Discurso durante a 11ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Homenagem póstuma a Glênio Bianchetti, artista plástico gaúcho.

Autor
Hamilton Pereira da Silva
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem póstuma a Glênio Bianchetti, artista plástico gaúcho.
Publicação
Publicação no DCN de 07/05/2014 - Página 57
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PINTOR, ORIGEM, MUNICIPIO, BAGE (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).

O SR. HAMILTON PEREIRA DA SILVA - Boa tarde a todos e a todas! Eu queria, em primeiro lugar, agradecer ao Senador Cristovam Buarque, amigo de muitos anos, a quem eu devo hoje um duplo agradecimento: primeiro, por ter me convidado para a sessão que homenageia o Glênio; segundo, pela homenagem a Tomás Balduíno, que nos deixou no dia 2 de maio, ao reproduzir aqui o texto que eu escrevi para ele naquela madrugada.

      Deputado Marco Maia, que também é signatário do requerimento para a realização desta sessão, Ministros Sepúlveda Pertence e Ayres Britto, Deputado Eliseu Padilha, que aqui se encontra, eu queria me dirigir a este plenário como se estivesse conversando com a Ailema, porque eu acho que o Glênio nos convida a uma conversa. Às vezes, eu fui até a casa deles e ficávamos tomando um chá, alguma coisa.

      E eu queria começar esta conversa com uma discordância. Eu queria discordar da Senadora Ana Amélia, que foi, digamos, como ocorre com os gaúchos em geral, bastante enfática. Mas eu queria dizer a ela que o céu de Brasília feriu de azul as veias de Glênio Bianchetti. Evidente que Glênio, de Bagé, nunca deixará de ser de Brasília. Esta cidade acolheu com sua luz o trabalho desse homem, esse ofício quotidiano de produzir beleza.

      E aqui quero fazer outro registro. É muito importante que nós não percamos a perspectiva de que o Glênio carregou consigo ao longo da vida a dimensão do artista e a dimensão do cidadão comprometido com a sociedade. Tudo nele era simbólico. Vejam vocês que o santo escolhido por Glênio é, entre todos os santos, o santo da rebeldia, o santo irredutível à norma: Francisco de Assis.

Francisco de Assis nem a Igreja tolerou. A Igreja Católica não tolerou Francisco de Assis. Canonizou-o depois de muitos e muitos séculos, porque ele era irredutível à norma. Glênio desenhou Francisco de Assis de várias formas e maneiras, mas, sobretudo, identificou-se, ao longo de sua vida, com esse homem, com essa figura mítica da igreja católica identificada com os pobres. Esse é um marco da vida do Glênio.

      E aí, recorro a um pensador católico muito importante do século XX, que, em um texto escrito, salvo engano, em 1979, dividiu os poetas em duas categorias: “Há os poetas solitários e há os poetas solidários”, Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde. E o Glênio seguramente está na segunda categoria, a dos poetas solidários. Ele é o poeta da cor.

      Para exercitar esse ofício permanente, ele buscou os ambientes mais propícios. Destaco, vejo aqui muita gente que conviveu, que partilhou com ele, o espaço de liberdade da universidade de Brasília.

      Não há outra definição melhor senão dizer que o ato de criação tem como pedra fundamental o espaço de liberdade. A Universidade de Brasília -- a universidade sem muros pensada por Darcy, pensada por Frei Mateus Rocha, dominicano que partilhou com Darcy a aventura da universidade -- foi concebida como a universidade sem muros. Portanto, tinha claro que a pedra fundamental do ato de criação era a liberdade. E Glênio encarna esse espírito de liberdade. Isso, para nós, é fundamental, porque temos de destacar a dimensão humana, a dimensão do criador.

      Glênio, solidário, era o homem que pintava as múltiplas faces de sua gente. Isso também é fundamental, porque é isso o que dá a ele a dimensão que traz consigo dentro da linguagem estética das artes plásticas brasileiras, e definitivamente as cores, porque jamais quando se fala do Glênio se pode falar da cor, não, será sempre no plural.

      Neste momento de homenagem, quero concluir esta breve palavra para lembrá-lo e, voltando ao tema da luz, lembrar que poderíamos homenagear Glênio com as duas últimas palavras do poeta alemão Goethe, que são “mais luz”.

      Por isso, quero deixar este registro, em nome do Governo do Distrito Federal, em nome das pessoas que trabalham com cultura nesta cidade, que estampa aquilo que demais expressivo o Brasil conseguiu juntar aqui, no Planalto Central, para redesenhar o seu projeto de desenvolvimento, para dizer, diferente daquilo que escrevi no dia da morte, que não morreu a mão do arco-íris Glênio Bianchetti, a mão permanecerá.

      Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 07/05/2014 - Página 57