Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o cenário político e econômico do País em 2015; e outro assunto.

Autor
Ruben Figueiró (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Ruben Figueiró de Oliveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL.:
  • Preocupação com o cenário político e econômico do País em 2015; e outro assunto.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2014 - Página 685
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • ELOGIO, VITORIA, ELEIÇÃO, CANDIDATO, SENADOR, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).
  • REGISTRO, SOCIEDADE, PERDA, CONFIANÇA, GOVERNO FEDERAL, ENFASE, PROBLEMA, ECONOMIA, AUSENCIA, CONTROLE, INFLAÇÃO, REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, AUMENTO, JUROS, ENDIVIDAMENTO, POPULAÇÃO, CRITICA, DESRESPEITO, GOVERNO, LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL, CRISE, DESDOBRAMENTO, CORRUPÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), NECESSIDADE, RENOVAÇÃO, PARTIDO POLITICO, CONGRESSO NACIONAL, RESPONSABILIDADE, REFORMA POLITICA.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, meu prezado conterrâneo, Senador Jayme Campos, Srs. Senadores, Srª Senadora, inicialmente, eu gostaria de agradecer à Senadora Ana Amélia pelas referências generosas que fez a minha pessoa e dizer-lhe que, por não ter participado das eleições passadas, infelizmente eu vou deixar o convívio de V. Exªs. Para meu lugar, virá a Srª Senadora Simone Tebet.

            Eu gostaria apenas de dizer que se trata de uma das mais experientes cidadãs que atuam na vida pública do meu Estado, com um extraordinário currículo que agasalha a sua personalidade. Ela se formou em Direito, tem mestrado em Direito, tem doutorado em Direito. É jurista respeitada no nosso Estado, professora da faculdade de Direito. Foi assessora jurídica da Assembleia Legislativa do Estado. Foi Deputada Estadual, com expressiva votação. Depois, tornou-se prefeita de Três Lagoas por dois mandatos. Tal o seu prestígio granjeado em todo o Estado e pelo nome que carrega do saudoso Ramez Tebet, foi convidada para ser Vice-Governadora do Estado, na última gestão do atual Governador, André Puccinelli.

            O grande sonho de Simone Tebet era substituir o pai aqui no Senado da República - sonho que revelava a todos - e a oportunidade surgiu. Ela, inclusive, mora no mesmo prédio em que eu resido, em Campo Grande, e me disse: “Já que você não vai ser candidato, Ruben, eu tenho vontade de pleitear o cargo”.

            Eu disse a ela: “se fosse candidato, eu abriria mão para você, Simone, porque você representará, muito melhor do que eu, Mato Grosso do Sul no Senado da República”. As urnas confirmaram isso. Ela virá para cá e V. Exªs terão a oportunidade de verem confirmadas as minhas palavras com relação a essa extraordinária cidadã que honra a política de Mato Grosso do Sul.

            Portanto, as referências de V. Exa, Senadora Ana Amélia, vêm ao encontro do meu pensamento e das minhas manifestações de respeito e amizade a ela e também ao seu saudoso pai, o Senador Ramez Tebet, com quem tive uma convivência de mais de 50 anos nas lutas políticas, desde a universidade. Muito obrigado pelas referências que V. Exa fez à Senadora Simone Tebet.

            Com muito prazer, Senador Aloysio.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Meu prezado colega, Senador Ruben Figueiró, a Senadora Simone Tebet chegará ao plenário do Senado precedida pelas excelentes referências que V. Exa acaba de fazer dela, que virá substituí-lo com a elegância da fala e com a delicadeza do gesto que caracterizam a sua atitude para com os colegas e aqui no Senado Federal. Eu o conheci, meu caro Ruben Figueiró, pelas palavras de um amigo comum, o nosso inesquecível companheiro e amigo João Faustino. Nesses tempos em que convivi com o senhor, tudo aquilo que João Faustino pudesse me dizer de bom a seu respeito foi superado pela convivência, pela sua presença ao meu lado, na nossa Bancada, no convívio aqui no Senado, a sua presença discreta, mas sempre muito afirmativa quando defende os seus pontos de vista, quando defende o seu Estado do Mato Grosso do Sul, quando ergue as bandeiras do nosso Partido. Eu me habituei a vê-lo nessa tribuna, com muita assiduidade, sempre tratando em termos muito elevados dos temas da política nacional e dos temas da política do seu Estado.

            Ruben Figueiró é um Senador que tem uma longa militância na política, como a sua militância anterior teve como ponto alto, antes de vir ao Senado, a sua participação na Assembleia Nacional Constituinte, que deixou entre os seus colegas uma lembrança muito carinhosa e de muita admiração. Eu vou sentir muita falta dos seus conselhos...

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Quem me dera!

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Minoria/PSDB - SP) - Sentirei falta da sua conversa sempre animada, sempre animadora. Eu sentirei falta aqui, às vezes, de reflexões que o senhor costuma fazer sobre o seu passado, sobre a experiência política que viveu, sobre o momento político que vivemos quando sento aqui, a seu lado, porque é o meu lugar predileto aqui, no Senado, pela sua companhia. Quero ressaltar também o seu trabalho de articulação política que resultou no êxito da candidatura do nosso companheiro Azambuja para o Governo do Estado. Eu sei - e Azambuja também sabe - o quanto o seu trabalho de retaguarda foi importante para que essa candidatura tomasse o rumo certo, prosseguisse na perseguição daquele sonho que os nossos companheiros do Mato Grosso do Sul acalentavam e na construção das alianças políticas que tornaram a sua caminhada viável. Eu quero, meu caro Ruben Figueiró - esta não é uma despedida -, aproveitar a ocasião para dizer o quanto eu lhe quero bem, o quanto todos nós, os seus colegas, especialmente os seus companheiros de Bancada, lhe queremos bem e pedir ao senhor que, mesmo fora do Senado, de vez em quando, venha até aqui, para que nós possamos continuar essa convivência que é, sobretudo, extremamente prazerosa para todos nós. Muito obrigado.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Muito me honra, Senador Aloysio, a sua manifestação. Da mesma forma que V. Exª diz que quem nos uniu foi um grande amigo, eu digo a V. Exª: foi graças a esse amigo que nós nos tornamos amigos. João Faustino foi uma das pessoas que eu tinha como irmão. Conheci-o em 1979, quando nós, pela primeira vez, adentramos aqui, no Congresso Nacional, e, desde o primeiro contato, eu senti a grandeza da alma do João Faustino, não só a cultura que ele carregava, educador emérito, professor, homem de uma lucidez extraordinária, lastreado realmente na cultura adquirida não só na universidade, mas, sobretudo, nas agruras da vida. João Faustino sofreu muito para conseguir o espaço que lhe foi consagrado no passado. Eu tenho dele uma imagem que se renova, Senador Aloysio, quase todos os dias, uma figura que está fazendo e fará muita falta ao nosso País e ao seu Estado do Rio Grande do Norte.

            Então, toda vez que temos oportunidade de conversar, Senador Aloysio, eu tenho a impressão - eu não sou espírita; sou católico apostólico romano - de que...

            (Soa a campainha.)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Sr. Presidente, me dê alguns minutos.

            Eu tenho a impressão de que ele está entre nós, inclusive fazendo a intercomunicação. É a imagem, portanto, que vou levar do Senado, dos meus amigos, entre os quais aqui estão três: V. Exª; o Senador Antonio Aureliano, a quem me ligam laços profundos da UDN, de que jamais nos esqueceremos; e o Senador Jayme Campos, cuja tradição pessedista nos faz vivificar a alma de udenistas. V. Exªs representam tudo aquilo que vou levar no coração para o meu Mato Grosso do Sul.

            Segunda-feira, Senador Aloysio Nunes, pretendo estar aqui na tribuna para fazer uma prestação de contas e apresentar as minhas despedidas a V. Exªs - mas, desde já, esse aqui é um prelúdio -, com as festividades que só a amizade pode consagrar.

            Eu sou muito grato a V. Exª. Tenha certeza de que eu levarei não só de V. Exª, como do Senador Aureliano e do Senador Jayme Campos, aquela imagem que se tem dos grandes homens. Eu não esquecerei e terei sempre em mente que temos as mesmas ideias, porque já dizia Frank Crane, um sociólogo americano, que não se envelhece com o passar dos anos, mas, sim, pelo abandono dos ideais. Esses ideais vão nos unir sempre e para sempre.

            Muito obrigado, Senador Aloysio.

            Sr. Presidente, agora, permita-me V. Exª que eu faça o meu discurso, porque esse foi um preâmbulo.

            O SR. PRESIDENTE (Jayme Campos. Bloco Minoria/DEM - MT) - V. Exª já tinha me dito, pedido aqui.

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - Sr. Presidente, ilustres Srs. Senadores, senhores ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado e todos aqueles que nos honram, aqui, com sua presença, estou aqui para fazer uma análise, que espero que seja rápida, sobre as perspectivas para 2015, que a mim não me parecem animadoras.

            Os dados da realidade brasileira indicam que teremos um ano extremamente difícil.

            Tenho conversado com meus companheiros de partido, com jovens de todas as idades, com trabalhadores e empresários, e sinto que todos estão com medo do futuro. Não há confiança no Governo, a esperança está empalidecida com o rumo das coisas e a crença de que a vida vai melhorar parece se esboroar a cada escândalo, a cada injustiça, a cada denúncia.

            Vejo que, em 2015, enfrentaremos três grandes crises: a econômica, a moral e a política. Elas serão simultâneas e de grande impacto na sociedade.

            A crise econômica está batendo à nossa porta. A combinação de baixo crescimento, juros elevados, inflação indomada, preços retesados, queda no consumo e estratosférico endividamento das famílias prenunciam momentos complicados que vêm pela frente. As contas públicas estão em frangalhos e maquiadas. Ninguém, até agora, sabe qual é a real situação do tamanho do déficit público.

            A que ponto chegamos, Excelências! O Congresso Nacional - com obstrução nossa, dos oposicionistas - que fique registrado -, aprovou autorização para que o Governo descumprisse as metas orçamentárias. Lamentável o desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal! Pior ainda, é a abertura de um precedente terrível em nível estadual e municipal.

            Para que então fazer compromissos em relação ao controle de receitas e despesas, pergunto. Teria sido mais digno e honesto se a Senhora Presidente tivesse admitido o fracasso na projeção do superávit primário e se comprometido, de fato, em fazer diferente no próximo ano.

            Pior ainda foi a ação chantagista da Senhora Presidente Dilma de condicionar a liberação das emendas parlamentares ao Orçamento à aprovação do chamado ajuste fiscal, votado com polêmica e protestos populares neste Congresso na semana passada.

            Infelizmente, o Brasil quebrou e a sociedade vai pagar por isso! Dilma tenta, agora, reverter o quadro com a equipe econômica anunciada.

            Espero que seu autoritarismo permita que os novos Ministros executem o que, de fato, o País precisa. O fato é que "nunca antes na história deste País" - entre aspas, para usar o bordão do ex-Presidente Lula - um mandatário maior da Nação assumiu o segundo mandato com tal falta de credibilidade quanto agora.

            A conta que pagaremos pelos erros econômicos do Governo será salgada. O ajuste fiscal deverá ser forte; a sanha arrecadadora do Estado será pantagruélica. As chamadas - entre aspas - “medidas impopulares” serão tomadas com o agravante de terem que ser compartilhadas com a federação. Os Governadores eleitos enfrentarão enormes dificuldades, principalmente aqueles que foram eleitos pelos partidos de oposição - os nossos Partidos, Senador Aloysio.

            O Governador terá que fazer receitas máximas para se contrapor ao descontrole das despesas. A classe média será extremamente penalizada. Os pobres pagarão mais impostos pela via regressiva, e os ricos ficarão mais ricos porque o sistema não terá como fugir da lógica do rentismo, ponto fulcral que nos coloca entre os países mais desiguais do mundo.

            Paralela a essa crise, viveremos a crise moral com os desdobramentos do escândalo do petrolão, considerado o maior escândalo de corrupção ocorrido em um país democrático na história do mundo moderno, como classificou o The New York Times.

            Estamos apenas vendo o início desse processo. Todos os dias somos surpreendidos com novas revelações. Notem, Srs. Senadores, que não se tratam apenas de meras suspeitas, mas, sim, de confissões públicas, devolução de recursos roubados, corrupção comprovada. O Ministério Público Federal já pediu a condenação de novos acusados, e, agora, o Procurador-Geral fez uma manifestação que estarrece a Nação e mostra a realidade dos fatos. Entre eles, estão os famosos Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef.

            O pior de tudo é a impressão de que o petrolão, com toda a lama que tem sido revolvida de seus subterrâneos, é a ponta de um enorme iceberg. Parece que a Polícia Federal está, ainda, no início do processo de desbaratar essa quadrilha altamente especializada que se enraizou no País. Fico me perguntando, Excelência, o que sairá dos outros ramos da investigação que já está chegando aos ministérios e ao setor elétrico?

            Sr. Presidente, meu caro Senador Jayme Campos, é repulsivo ver tanto dinheiro desviado para bancos suíços, para compras de mansões, carros de luxo, iates, festas nababescas, enquanto o povo padece na pobreza, com educação e saúde de baixíssima qualidade.

            De fato, estamos chegando ao auge de uma crise de valores. A ganância e a ambição pessoais de uma minoria infelicitam de maneira cruel as grandes maiorias. Onde está a decência? Onde está o respeito ao próximo? Onde se encontram as noções de civilidade?

            Na confluência dessas duas crises, vamos viver uma crise política de grandes proporções. Ficamos aguardando a efetiva punição do núcleo político do petrolão. Mais do que política, a crise é institucional.

            A Senhora Presidente e o seu partido não reúnem a credibilidade necessária para propor urna reforma política que possa abrigar em seu seio as aspirações da sociedade brasileira por um País melhor, mais justo, cujas instituições funcionem em harmonia com os desejos da maioria.

            Entendo, Sr. Presidente, Senador Jayme Campos, que mais esse escândalo tem a ver com a operacionalização da política brasileira; os maiores partidos da situação se acham donos do Estado a ponto de desviarem recursos da Administração Pública com o objetivo de se perpetuarem no poder indefinidamente.

            Por isso, espero também que a Senhora Presidente Dilma Rousseff, já no início do segundo mandato, proponha ao Congresso Nacional as bases de uma reforma política séria, que pode, inclusive, trazer a sua conotação doutrinária, mas desde que com senso democrático.

(Soa a campainha)

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB - MS) - O que se deseja, Sr. Presidente - e já estou concluindo -, é o congraçamento de todas as outras tendências, inclusive para permitir a discussão de ideias como a eleição distrital, novas regras para a constituição de partido político, cujo programa tenha bem definido o seu propósito a fim de evitar a proliferação de legendas com a mesma bandeira ideológica.

            Outras questões imprescindíveis devem ser analisadas. Novos representantes com outras ideias e bandeiras trariam, sem dúvida alguma, a renovação de valores nas Câmaras Legislativas, a fim de impedir a manutenção do atual sistema, hoje, quase que oligárquico, que nada mais é do que a fossilização de ideias e de interesses, ou seja, que estão arraigadas há muito tempo e já viraram fósseis.

            Sr. Presidente, tenho mais algumas observações a fazer, sobretudo no campo político, mas pediria a V. Exª, com a generosidade que caracteriza a sua pessoa, que considere como lido o restante do meu pronunciamento. Nada mais está fora dessa linha de pensamento que externei até agora.

            Muito grato a V. Exª pela distinção que me concedeu, permitindo-me ultrapassar o tempo regimental. Mas, isso é fruto, sem dúvida alguma, da cuiabanidade que caracteriza V. Exª.

            Muito obrigado.

 

            SEGUE CONCLUSÃO DO PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR RUBEN FIGUEIRÓ

            O SR. RUBEN FIGUEIRÓ (Bloco Minoria/PSDB/ - MS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Espero que os novos congressistas que ocupem as cadeiras no Senado e na Câmara dos Deputados tenham consciência do papel que lhes reserva a história.

            Eles serão os artífices da chamada nova política. A eles caberão engrendar um novo pacto de construção do Brasil. O povo sairá às ruas para cobrar-lhes demandas antigas e não resolvidas. A sociedade estará cada vez mais atenta aos desmandos e malfeitos.

            Não pensem que o escrutínio de seus atos e decisões será esquecido. A cidadania entrou em nova fase: quer mais transparência, quer posições coerentes e quer mudanças de verdade.

            Vamos continuar unidos em nome de um Brasil melhor.

            É o que penso e desejo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2014 - Página 685