Discurso durante a 24ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Solidariedade ao povo ucraniano; e outro assunto.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. HOMENAGEM, FEMINISMO.:
  • Solidariedade ao povo ucraniano; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 11/03/2014 - Página 94
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. HOMENAGEM, FEMINISMO.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, UCRANIA, AUSENCIA, ESTABILIDADE, POLITICA, OPOSIÇÃO, ORADOR, GUERRA, RUSSIA, ENFASE, NECESSIDADE, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, PRIORIDADE, SOLUÇÃO, PAZ.
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MULHER.

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Apoio Governo/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, ocupo a tribuna hoje para prestar minha integral solidariedade a todo o povo ucraniano, que vem enfrentando, desde o ano passado, um processo de grande instabilidade política em seu país.

            O momento atual é bastante delicado, e, acima de tudo, é fundamental esgotar todas as possibilidades de superá-lo sem que haja qualquer conflito militar. Estamos diante de uma situação bastante peculiar que deve ser enfrentada com a devida atenção e cuidado, pois, afinal, trata-se de uma nação dividida: uma parte da população, que fala ucraniano, localiza-se no oeste do território e seria pró-ocidente, e a outra parte, que fala russo, localiza-se e está distribuída no leste e no sul do país e posiciona-se a favor da Rússia.

            Não me move aqui o mérito ou as razões de cada um dos lados - o que deixo para o povo ucraniano -, mas, sobretudo, ressaltar que, em primeiro lugar, antes de tudo e de qualquer interesse econômico, religioso e político, está a vida, está o ser humano, estão as crianças, os idosos, os pais de família. Muitas famílias, neste caso, são compostas por membros de ambas as nacionalidades, ucranianos e russos, que poderiam ser levados a um conflito absolutamente desnecessário.

            Evitar a guerra a qualquer custo deve ser a principal meta de todos os lados envolvidos. É preciso perceber que a principal responsabilidade de um governo é primeiramente com seu povo, com sua segurança e com seu bem-estar. E, neste caso, é impensável negligenciar a dor que seria causada a tantas pessoas, cuja relação história e cultural é tão evidente, por meras razões de natureza geopolítica.

            Com pesar e com preocupação, tenho ouvido referências que associam essa situação da Ucrânia ao início da Segunda Guerra Mundial e fico imaginando que não poderíamos sequer considerar repetir as tragédias daquele evento, com um número absurdo de mortes de ambos os lados, inclusive de muitos russos e ucranianos, e com uma tremenda dor causada a muitos. Ao final, o mundo ficou dividido, a Alemanha ficou dividida, e muitos alemães ficaram separados de seus familiares e amigos por um muro que, por muito tempo, envergonhou a humanidade. Pois eis que poderemos estar diante de uma nova divisão, agora entre ucranianos e ucranianos, que, independentemente de sua simpatia pelo ocidente ou pelos russos, são um povo, são uma etnia, uma nação.

            A relação entre o Brasil e a Ucrânia é antiga e já supera 120 anos desde que os primeiros imigrantes desembarcaram na cidade de Mallet, no meu Estado, o Paraná. Hoje, os descendentes de ucranianos no Brasil, Sr. Presidente, somam mais de 500 mil pessoas, sendo que a maioria deles - cerca de 80%, 400 mil ucranianos - está no meu Estado, no Estado do Paraná.

            No Paraná, a maior concentração de ucranianos encontra-se em Curitiba, com aproximadamente 55 mil pessoas, mas o maior percentual local está no Município de Prudentópolis: numa população de pouco mais de 50 mil, os habitantes de origem ucraniana somam mais de 38 mil, cerca de 75% da população local. Há pelo menos outras cinco cidades no Paraná em que os descendentes de ucranianos representam mais de 45% da população local.

            Além dos laços estabelecidos a partir da imigração, também cooperamos com a Ucrânia em outros segmentos, destacando-se ultimamente a cooperação na Base de Alcântara para o lançamento de satélites.

            Mas o Brasil também coopera muito com a Rússia. Somos parceiros no BRICS, e aqui também chegaram milhares de russos, que escolheram aqui para viver e que igualmente contribuem para o desenvolvimento do nosso País, do nosso Brasil.

            Exatamente por isso, por representar um Estado e um País que tão bem recebeu os mais variados povos, oriundos das mais variadas partes do globo, que aqui vivem em plena harmonia e paz, invoco o espírito diplomático brasileiro para conclamar todos os envolvidos com este momento da Ucrânia a utilizar o bom senso, a discutir e debater o tanto quanto for necessário para solucionar o problema, sem que haja nenhum derramamento de sangue além do que já houve.

            Particularmente entendo que o grande desafio é assegurar a estabilidade necessária naquele país, para que o povo ucraniano, democraticamente, seja o único responsável por determinar seu futuro.

            Por sua vez, compete ao mundo, à Organização das Nações Unidas, trabalhar intensamente para garantir um ambiente estável dentro da Ucrânia, em todas as suas regiões. Mais do que isso, é responsabilidade de todas as grandes nações evitar, a qualquer custo, ações e declarações que possam gerar ainda mais tensão nas relações. Não é admissível que qualquer projeto ou estratégia geopolítica, de quem quer que seja, possa sobrepor-se à urgente necessidade de pacificar os ânimos e de lutar pelo restabelecimento da unidade entre o povo ucraniano. Não há espaço para questões menores e muito menos para que outros que não sejam ucranianos, sejam eles pró-ocidente ou pró-russos, interpretem o que é melhor para o país.

            Sr Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encerro, reafirmando minha absoluta solidariedade com todo o povo ucraniano, convicta de que o maior mal, que deve ser evitado a todo custo, é exatamente a guerra. Seria uma grande decepção constatar a falência da diplomacia mundial caso, mais uma vez, não conseguíssemos evitar um conflito tão absurdo.

            Como pacifista que sou, não imagino nada mais importante para os 500 mil ucranianos que residem no Brasil e para os mais de 400 mil que vivem no Paraná do que a tranquilidade de saber que seus familiares e amigos que estão na Ucrânia não correm nenhum risco e não sofrerão as agruras de uma guerra contra uma nação irmã. Espero que, em mais esse teste, a humanidade tenha o bom senso de exaurir as possibilidades de solução pacífica para o impasse e que prevaleçam, ao final, os promotores da paz e não os senhores da guerra.

            Eu queria aproveitar a oportunidade, Sr. Presidente, para fazer uma saudação a todas as mulheres brasileiras pela passagem do dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Quero me pronunciar ainda neste Senado sobre o mês de março, mês em que comemoramos as conquistas e em que também fazemos uma reflexão sobre os desafios que temos na sociedade brasileira e no mundo. Porém, deixo para fazê-lo na sessão especial no dia 25 de março, que será uma sessão solene no Senado da República, uma sessão do Congresso Nacional em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, quando também acontecerá a entrega do prêmio Bertha Lutz.

            Hoje, mais uma vez, reforço aqui esse apelo, para que, na Europa, na Ucrânia, haja uma situação pacífica. Que o objetivo maior lá seja salvar vidas e dar condições de desenvolvimento àquela população!

            Obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/03/2014 - Página 94