Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do escritor colombiano Gabriel García Márquez; e outros assuntos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
TELECOMUNICAÇÃO. HOMENAGEM.:
  • Pesar pelo falecimento do escritor colombiano Gabriel García Márquez; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2014 - Página 235
Assunto
Outros > TELECOMUNICAÇÃO. HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, ENTIDADE, SOCIEDADE CIVIL, MOTIVO, CONTRIBUIÇÃO, VOTAÇÃO, PROJETO DE LEI, ASSUNTO, REGULAMENTAÇÃO, UTILIZAÇÃO, INTERNET.
  • APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, VOTO DE PESAR, OBJETIVO, HOMENAGEM POSTUMA, ESCRITOR, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, GANHADOR, PREMIO LITERARIO, IMPORTANCIA, CULTURA, POLITICA, AMERICA LATINA.
  • HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, ESPORTE, TELEVISÃO, BRASIL, COMENTARIO, CONTRIBUIÇÃO, AUMENTO, POPULARIDADE, VOLEIBOL, LOCAL.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Quero aqui cumprimentar a Avaaz, Barão de Itararé, FNDC, Mídia Ninja, Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, Intervozes, o MST, a UNE, todas as entidades que aqui estiveram pedindo que votássemos o Marco Civil da Internet, de maneira a preservar a neutralidade da rede, a liberdade de expressão, a privacidade do usuário na internet brasileira.

            Parabéns a todos vocês por essa votação. Um marco tão importante! Parabéns ao Alessandro Molon e a todos que colaboraram tão intensamente para esse resultado.

            Eu gostaria, antes de aqui prestar a minha homenagem a Gabriel García Márquez, de assinalar que estão presentes aqui os representantes da Santa Casa de Misericórdia de Igarapava: a Srª Iracema Saldanha Junqueira, provedora; e também os advogados que aqui colocam a importância. Foi encaminhado um ofício ao Ministro Arthur Chioro dos Reis, para que possa ser dada a atenção devida à Santa Casa de Misericórdia de Igarapava, que realiza mais de 6 mil atendimentos mensais aos usuários do SUS, garantindo a cobertura de mais de 27 mil habitantes.

            Meus amigos, sejam muito bem-vindos.

            Gostaria de requerer, Sr. Presidente, nos termos do art. 218, inciso VII, e art. 221, do Regimento Interno, inserção em ata de voto de pesar pelo falecimento do escritor colombiano, prêmio Nobel de literatura em 1982, Gabriel Garcia Márquez, na última quinta-feira, dia 17 de abril, aos 87 anos, bem como a apresentação de condolências a sua esposa Mercedes Barcha e aos filhos Rodrigo e Gonzalo Garcia.

            Considerado um dos mais importantes escritores do século XX, um dos mais renomados autores latinos da história, Gabriel Garcia Márquez nasceu em Aracataca, na Colômbia, em março de 1927. Aos 20 anos, Gabo, como era chamado, mudou-se para Bogotá, chegou a estudar Direito e Ciência Política na Universidade Nacional de Colômbia, mas não concluiu o curso, preferindo iniciar a carreira de jornalismo.

            Trabalhou, um ano depois, como repórter do Jornal El Heraldo, em Barranquilla, foi crítico do El Espectador, antes de partir para a Europa em 1961, como correspondente estrangeiro. No El Espectador, publicou seu primeiro conto, em 1947, La Tercera Resignación, e foi anunciado pelo editor de suplemento literário do Jornal, Eduardo Zalamea Borda, como o novo gênio da literatura colombiana.

            Em 1950, quando escrevia seu primeiro romance, provisoriamente chamado La Casa, voltou ao povoado onde viveu os primeiros anos, Aracataca, para vender a casa dos avós, com quem passou parte da infância. Mudou o título do romance e criou, então, a cidade fictícia de Macondo. 

            Já casado e com dois filhos, nos anos 1960, foi para o sul dos EUA, mas não conseguiu visto de permanência por ser filiado ao Partido Comunista. Em 1971, voltou aos Estados Unidos para receber o título de doutor honoris causa da Universidade de Columbia.

            Seu primeiro romance, O Enterro do Diabo: A Revoada, foi escrito no início da década de 50, mas publicado apenas em 1955, por iniciativa de amigos enquanto estava na Europa. O sucesso internacional, no entanto, veio principalmente após a publicação de seu romance mais famoso Cem Anos de Solidão, em 1967, livro com o qual ele conquistou o mundo literário, recebendo do poeta chileno Pablo Neruda seu maior elogio: “É o melhor romance escrito em castelhano desde Cervantes”. E eu, de muitas pessoas queridas, ouvi, quando tiveram a notícia do falecimento de Gabriel García Márquez, que Cem Anos de Solidão foi o melhor livro que eu já li.

            Fiel ao comunismo e aliado aos cubanos, criou em Cuba um curso de cinema pelo qual passaram alguns realizadores brasileiros. Ele mesmo teve experiência na área, assinando a adaptação cinematográfica de O Galo de Ouro, de João Rufo, feita em 1963, em parceria com Carlos Fuentes.

            Obra prima de García Márquez, Cem Anos de Solidão vendeu até hoje mais de 50 milhões de exemplares, considerado, ao lado de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, um dos livros mais importantes da literatura em língua espanhola e traduzido para 35 idiomas.

            Entre seus títulos mais conhecidos estão ainda A Incrível e Triste História de Cândida Erêndira e Sua Avó Desalmada, O Outono do Patriarca, 
Crônica de Uma Morte Anunciada
, Do Amor e Outros Demônios, Memórias de Minhas Putas Tristes e O Amor nos Tempos do Cólera. “Foi a época em que fui quase completamente feliz. Gostaria de que minha vida tivesse sido como naqueles anos em que escrevi O Amor nos Tempos do Cólera”, afirmou García Márquez ao New York Times.

            Márquez recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982 pelo conjunto de sua obra. Foi o primeiro colombiano e o quarto latino-americano a receber o prêmio. Na ocasião, agradeceu com um discurso intitulado A Solidão na América Latina. Eu gostaria de conclamar a todos para lerem e relerem este tão belo discurso, A Solidão na América Latina, que conclama todos os governantes da América Latina a efetivamente cuidar de como acabar com a desigualdade, de como acabar com a pobreza, de como prover dignidade e liberdade real para todas as pessoas na América Latina.

            O Presidente da Colômbia, onde o escritor nasceu, Juan Manuel Santos, em sua página no Twitter, postou: “1000 anos de solidão e tristeza pela morte do maior colombiano de todos os tempos. Os gigantes nunca morrem.”

            Também no Twitter, o Presidente do Equador, Rafael Correa, escreveu: “Perdemos o Gabo. Teremos anos de solidão, mas ficam as suas obras e o amor pela grande pátria. Até a vitória sempre, Gabo, querido”.

            O Presidente do México, onde o autor colombiano morava, Enrique Peña Nieto, usou a mesma rede social para lamentar a morte daquele que considera um dos maiores escritores de todos os tempos: “Nascido na Colômbia, por décadas, fez do México o seu lugar, enriquecendo nossa vida nacional. Descanse em paz.”

            A Fundação Casa de Jorge Amado, instituição sem fins lucrativos que preserva e divulga o acervo do autor brasileiro, prestou homenagens ao escritor colombiano, por meio do Twitter, com uma foto de Jorge Amado e García Márques tirada pela esposa do brasileiro, Zélia Gattai, em um festival literário na França, na década de 70.

            O escritor brasileiro Paulo Coelho, por meio do Twitter, citou um trecho escrito por Márques: “A vida não é a que a gente viveu e sim a que se recorda e de como se recorda para contá-la.”

            Isabel Allende, a grande escritora chilena, ressaltou a importância de Gabo para sua carreira literária.

Ele me deu motivação e liberdade para me lançar na literatura porque nos seus livros eu encontrei minha família, meus pais, personagens familiares a mim, as cores, o ritmo e a abundância do meu continente. Meu professor morreu e eu vou continuar a lê-lo mais e mais

            Mario Vargas Llosa, escritor peruano, também lamentou a perda do escritor. “Morreu um grande escritor cujas obras deram grande difusão e prestígio à literatura de nossa língua.”

            É importante registrar que inclusive a nossa querida Presidenta, Dilma Rousseff, ressaltou no seu Twitter a extraordinária criatividade e capacidade do escritor Gabriel García Márquez.

            Espirituoso, García Márquez sempre tinha uma frase para descrever uma situação ou sentimento. Eu gostaria de citar uma que para mim demonstra a grandeza do homem e do escritor García Márquez, abrindo aspas para ele: “Não é verdade que as pessoas param de buscar seus sonhos porque envelhecem. Elas envelhecem porque param de buscar os seus sonhos”.

            Sr. Presidente, também gostaria de hoje prestar a minha homenagem e um voto de pesar pelo falecimento ocorrido no último sábado, dia 19 de abril, do grande jornalista e narrador esportivo Luciano do Valle, aos 66 anos, de um infarto durante um voo de São Paulo para Uberlândia, em Minas Gerais, bem como a apresentação de condolências à sua esposa, Flávia do Valle, às suas filhas, Patrícia, Alessandra e Fernanda, ao filho Lorenzo e aos netos e netas.

            O esporte brasileiro está de luto. Morreu, na tarde do último sábado, 19 de abril, em Uberlândia, o narrador esportivo Luciano do Valle.

            Filho do comerciante Rubens do Valle e da professora Tereza de Jesus Leme do Valle, nasceu em Campinas, em 1947. Começou sua carreira profissional aos 16 anos como locutor da Rádio Educadora, ao lado do radialista Lombarde Neto. Logo estava na Rádio Brasil, ainda em Campinas. O primeiro trabalho em São Paulo foi na Rádio Gazeta, a convite do lendário narrador Pedro Luiz.

            Em 1968, mudou-se para a Rádio Nacional, onde foi uma das maiores referências na locução esportiva. Pela emissora também participou da cobertura e da conquista do tricampeonato mundial de futebol na Copa do Mundo no México. No mesmo ano passou a fazer parte da equipe da Rede Globo, onde trabalhou por 11 anos. Sua primeira transmissão ocorreu em partida de basquete masculino, no Troféu Governador do Estado de São Paulo.

            Em 1982 passou a compor a equipe esportiva da TV Record. Atualmente trabalhava na Rede Bandeirantes, onde entrou em 1983. Chamado de “o melhor gol da TV”, era considerado um dos principais profissionais da imprensa esportiva do País, tendo transmitido copas do mundo, olimpíadas, Fórmula Um, Fórmula Indy, além de ter sido apresentador do Globo Esporte.

            Luciano do Valle teve papel fundamental no esporte brasileiro, uma vez que impulsionou diversas modalidades esportivas que não tinham espaço na TV  
aberta. Organizou o jogo memorável entre o Brasil e a União Soviética no Maracanã, que mudou a maneira de o brasileiro assistir os jogos de vôlei. Foi fundamental para a popularização do esporte em nosso País. Abriu espaço para as nossas eternas jogadoras Hortência e Paula, transmitiu jogos de futebol feminino, alavancou a carreira de Maguila e deu início às transmissões da NBA e do futebol americano no Brasil.

            Algumas de suas narrações ficaram célebres, como a do último gol de Zico pela seleção brasileira entre o amistoso contra a Iugoslávia, em 1986, quando lançou a máxima “Não há palavras para descrever o gol de Zico”, a do gol do Ronaldinho Gaúcho pelo Brasil contra a Venezuela, na Copa América de 1999, “Golaço desse menino que é ótimo” e a do gol de Edilson pelo Corinthians sobre o Real Madri, no Mundial de Clubes, em 2000, quando disse: “Eu sou o Edilson, o Capeta”.

            Em 2013, completou 50 anos de carreira. O último jogo narrado foi a final do Campeonato Paulista.

            Comentarista da Band, com Luciano do Valle, há dez anos, o ex-jogador Neto quase não conseguiu falar do amigo. Chorando muito, com voz embargada, o Camisa 10 fez um emocionante discurso sobre seu conselheiro:

Sei da dificuldade que ele estava passando como pessoa. Não estava muito bem de saúde, não. É muito triste, porque estava com vontade tão grande de fazer essa Copa do Mundo de 2014. Ninguém sabia que ele estava um pouco doente.

            Para o público que acompanhou o esporte pela televisão nos últimos 30 anos, Luciano do Valle e Galvão Bueno eram antagonistas. Na maior parte das grandes competições, um estava ao vivo pela Band, e o outro pela Globo. Fora do ar, porém, eles eram amigos.

Às vezes ia na cabine do Luciano antes ou depois do jogo. Ele também vinha. Muitas vezes um tentou ajudar o outro quando um torcedor mais violento ia para cima. Ele é um marco, uma bandeira. Me orgulho de falar que fui amigo e concorrente dele durante todos esses anos. Aprendi com ele, como talvez ele tenha aprendido comigo. Ele morreu indo trabalhar. Como será fazer a Copa sem ter ele na outra linha? Vai ser difícil. Como foi bom tê-lo como amigo, como referência e como grande concorrente nesses quase 40 anos. Fica muito mais pobre a comunicação deste País a partir de hoje, com a morte de Luciano do Valle - declarou Galvão Bueno.

            Assim como Galvão, o Ministro do Esporte Aldo Rebelo disse que o jornalismo esportivo brasileiro ficou mais pobre: “Lamento profundamente a morte de Luciano do Valle e me solidarizo com os parentes e amigos do grande narrador. O jornalismo brasileiro, especialmente o jornalismo esportivo fica empobrecido com essa perda.”

            A Confederação Brasileira de Futebol determinou um minuto de silêncio antes das partidas da primeira rodada do Brasileirão e lembrou que Luciano faleceu quando voava para transmitir um jogo da competição.

            E tão bonita foi a homenagem nos estádios do Brasil, por todos os lugares, pela forma como o povo, de maneira vibrante e emocionada, se despediu de Luciano do Valle.

            Já a Confederação Brasileira de Basquete, que viu Luciano do Valle narrar o título mundial da seleção feminina em 1994, se pronunciou por meio de Carlos Nunes, seu Presidente: “Foi uma grande perda para o jornalismo brasileiro. O Luciano foi responsável pelo crescimento e pela divulgação de várias modalidades esportivas, em especial o basquete.”

            Entre os clubes também aconteceram algumas homenagens ao locutor. Carlos Miguel Aidar, Presidente do São Paulo, classificou Luciano como um patrimônio do desporto. No Corinthians, a lembrança foi de que ele foi o único a narrar os dois títulos mundiais do clube, conquistados em 2000 e 2012.

            Irmanado nessa tristeza que assola todo o País, considero que Luciano do Valle, por tudo que fez para desenvolver o gosto pelo esporte e a vocação desportiva dos nossos jovens nas diferentes modalidades que apoiou, narrou e comentou, deixa uma lacuna na vida esportiva brasileira difícil de ser preenchida.

            Eu gostaria, Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, até recordando um pouco o apelo que a Ministra Marta Suplicy fez hoje na Comissão de Educação, Cultura e Esporte, de registrar o quão importante é que todos nós brasileiros venhamos a dar as boas-vindas aos esportistas, aos craques, às equipes e às torcidas de todos os países do mundo que vão nos visitar. Que possamos todos nós percebermos o quanto o futebol é a paixão do povo brasileiro. Ao considerar que o esporte, em especial o futebol, é um instrumento de...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... fraternidade e de solidariedade entre os povos, vamos, sim, dar exemplos e dizer a todos que estão fazendo manifestações para parar a Copa: vamos transformar essas manifestações para inclusive reconhecer que, com tantos recursos que virão para o Brasil, aí, sim, teremos condições de exigir que esses recursos sejam bem canalizados para aquilo que os jovens e o povo têm dito que é melhorar a educação, melhorar a saúde, o transporte público e tudo que se faz necessário para resolver os problemas da população, sobretudo a mais carente, no Brasil.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2014 - Página 235