Discurso durante a 60ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas à abordagem da imprensa acerca da postura do Governo do Acre referente ao deslocamento de imigrantes haitianos desse Estado para São Paulo.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO ACRE (AC), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO ESTADUAL, IMPRENSA.:
  • Críticas à abordagem da imprensa acerca da postura do Governo do Acre referente ao deslocamento de imigrantes haitianos desse Estado para São Paulo.
Aparteantes
Acir Gurgacz, Anibal Diniz.
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2014 - Página 123
Assunto
Outros > ESTADO DO ACRE (AC), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO ESTADUAL, IMPRENSA.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, IMPRENSA, REFERENCIA, DESLOCAMENTO, IMIGRANTE, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, ORIGEM, ESTADO DO ACRE (AC), DESTINO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta Vanessa, queria cumprimentar todos nesse começo de semana, e não posso fazer uso da tribuna do Senado e deixar de tratar de um tema que, hoje, felizmente, felizmente, começa a fazer parte da pauta da grande imprensa brasileira.

            Que bom que isso está acontecendo, apesar de esse tema - refiro-me à questão dos haitianos - estar sendo tratado de forma absolutamente equivocada, a partir da desinformação pelo menos por uma parcela importante dos veículos de comunicação.

            O Brasil inteiro parece que agora tomou conhecimento de que nós temos uma situação que envolve imigrantes haitianos, refugiados. Sabe há quantos anos o Acre está lidando com essa questão dos haitianos? Três anos e cinco meses. Penso que não são justos os termos usados contra o Governador Tião Viana: “Acre desova haitianos em São Paulo; Governo do Acre deporta haitianos.”

            Primeira questão: no Acre, nós não temos haitianos, os haitianos passam pelo Acre. Vivendo lá estão 40 deles, em torno de 40 que escolheram ficar lá, e estão bem acolhidos. Mas parece que alguns não sabem que o Acre é um Estado fronteiriço, na tríplice fronteira: Brasil, Bolívia e Peru - começa daí.

            Segundo: jornalistas de renome, pessoas de quem apreciamos o trabalho, que lemos na busca da boa informação, escrevem matérias - e eu não vou dizer que são preconceituosas porque não posso fazer esse juízo - que estão cheias de equívocos.

            Eu tenho respeito pela história do jornalista Elio Gaspari. É fonte de informação, mas, com todo o respeito, ele está desinformado sobre a questão dos haitianos e foi, no mínimo, injusto com o Governador Tião Viana e com o povo acriano.

            Nós do Acre não nos estamos querendo livrar do problema dos haitianos. Se isso acontece em São Paulo, todos os dias, ou em outros lugares, não pode ser transposto para o Acre pura e simplesmente. Não é verdade. Nós não estamos lidando com a questão dos haitianos de ontem para cá, dessa semana para cá, quando São Paulo acordou para o problema. Estamos lidando com a questão dos haitianos há três anos e cinco meses.

            Muita coisa aconteceu nesse período, mas uma delas se mantém, que é a atitude humanitária do Governo do Acre com esse povo. Alguém é capaz, estando no governo, mesmo de um Estado que não é o mais rico do País, como é São Paulo; de um Estado igual a muitos outros, que tem muitas dificuldades... Chega um imigrante sem documento, que está passando fome, e você não dá de comer? Está querendo um abrigo, e você não dá o abrigo? No Acre, a gente sempre aprendeu a fazer isso. Quer ser bem tratado, cidadão de São Paulo ou de qualquer outro lugar? Vá para o Acre. O acriano, mesmo que a comida que tenha seja pouca, se chegar alguém com fome, ele divide esse pouco que tem com quem está com mais fome. Se for mais pobre, mais solidariedade. Digo que os mais pobres acrianos são até mais solidários do que aqueles que têm uma condição de vida melhor, porque o Acre foi formado por uma migração, por nordestinos, por gente do mundo inteiro, e nós viramos um povo. Nós sabemos o que é isso. Quem mora no Acre, quem vive nas cabeceiras dos rios da nossa região sabe o que significa escassez de comida.

            E chamo a atenção dos jornalistas, dos editores de jornais, dos repórteres. A BBC de Londres escreveu uma matéria completamente equivocada - a BBC de Londres no Brasil -, porque há uma desinformação. E aí estão pegando o estereótipo: “O Governo do Acre mandou 400 haitianos para São Paulo.” Não é verdade!

            Aliás, em São Paulo, quem está cuidando dos haitianos é a igreja. É uma vergonha o Governo de São Paulo não ter coragem de assumir um problema tão pequeno como esse. Esse é um problema grande para o Acre. E, lá no Acre, não é a igreja que está cuidando dos haitianos; é o nosso Governo, é o médico e Governador Tião Viana. Somos todos nós.

            Quantas vezes fui lá? Está aqui o Senador Anibal. Quantas audiências fizemos aqui? Levamos o Presidente da Comissão de Relações Exteriores, levamos o Ministro da Justiça duas vezes, chamamos a atenção do Brasil. Apresentei fotografias aqui, dezenas de discursos, fizeram ouvidos de mercador: “Ah, é pobre, negro e num Estado pequeno, isso não é notícia, deixa lá”. Mais de 20 mil haitianos passaram pelo Acre.

            Agora, quando chegam lá num dia, querem ir embora no mesmo dia, querem vir para cá, é a busca do sonho brasileiro, é a busca de trabalhar. Não é o Governo do Acre que faz propaganda para haitiano vir para o Brasil, ninguém avisa o Governo do Acre quando vão chegar 200, 300 haitianos. Chegam e, no outro dia, tem que dar de comer. E não vamos atrás do padre, da paróquia para dar de comer, não, como o Governo de São Paulo está fazendo, como a prefeitura de São Paulo está fazendo.

            Lá, pegamos o pouco que temos e damos de comer a quem tem fome e, se for uma população desesperada, pobre, como está vivendo uma parcela do Haiti, para esses, damos um atendimento melhor.

            Vim à tribuna com uma intenção: não foi afrontar ninguém de São Paulo, não foi questionar a imprensa, vim procurar esclarecer, vim pedir o apoio e a ajuda dos grandes jornalistas desse País, do Governo de São Paulo e de todos os outros Estados.

            Hoje, o jornal Bom Dia Brasil, da TV Globo, deu um tratamento, eu diria, bem diferente dos outros que estavam sendo dados, inclusive no Fantástico. A Rede Globo deu um tratamento correto. A jornalista Renata Lo Prete foi procurar informação antes, porque estava bem informada quando fez seu comentário hoje. Mas essa é a exceção, porque a regra é todo mundo falando sobre a questão dos haitianos a partir da desinformação. Não vou dizer que é maldade, não vou fazer isso, mas a desinformação se confunde às vezes com o preconceito. Quer dizer que São Paulo, que é um Estado que tem a maior cidade da América Latina, formada por gente que veio de toda parte do Brasil e do mundo, do japonês ao paraibano, agora, quando houver um ônibus chegando com 30, 40 cearenses, o Governador do Ceará tem que avisar: “Olha, São Paulo, estão chegando aí 30 cearenses.” Alguém vai dizer: “Não, não se trata disso, Senador. Nós estamos falando de haitianos.” Mas os haitianos que chegam ao Acre chegam sem avisar, chegam e querem partir...

            Olhe, fiquem tranquilos, Governo de São Paulo, Srª Secretária da Cidadania de São Paulo, porque eles não estão querendo ir para São Paulo - só uma pequena parcela. Eles estão sendo muito bem recebidos nos Sul do País. Dos 20 mil que passaram pelo Acre, mais de 10 mil foram para os Estados do Sul e estão lá trabalhando. Eles estão vindo do Haiti por conta de uma tragédia humana que o Haiti vive há muito tempo. E os países ricos, os poderosos deste mundo tampam os ouvidos e fecham os olhos. Houve um terremoto no Haiti há poucos anos. Com essa situação, o nosso Governo, ainda quando o Presidente Lula governava este País, foi lá fazer uma missão solidária.

            Eles têm uma admiração pelo nosso País. Mas sabe como funcionava a vinda de haitianos para o Brasil há três anos, em 2010? Só cem haitianos por mês podiam ter visto na Embaixada em Porto Príncipe. Estou trazendo uma informação. A política era esta: cem haitianos por mês; 1.200 por ano. Sabe o que eles fizeram? Encontraram uma forma alternativa, começaram a ir para Tabatinga e a descobrir essa rota por Brasileia, no Acre.

            E por que eles estão vindo? Porque o Governo brasileiro estava lá também. Eles têm um número grande de parentes aqui, estão numa miséria lá, e o Brasil está vivendo a fase do pleno emprego, de uma expansão econômica, que não é comum nos outros continentes e nas outras regiões desse mundo. Então, muitos deles começaram a vir pelo Acre, numa rota perigosa, de exploração, e, aí, sim, explorados pelos “coiotes”. Eles saem de lá, vão para a República Dominicana; de lá, vão para o Panamá - essa é a rota. Fui por várias vezes ver o assunto. O Senador Anibal esteve lá -, e de lá eles vêm até o Equador, que é um país que não pede visto a ninguém. Quem quiser ir ao Equador vai. E é por isso que eles vão para lá. E, por terra, eles passam pelo Peru e chegam até o Acre.

            Amontoaram-se na fronteira. Alguém pode dizer: “Simples, é só não deixar entrar.” Vai deixar do outro lado do rio, do outro lado da ponte, lá em Assis Brasil, 200, 300 pessoas, crianças, mulheres, passando fome? Não, o nosso País fez uma mudança na regra, o Conare. Nós mudamos as regras. Nós não podíamos, simplesmente, tomar uma atitude e dizer que no Brasil não entra, que no Acre não entra. Isso seria um ato desumano. Isso, sim, se o Acre tivesse adotado, deveria ser reprovado.

            O que é que nós fizemos? Mesmo sem as condições, mesmo sem o conhecimento - pois o mais grave de lidar com essa situação é que não é um assunto fácil lidar com imigrantes. Mais do que isso, nós estamos falando de refugiados. Eles estão vindo ao Brasil e pedindo refúgio aqui. O Acre não está preparado para lidar com refugiados. Sabe onde é que funcionou durante três anos e o Brasil, com a venda nos olhos, sem saber, sem divulgar, sem entender isso como notícia? Sabe onde é que era o maior campo de refugiados da América Latina? No Acre, em Brasileia.

            Há vinte dias, em Brasileia havia 2.700 haitianos. Sabe qual é a população de Brasileia? Dez mil habitantes. Mais de 20% da população de um Município de haitianos, de senegaleses e de gente de várias nacionalidades. 

            Pense numa situação dessas. Começou a haver um conflito enorme com essa concentração, que era sempre de mil e quinhentos, de mil, o que já é gravíssimo.

            São Paulo está todo cheio de razão. A Secretária de Cidadania de São Paulo, a Srª Eloisa de Sousa Arruda, num momento muito infeliz - ela, sim, deve um pedido de desculpas ao Governador Tião Viana, ao povo do Acre, aos haitianos e, talvez, a ela mesma, por dizer que o Governador era um coiote.

            Coiote são os criminosos que exploram os haitianos entre o Haiti até chegar ao Acre. Quantos depoimentos eu ouvi de haitianos falando do quanto foram explorados e do medo que sentiram.

            Agora, nós podemos impedir a entrada deles? O art. 5º da Constituição garante para qualquer cidadão, inclusive estrangeiro que esteja dentro do território, um livre ir e vir. Mas parece que, para São Paulo, não pode ir, tem que avisar antes, tem que pedir licença antes. A Constituição prevê que qualquer cidadão pode ir.

            Aí vão dizer: “Mas é o Governo que está pagando!” Se houver algum sentimento, em qualquer governador, faria o mesmo que o Governador Tião Viana está fazendo. Como é que funciona isso? Para onde foram os 2.700? Porque agora, hoje, tem 270 haitianos num abrigo em Rio Branco, um novo abrigo que o Governo fez, porque não tem saída. Tem dia que chegam 80, sem nenhum aviso.

            Ah, e o Governo está querendo se livrar? Não. Muitos deles ficaram um mês, dois meses lá. Sabe como funcionou no começo, desde o começo? As empresas iam de ônibus pegar para trabalhar nas hidroelétricas, trabalhar nas indústrias têxteis, trabalhar no sul do País, e o Estado do Acre tinha que dar de comer: de manhã, um café; um almoço, uma janta, e o abrigo. E resolver o problema da documentação, e dar assistência à saúde, sem nenhuma condição. Nós reclamamos. Quem tinha que estar assumindo isso era a ONU, o Governo brasileiro, e não o Governo de um Estado.

            Agora, dos 2.700 que estavam lá, por que ninguém reclamou dos outros dois mil que foram para outros Estados? E o questionamento é porque 400 foram para São Paulo, e estão dizendo aqui, eu estou vendo no artigo: “Olha, voluntários estão se inscrevendo”. Voluntário não vai resolver o problema dos haitianos. O trabalho voluntário é uma coisa fantástica! É uma coisa mais grave. Se estão reclamando de 400, preparem-se para milhares, porque quantos mais vão vir?

            O Brasil mudou as regras. Não tem mais a proibição, o limite de cem passaportes, cem vistos por dia. É ilimitado. Todo dia chegam a São Paulo, via Guarulhos, mais de cem haitianos. Ninguém fala nada. E pelo Acre é um pouco menos, porque em Tabatinga parou a entrada.

            Mas, do número de haitianos que estão aqui no Brasil, todos fazem contato com os seus familiares para que outros venham. A tendência é que essa situação vai se ampliar.

            O Ministro da Justiça, nós o levamos ao Acre duas vezes. Eu participei de pelo menos meia dúzia de reuniões no Ministério, com gente de vários Ministérios, no Ministério da Justiça, procurando uma solução.

            E agora parece que o Brasil descobriu que tem a questão dos haitianos e parece que alguns desinformados - só faltava essa! - dizerem que o Acre é o lugar dos haitianos e o Acre está mandando haitianos para São Paulo. Nunca vi uma barbaridade, um absurdo maior que esse. No Acre não tem haitianos. O Acre é apenas um ponto de passagem.

            E mais! Querer simplificar, dizendo que o Governo, pura e simplesmente, está colocando as pessoas no ônibus e mandando-as embora é tratar com a inverdade, com a mentira. Não é isso.

            Houve a cheia do Madeira. O ir e vir ficou impedido no Acre; até de alimentos nós tivemos escassez. Não fosse o empenho do Governo Tião Viana, nós íamos ter uma crise muito maior. Foi decretada situação de emergência, foi pedido o estado de calamidade pública, que está sendo julgado. E acumulou-se o número de haitianos. Os aviões da FAB que nos socorriam, levando alimentos de primeira necessidade e remédios durante a interrupção da BR-364, os haitianos pediam para sair de Brasileia, porque eles não querem ficar nem um dia, e foram transportados para Porto Velho.

            A grande maioria comprou a sua passagem e veio embora encontrar com os seus parentes, com o pouco dinheiro que têm, com o dinheiro que os parentes emprestam. Mas uma parcela pequena pede socorro ao Governo do Acre para vir para cá, para o Sul. E aí o Governo não dá esse apoio?

            Então, não dá para confundir uma atitude humanitária, honesta, decente, elogiável, invejável, porque, se nós fôssemos mais solidários uns com os outros, o mundo não seria tão ruim como é. O nosso Governador Tião Viana, que é uma pessoa humana, um médico, se comoveu com isso e tem procurado fazer a parte dele.

            No Acre, o Secretário de Direitos Humanos chama-se Nilson Mourão, o meu primeiro suplente. Uma pessoa da Igreja, uma figura extraordinária, está dedicado, há três anos, sem ter preparo, lidando com esse tema, junto com alguns poucos funcionários, ajudando, socorrendo. Alguém acha que é fácil? Olha o risco que nós temos corrido. E se tivesse uma morte? Toda hora eu falava aqui da tribuna: e se um senegalês matar um haitiano nos conflitos, como é que nós vamos ficar? Agora, nós nos deparamos com essa situação que falseia a verdade.

            O caso dos haitianos merece respeito, merece uma ação mais organizada do nosso Governo do País; merece um gesto solidário de todos os governantes, dos 27 governadores, porque não é um tema fácil.

            Eu ouço o Senador Anibal Diniz, para poder concluir o meu pronunciamento.

            O Sr. Anibal Diniz (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Obrigado, Senador Jorge Viana pela oportunidade do aparte e quero primeiramente me associar ao pronunciamento de V. Exª e dizer que, logo em seguida, quando fizer o meu pronunciamento, também vou abordar esse assunto para externar a minha mais irrestrita solidariedade ao Governador Tião Viana, porque sou conhecedor, pude fazer inúmeras visitas com V. Exª e com o Governador Tião Viana e acompanhei de perto o trabalho da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Acre, o trabalho do nosso Secretário Nilson Mourão, do Damião, lá em Brasileia, e de tantas outras pessoas que têm se dedicado para fazer uma boa acolhida, para contribuir na feitura e tiragem dos documentos desses haitianos que chegam ao Brasil através do Acre. Dessa forma, eles fizeram o melhor atendimento que puderam aos mais de 20 mil haitianos que já passaram pelo Acre. Não cabe, de maneira alguma, qualquer juízo de valor querendo desmerecer o trabalho e estabelecer alguma atitude preconceituosa ao Governo do Estado do Acre e ao Governador Tião Viana, porque sei que tudo o que eles têm feito tem se pautado na solidariedade, no tratamento humanitário, sempre buscando uma solução. Se, hoje, um grupo de haitianos tem, a partir da sua passagem pelo Acre, se destinado a São Paulo, certamente é porque está nos seus sonhos chegar a São Paulo e a outras cidades e regiões do País em busca de um lugar para trabalhar, em busca de realizar os seus sonhos. Nesse sentido, quero também, aproveitando o aparte a V. Exª, dizer que o Diretório Regional do Partido dos Trabalhadores soltou uma nota ao público para declarar apoio irrestrito e plena solidariedade ao Governador Tião Viana, ao Governo do Estado do Acre, e também ao Secretário de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão, que, de maneira humanitária, acolheu, em três anos e cinco meses, os mais de 20 mil imigrantes que passaram pelo nosso território.

O Acre reconhece o valor de cada ser humano e é solidário, amparado pelos preceitos do [...] Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados e pela Declaração de Brasília Sobre a Proteção de Refugiados e Apátridas no Continente Americano, do qual o Brasil é signatário junto aos demais países da América Latina.

Repudiamos de forma veemente qualquer tipo de segregação, atitudes ou declarações preconceituosas daqueles que não compreendem a responsabilidade do ser humano com seus iguais.

O Estado do Acre vai continuar de portas abertas e prestando apoio [possível] aos que [dele] precisam.

Essa nota vem assinada pelo Diretório Regional do Partido dos Trabalhadores, através de seu Presidente Ermício Sena, justamente para deixar claro que, naquilo que compete ao Governo do Estado do Acre, houve um tratamento humanitário, com plena dignidade conferida aos irmãos haitianos e a outros de outras nacionalidades que entraram no Brasil através do Acre. O Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura de São Paulo precisam se informar a respeito dessa entrada de haitianos e de outras nacionalidades no Brasil porque, ao que consta, pelo menos 200 mil bolivianos vivem e trabalham hoje em São Paulo. São Paulo é um Estado cosmopolita, é uma grande metrópole e é o sonho de destino de milhares de pessoas em torno do Planeta. Então, não é nenhuma surpresa que os haitianos estejam passando pelo Acre ou pelo Estado do Amazonas, através da cidade de Tabatinga, e tenham como destino final o Estado de São Paulo. E faço minhas as palavras de V. Exª, no que diz respeito ao alerta aos jornalistas para que procurem se informar sobre esse assunto porque, há três anos e cinco meses, o Governo do Estado do Acre tem desenvolvido um trabalho de solidariedade e de atenção plena aos haitianos e a pessoas de outras nacionalidades que têm entrado no Brasil pelo Acre.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Cumprimentando V. Exª, Senador Anibal, eu queria concluir, com a compreensão da minha querida Presidenta, dizendo que o Brasil mudou. Como eu falei, havia a restrição de emissão de, no máximo, cem vistos por mês, há três anos, em Porto Príncipe, na nossa Embaixada, e nós tivemos uma resolução, fruto dessa vinda por essa rota ilegal de haitianos para o Brasil, do Conselho Nacional de Imigração. Essa Resolução, de 12 de janeiro de 2012 - veja como aconteceu uma série de coisas e parece que só agora estão descobrindo -,foi fruto de uma batalha nossa e de uma ação do próprio Governo Federal, da Presidenta Dilma, que foi ao Haiti e falou: “Olha, não vamos pôr restrição aos haitianos que chegarem ao Brasil”. Ficou estabelecido que o Brasil daria visto, por razões humanitárias, aos haitianos que chegassem ou que cheguem ao Brasil.

            Como é que funciona? Eles chegam, pedem um documento, que só pode ser dado pela Polícia Federal, que garanta a entrada deles no Brasil. Eles vêm como refugiados, eles pedem refúgio.

            O Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) nega, porque eles não são refugiados clássicos, e manda o processo para o Conselho Nacional de Imigração, que garante o visto de permanência no Brasil. É assim que está funcionando.

            Por esse lado, eu tenho que cumprimentar o Pedro Abrahão e o próprio Ministro da Justiça, por terem feito essa ação, eu diria, humanitária. Mas o problema segue muito grande e sem solução fácil. O número de haitianos aumenta a cada dia e...

(Interrupção do som.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ...nós não temos uma política de acolhimento (Fora do microfone.).

            Srª Presidenta, eu queria aqui fazer um apelo à imprensa brasileira: não façam, apressadamente, um julgamento equivocado. O Governo do Acre, o Governador Tião Viana não fica obrigando, nem estimulando que haitianos venham para São Paulo ou para qualquer outro lugar. A gente dá de comer e dá abrigo, mesmo precariamente, mas são os haitianos que querem, a toda hora, encontrar seus parentes e começar uma vida nova.

            Faço um apelo ao grande jornalista Hélio Gaspari. Acho que foi uma manchete infeliz - “Tião Viana desova os haitianos”. Isso não é verdade. Isso é muito ruim para os haitianos, para esse tema e, também, para o Governador Tião Viana.

            Então, eu faço um apelo ao jornalista Hélio Gaspari. Não há essa ação deliberada do Governador, de...

(Soa a campainha.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ...empilhar haitianos dentro de um ônibus e mandar para São Paulo. Não é assim que está funcionando.

            Nós estamos, há três anos e cinco meses, acolhendo cada cidadão que nos procura, porque nós não podemos mandar de volta, nem temos autoridade, e nem seria humano fazer isso. E temos procurado contato com empresas. Fizemos isso três durante anos e meio, estamos fazendo todo dia. Só que, dessa vez, com a cheia do Madeira, houve um acúmulo ainda maior, o problema se agravou, ficou insustentável, com risco de uma tragédia pela concentração. A FAB ajudou, porque muitos deles estavam há dois meses, três meses, pedindo, pelo amor de Deus, uma passagem para vir para cá, para o sul, para São Paulo, para os outros Estados, para poderem começar a vida e se encontrarem com os seus parentes.

            Foi só isso que o Governador Tião Viana fez. O Acre não tem o preparo nem as condições de lidar com esses refugiados. Nós estamos...

(Interrupção do som.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ...tentando cuidar deles por não termos (Fora do microfone.) alternativa.

            Então, eu agradeço e peço desculpas até por ter me estendido.

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - Senador Jorge Viana, por gentileza, posso lhe fazer um aparte?

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Pois não.

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - Eu cumprimento V. Exª pelo seu pronunciamento. Tenho acompanhado de perto a atuação do nosso Governador Tião Viana, do Acre, com relação aos haitianos. É uma responsabilidade que o Acre não tem, de pagar as passagens e de conduzir as pessoas para qualquer canto do Brasil que elas queiram.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Muitos estão em Rondônia trabalhando nas hidrelétricas, porque quiseram ir. Mas a grande maioria está no Sul. Só que agora deu esse problema com São Paulo e, o pior, a desinformação está conduzindo o debate sobre uma questão tão séria.

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - Essa é uma responsabilidade, inclusive, da União. O Acre está fazendo uma ação, tentando ajudar os haitianos. E não é uma responsabilidade do Acre.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - É da própria ONU, é das Nações Unidas.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - E ele faz isso com muita competência, para não criar um problema ainda maior para o Estado do Acre, que é muito pequeno. E os haitianos não querem ficar no Acre, não querem ficar em Rondônia. Eles querem, realmente, encontrar os seus familiares em vários cantos do Brasil e procurar empregos, que nós não temos em Rondônia e que não há no Acre também. Faço aqui um aparte para dizer que eu tenho acompanhado a atuação do Governador Tião Viana, e ele o faz com muita eficiência. E não há outra coisa a fazer. Então, meus cumprimentos pelo seu pronunciamento e pela atuação do Governador Tião Viana.

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu só espero que esse assunto volte a ser debatido e tratado da maneira adequada. É um tema muito grave, de difícil solução e para o qual temos de estar todos juntos, procurando a melhor condução para ele e não...

(Interrupção do som.)

            O SR. JORGE VIANA (Bloco Apoio Governo/PT - AC) -...tentando retirar razão (Fora do microfone.). Obrigado pela tolerância. O tema, realmente, é muito grave.

            Eu agradeço a todos que me acompanharam. E que não se cometa mais injustiça contra um gesto humano da maior importância do Governador do Acre nessa questão dos haitianos.

            Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2014 - Página 123