Discurso durante a 92ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a greve dos metroviários no Estado de São Paulo.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Considerações sobre a greve dos metroviários no Estado de São Paulo.
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/2014 - Página 240
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • COMENTARIO, DECISÃO, ASSEMBLEIA SINDICAL, REFERENCIA, ENCERRAMENTO, GREVE, TRABALHADOR, TRANSPORTE METROVIARIO, LOCAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Casildo Maldaner, queridas Senadoras Ana Rita e Ana Amélia, ontem, quando ouvi a notícia referente ao superintendente do Ministério do Trabalho, na Delegacia Regional do Trabalho, em São Paulo, Luiz Antonio Medeiros, que já foi presidente da Força Sindical, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, avaliei que seria importante comparecer ali às 3 horas.

            Foram convidados a direção do Sindicato dos Metroviários do Estado de São Paulo, o presidente Altino de Melo Prazeres Júnior, todos os dirigentes das principais centrais sindicais de trabalhadores, a Central Única dos Trabalhadores, a UGT, a Força Sindical, o Deputado Paulinho, da Força Sindical, Vagner, Presidente da CUT, enfim, os representantes de todas as centrais sindicais e também o Secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, e o Presidente do Metrô, Luiz Antonio Pacheco, porque, já há alguns dias, estavam em greve os metroviários. Alguns dias depois da greve de ônibus, o transporte coletivo em São Paulo se encontrou em dificuldades imensas, causando dificuldades extraordinárias para tantos paulistanos.

            Alguns, para se dirigirem ao trabalho, em vez de fazerem viagens rápidas de metrô, tiveram que andar a pé por cinco, seis horas na cidade, ou que pegar diversas conduções para chegar às suas obrigações de trabalho. Houve até quem estivesse para perder o emprego, ou ter suas horas de trabalho, que não puderam ser realizadas, descontadas. Houve também dificuldades para quem, porventura, tivesse sofrido algum acidente e precisasse chegar ao pronto-socorro, ao hospital. Muitos também acabaram perdendo seus horários de compromisso em consultórios, outros para pegar o avião, para pegar o trem, para pegar o ônibus.

            Enfim, houve uma enorme dificuldade para todos aqueles que pegam o metrô ou também os ônibus, porque, com o metrô em grande parte não funcionando, isso causou uma superlotação nos ônibus. Também outras manifestações ocorreram, tanto do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto quanto de outros movimentos que aproveitaram a situação.

            Achei que, como um Senador por São Paulo, mas morador também da cidade de São Paulo, era meu dever procurar colaborar para que houvesse o melhor entendimento possível entre os metroviários, o metrô e o Secretário dos Transportes Metropolitanos do Governador Geraldo Alckmin.

            Ora, embora houvesse ali, na palavra dos dirigentes das centrais sindicais, o apelo para que houvesse a suspensão do movimento, mas, sobretudo, se ocorresse também a não demissão dos trabalhadores - 42 trabalhadores foram demitidos do Metrô de São Paulo, tendo o Metrô considerado justa causa pela maneira como procederam alguns -, enfim, era importante que, como a greve foi realizada por um número acentuado de trabalhadores metroviários, então, que se pudesse considerar a não punição que havia sido determinada.

            Eu ali disse uma palavra da importância de se chegar a um entendimento no interesse maior de toda a cidade de São Paulo, do povo brasileiro, ainda mais tendo em conta que nós teremos, na quinta-feira, daqui a dois dias, a estreia do Brasil na Copa do Mundo, justamente na cidade de São Paulo, no chamado Itaquerão, na Arena Corinthians, em Itaquera.

            O Presidente Altino de Melo Prazeres Júnior, filiado ao PSTU, na assembleia que aprovou, no domingo, a continuação do movimento, pouco depois de os desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho terem considerado abusiva a paralisação, determinarem o seu término imediato e imporem uma multa diária de R$500 mil à entidade da categoria, em caso de descumprimento da missão, ele chegou a declarar algo como, abro aspas: “Estamos em um momento único; tem uma Copa do Mundo, tem também eleições no fim do ano.” Ora, como se isso fosse motivo para, então, dar-se continuidade à greve em qualquer situação, mesmo que causando esses prejuízos a um número tão grande de paulistanos que utilizam o transporte coletivo e todos os meios de transporte.

            Uma vez prejudicado o transporte de metrô, isso vai afluir um número muito grande de pessoas para andar de ônibus ou procurar outros meios de transporte. Então, a própria prefeitura, tendo em vista o problema, acabou em não haver a possibilidade de os automóveis com chapa que termina em números ímpares andarem num dia e, com números pares, no outro, alternando-se o um, o três, o cinco, e assim por diante, o dois, o quatro e o seis. Enfim, isso fez com que um maior número de automóveis também estivesse na rua, congestionando o trânsito e causando um transtorno a todos os cidadãos.

            Então, avaliei que era muito importante fazer o apelo para o entendimento, inclusive ao Presidente Altino de Melo Prazeres Júnior, avaliei como importante que ele pudesse ouvir essa preocupação da população.

            Bem, tomada a decisão do Governo Estadual, do Governador Geraldo Alckmin, do Secretário Jurandir Fernandes, acompanhado que estava do Presidente do Metrô, Luiz Antonio Pacheco, de que não iria retroagir no que diz respeito às demissões, realizada nova assembleia ontem, ao final do dia, início da noite, os metroviários resolveram terminar a greve, mas dizendo que aguardam até a próxima quinta-feira, porque, se não houver a reversão das demissões, poderão eventualmente continuar.

            Eu queria aqui fazer um apelo ao Presidente Altino de Melo Prazeres Júnior, a todos os metroviários, para que, se possível, não levem à frente essa decisão de, justamente no dia da Copa do Mundo, em que será tão importante o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas para o Itaquerão, o estádio do Corinthians, onde o Brasil vai enfrentar o seu primeiro adversário na Copa do Mundo, que haja eventualmente uma greve nesse dia.

            Isso vai causar uma indisposição da população junto aos metroviários. Eu até conversei há pouco com o Presidente Altino de Melo Prazeres Júnior, que me disse que estava conversando com os metroviários que foram demitidos. Acredito que sejam 42. E fiz a seguinte sugestão a eles: que redigissem uma carta ao Governador Geraldo Alckmin expressando o sentimento deles, as razões pelas quais avaliaram que era importante realizar essa paralisação, essa greve. E que transmitissem tanto ao Governador quanto aos paulistanos as razões que os levaram a realizar essa manifestação de greve, mas que levassem em conta os interesses e a preocupação das demais categorias de trabalhadores. Afinal de contas, considerando a inflação, que está em torno de 6,5% nos últimos 12 meses, que haja um ajuste da remuneração é de bom-senso e razoável, mas é fato que os metroviários estavam pedindo um aumento de remuneração bem superior ao que foi a inflação, e, por outro lado, o que foi oferecido pelo Governo do Estado é menor do que o solicitado pelos trabalhadores, pelos metroviários, entretanto, é acima da inflação.

            E há que se ressaltar que, ao longo dos últimos dez anos, conforme tabela publicada hoje na Folha de S.Paulo, os metroviários receberam um reajuste acima da inflação em nove dos últimos dez anos.

            Em 2005, quando a inflação foi de 6,61%, o ajuste foi de 7,94%, considerada a variação do INPC no período em porcentagem.

            Em 2006, houve um aumento de 4,63%, quando a inflação foi de 3,34%.

            Em 2007, de 4,35%, quando a inflação havia sido de 3,44%. Nesse ano, a categoria de metroviários reivindicava 13,07%, enquanto o Metrô oferecia 3,37%. Houve, então, uma greve dos metroviários, e o aumento acabou sendo de 4,35%, superior à inflação registrada nos 12 meses anteriores.

            Em 2008, houve um ajuste de 6,08%, com uma inflação de 5,9%.

            Em 2009, um ajuste de 6,69%, quando a inflação foi de 5,83%.

            Em 2010, houve, sim, uma defasagem em prejuízo dos metroviários, porque houve um aumento de 5,05%, quando a inflação havia sido de 5,49%.

            Mas já em 2011, o Governo procurou compensar aquela defasagem: houve um ajuste de 8%, para uma inflação de 6,3%.

            Em 2012, o aumento foi de 6,17%, para uma inflação de 4,88%.

            Em maio de 2012, os funcionários pediam 20%, e o Metrô oferecia 5,71%. Houve greve, que terminou após um acordo que fixou o aumento em 6,17%.

            Em 2013, ano passado, houve um ajuste de 8%, para uma inflação da ordem de 7,16%.

            E agora, levando-se em conta a inflação dos últimos 12 meses, segundo a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, de 5,82%, o ajuste oferecido pelo Governo Estadual, pela Secretaria de Transportes Metropolitanos e pelo Presidente do Metrô foi de 8,7%; ou seja, é um ajuste que está com alguns pontos percentuais... Se levar em conta o que aconteceu nos últimos 10 anos, esse ajuste de 8,7% para uma inflação de 5,82% é o que dá a maior margem de ajuste positivo para a remuneração dos trabalhadores, dos metroviários.

            Então, é importante que os metroviários expressem ao Governador, possivelmente numa carta, as razões que os levaram a realizar a greve, que expliquem suas condições de trabalho e que expliquem aos paulistanos, à população brasileira inclusive,...

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - ... os motivos desse movimento, mas que procurem chegar a um entendimento e, quem sabe, a uma forma positiva no interesse maior de todos os paulistanos e de todos nós que estamos torcendo para que 12 de junho seja um dia muito especial para São Paulo e para todos os brasileiros.

(Soa a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco Apoio Governo/PT - SP) - E, em especial, que os metroviários também torçam para que o Brasil se saia muito bem na sua estreia desta quinta-feira.

            Assim, desejo que joguem muito bem todos os jogadores brasileiros diante da Croácia. Desejo ao nosso Felipão, ao Neymar e a todos os jogadores do Brasil que acertem, promovendo um maravilhoso jogo. Também desejo que joguem muito bem os craques da Croácia. Mas eu torcerei pelo Brasil, Srª Presidente, Ana Amélia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/2014 - Página 240