estamos atendendo. O Brasil precisa de um momento de reflexão. E logo em seguida passar para a ação. Veja que movimentos políticos eleitorais como…

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Taques (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - … o caso do Governador Eduardo Campos e da Senadora Marina mais ou menos mostram um caminho. Mostram um caminho. Nós temos que buscar esses caminhos. Nós precisamos fazer essa reflexão e entender que o tempo está passando. O tempo está passando e nós não estamos encontrando esse caminho. Nós precisamos fazer essa reflexão que o senhor está dizendo. Veja que no Estado de Mato Grosso, Estado que eu aqui represento, para minha honra, há mais de 50 dias, os professores estão em greve. Os alunos quase perderam o ano letivo. Veja que no Estado de Mato Grosso, hoje, o Ministro dos Esportes, o Deputado Aldo, disse que a principal obra de mobilidade urbana da cidade não ficará pronta. O chamado VLT. Nós estamos gastando 1,5 bilhão, gastando mal,…

(Soa a campainha.)

            O Sr. Pedro Taques (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - … e o cidadão quer resultado. Esse é o fim de festa. Parece que é aquela xepa da feira o que está a ocorrer.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador Taques.

            Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Senador Cristovam, considero da maior relevância que V. Exª tenha hoje ocupado a tribuna para uma reflexão sobre as manifestações. É importante que elas ocorram, mas é importante também que elas, sobretudo, se caracterizem pela forma não violenta. Eu quero aqui externar a todos aqueles que têm realizado manifestações… Na leitura das notícias, observo, que, inclusive, há ocasiões em que pessoas que certamente não seriam o objeto principal do protesto, como um morador de rua que, de repente, precisou segurar com muita força seu colchão porque alguns que protestavam queriam fazer daquele colchão do morador de rua um objeto de incêndio no meio da rua, e ele, então, conseguiu proteger. Só para dar um exemplo. Outro episódio que aconteceu foi quando moradores realizavam um protesto em São Paulo e, de repente, um automóvel explodiu, ferindo diversas pessoas que estavam naquela manifestação. É importante que as pessoas percebam que…

(Soa a campainha.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - … a violência acaba, muitas vezes, atingindo as pessoas de maneira contrária aos objetivos dos manifestantes. Essas pessoas têm muito que aprender com aqueles que ensinaram como a luta com a característica da não violência, muitas vezes, é vitoriosa e, do ponto de vista até da moral do movimento, algo que passou a ser admirado ao longo da história, como nos exemplos de Mahatma Ghandi e Martin Luther King Junior.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Eu queria aqui dizer que é muito importante que as pessoas se manifestem, de fato, e que sejam ouvidas, mas faço o apelo para que aprendam com aqueles que foram bem-sucedidos com a luta não violenta. Meus cumprimentos, Senador Cristovam Buarque.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Suplicy, eu agradeço e concluo pelo tempo já demorado, mas quero dizer que a pergunta chave é: por que esses meninos estão indo para a rua quebrar coisas? Eu chamo de meninos, mas podem chamar de vândalos também. Por que eles estão indo? Se a gente não entender o porquê e descobrir qual é a nossa culpa na ida deles, o seu apelo não vai ser atendido.

            É isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/10/2013 - Página 70225