Discurso durante a 64ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento de Dom Tomás Balduíno, Bispo Emérito da cidade de Goiás/GO.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM, IGREJA CATOLICA, DIREITOS HUMANOS.:
  • Pesar pelo falecimento de Dom Tomás Balduíno, Bispo Emérito da cidade de Goiás/GO.
Aparteantes
Casildo Maldaner, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 07/05/2014 - Página 116
Assunto
Outros > HOMENAGEM, IGREJA CATOLICA, DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, APRESENTAÇÃO, VOTO DE PESAR, MORTE, TOMAS BALDUINO, BISPO, IGREJA CATOLICA, MUNICIPIO, GOIAS (GO), ESTADO DE GOIAS (GO), ELOGIO, VIDA PUBLICA, RELAÇÃO, LUTA, DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, ao longo de minha vida, conheci muitas pessoas especiais, com brilho, com luz. Dom Tomás Balduino era uma delas. Filho de José Balduino de Sousa Décio e de Felicidade de Sousa Ortiz, Dom Tomás Balduino nasceu em Posse, 31 de dezembro de 1922.

            Registrado como Paulo Balduino de Sousa Décio, ao ser ordenado religioso dominicano em Minas Gerais, recebeu o nome de Frei Tomás.

            O religioso cursou Filosofia em São Paulo e Teologia em Sainte Maxime, na França, onde também fez um mestrado em Teologia. Em 1950, lecionou Filosofia em Uberaba. Em 1951, foi transferido para Juiz de Fora, Minas Gerais, como Vice-Reitor, da então Escola Apostólica Dominicana e também lecionou Filosofia. Em 1957, foi nomeado Superior da Missão dos Dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia, no Pará, onde começou a conviver com a realidade de indígenas e camponeses.

           Para desenvolver um trabalho mais eficaz com os índios, fez mestrado em Antropologia e Linguística na Universidade de Brasília. Em 1965, estudou e aprendeu a língua dos índios xicrins, dos grupos Bacajá e Kayapó, e foi nomeado prelado de Conceição do Araguaia. Na região atuou para impedir a invasão de áreas indígenas e a expulsão de pequenos camponeses por parte de grandes empresas agropecuárias.

           Em 1967, foi nomeado bispo da cidade de Goiás, onde permaneceu até 1999. Ao completar 75 anos, renunciou e mudou-se para Goiânia.

           Dom Tomás teve papel importante na criação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975. Foi presidente do Cimi, de 1980 a 1984, e Presidente da CPT, de 1999 a 2005, ano em que foi nomeado Conselheiro Permanente da CPT. Por sua atuação firme e corajosa, recebeu diversas condecorações e homenagens no Brasil e no exterior.

           Em novembro de 2006, Dom Tomás recebeu da Universidade Católica de Goiás (UCG) o título de Doutor Honoris Causa, devido ao comprometimento com a luta pelo povo pobre.

           Em 2008, a Oklahoma City National Memorial Foudation considerou que as ações de Dom Tomás são exemplos de esperança na solução das causas que levam a miséria de tantas pessoas em todo o mundo e lhe conferiu o prêmio Reflections of Hope.

           A Universidade Federal de Goiás também outorgou o título de Doutor Honoris Causa a Dom Tomás em 2012.

           No velório, uma das irmãs do bispo, Anunciata Balduino, lamentou a morte e disse que o irmão era muito querido por todos. "Ele era muito bom, muito amigo, muito brincalhão. É disso que a gente vai sentir saudade", afirmou.

           A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil manifestou pesar pelo falecimento de Dom Tomás Balduino, recordando a sua dedicação e a sua atuação na defesa dos direitos humanos, especialmente à causa dos povos indígenas.

            A Presidenta da República Dilma Rousseff, em nota de pesar, diz que foi com tristeza que soube da morte de Dom Tomás Balduino. Incansável lutador de causas populares, bispo emérito da cidade de Goiás, Dom Tomás era um persistente. A Presidenta também destacou a luta de Dom Tomás pelos direitos humanos.

            A Comissão Pastoral da Terra, em nota, lamentou a morte, dizendo que todos ficam um pouco órfãos com a morte do bispo da reforma agrária e dos indígenas.

            O texto destaca que Dom Tomás lutou pela defesa dos direitos dos pobres da terra, e nem com a saúde debilitada e internado no hospital ele deixava de se preocupar com a questão da terra; e pedia, em conversas, para saber o que estava acontecendo no mundo.

            Tenho consciência de que Deus tudo faz a seu tempo, tempo esse que não é nosso, mas o desaparecimento de Dom Tomás Balduino deixa um enorme vazio em nossas mentes, em nossos corações.

            Espero que possamos seguir o seu exemplo…

            O Sr. Pedro Simon (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Senador.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - … e continuar defendendo as causas que ele abraçou ao longo de sua vida.

            Concedo um aparte ao Senador Pedro Simon, uma vez que era tão amigo de Dom Tomás Balduino.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª o aparte e tenho certeza de que o Presidente concordará.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - O aparte do Senador Simon é sempre um orgulho para a Casa.

            O Sr. Pedro Simon (Bloco Maioria/PMDB - RS) - Muito obrigado, Presidente. É pela importância do pronunciamento. V. Exª, como nunca, está representando a Casa e o povo brasileiro. Dom Balduino foi umas das pessoas extraordinárias, fantásticas, de uma luta, de uma garra, de uma competência que o mundo inteiro reconhece. Dom Balduino, na campanha pela terra, na defesa dos indígenas, criando a liga que ele criou, a Pastoral, ele foi… É difícil de explicar. Os nossos grandes homens da igreja, da política viveram nas grandes cidade, tinham o lado positivo; ele viveu no interior, lutando, trabalhando, se esforçando, levando uma vida onde o prazer dele era servir, estudando a língua dos indígenas, defendendo os indígenas, tendo coragem e firmeza. O trabalho dele na Pastoral foi qualquer coisa de fantástico, qualquer coisa de extraordinário. Digo com toda a sinceridade: eu tenho muita emoção. Como V. Exª, fui companheiro, admirador e várias vezes me referi às obras de S. Exª Reverendíssima. Eu sei o que ele sofreu na época da ditadura. Eu sei o que ele fez para salvar pessoas, para tentar abrir espaços para muitos e muitos que não tinham chances. Eu sei de muitos que devem sua vida a ele. Eu sei da profundidade e da profundeza do trabalho que ele fez lá no início, quando defender índio era coisa que ninguém entendia; as terras eram dos colonos, os índios não tinham direito a coisa nenhuma, e ele veio do nada e, do nada, criou uma causa, criou uma bandeira. Realmente, como V. Exª diz: hoje é um dia triste, e creio que realmente a CNBB, na reunião que está tendo hoje em São Paulo, deve estar sofrendo. E deve estar com muito pesar, lamentando, como nós lamentamos, o espaço deixado, o vazio deixado, em todos nós e no Brasil de modo especial, por Dom Tomás Balduino. V. Exª, que era amigo dele, que várias vezes eu vi defender, debater, apresentar aqui da tribuna os seus trabalhos, tem razão muito importante no seu pronunciamento. E eu não só trago a minha solidariedade, fazendo questão de assinar, como assinei, a nota de V. Exª, como trago a minha palavra de apoio. Eu estou ao vosso lado, aplaudindo e chorando o dia de hoje e o que aconteceu.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Apenas uma frase, Senador Suplicy.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon, porque V. Exª bem lembrou…

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Vou pedir a brevidade porque alguns oradores estão a solicitar. Tão breve como foi o Senador Simon.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Também é uma homenagem a Dom Tomás Balduino.

            Senador Maldaner, por favor.

            O Sr. Casildo Maldaner (Bloco Maioria/PMDB - SC) - Apenas uma frase. Primeiro, para agradecer a oportunidade em que pude subscrever com V. Exª esse requerimento. E não preciso mais relatar depois que V. Exª o fez e com o aditivo do Senador Pedro Simon, de não só conhecer a história de Dom Tomás Balduino. E eu, para finalizar, tive a honra de, no mês de julho do ano passado, fazer uma visita a ele lá na Prelazia de Conceição do Araguaia. E ele morava em uma casinha simples, já fraquejado da vida, e nada melhor do que suas lutas todas ali estampadas, os amigos. E tive a honra de estar com ele numa visita em julho do ano passado, em Conceição do Araguaia. Meus cumprimentos a V. Exª por essa iniciativa e aos colegas todos.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Casildo Maldaner.

            Quero agradecer as referências e, inclusive, dizer que Dom Tomás Balduino, segundo seus amigos mais próximos, esteve em coma; mas, ao acordar, pouco antes de falecer, ele expressou que queria ir a Itaici para lembrar a toda a CNBB que era importantíssimo solicitar à Presidenta Dilma e ao Ministro do Desenvolvimento Agrário que acelerassem, que apressassem todos os passos relativos à realização da reforma agrária, aos assentamentos e, sobretudo, também para o reconhecimento…

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - … dos direitos dos indígenas e dos trabalhadores sem terra.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Eu vou até pegar o requerimento porque noto que muitos Senadores querem, ainda, assiná-lo. Eu vou pedir para levarem aqui.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Está à sua disposição.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/05/2014 - Página 116