Pela Liderança durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre viagem realizada por S. Exª à região do Araguaia, no Mato Grosso.

Autor
Pedro Taques (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MT)
Nome completo: José Pedro Gonçalves Taques
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Comentários sobre viagem realizada por S. Exª à região do Araguaia, no Mato Grosso.
Aparteantes
Ana Amélia, Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 07/02/2014 - Página 68
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • REGISTRO, VISITA, MUNICIPIO, ARAGUAIA, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), RELAÇÃO, PRIORIDADE, SOLUÇÃO, PROBLEMA, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, SAUDE, EDUCAÇÃO, INFRAESTRUTURA, LOGISTICA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, MELHORAMENTO, ESTRADA, REDUÇÃO, DESIGUALDADE REGIONAL, DEFESA, INTEGRAÇÃO, MUNICIPIOS, REGULARIZAÇÃO, DEMARCAÇÃO, TERRAS, INDIO, APOIO, ATIVIDADE AGROPECUARIA, REESTRUTURAÇÃO, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA).

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco Apoio Governo/PDT - MT. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, amigos que nos acompanham pela TV Senado, amigos do Estado de Mato Grosso, inicialmente, eu gostaria de registrar a presença do Prefeito Valter Miotto Ferreira, do Município de Matupá, do PMDB do Estado de Mato Grosso, que aqui se encontra conosco.

            Sr. Presidente, cumprindo o que eu disse no primeiro pronunciamento do ano, hoje venho a esta tribuna falar da viagem de 13 dias pela região do Araguaia, no Estado de Mato Grosso, Senador Maggi.

            Por diversas vezes, já falei, nesta tribuna, sobre meu Estado, sobre o nosso Estado, sobre suas belezas, potencialidades e, também, os seus problemas. Desta vez não será diferente. Preciso falar da dura realidade desta que é uma das regiões mais belas, mas também uma das regiões mais necessitadas da minha terra, o Vale do Araguaia.

            Neste mês de janeiro, Sr. Presidente, aproveitando o recesso desta Casa, fui, como sempre faço no recesso, do extremo norte do meu Estado, encontrando a divisa dos Estados do Pará, Mato Grosso e Tocantins, nos Municípios de Santa Terezinha e Vila Rica, e fui, de carro, até o sul, na divisa de Mato Grosso com Mato Grosso do Sul, no Município de Alto Taquari. Mais de quatro mil quilômetros, 13 dias, 27 diferentes cidades. Muitos encontros, conhecimentos e problemas que propus ajudar a resolver.

            Aquela região ainda é uma das mais carentes, necessitando de investimentos, principalmente, em infraestrutura logística, em saúde, em educação, em dignidade para o cidadão. Falta muita coisa, mas sobra, ah, Sr. Presidente, sobra paciência e vontade de trabalhar dos brasileiros que ali residem! Principalmente, falta oportunidade para que os cidadãos do Vale do Araguaia explorem o potencial que a região possui.

            Nessa minha volta ou viagem ao Araguaia, só reforcei a tese de que as assimetrias, as desigualdades regionais continuam latentes no Estado de Mato Grosso. No ano passado, o Brasil foi surpreendido pelas manifestações populares que visavam cobrar mais atenção de nós políticos para com as políticas públicas. Lá, no Vale do Araguaia, não foi diferente.

            A sociedade quer ser ouvida, Senador Suplicy. A sociedade quer contato. A sociedade quer olho no olho com cada um de nós, agentes políticos, que desejamos transformar a realidade do nosso País, do nosso Estado e dos Municípios onde, efetivamente, o cidadão reside.

            Nas audiências públicas que realizamos nos Municípios, isso ficou evidente. A participação da população foi grande em todos os Municípios.

            Amigos que nos ouvem e nos seguem pelas redes sociais, eu estive no menor Município do Estado de Mato Grosso, a cidade chamada Araguainha, o menor Município do Estado do Mato Grosso, quem sabe, um dos menores Municípios do Brasil: 1.021 almas, 1021 pessoas residem neste menor Município do Mato Grosso.

            Lá, Senador Pedro Simon, no quintal da casa onde funciona o Conselho Tutelar da cidade - no quintal de uma casa! -, cuidadosamente coberto com uma tenda e decorada com tecido de TNT, um tecido simples, cerca de cem pessoas estavam presentes - perceba, quase 10% da população do Município. As pessoas queriam falar, discutir o destino da sua cidade.

            E ali, no menor Município de Mato Grosso, foi onde aconteceu uma das reuniões mais importantes para mim nesta jornada - neste menor Município do Estado de Mato Grosso. As reivindicações não eram de interesse próprio daqueles cidadãos que lá se encontravam, mas sim do interesse coletivo, interesse da comunidade, como a construção de um hospital regional na cidade vizinha para atender toda a região, asfalto, universalização da distribuição de água - asfalto na MT-100 e MT-110.

            Foi lá em Araguainha que conheci a Dona Nelci, que me contou sobre os problemas decorrentes da falta de asfalto e de água encanada nas casas daquele Município. Ela também nos deu um depoimento emocionante sobre a Drª Elisa, Presidente, - e V. Exª é médico -, a única médica da cidade, que faz de tudo para cuidar bem dos pacientes, mas que precisa de um suporte, que está aquém do seu posto de saúde, para trabalhar pela saúde daquele Município. A região precisa de um hospital de referência - a região, não aquele Município.

            A questão da saúde, como trouxe aqui em outras oportunidades, é um problema grave no Estado de Mato Grosso. Na cidade de Vila Rica, lá no norte do nosso Estado, a 37km da divisa de Mato Grosso com o Pará, deparei-me com uma situação constrangedora para a classe política do meu Estado - repito: uma situação constrangedora para a classe política do meu Estado.

            A assistência social do Município entregou-me a cópia, Senador Mozarildo, de um receituário de uma paciente do Estado de Mato Grosso que foi atendida no vizinho Estado de Tocantins. No documento, a médica não receita nenhum remédio ou tratamento. Ela, a médica, dá uma lição de moral aos políticos de todo o Brasil.

            A médica escreveu no receituário que, por diversas vezes, pacientes das cidades da região do Vale do Araguaia, do Estado de Mato Grosso, são levados para os hospitais no Estado de Tocantins, sem nem ao menos passarem por um médico plantonista ou enfermeiro no Estado de Mato Grosso.

            Nós conhecemos vários Vereadores desta região que foram eleitos, de forma digna, por levar pacientes do Estado de Mato Grosso para tratamento em Tocantins, em Goiás.

            A médica escreveu no receituário que, por diversas vezes, ela atende paciente de Mato Grosso em Tocantins, sem a mínima condição.

            E ela sentencia:

“Para novas consultas no Estado vizinho, as vagas dos pacientes de Mato Grosso precisam ser reguladas pelo SUS. Vocês [mato-grossenses] possuem uma capital chamada Cuiabá. Por favor, solicitar vaga em seu Estado. As crianças são encaminhadas para cá sem contato médico anterior, vocês apenas empurram pacientes para cá.”

            Imaginem! Olha o que a médica de Tocantins disse em relação aos pacientes do Estado de Mato Grosso!

            Imediatamente, entramos em contato com o Senador Vicentinho, nosso colega do Estado de Tocantins, para que fosse resolvida esta questão com um convênio interestadual entre os Estados de Mato Grosso e Tocantins.

            Srs. Senadores, é assim que nossos pacientes estão sendo tratados, é assim que os cidadãos brasileiros estão sendo tratados em Tocantins e em Goiás, e não por falta de respeito dos administradores de Tocantins, mas por falta de vergonha na cara dos políticos do Estado de Mato Grosso - e eu faço parte da classe política, tenho orgulho disso - de não resolvermos a questão da saúde no nosso Estado.

            Além do fortalecimento do hospital regional em Água Boa, é preciso que o hospital regional de Porto Alegre do Norte saia do papel, assim como o projeto do hospital em Alto Paraguaia, que fica no sul de Mato Grosso, com Mato Grosso do Sul e Goiás.

            Infelizmente, o tratamento que o Governo Estadual tem dado ao setor é um flagelo. Os 15% prometidos para investimentos não foram cumpridos. Essa é a situação da saúde na região do Araguaia. No resto do Estado, também não foge disso, Senador Cristovam Buarque.

            Amigos de Mato Grosso, o Vale do Araguaia, que já foi chamado de Vale dos Esquecidos e, hoje, é o Vale da Esperança, é a última fronteira agrícola do Estado de Mato Grosso. Onde é possível, a soja está chegando e transformando a realidade, como nos Municípios de Querência, Canarana, como no Município de Porto Alegre do Norte, Senadora Ana Amélia.

            Com o dinheiro da arrecadação, a própria Prefeitura, o Prefeito Gilmar, de Querência, consegue realizar obras que garantem o bem-estar da população...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - ... como centros de saúde para as famílias, creches e asfalto em todos os bairros.

            Para minha honra, concedo um aparte à Senadora Ana Amélia.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Maioria/PP - RS) - Caro Senador Pedro Taques, parabéns pela abordagem, pela prestação de contas que está fazendo ao seu eleitorado, mas, sobretudo, por este alerta ao País e aos políticos com a responsabilidade para atender um setor que não consegue avançar como deveria, que é o setor do atendimento à saúde. Cumprimentar essa iniciativa da médica, pelo o que ela disse, pela provocação que fez, que é absolutamente recheada de razões e fundamentação lógica. E também, Senador Pedro Taques, quero lhe dizer que há muita gente que critica emenda. Eu duvido que o senhor use uma emenda parlamentar, como é o caso também do meu gabinete, com objetivo eleitoral. O objetivo é atender a comunidade naquilo que falta ao recurso dos Municípios, que está cada vez mais escasso com a redução do FPM, o Fundo de Participação dos Municípios. Então, essa emenda lhe dá a oportunidade - como também é o meu caso, e o senhor faz isso com muito zelo - de avaliar onde o recurso foi aplicado, fazer a fiscalização daquela verba pública que foi aplicada numa prefeitura municipal. Então, eu queria destacar a relevância que tem a emenda parlamentar bem aplicada, e o seu caso é um exemplo disso em Mato Grosso. Parabéns, Senador Pedro Taques.

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - Muito obrigado, Senadora Ana Amélia. Nós tivemos oportunidade, quando eu estava em Porto Alegre do Norte, eu liguei para V. Exª, porque ali, em Porto Alegre do Norte, encontrei uma gaúcha de Porto Alegre, lá no Rio Grande do Sul, que é Promotora de Justiça lá em Porto Alegre do Norte, amiga da família de V. Exª, e V. Exª é amiga da família desta Promotora de Justiça, Drª Luciana, em Porto Alegre do Norte. Para mim, é uma honra a senhora falar sobre as emendas parlamentares.

            Eu divido as minhas emendas tendo em conta o Índice de Desenvolvimento Humano do Município. Os Municípios mais carentes, estes devem receber primeiro. Por exemplo, no primeiro Município que eu visitei no Vale do Araguaia, Novo Santo Antônio, ali eu tive 101 votos; no Município de Cuiabá, o maior Município do Estado, eu tive 213 mil votos. Eu destinei emenda, primeiro, para Novo Santo Antônio e, depois, para o Município de Cuiabá.

            Sr. Presidente, permita-me conceder um aparte a S. Exª o Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, muito rapidamente, só para dizer que uma das coisas boas que têm me acontecido aqui é visitar Mato Grosso em sua companhia. Essas visitas me permitiram ver como é um Estado com ilhas de excelência. Como alguns prefeitos, na hora em que usam os recursos corretamente, oferecem escolas de qualidade, saúde de qualidade; e a gente vê que outros não estão fazendo isso. A meu ver, o que falta é uma coordenação, por parte do Governo do Estado, capaz de fazer com que a riqueza do Estado de Mato Grosso, que é hoje um dos Estados mais ricos - essa é a verdade do País -, distribua-se de uma maneira mais eficiente e com direção correta. Creio que é isso. Espero que, nessa eleição que vamos ter agora, Mato Grosso escolha um novo rumo, capaz de permitir equilibrar e definir o rumo desse grande Estado que tenho aprendido a gostar e conhecer, sobretudo graças ao senhor.

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - Muito obrigado, Senador Cristovam.

            V. Exª nos deu a honra de fazer visitas ao nosso Estado, visitas a vários Municípios. Comemos um bolo de arroz lá na D. Eulália, e o senhor trouxe um saquinho de bolo de arroz para a sua esposa, aqui em Brasília. Conhecemos Lucas do Rio Verde, com o Prefeito Otaviano Pivetta - Lucas, que tem um dos melhores IDHs do Brasil.

            Mas, ao lado dessas ilhas de excelência, que nos orgulham - o setor produtivo do nosso Estado nos orgulha muito -, precisamos, sim, acabar com as desigualdades, com as assimetrias entre os Municípios existentes no nosso Estado.

            O Vale do Araguaia, uma das regiões mais esquecidas, hoje é a região da esperança.

            O agronegócio é uma importante fonte de economia e desenvolvimento de nosso Estado. Isso é fato e os números da balança comercial do Brasil mostram como Mato Grosso tem parte significativa no superávit do País - isso é fato.

            Mato Grosso está ajudando o Brasil. Agora, o Brasil precisa ajudar mais Mato Grosso. Um exemplo disso é a necessidade de termos, desde logo, desde há muito, a total pavimentação até os portos de Santarém. Mas não vai resolver só o asfalto até Santarém, se não resolvermos a questão dos portos de Santarém, que não têm capacidade para exportar a nossa produção.

            Precisamos resolver a questão da BR-158, ali de Lusinho a Alô Brasil, nos Municípios de Confresa, Porto Alegre. Precisamos resolver isso.

            Precisamos resolver a questão indígena de uma vez por todas, para que o cidadão tenha tranquilidade, tenha paz, possa trabalhar com decência.

            Mas nenhum país do mundo, Senador Suplicy - e logo lhe concedo o aparte -, vive sem uma agricultura familiar forte. Os Estados Unidos da América são o país que mais exporta produtos, proteína animal, proteína vegetal, mas, ao mesmo tempo, são o país onde a agricultura familiar é uma das mais fortes do mundo. Precisamos da agricultura familiar.

            Falo aqui sobre este tema especialmente para o Sr. Eraldo, que conheci no Sindicato Rural de Confresa: a questão da falta de regularização fundiária é preocupante em todo o Brasil, em especial no Estado de Mato Grosso, que possui, hoje, mais de 500 projetos de assentamentos - mais de 500! -, os chamados PAs. Na prática, isso significa que as famílias que vivem e produzem na terra ainda não possuem o título de propriedade dela, pertencendo, ainda, ao Incra ou à União.

            Conforme o Presidente do Sindicato Rural de São Félix do Araguaia, o Sr. Manoel Ferreira, não é preciso desapropriar nenhuma área de Santa Terezinha ou Ribeirão Cascalheira - outros dois Municípios que eu visitei, cidades ainda ali na região do Norte Araguaia -, mas, sim, reorganizar os mais de 60 assentamentos que existem na região, pois muitos estão se tornando latifúndios ou fazendas novamente, sem nenhuma produção.

            O Sr. Manoel ainda relatou que, quando um sindicato ou associação solicita a presença do Incra para realizar uma vistoria, leva-se muito tempo para que a ação aconteça, por falta de condições financeiras para transporte ou falta de servidores. Além disso, as estradas dos assentamentos se encontram em péssimas condições.

            Hoje, infelizmente, o Incra é chamado de “incravado” por muitos brasileiros. Não em razão do trabalho dos seus servidores, que é um trabalho descente, mas, sim, em razão da falta de estrutura para que o trabalho seja realizado a contento e também devido ao aparelhamento político do Incra.

            Para minha honra e alegria, concedo um aparte a S. Exª o Senador Eduardo Suplicy, digno representante do PT do Estado de São Paulo.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Caro Senador Pedro Taques, V. Exª, além de nos brindar tantas vezes aqui no plenário e nas comissões com seu conhecimento jurídico, hoje nos brinda com o relato de uma atividade exemplar por parte de um representante do povo, um Senador que resolve visitar em 13 dias... Quantos?

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - Vinte e sete Municípios.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... visitar vinte e sete Municípios em 13 dias, na região do Araguaia no seu Estado, perto de Goiás e Tocantins, em toda a região. E V. Exª nos traz aqui um relato bastante enriquecedor para nós - por exemplo, eu, de São Paulo -, para melhor conhecermos a natureza dos problemas existentes, e relatado de uma forma muito interessante, os seus diálogos com os moradores com os quais conversou. V. Exª ali fez verdadeiras audiências públicas e, assim, nos traz um conhecimento. O Senador Cristovam Buarque disse que já esteve com V. Exª e conheceu de perto. Vou fazer um convite. Eu gostaria de, um dia, acompanhá-lo numa viagem como essa, para conhecer o seu Estado, esses problemas, inclusive levar as sugestões que muitas vezes apresento. Ainda hoje, falei de uma carta que enviei à Presidenta da República, na qual sugeri que ela crie um grupo de trabalho para estudar como será a transição do Programa Bolsa Família para a Renda Básica de Cidadania, que V. Exª e todos os Senadores assinaram. Eu lhe pergunto, porque seria interessante que, em cada um desses 27 Municípios, V. Exª tivesse perguntado - ou talvez até o tenha feito - a cada prefeito e a seus vereadores quantas famílias teriam direito de receber o Bolsa Família, aquelas que recebem até R$140,00 por mês, e quantas efetivamente estão recebendo, para se saber o índice da chamada busca ativa. No Brasil inteiro, esse índice está em torno de 76%. No Mato Grosso, não sei de pronto aqui, mas eu tenho esse levantamento. Tenho procurado, quando cada vereador ou prefeito me visita - e são muitos diariamente - ou quando, como, por exemplo, amanhã vou a Brodowski e Batatais, eu ali informo a eles precisamente, porque é importante esse dado também para que V. Exª possa até enriquecer a sua contribuição a cada uma das áreas do Mato Grosso. Parabéns. Eu estou aprendendo muito com V. Exª hoje.

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - Muito obrigado, Senador Eduardo Suplicy. E fica feito o convite para que V. Exª possa conhecer - já conhece, mas conhecer mais ainda - as potencialidades e as necessidades do nosso Estado, porque mais vale ver uma vez do que ouvir falar mil vezes. V. Exª, tenho certeza, ficará encantado de conhecer o Município de Matupá - o Prefeito está aqui -, um belíssimo Município no norte do nosso Estado, um Município em que o setor produtivo agora está chegando e contribuindo com aqueles que lá já estavam. V. Exª está convidado.

            Mas, Senador Suplicy, essa sua dúvida, nós temos levantado e perguntado em todos os Municípios. O Bolsa Família, um grande projeto, um grande programa, junto com o aumento do crédito e o quase pleno emprego que nós teríamos no Brasil hoje, foi uma das causas com que o Governo Federal, junto com os governos estaduais, pode retirar muitos brasileiros da linha abaixo da linha da pobreza. Agora, mais do que comemorar quantos brasileiros estão no Bolsa Família, nós temos de comemorar quantos brasileiros saíram do Bolsa Família em razão de uma qualificação, em razão dos investimentos na educação. É um grande programa, que defendo, mas nós precisamos pensar no pós-Bolsa Família.

            Eu estava falando sobre o Incra, conhecido como “incravado” no Estado de Mato Grosso. O cidadão sem o documento da sua terra é igual a um indivíduo que não tem uma carteira de identidade, que não tem uma certidão de nascimento. É importante que a titularização seja feita de modo ágil, pois, com os papéis nas mãos, as famílias podem acessar programas e financiamentos, melhorando a produção e a qualidade de vida. A informalidade impede que as propriedades sejam usadas como garantia para a obtenção de crédito. Sem investimento, a produtividade é menor, a renda é menor e a pobreza é maior. Este é mais um tema que o Brasil precisa enfrentar: a reforma e o desaparelhamento atual do Incra.

            Além dos temas da reforma agrária e da saúde, um dos assuntos mais debatidos em todos os encontros que tive pelo Vale do Araguaia foi a condição das estradas da região. Percorri praticamente todo o percurso de carro, do norte ao sul do meu Estado. Vi de perto as condições das estradas. Com base nas demandas que recebi, posso afirmar que é o problema que mais incomoda os cidadãos daquela região. Estrada significa saúde para aquela região, estrada significa desenvolvimento, estrada significa qualidade de vida.

            Nesses 13 dias visitando 27 cidades, recebi 158 demandas de prefeituras, de vereadores, da sociedade civil organizada e mesmo de cidadãos que encontrei pelo caminho. A maior parte dessas demandas trata de asfalto, solicitação de apoio para a pavimentação asfáltica.

            O programa do Governo do Estado que pretende interligar todos os 141 Municípios - hoje, são 44 Municípios que ainda precisam de interligação - é muito importante. Temos que defender a integração, a interligação dos Municípios do nosso Estado. Além disso, temos que tratar das rodovias no sentido leste-oeste, para que o cidadão não precise sair de Matupá descendo à Barra para subir para Porto Alegre do Norte. Precisamos da pavimentação da BR-242, precisamos, sim, da pavimentação no sentido leste-oeste. Resolvendo a questão indígena, precisamos tratar desse tema.

            Muito bem. O asfalto traz desenvolvimento, traz saúde, traz educação. Saúde para que uma ambulância possa levar um paciente com problema de alta complexidade de uma cidade para outra, num tempo que seja razoável para salvar a sua vida. Para atrair mais profissionais da educação, mais indústrias e serviços...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - Sr. Presidente, se me permite, eu tenho mais um tempo para terminar o meu discurso.

            A interligação asfáltica entre todas as cidades de Mato Grosso é muito importante. No entanto, ela precisa sair do papel. Não podemos desprezar o tempo. Ele é senhor de tudo. Infelizmente, o mandato do atual governo terminará sem que boa parte das promessas tenha saído do papel. Dois mil e duzentos quilômetros de estrada foram prometidos, mas não foram concluídos.

            Vi o asfalto novo que liga a cidade de Canabrava do Norte até a BR-158, um dos poucos trechos entregues à população. Em outras cidades, apenas alguns quilômetros foram asfaltados, na porta de entrada do Município, para que a população tenha a sensação de que a obra está saindo do papel.

            E também precisamos ficar atentos aos desvios de recursos. Neste caso, nem estou falando de corrupção, mas de desvio de finalidade do dinheiro.

            Para fazer o asfalto de que tanto necessitam as cidades do interior de Mato Grosso, o Governo do Estado deveria utilizar o dinheiro arrecadado com o Fethab, um fundo criado para transporte e habitação que hoje arrecada quase R$900 milhões. No entanto, foi realizado um empréstimo de R$1,5 bilhão para o programa de pavimentação, mais 490 milhões para o programa de ponte. Ou seja, os cidadãos mato-grossenses, principalmente os produtores, estão pagando duas vezes por cada trecho de asfalto.

            Srs. Senadores, amigos de Mato Grosso, quem vai ao Vale do Araguaia encontra muitos problemas sim, mas preciso reconhecer que mesmo o pouco que foi feito representa muito. Cada metro de asfalto feito no Vale do Araguaia significa quilômetros de oportunidades e qualidade de vida.

            Mas, como já disse aqui, ainda é preciso muito; ainda é preciso muito. A região do Norte Araguaia está no escuro. Em quase todas as cidades em que estive, a energia elétrica acabou pelo menos uma vez. Ficamos no escuro. Não há potência para atender à demanda. A comunicação, seja via telefonia móvel ou Internet, também é precária.

            O Prefeito de Confresa, o Prefeito Gaspar, relatou que, por várias vezes, servidores da prefeitura precisam trabalhar à noite, pois é único horário em que a Internet funciona em velocidade satisfatória.

            Já estou encerrando, Sr. Presidente.

            Amigos que nos acompanham, o Estado de Mato Grosso vive um momento crucial de sua história. O quadro macroeconômico aponta para grandes questões e gargalos a ser enfrentados, entre eles o alto endividamento do ente federativo para os próximos anos, escassez de recursos para investimentos e necessidade de incrementar a infraestrutura de estradas, ferrovias e hidrovias com o fim de viabilizar a competitividade do Estado.

            No entanto, governar significa escolher prioridades. O cobertor é curto. Parece aquele cobertor antigo, o Miotto, cobertor seca poço: você cobre a cabeça, destampa o pé; se cobre o pé, a cabeça fica de fora.

            O cobertor é curto, muito curto. Por isso é importante ter prioridades. Em Mato Grosso, devido à Copa do Mundo, decidiram fazer um trem de 22km, que alguns estão chamando de “trem da Ilha da Fantasia” ou de “trem da Disneylândia”. Trata-se de um trem de 22km, chamado Veículo Leve sobre Trilhos, ao custo de R$1,477 bilhão para 22km. Com esse dinheiro poderíamos asfaltar a BR-158 no Araguaia, que será uma importante via de escoamento da produção, e ainda sobraria dinheiro para o MT Integrado, a MT-433, de Alto Boa Vista, e a MT-100, de Luciara, Araguainha, Torixoréu e Ponte Branca.

            Não estou aqui como portador apenas de notícias ruins. Estou relatando o que vi, o que ouvi. Estamos discutindo alternativas para transformar a região do Araguaia, também chamada, como eu disse, no passado, de Vale dos Esquecidos. Mas hoje é vale da esperança, vale das oportunidades.

            Continuo fazendo o meu trabalho, dialogando com a população. Conheço o Araguaia, seus problemas e potencialidades. Voltei agora para falar novamente e diretamente com os cidadãos que lá eu vi e conheci.

            Já estamos trabalhando, fazendo gestões junto às esferas competentes para resolver os problemas que me foram trazidos, como eu aqui já relatei. Além disso, o diálogo com os cidadãos, seja do menor Município, seja da capital, é fundamental para a elaboração e apresentação de projetos e para o meu posicionamento em votações de matérias aqui nesta Casa.

            Relatei aqui as situações deprimentes que vi: de escolas que parecem não ter condições de receber alunos, com telhado caindo; estradas precárias...

(Soa a campainha.)

            O SR. PEDRO TAQUES (Bloco Apoio Governo/PDT - MT) - falta de hospitais de qualidade. Mas, naquela distante e quase esquecida parte do Estado de Mato Grosso, existem cidadãos que mantêm a esperança. Brasileiros que lá nasceram ou para lá foram, assim como eu, mantêm a esperança de que a região do Araguaia tenha destaque no Estado, mais ainda, não apenas em função dos problemas, mas pela capacidade produtiva e turística e pela dignidade do seu povo, Sr. Presidente.

            Encerro dizendo que, amanhã, sexta, sábado e domingo, percorreremos mais dez Municípios do Estado do Mato Grosso para que possamos levar o nosso mandato ao cidadão.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância com o tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/02/2014 - Página 68