Discurso durante a 27ª Sessão Solene, no Congresso Nacional

Sessão solene destinada ao lançamento da Campanha Nacional “16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”.

Autor
Bárbara Melo
Casa
Congresso Nacional
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONGRESSO NACIONAL, FEMINISMO.:
  • Sessão solene destinada ao lançamento da Campanha Nacional “16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”.
Publicação
Publicação no DCN de 20/11/2014 - Página 26
Assunto
Outros > CONGRESSO NACIONAL, FEMINISMO.
Indexação
  • SESSÃO SOLENE, CONGRESSO NACIONAL, LANÇAMENTO, CAMPANHA NACIONAL, OBJETIVO, EXTINÇÃO, VIOLENCIA, VITIMA, MULHER.

A SRª BÁRBARA MELO - Bom dia. Como acho que ninguém almoçou ainda, digo “bom dia”.

      Nós, da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas - UBES, estamos aqui, no dia de hoje, por entender a importância da luta das mulheres. Nós, do movimento estudantil, sabemos o quanto a escola nos encarcera, e não nos liberta; o quanto a escola reproduz o machismo; o quanto a escola banaliza a violência sofrida pelas mulheres. E nós, da UBES, na nossa incansável luta pela reformulação do ensino médio, por mais verbas para

 

      

a educação e pela melhoria da educação, entendemos que a luta pela igualdade de gênero é fundamental. E aqui nesta Casa já ganhamos e já perdemos muitas batalhas.

      O Plano Nacional de Educação - PNE foi aprovado. Isso é uma grande vitória. Porém, é importante destacar que, no que tange à igualdade de gênero, nós perdemos. O texto do PNE não teve nenhuma flexão de gênero, inclusive no que tange a propor que a escola seja um espaço onde não haja preconceito contra as mulheres, preconceito de orientação sexual de gênero. Infelizmente, a bancada fundamentalista conseguiu se articular para que isso não passasse.

      E para que esse tipo de coisa não ocorra mais, para que o que seja aprovado nesta Casa e na Câmara Federal seja cada vez mais paritário com o desejo de todas e todos, com o desejo das mulheres, com o desejo dos estudantes e dos trabalhadores, é necessário aprofundar a nossa democracia, democracia que foi tão bem defendida pelos estudantes. Nós, as entidades estudantis - muitos heróis nossos tombaram, como a Helenira Rezende, como a Maria Lucia Petit --, precisamos aprofundar a nossa democracia com reformas estruturais.

      Não dá mais para a mídia mostrar que o estupro é algo normal. Não dá mais para aceitar um seriado chamado Sexo e as Negas. Não dá para aceitar o preconceito que se tem todo dia quando se liga a televisão, onde a mulher é colocada como objeto sexual; onde a mulher é usada para vender produtos; onde a mulher se mostra mais na televisão com propaganda de cerveja do que falando, dando sua própria opinião, do que falando daquilo que ela vê no mundo e quer mudar, expondo-se enquanto sujeito, enquanto ser da sociedade que tem voz e que tem vez.

      E, para acabar com a disparidade aqui dentro do Congresso Nacional e do Senado Brasileiro, é impor- tante a reforma política, com lista de alternância de gênero. E é preciso que a reforma política seja em torno do debate de ideias, com participação popular.

      Infelizmente, muitas vezes, a cabeça das pessoas, especialmente a nossa, dos jovens, fica confusa com a falta de identidade que se tem hoje em dia. Infelizmente, muitos partidos políticos têm um debate político esvaziado. E para o debate político ser cada vez mais qualificado, para a opinião de toda a sociedade ser consi- derada, é importante uma reforma política com a inclusão das mulheres e com a participação popular.

      Por isso, eu acredito que nós só vamos conseguir reduzir a violência contra a mulher, ou acabar com a violência contra a mulher quando todas nós, todas nós formos para as ruas, quando todas nós não só conse- guirmos pautar uma reforma política, mas também não aceitarmos nenhum tipo de violência, não nos calar- mos, denunciarmos, porque violência não é só física, é verbal. Violência é também a opressão que as mulheres sofrem no dia a dia, não só com um tipo de agressão, mas com um mero “fiu-fiu” na rua.

      Eu acredito que nós mulheres devemos nos unir para ocupar cada vez mais espaços de poder, ocupar o nosso lugar, alcançar o respeito que merecemos na sociedade brasileira e acabar com a violência contra a mulher. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DCN de 20/11/2014 - Página 26