Discurso durante a 86ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato das medidas adotadas no combate ao crack no Estado de São Paulo.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO ESTADUAL, PROGRAMA DE GOVERNO, DROGA.:
  • Relato das medidas adotadas no combate ao crack no Estado de São Paulo.
Publicação
Publicação no DSF de 03/06/2014 - Página 169
Assunto
Outros > ESTADO DE SÃO PAULO (SP), GOVERNO ESTADUAL, PROGRAMA DE GOVERNO, DROGA.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, PROGRAMA DE GOVERNO, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, GOVERNO MUNICIPAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OBJETIVO, COMBATE, DROGA, PESQUISA, AUTORIA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, REFERENCIA, MATERIA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, RELATORIO, PROJETO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Querido Presidente Paulo Paim, quero hoje falar de algo que preocupa a todos nós, brasileiros, objeto, inclusive, da reportagem de O Estado de S. Paulo: “Crack, a geografia do vício”. Levantamento no Estado de São Paulo revela que um terço das cidades relata ter alto índice de problema por causa da droga.

            Uma reportagem de Ricardo Brandt e o fotógrafo Robson Fernandjes, diz que:

Passados 23 anos da primeira apreensão de crack em São Paulo, a “raspa da canela do capeta” - como era conhecida a droga quando surgiu na periferia da zona leste, nos anos 1980 - avança por todas as regiões do Estado e faz do enfrentamento ao problema um dos principais desafios para cidades pequenas e médias. Governos estadual e federal estimam entre 350 mil e 400 mil usuários no Estado. Mapeamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), atualizado em tempo real pelas prefeituras, revela que 194 cidades paulistas declararam ter alto nível de problema decorrente do consumo de crack, quase um terço dos 645 Municípios do Estado.

Subproduto sujo e barato da cocaína, a droga que deve seu nome aos estalos que emite ao ser queimada virou praga em Municípios como Águas de Lindoia e Serra Negra (estâncias hidrominerais), Campos do Jordão (a “Suíça brasileira”), Ilhabela (reduto turístico no litoral norte) e Cananeia (patrimônio da humanidade). O crack afeta também cidades-referência, como Ibitinga (a capital do bordado), Monte Alegre do Sul (a capital do morango) e Louveira (2º maior PIB per capita do País).

O Secretário Nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore Maximiano, admite que a situação é grave. “O uso do crack surgiu mais acentuadamente nas grandes cidades e, especialmente, nas metrópoles. Mas temos notado que o crack também é droga presente em pequenos e médios Municípios”, afirma.

Durante quatro meses, a reportagem do Estado constatou essa realidade ao percorrer 6,6 mil quilômetros para levantar dados, ouvir autoridades federais, estaduais e municipais, visitar clínicas, comunidades terapêuticas e pontos de consumo. No caminho, visitou 13 Municípios que denunciaram alto ou médio nível de problema com crack e conversou com usuários e parentes.

            Eu tive, Presidente Paulo Paim, também a oportunidade, nas duas últimas semanas - já o tinha feito anteriormente -, de visitar ali em São Paulo, perto da Praça Júlio Prestes, aquele lugar onde os usuários de crack têm-se concentrado ao longo desses últimos anos e ali visitei os responsáveis pelo Programa de Braços Abertos, da Prefeitura Municipal de São Paulo, e pelo Programa Recomeço, o programa estadual de enfrentamento do crack.

            Eu quero dizer que é muito importante que possam os governos estaduais, municipais e o Governo Federal estarem todos cooperando nos três níveis de governo para enfrentar essa situação. Eu pude ali testemunhar que, felizmente, nesse assunto, o Governo Federal, o Ministério da Justiça, o Programa Crack, é Possível Vencer - lançado pela Presidente Dilma Rousseff -, o Programa Recomeço - programa estadual do Governador Geraldo Alckmin -, e o Programa De Braços Abertos - do Prefeito Fernando Haddad - estão funcionando em cooperação um com o outro. Eu quero agradecer as informações que o Secretário Municipal da Saúde, José de Filippi Júnior, encaminhou-me, para que eu possa reportar os avanços do Programa De Braços Abertos.

            Em 14 de janeiro de 2014, foi deflagrada uma intervenção do Poder Público Municipal no Bairro da Luz, no centro de São Paulo. Mais de 300 pessoas ocupavam uma via pública na denominada “favelinha da Rua Helvétia”, construída no coração da maior zona de uso de drogas do País, conhecida pelo nome de “cracolândia”. A favelinha foi desmontada depois do cadastramento e de um intenso diálogo com os ocupantes. Os barracos foram desmontados com a participação e consentimento dos mesmos. A via pública foi liberada com inclusão e não com exclusão, como tradicionalmente vinha sendo tratada essa população. Essa ação marcou na cidade um modo de enfrentar a situação-problema com autoridade e sem autoritarismos, e deu continuidade a uma metodologia de intervenção em território degradado, com homens, mulheres, jovens e crianças em situação de rua e com extensas desvantagens e vulnerabilidades crônicas.

            Essa intervenção do Poder Público Municipal contou com a participação de funcionários e dirigentes da saúde, segurança urbana, assistência social, direitos humanos, trabalho, inclusive do próprio Prefeito, Fernando Haddad, além de pessoas da comunidade local e da sociedade civil. Já no ano passado, quando ainda era Ministro da Saúde, Alexandre Padilha esteve lá. Eu pessoalmente o acompanhei, no dia em que o próprio Prefeito Fernando Haddad esteve lá, junto com o Secretário, José de Filippi. E o Ministro da Saúde, Arthur Chioro, também já fez visitas ali para acompanhar esse trabalho.

            Quero, inclusive, ressaltar que ainda na última sexta-feira fui convidado pela TV Bandeirantes, pelo jornalista Guga, do CQC - Custe o que Custar, que tem como dirigente Marcelo Tas, eu e também o Deputado José Aníbal, para que pudéssemos visitar os esforços do Governo estadual e do Governo municipal para resolver, na medida do possível, o problema da utilização dessa droga, de forma tão intensa, por tantas pessoas.

            No início da gestão municipal em 2013, em sintoma ao Programa Federal Crack, é Possível Vencer, foi criado o Grupo Executivo Municipal composto por 13 Secretarias municipais, representantes da Sociedade Civil e centros de estudos e pesquisas. Esse grupo, além de discutir e de planejar a política municipal de crack, álcool e outras drogas, manteve diversos encontros com movimentos, trabalhadores e outros representantes da sociedade civil.

            No território em questão, atuavam médicos, enfermeiros e agentes comunitários de saúde, que operavam de maneira descoordenada com os guardas civis metropolitanos e funcionários da assistência social. Durantes os últimos anos, esses funcionários da Estratégia de Saúde da Família enfrentavam dificuldades próprias de uma grande concentração de pessoas naquela zona de uso e diretrizes contrárias ao cuidado em saúde. Quantas vezes, durante esses últimos anos, viram seus pacientes abandonar os tratamentos de enfermidades infecciosas depois que policiais e funcionários da própria prefeitura lhes tomavam os remédios e os documentos, além das conhecidas incursões da polícia. Esses técnicos foram organizados em novos consultórios na rua e PACs de rua (equipes compostas por agentes de saúde e enfermeiros).

            Em 22 de julho de 2013, foi criado um ponto de apoio na Rua Helvétia, 64, encravado na cracolândia. Um serviço de baixa exigência que os moradores da região podiam frequentar para uso do banheiro, para atividades culturais, descansar ou para se alimentar.

Nesse espaço, construído com os usuários, que inicialmente era uma extensão da rua, foram organizadas várias assembleias para decidir com os moradores da região o nome do local.

Esse ponto de apoio intensificou e ampliou o vínculo de confiança entre os moradores da região e agentes de saúde, médicos, enfermeiros e outros técnicos dos dois consultórios na rua. Depois de muita discussão e a entrada dos técnicos da assistência social, foi realizada a operação Braços Abertos, [nome que contou inclusive com a sugestão daqueles que são usuários de crack e por eles acordado.]

Ainda durante o ano de 2013, a Secretaria Municipal de Saúde optou pela integração, fortalecimento e ampliação da Rede de Atenção Psicossocial com seus 80 CAPS, 31 para adultos e 25 CAPS AD (Álcool e Outras Drogas), 24 CAPS I (infanto-juvenil), 24 RT Residências Terapêuticas para pacientes cronificados em hospitais psiquiátricos, 16 UAs (Unidades de Acolhimento), que são moradias transitórias para pessoas com dependência de substâncias psicoativas que estão organizando suas vidas. O Samu, que recebeu uma capacitação para operar em caso de urgência e emergência, para atender essa população.

Acontecem também capacitações para lidar com problemas de saúde mental e uso abusivo de drogas nas Unidades Básicas de Saúde e outros equipamentos distribuídos por toda a cidade.

Em que consiste o programa De Braços Abertos:

1 - Primeiro, moradia:

Um dos conceitos inspiradores é o de Housing First. Em várias partes do mundo, foi testado e avaliado um programa que consiste na oferta de casa para pessoas que se encontram em situação de rua há muito tempo e usuários crônicos de álcool e outras drogas (algumas similares às consumidas nas nossas cidades).

A experiência demonstrou que as pessoas que foram morar nessas casas, onde não se exigia abstinência, diminuíram significativamente o consumo de álcool e outras drogas, se comparadas com as que continuaram morando nas ruas.

Outro resultado da pesquisa do Housing First foi a diminuição da violência, a intercorrência de chamada de ambulâncias e a desordem urbana.

2 - Baixa exigência. Todos os programas de redução de danos se inspiraram no conceito de baixa exigência. A expressão em inglês Low Threshold Service significa, literalmente, baixo limiar de entrada e disparo. Aprendemos com a experiência brasileira dos Consultórios na Rua que o importante não é “dar sermões”, o que aumenta a resistência a mudança e a fissura, mas desenvolver vínculos que gerem vontade de mudança.

O conceito de baixa exigência está intimamente associado ao Princípio de Equidade do SUS, que consiste em priorizar os mais vulneráveis.

3 - O foco não é a droga. O Programa parte do reconhecimento da extrema desvantagem e vulnerabilidade dessas pessoas, como já mostraram as experiências brasileiras da Reforma Psiquiátrica

4 - Pacote de direitos: moradia, alimentação, trabalho e renda, ofertado com um mínimo de exigências, apenas com contrato assinado por eles. A moeda de troca foi a palavra e a vontade manifesta. Foi surpreendente que na primeira semana 316 pessoas aderiram ao programa. E é mais surpreendente ainda que hoje, com 350 pessoas, após um mês de seu início, 60% dos inscritos no trabalho de varrição continuem no Programa.

            Conforme há pouco falei com o Dr. José Carlos de Arruda, psiquiatra e responsável pelo programa De Braços Abertos, a Srª Zélia Maria Pagliardi, assistente social, e a Dr. Mires Cavalcanti, Coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde, há hoje 400 pessoas inscritas no programa De Braços Abertos.

5. Constituição de novos coletivos. Nas capacitações, nos grupos de trabalho e na imprensa essas pessoas tomaram a palavra e se agruparam de outro modo.

As pessoas foram desterritorializadas ao irem para os hotéis e, além da constituição de novos grupos, produziu-se uma modificação no plano dos corpos. Agora eles têm cama para dormir, chuveiro etc.

Há oito hotéis onde essas 400 pessoas estão hospedadas, na região da Luz, dos Campos Elíseos.

6. Foram criados novos coletivos operantes de trabalhadores de diferentes áreas da Prefeitura. Foi inaugurado um modo de fazer junto. Finalmente, os funcionários da Saúde, da Assistência, da Segurança Urbana, do Trabalho e dos Direitos Humanos trabalham juntos. Vários secretários municipais acompanham in loco o trabalho.

7. Feitos de contratualidade. O contrato operou como uma nova dimensão temporal, oferecendo um tempo diferente do tempo repetitivo da droga e da fissura. A perspectiva de pagamento opera como uma duração diferente ao imediatismo.

Na primeira semana foram injetados R$36 000,00 que movimentaram o comércio local. Essas pessoas que estavam à margem da dinâmica das trocas locais - diferente a dinâmica das trocas do fluxo - passaram a fazer parte da circulação de mercadorias e de trocas afetivas com a comunidade local. Segundo uma usuária “antes não me davam um copo d’água agora me oferecem café”. É de conhecimento público que eles gastaram o dinheiro com produtos de limpeza, higiene pessoal, roupas, etc.

De diversas formas se produziu uma capacidade de poupar, de fazer projeções, gerando perspectiva de futuro.

8. A outra característica é que De Braços Abertos é pensado como um Projeto em constante transformação. Ele não é uma ação isolada. Ao contrário, além de operar integradamente, ele já esta conectado às redes de saúde e de saúde mental. CAPs, serviço de doenças infecto contagiosas, etc. Já existe um mutirão de cuidados para o tratamento de tuberculose, e outros agravos. Evidentemente, a ação fortaleceu a construção dos Projetos de Vida. Cada caso é tratado singularmente.

Daí a importância dos próximos passos, [...].

9. Uma questão complexa é a do trabalho e será conduzida segundo a experiência da economia solidária e cooperativismo social [uma característica muito importante]. Embora, depois dessa intervenção alguns usuários saíram da região e estão trabalhado, a pretensão da entrada automática no mercado formal pode significar o fracasso do programa. As experiências citadas demonstraram que os programas Housing First eram mais eficazes quando duravam mais tempo. Uma das perspectivas é a de qualificar o trabalho, por exemplo além da limpeza, que tem atualmente um valor simbólico, embelezar a cidade com outros trabalhos etc.

10. De Braços Abertos é um ponto de inflexão entre as várias tentativas simplistas e higienistas que tentavam com medidas simplificadas resolver problemas de alta complexidade. É importante lembrar que essas pessoas já fizeram fracassar os protocolos clínicos e pedagógicos tradicionais. A baixa exigência é combinada com uma grande disposição de parte dos trabalhadores para sustentar vínculos continuados e relações de construção de contratualidade. No interstício da práxis vai sendo construído o sujeito-cidadão. Daí a importância do lema: nunca desistir.

11. O custo per capita é de R$1.086,00 mensais, valor determinado pelo POT - um salário mínimo e meio. No caso do protejo, este valor é referente ao trabalho, moradia e alimentação. Mais barato e mais eficaz que as tradicionais clínicas e comunidades terapêuticas.

12. Todas as ações propiciam e apontam para produção da autonomia dessas pessoas.

13. Daí que, para os próximos passos, a moradia precisa evoluir para programas de aluguel social que relacionam o valor do aluguel a uma porcentagem da renda obtida e não submetida à pressão do mercado imobiliário, para dessa forma dar consistência e continuidade ao programa.

14. Desde o início, De Braços Abertos consiste também numa revitalização urbana em que os próprios usuários participam oferecendo seu trabalho. Quem for à região, [como pude ali verificar], pode verificar a mudança. No entanto, está sendo pensada a sua continuidade com o embelezamento do local, iluminação, jardinagem, etc. [E quem está fazendo isso são os próprios usuários contratados.]

15. As pessoas que estão morando nos hotéis da região receberam inúmeras visitas de familiares. Ainda não foi computado o número das que saíram do território para se juntar a seus familiares e continuarem suas vidas nos seus locais de origem.

A diminuição do uso não foi ainda registrada sistematicamente, porém, as equipes de consultórios na rua estão se surpreendendo com os relatos que indicam mudanças no padrão de uso. Essa diminuição é um efeito da ação. Como já foi dito, o foco não é a droga, mas as pessoas, o ser humano e a construção de sua cidadania.

A democracia, segundo a Professora Marilena Chauí, [nossa extraordinária e querida filósofa], é a invenção constante de direitos e um dos seus maiores desafios é tratar como cidadãos aqueles que estão em maior desvantagem e construir com eles um futuro marcado pela cidadania a autonomia e liberdade.

            Eu, aqui, peço, Sr. Presidente, que sejam anexados todos os demais dados que a Secretaria da Saúde colocou a respeito de todo o total de técnicos, a estrutura do programa e todos os quadros aqui anexos.

            Eu também gostaria de, neste pronunciamento, relatar o programa do Governo estadual, que funciona ali, lado a lado. São programas vizinhos ao do Governo municipal e do Governo estadual do Governador Geraldo Alckmin.

            Agradeço ao Edson Ortega, quem me enviou os dados relativos ao Programa Estadual de Enfrentamento ao Crack.

O Governo do Estado de São Paulo organizou, a partir de janeiro de 2013, uma rede de serviços gratuitos especializada no tratamento e prevenção do uso do crack e outras drogas. Em toda a rede estadual da saúde e da assistência social, 31.966 pessoas já receberam tratamento para dependência química até março último.

Por meio do Cratod, já foram encaminhados para tratamento 4.367 dependentes químicos, sendo que destes somente dez foram de forma compulsória. Destes dez, somente um ainda se encontra nessa modalidade de internação.

Oriundos da Cracolândia, foram encaminhados pelo Cratod para internação 1.118 dependentes químicos, todos voluntariamente. Nenhum foi de forma compulsória ou involuntária; outros 499 oriundos da Cracolândia foram encaminhados para tratamento via CAPS e atendimento na área social em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Essas vagas de tratamento estão distribuídas em 49 Municípios, distribuídos em 14 regiões administrativas, hoje, num total de 2.373, sendo o total de 3.000 vagas de tratamento a meta a ser alcançada até dezembro de 2014.

            Ressalto aqui o levantamento do jornal O Estado de São Paulo, que menciona que 194 cidades paulistas declararam ter alto nível de problema do crack hoje.

Números:

Leitos especializados em tratamento de dependentes químicos (destinados à internação de usuários de álcool e outras drogas). Além dos leitos localizados nos hospitais gerais para atendimento da dependência química, o Programa Recomeço está organizando uma rede de atenção com vagas financiadas com recursos públicos do Estado de São Paulo. Serviço 100% gratuito. 2373 vagas de tratamento. Meta do programa: de 3000 vagas até o final de 2014, [segundo o relatório desta semana].

A média de tempo de internação é menor que três meses.

Essas vagas de tratamento estão distribuídas em 49 Municípios, distribuídos em 14 regiões administrativas e recebem encaminhamentos dos CAPS e do Cratod.

Tratamento médico: hospitais gerais e hospitais psiquiátricos, clínicas de desintoxicação têm 1.128 leitos.

Somos os únicos do Brasil a ter dois hospitais especializados em tratamento de dependentes químicos: a) Hospital de Botucatu; e b) Hospital Recomeço, na Rua Valor Investido: Helvetia com Dino Bueno:

A data de inauguração do andar térreo e do primeiro andar está prevista para dia 14 de junho próximo, valor investido de R$12 milhões, 65 leitos. Isso está logo em frente ao local onde funciona a sede do De Braços Abertos. Então, será um hospital ali do lado de onde estão os usuários do crack.

Temos dois locais especializados em pronto atendimento, leitos para observação de 24 a 48 horas, para encaminhamento de urgências: o Cratod (Urgência Recomeço, que passou por reformas) e Urgência Recomeço - Família, (Cratodinho, perto do Parque Dom Pedro), que serão inaugurados nas próximas semanas.

Temos o Disque-Recomeço (08002), Cratod (08002272863), para esclarecimento e orientação da população; reabilitação psicossocial, comunidades terapêuticas, 1.252 camas, com repúblicas, moradias assistidas e casas de passagem.

(Soa a campainha.)

     O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) -

A Secretaria de Desenvolvimento Social e a da Justiça estão analisando entidades que possam implantar unidades nas principais cidades do Estado para os casos que requererem esse apoio suplementar na reinserção das pessoas que passaram ou passam por tratamento. A parceria com os Municípios também é de fundamental importância.

            Eu peço, Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, que possa ser inserida como parte de meu pronunciamento a continuação do relatório do Programa Recomeço. E eu aqui aproveito para cumprimentar essa cooperação que está evidente na exposição, tanto da Prefeitura quanto do Governo do Estado, para o enfrentamento deste tão sério problema que a todos preocupa. E eu gostaria também de solicitar, Sr. Presidente, que conste como parte de meu pronunciamento a continuação de toda esta reportagem do O Estado de S. Paulo, de Ricardo Brandt e Robson Fernandjes, que nos fala deste problema.

            Mas aqui quero ressaltar que oito de cada dez usuários querem largar o vício, diz a pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Precisamos dar a ele, ao dependente, uma simulação da vida real, de ambientes que podem lembrar o vício, e mostrar que é possível se divertir sem usar droga, afirma Janice Megid, Diretora do primeiro hospital público aberto no interior, em Botucatu, para a desintoxicação.

            “Curar não é impossível, mas é muito difícil. Porque o crack dá muito prazer e passa rápido. O craqueiro entra numa depressão terrível e quer mais imediatamente. (...) Nós usamos motivação", diz o padre Haroldo Rham. Em 1978, abriu em Campinas a primeira clínica para tratamento de dependentes químicos do Brasil, a Fazenda do Senhor Jesus.

            E eu quero ressaltar a cooperação de inúmeras igrejas evangélicas e da própria Igreja Católica - por exemplo, a Rede Social do Centro, que tem no Pastor Daniel e outros pastores pessoas que estão contribuindo muito para também orientar os usuários do crack para que possam dele se libertar.

            Assim também, no último domingo, no domingo retrasado, quando eu estive lá, estava presente e rezou a missa o Padre Júlio Lancelotti, que muito tem se dedicado à população de rua, inclusive aos usuários do crack.

            Quando eu visitei ali a operação De Braços Abertos e Recomeço, eu tive da parte do Dr. José Carlos de Arruda, psiquiatra, e da assistente social Zélia Maria Pagliardi, depoimentos, por exemplo, de como muitos tinham o receio de entrar no toldo lá do De Braços Abertos, mas passaram a conversar, a frequentar, a pedir comida, banho, foi fornecida sopa, vieram tomar banho, quando se abriu ali o banheiro. Precisavam de documentos, pois alguns queriam até voltar para casa ou participar de alguma atividade de trabalho, e precisavam se apoiar numa rede social.

            Daí veio a Secretaria de Direitos Humanos, o Centro de Atenção Psicossocial, o CAPS, tanto infantil como adulto, consultório médico da rua; e, a partir de 14 de janeiro, houve aquela desocupação da chamada "favelinha", o desmonte de barracas; e, hoje, 400 dos usuários de crack estão hospedados nos oito hotéis da região. Eles têm direito, com os recursos que recebem de R$1.086, de ali, no Bom Prato, adquirir ou obter o café da manhã a R$0,50...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... o almoço a R$1,00, o jantar a R$1,00.

            Em cada equipe de saúde, há cinco pessoas. Eliane Ferraz Coca, assistente social, Odimar Edmundo dos Reis, enfermeiro, e Helena Sampaio também fazem parte do grupo coordenador, mas há mais 60 pessoas no consultório de rua do De Braços Abertos - médicos e enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos, agentes comunitários de saúde. Existe a oportunidade de trabalho de limpeza por quatro horas por dia ou, então, na chamada Fábrica Verde, dando oportunidade para eles fazerem a jardinagem. E, cada vez mais acolhidos, alguns trabalham nas secretarias estaduais ou municipais ali perto, realizando trabalhos como de contínuo ou outros. Na parte da tarde, fazem cursos de qualificação profissional, de informática, de computador, de cabeleireiro.

            É importante dizer que o Presidente da Câmara dos Lojistas do Bom Retiro, o Sr. Youssef, ofereceu vagas para trabalhar nas lojas. Informou-me a Srª Meire que já há 16 pessoas com treinamento adequado para realizar este trabalho. Há a Casa do Apoio, onde as pessoas, famílias vão cuidar das casas. Mas todos esses responsáveis... Inclusive o Dr. José Carlos de Arruda ressaltou que o importante é a paciência, porque não dá para fazer tudo da noite para o dia, há muito que ouvir. Muitos estão ali por falta de oportunidade, e é necessário saber ao que eles aspiram.

            A Cracolândia existe já há 19 anos, e é importante que, hoje, não mais tenha havido confrontos, tiros e mortes.

            Quero também ressaltar que conversei com o Sr. Paulo Faria, Diretor do Teatro Pessoal do Faroeste, e com a Srª Elaine Bortolanza, que é da Rede Brasileira de Prostitutas e da Daspu, que estão lá organizando, nos sábados e domingos, das 14 às 18 horas, a apresentação de grupos artísticos, de músicos e poetas, e fazem ali espécies de saraus e outros eventos.

            Aliás, aos muitos que me perguntaram sobre os meus filhos, o Supla e o João Suplicy, do Brothers of Brazil, e pediram-me até que eles pudessem ir lá um dia fazer um show para eles, quero dizer que meus filhos, Supla e João, disseram que terão toda disposição de, voluntariamente, apresentar-se numa tarde dessas, em um dos finais de semana próximos. Da mesma forma, o Asdrúbal Serrano, dramaturgo discípulo de Augusto Boal, que, inclusive, escreveu uma peça sobre a Renda Básica de Cidadania no meio rural, em meio aos plantadores, trabalhadores dos cafezais, para mostrar como é que, no dia em que houver a Renda Básica de Cidadania, a sua condição de vida, sua dignidade e liberdade se elevarão sobremodo. Também Asdrúbal Serrano mostra, na peça A RBC na Cracolândia, a Renda Básica de Cidadania na Cracolândia, conforme ainda na última quinta-feira, dia 29, mostrou na PUC por ocasião do lançamento do livro de Josué Pereira da Silva - os jovens de Divinolândia e Caconde, juntamente com o próprio autor Josué Pereira da Silva, eu próprio, que fui convidado, e outras pessoas presentes, tornaram-se atores e atrizes, e ali foi apresentada a peça sobre como é que o dia em que houver a Renda Básica de Cidadania haverá muito maior facilidade para as pessoas se libertarem do crack.

            Presidente Paulo Paim, eu agradeço muito a sua paciência e atenção.

            Senador Anibal Diniz, eu agradeço a atenção de V. Exª, que está esperando pacientemente.

 

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º, do Regimento Interno.)

Matéria referida:

- Programa de Braços Abertos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/06/2014 - Página 169