Discurso durante a 86ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre a queda na produtividade nas operações de trabalho no Brasil.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL.:
  • Reflexão sobre a queda na produtividade nas operações de trabalho no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2014 - Página 117
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, INGLATERRA, ASSUNTO, REDUÇÃO, PRODUTIVIDADE, TRABALHADOR, LOCAL, BRASIL, RESULTADO, CRESCIMENTO ECONOMICO, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), BAIXA, COMPETITIVIDADE, SETOR PRIVADO, AUMENTO, JUROS, INFLAÇÃO.

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, eu, aproveitando sempre as sessões de segunda e sexta-feira, que são sessões de debate, em que podemos aprofundar mais os grandes temas, como fez V. Exª minutos atrás, durante o período necessário, venho à tribuna para falar hoje sobre a produtividade nas operações de trabalho no País.

            Srª Presidenta, quero falar de um assunto de extrema importância para o trabalhador, para a economia e para todos os setores, para os empreendedores e para o resultado até do nosso PIB. Falo de uma matéria importante da revista semanal britânica, publicada no dia 17 de abril último, cujo título é “50 anos de soneca”. Então, pega todos os governos do passado e do presente. Essa matéria discute a questão da baixa produtividade aqui no Brasil. É um tema que vem preocupando todos, razão pela qual resolvi abordar esse assunto aqui da tribuna.

            A produtividade, como sabemos, é uma medida de eficiência da produção que calcula a relação entre o que é produzido, os meios utilizados como as máquinas, as novas tecnologias ou não, os trabalhadores e o tempo gasto e permite a avaliação do quanto cada fator de produção contribui para produzir uma unidade de riqueza na economia. Ela é importante porque um aumento na produtividade permite que o PIB de um país cresça sem, necessariamente, depender de desemprego ou de aumento do número de empresas ou fábricas.

            A revista que trata da matéria afirma que a produtividade total no Brasil, hoje, é menor do que era em 1960. Afirma, também, que a produtividade do trabalho foi a responsável por 40% do crescimento do PIB brasileiro entre 1990 e 2012, comparado a 91% da China e 67% da Índia.

            Além disso, estudo do Ipea mostra que, nos últimos trinta anos, a produtividade dos trabalhadores da indústria de transformação despencou 15%.

            Por sua vez, de acordo com o centro de pesquisa The Conference Board dos Estados Unidos, no ano passado, a produtividade média do trabalhador brasileiro ficou em 18,4% do desempenho médio do trabalhador norte-americano, com uma queda de 0,13% em relação ao ano anterior. Na prática, isso mostra que cinco brasileiros produzem a mesma riqueza que um norte-americano.

            Não é surpresa, portanto, que o Brasil apareça em 56º lugar no ranking da produtividade do trabalho, em 2013, do Fórum Econômico Mundial, oito colocações a menos de onde estava no ano anterior.

            Se nada for feito, essa situação pode se agravar porque a produtividade nos países desenvolvidos cresce rapidamente. Claro, porque estão atualizando, devido às novas tecnologias, o seu maquinário, a forma integrada de produzir.

            Para se ter uma ideia, na década de 80, a diferença entre a nossa produtividade e a dos países ricos variava entre 180% e 200%. Atualmente, ela chega a ser de 300%, de acordo com os dados do Ipea.

            Essa baixa produtividade no trabalho aqui no Brasil provoca diversos efeitos nocivos à economia: reduz a competitividade no setor privado, pressiona a inflação e a taxa de juros, inibe o crescimento econômico e, claro, como eu dizia antes, prejudica o nosso PIB.

            De fato, vivemos hoje, no Brasil, uma situação que combina baixo desemprego - isso é bom -, mas com ritmo muito lento da aceleração da economia.

            Precisamos, claro, aumentar o número de trabalhadores empregados, como foi feito no Japão. O Japão caminhou para o avanço tecnológico, e lá não há desemprego, e o país continua acelerado.

            Uma forma de fazer o País crescer seria melhorando a eficiência dos fatores de produção já existentes, como trabalhadores e empresas, ou seja, aumentando uma produção integrada com os novos tempos.

            Perceber que a produtividade do trabalhador brasileiro é baixa e vem caindo nos últimos tempos me angustia, claro, profundamente, porque sou um operário, metalúrgico; fui, no período em que estive nas fábricas. Essa é a minha origem - origem que tive com muito orgulho -, e pertenço até hoje como licenciado há 30 anos, é verdade, do Grupo Tramontina.

            Srª Presidenta, no operariado deste País - porque se sabe da importância e da necessidade de o Brasil continuar crescendo para promover a distribuição de renda -, nós temos que fazer esse bom debate.

            Podemos lembrar que tanto o Presidente Lula quanto a Presidenta Dilma conseguiram realizar uma política inclusiva, tirando milhões de pessoas da miséria, sem mexer na questão da produtividade. Como, também, reconhecemos a importância, por exemplo, do Plano Real, que antecedeu ao Presidente Lula, na época do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso.

            Mas, agora, parece que isso tem que ser mudado; parece que estamos chegando ao limite desse modelo.

            Se quisermos continuar crescendo, gerando renda e inclusão social, precisamos sair desse sono de 50 anos a que se refere a revista The Economist e aumentar a nossa produtividade.

            Mas o grande problema é: como fazer isso?! Não existe uma receita de bolo, nem fórmulas mágicas. O Ipea elaborou um mapa das políticas públicas para a produtividade, com foco em determinantes macroeconômicos, numa tentativa de conhecer e identificar as necessidades de cada setor da economia e sugerir o que poderíamos chamar de "intervenções cirúrgicas" para corrigir problemas específicos.

            Mas a grande pergunta que fica no ar é - segundo o Ipea -: por que a produtividade brasileira ainda é baixa?

            O Prof. Jorge Arbache, especialista em produtividade, publicou um interessante artigo, em maio do ano passado, no jornal Valor Econômico, onde relaciona pelo menos seis explicações para a baixa produtividade brasileira, explicações essas que eu gostaria de mencionar aqui, porque considero que o Professor Arbache faz uma análise cristalina e bastante completa sobre as causas desse problema.

            Em primeiro lugar, temos o que ele denomina como limitações internas das empresas, ou seja: 1) gestão deficiente; 2) pequeno engajamento em pesquisas, desenvolvimento e inovação;…

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - … 3) acanhados investimentos em tecnologias da informação, novas tecnologias e treinamento profissional; e 4) baixa qualificação da força de trabalho.

            De acordo com o Prof. Arbache, nada menos que 27% da população em idade para trabalhar é analfabeta ou analfabeta funcional. Isso nos remete à conhecida questão da baixíssima qualidade da educação, ainda, no Brasil, principalmente do ensino fundamental ao universitário.

            Em segundo lugar, surgem os problemas externos às empresas, que interferem, direta ou indiretamente, no desempenho individual ou coletivo e no retorno dos investimentos. Aí estão incluídos: 1) os elevados custos dos impostos; 2) a burocracia e os juros; 3) a deficiência dos serviços públicos e a falta de infraestrutura logística do País e a baixa tecnologia.

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Ainda como problemas externos às empresas, conforme o Professor Arbache destaca: a instabilidade macroeconômica; a insegurança jurídica; os problemas de coordenação entre esferas de governo e legislações que desestimulam a competição, além da elevada presença de oligopólios e monopólios em vários setores, cultura essa que desencoraja a meritocracia.

            A terceira explicação que o Prof. Arbache elenca em seu artigo é a contínua transferência de recursos de setores de produtividade mais alta para setores de produtividade mais baixa.

            Enquanto a participação da indústria no PIB passou de 33,4% para 14,4% entre 1980 e 2011, a participação dos serviços passou de 45,2% para 67,1%.

            O problema é que a produtividade média na indústria é 36% maior que nos serviços, e quando realocamos empregos entre esses setores, estamos contribuindo para manter baixa a produtividade do trabalhador brasileiro, porque a maioria dos novos empregos gerados está concentrada em setores de baixa produtividade.

            A quarta explicação é a baixa produtividade média das micro e pequenas empresas. A produtividade dessas empresas é substancialmente menor que a de congêneres do mesmo ramo, mas que operam em escalas produtivas maiores.

            O problema, Srª Presidenta, é que nada menos que 99% do total de empresas formais são micro e pequenas e 76% delas estão no setor de serviços. Consequentemente, isso tem um impacto muito grande quando pensamos em termos de cadeias produtivas na economia como um todo.

            Como quinto fator que explica a baixa produtividade no Brasil, o Prof. Arbache menciona a pobreza e a desigualdade de renda, porque a população pobre não possui acesso a tecnologias, mercados, educação de qualidade e qualificação profissional, itens fundamentais para uma elevada produtividade.

            A sexta e última explicação está relacionada às elevadíssimas discrepâncias de produtividade entre as empresas e entre setores de atividade. Isso, segundo ele, significa que o desempenho de um fornecedor ou componente de uma determinada cadeia produtiva possui um impacto, direto ou indireto, no desempenho dos demais componentes daquela cadeia de produção, afetando sua produtividade.

            A todas essas causas da nossa baixa produtividade eu ainda agregaria as deficiências do nosso transporte público - vejam os movimentos no País todo -, que geram uma perda incalculável de horas de trabalho e lazer dos nossos trabalhadores, com significativo impacto na produtividade.

            De acordo com recente pesquisa feita pelo Banco Mundial na América Latina, o trajeto até o local de trabalho é mais estressante que a jornada laboral para os usuários do transporte coletivo.

            Por fim, gostaria de mencionar um último ponto que considero importante, no que diz respeito à produtividade no Brasil, que é a questão da violência urbana: ela afeta a saúde e a integridade física dos brasileiros, comprometendo seu desempenho no trabalho e, consequentemente, reduzindo a produtividade.

            Existem diversos estudos mostrando que a intranquilidade gerada pela violência afeta o modo como os trabalhadores realizam suas tarefas.

            Apesar de todos esses problemas, podemos encontrar diversos casos de empresas onde a produtividade é qualificada.

            Cito, por exemplo, a fábrica de caminhões da Ford, em São Bernardo do Campo, onde a montadora produz um caminhão a cada 2 minutos e 40 segundos, ou seja, 22 caminhões por hora. Eles conseguiram isso graças a um sistema modular com fornecedores externos, que enviam à fábrica do ABC paulista grandes partes prontas e montadas, que se encontram todas na linha de montagem final.

            Outro exemplo é a IBM, que, desde 2002, investe na qualidade de vida dos funcionários e, como resultado, registrou aumentos da produtividade. A empresa oferece aos seus funcionários sessões de shiatsu, consultas com nutricionistas e aulas de ginástica matutinas, com o objetivo de melhorar sua qualidade de vida.

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Isso fez com que a IBM registrasse um significativo aumento na produtividade, em termos qualitativos e quantitativos.

            A explicação é simples: se o funcionário se sente bem no ambiente de trabalho, ele trabalha melhor e produz mais.

            É importante notar que, nos Estados Unidos, as empresas perdem, por ano, cerca de US$150 bilhões com o estresse no trabalho, o que inclui, naturalmente, as faltas, o "presenteísmo" (que é estar na empresa com a cabeça em outro lugar), a desmotivação, as doenças, os acidentes, os afastamentos.

            Importante lembrar que o Brasil - já estou terminando, Srª Presidente - está entre os quatro países do mundo que mais têm acidentes de trabalho e afastamento por doença no trabalho. Isso, naturalmente, além de causar muito mais gastos ao sistema integrado, que abrange saúde, previdência e assistência, diminui a produtividade.

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Você afasta um trabalhador experiente e para no seu lugar colocar um inexperiente.

            Além disso, temos outra questão a ser considerada: a terceirização. Só para dar um exemplo, a cada dez empregados que sofrem acidentes, oito são terceirizados. Se todos fossem contratados por CLT, com certeza, a produtividade seria maior.

            Tudo isso mina a produtividade e o resultado das organizações poderia ser atenuado com medidas como as adotadas pela IBM.

            Termino, Srª Presidente, lembrando que a jornada de trabalho menor, é claro, também é importante, pois, ao construirmos um sistema de revezamento por turno, há trabalhadores menos cansados e, consequentemente, mais produtividade, menos acidente e menos doença no trabalho.

            Já concluindo, quero apenas dizer que, a partir desse breve relato sobre as causas da baixa produtividade em nosso País, podemos perceber que não se trata de um problema simples e de fácil solução.

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - É um problema que requer o esforço de toda a sociedade brasileira, sobretudo daqueles que possuem responsabilidade, seja ela governamental ou empresarial ou dos próprios trabalhadores.

            Nós, aqui no Senado, temos que cumprir a nossa parte.

            Srª Presidente, vou para a última página.

            Sem melhorar a produtividade, dificilmente conseguiremos ser um país competitivo e gerar a riqueza de que tanto precisamos.

            Sei que estamos num ano complicado, com a Copa do Mundo e as eleições aí à frente, mas é preciso estar atento a essa questão, para que o Brasil possa continuar no caminho certo, reduzindo as desigualdades sociais, gerando emprego e renda e construindo um futuro melhor para todos.

            Eu gostaria muito que os presidenciáveis, nos debates que vão fazer agora, durante o processo eleitoral,…

(Soa a campainha.)

            O SR. PAULO PAIM (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - … se debruçassem também sobre o assunto produtividade.

            Srª Presidenta, termino com esta frase: foi com essa intenção que trouxe o assunto hoje à tribuna do Senado.

            Naturalmente, agradeço a V. Exª pela tolerância para que eu pudesse fazer todo o meu pronunciamento.

            Obrigado, Presidenta.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2014 - Página 117