Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao modo de condução da eleição dos membros da Mesa do Senado Federal; e outro assunto.

Autor
Cássio Cunha Lima (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PB)
Nome completo: Cássio Rodrigues da Cunha Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. GOVERNO FEDERAL.:
  • Críticas ao modo de condução da eleição dos membros da Mesa do Senado Federal; e outro assunto.
Aparteantes
Cristovam Buarque, João Capiberibe, Omar Aziz, Waldemir Moka.
Publicação
Publicação no DSF de 06/02/2015 - Página 158
Assunto
Outros > SENADO. GOVERNO FEDERAL.
Indexação
  • CRITICA, MODELO, DIREÇÃO, ELEIÇÃO, MEMBROS, MESA DIRETORA, SENADO, COMENTARIO, PREJUIZO, DEMOCRACIA, BRASIL.
  • CRITICA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, ALTERAÇÃO, DIREITOS E GARANTIAS TRABALHISTAS, AUMENTO, IMPOSTOS, COMENTARIO, PERDA, PRESTIGIO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), CORRUPÇÃO.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Ana Amélia, que muito dignifica este Senado com sua postura sempre ética, correta, firme, brasileira acima de tudo, é uma honra poder ocupar esta tribuna sob sua Presidência. A minha saudação às Srªs e aos Srs. Senadores, aos telespectadores da TV Senado.

            Ontem, o Plenário da Casa da República viveu um dos momentos mais tristes de sua história recente, quando, de forma pensada e deliberada, a maioria formada pelo Governo, sob a batuta e o comando do Presidente Renan Calheiros, decidiu, e foi uma decisão de caráter eminentemente político, excluir a oposição, ou as oposições, da Mesa Diretora da Casa. Os argumentos para que isso pudesse ter acontecido são os mais frágeis, não resistem à mais simplória análise, e não é preciso ser sociólogo, antropólogo, muito menos especialista em política. Os que interpretarem o ato de ontem como um movimento de ataque, de vendeta, de vingança, pelo fato de PSDB, PSB e membros do PMDB não terem apoiado a candidatura do Presidente Renan e, como nós outros, terem votado em Luiz Henrique, acredito que farão uma avaliação equivocada, porque, ontem, não foi feito, neste plenário, um movimento de ataque; foi feito um movimento de defesa, na tentativa de se preparar trincheiras em uma batalha para uma guerra que está por vir.

            Eu reputo este momento extremamente grave. Falo no tempo do meu mandato como Senador, individualmente, mas também expresso, na condição de Líder do PSDB, a preocupação com o fato de a Casa da Federação estar sendo transformada numa trincheira de embate político de graves proporções. Na Casa da Federação - e eu estou usando de forma pedagógica, de maneira repetida a expressão -, não cabe no bom senso, e o bom senso não faz mal a ninguém, que um Estado querido por todos nós, valorizado por todos nós, até porque o Brasil inteiro brigou pelo Acre. Do contrário, o Acre, se não fosse um xodó de todos nós, estaria com a Bolívia. Então, amamos o Acre e o seu povo, e respeitamos a sua representação nesta Casa.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Democracia Participativa/PP - RS) - Especialmente, o gaúcho Plácido de Castro.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Fazendo o registro da nossa História.

            Mas não há lógica política - porque isso fere a geopolítica - o Acre estar com os seus três representantes, que são da Base do Governo, compondo a Mesa Diretora, que é complementada pelo igualmente querido Estado de Roraima, que tem dois representantes, enquanto a Região Sul, que V. Exª, Senadora Ana Amélia, representa com tanta dignidade nesta Casa, não tem assento na Mesa. O Sudeste tem apenas um Senador, Zeze Perrella, que era o suplente do Senador Itamar Franco, e com quem tenho, Zeze Perrella, uma relação extremamente fraterna.

            Estou fazendo, aqui, a análise política de onde se quebra, por completo, esse princípio da Casa Federativa, em torno de um movimento político que foi ontem coordenado - com a resistência do alagoano Benedito de Lira, que me dá a honra da presença neste instante - por mais dois outros alagoanos, o Senador Collor de Mello e o Senador Renan Calheiros, que comandaram aqui, da Mesa do Senado, essa movimentação política que terá consequências graves. Não se brinca com a representação popular.

            Quando o PSDB, o PSB, o Democratas e outros partidos reivindicaram presença na Mesa, não era porque estávamos atrás de empreguinhos, de cargos, de penduricalhos, tanto é que a nossa resposta política foi pronta, firme, imediata: “Não participamos da disputa!” Retiramos as nossas postulações, porque nós estamos aqui para, em primeiro lugar, defender os valores da democracia, e os valores da democracia nascem do sufrágio; a gênese da democracia é a soberania popular. E foi essa soberania popular, com o voto do povo brasileiro, que decidiu a proporcionalidade desta Casa.

            Portanto, quando uma maioria eventual se forma com a distribuição sim - aí, sim -, foram distribuídos cargos, foram distribuídos espaços, rompendo essa proporcionalidade que vem das urnas, a democracia está sendo atacada. A sociedade brasileira está sendo desrespeitada.

            E aí é o momento de dizer: “Basta! Chega! Pare!” A sociedade não suporta mais essa velha política do conchavo, das conversas no porão, na coxia, porque a cena é feita no palco principal, onde há luz, onde há televisão ao vivo, rede social, imprensa livre e que vai denunciar. E nós seremos os primeiros a denunciar, como fizemos ontem. Fizeram um acordo nos bastidores, usando, inclusive, a residência oficial da Presidência do Senado, em que uma parte dos Senadores foi chamada e outra não.

            Daqui para frente, a oposição não participa mais de negociação de colégio de Líderes na Presidência da Casa, porque foi a escolha política que o Presidente Renan fez ontem. Não vai presidir o Plenário; vai presidir 49 Senadores que seguem a sua orientação política. Nós do PSDB seremos presididos sempre pelo povo brasileiro, pelos valores e pelos princípios, que são inegociáveis, da democracia e que não podem ser atacados dessa forma por mais grave que seja a crise.

            E temos consciência da gravidade da crise porque um político experimentado, vivido, maduro, como é o Senador Renan Calheiros, não teria feito o cavalo de batalha que fez ontem para ocupar uma suplência na Mesa, a 3ª ou a 4ª Secretaria. É claro que, por trás disso, não era a ocupação de cargos na Mesa; são os episódios que estão por vir e que têm elevado a temperatura da política em um ambiente extremamente preocupante, porque não estamos diante, apenas, de uma crise na política. Nós estamos com três ingredientes que são explosivos individualmente e que são destruidores quando somados: economia indo muito mal, recessão, aumento de impostos, “tarifaço” - na minha amada Paraíba, no meu querido Estado, só ali o aumento da energia elétrica será no patamar de 39% -; retirada de direitos trabalhistas, ou seja, uma população que percebeu que, após as eleições, foi enganada, porque houve um estelionato, um verdadeiro estelionato, com tudo aquilo que foi dito durante a campanha eleitoral e que, ato contínuo, foi feito exatamente o contrário.

            Ontem o Deputado Bruno Araújo, na Câmara Federal, pegou o seu celular e colocou aqui no microfone a fala, uma fala oficial, em rede nacional de televisão convocada pela Presidente da República, e colocou para que todos pudessem ouvir. A iniciativa de Bruno repercutiu no Brasil inteiro porque usou a tribuna da Câmara para reproduzir a fala da Presidente da República, em que dizia que ia diminuir impostos, que não haveria crescimento de juros, que a energia teria um barateamento de 18%. Então, temos uma população que já não aguenta mais, não aguenta essa realidade e já não tolera essa manobra da velha política do conchavo, da imposição da maioria; ela quer mudanças e foi para as ruas pedir essas mudanças.

            Somada a isso, há uma crise ética sem precedentes. Eu assistia ontem ao Jornal da Globo, e Sardenberg mostrava, com o seu conhecimento, com a sua credibilidade, que só pela corrupção a Petrobras perdeu R$88 bilhões. Eu fui Governador da Paraíba. No tempo em que eu fui Governador, R$88 bilhões significariam dez orçamentos de um Estado como a Paraíba. Isso sem falar em outros prejuízos.

            Portanto, soma-se à crise econômica, sobreposta a essa crise econômica, uma crise de credibilidade, no maior escândalo de corrupção talvez do hemisfério sul ou do Globo terrestre - eu não tenho notícia de um rombo em uma só empresa desse patamar em qualquer parte do mundo -, e, para completar esse cenário de muita gravidade, uma crise política que se avizinha, porque a imprensa inteira fala, já há alguns meses, da possibilidade da citação de políticos, de mandatários, parlamentares, na investigação da Lava-Jato.

            O fato é que agora, hoje, como se não bastassem os episódios de ontem - eu concluo a minha fala, com a generosidade da Senadora Ana Amélia -, houve a prisão para o depoimento coercitivo do tesoureiro do PT, o Sr. Vaccari; e a delação premiada, em que se anuncia, com todas as letras, com todas as informações que geram perplexidade completa no Brasil, feita pelo Sr. Barusco, que o PT teria tirado da Petrobras, pela via da corrupção, mais de U$200 milhões. O PT lavou tanto dinheiro que está faltando água no Brasil inteiro.

            Repito: o PT lavou tanto dinheiro que está faltando água no Brasil inteiro.

            Então, nós precisamos ter muita responsabilidade neste instante.

            Para concluir, faço uma indagação, mas antes escuto o Senador Moka.

            Senador, por gentileza.

            O Sr. Waldemir Moka (PMDB - MS) - Senador Cássio Cunha Lima, quero, antes de tudo, que as minhas primeiras palavras sejam de saudação aos Senadores que tomaram posse aqui, o Senador Reguffe, Gladson Cameli e o Governador Osmar. Eu queria dizer a V. Exª apenas uma questão: vários de nós... Eu sou do PMDB, um dos que estimulou e apoiou a candidatura do Senador Luiz Henrique, e V. Exª esteve junto nisso. A mim me parece que, se a disputa for entre dois Senadores, desde que sejam do mesmo Partido, estamos colocando a regra da proporcionalidade. Eu acho que a eleição para Presidente acabou com isso. Já tinha acabado; o Senador Renan tinha sido eleito. O que vários Senadores, inclusive V. Exª e eu próprio, pedimos foi que se pudesse tirar aquele clima de tensão que ficou e sempre fica numa disputa. Mas, lamentavelmente isso não aconteceu. Não quero entrar nesse mérito. Quero apenas deixar muito clara a minha posição. Eu deixei o plenário, e vou lhe dizer por quê: era a única forma. Aqueles que não concordavam com o que acabou acontecendo... Votação secreta! Mais uma vez a votação secreta impedia de dizer quem votou “sim” e quem votou “não”. Fui um daqueles que, na sessão do superávit, ficou até de madrugada para votar “não”, porque eu sabia que ali, ao lado do meu nome, apareceria o meu voto. Não era votação secreta. Mas ontem não! Eu poderia votar “não” e, depois de uma manobra, alguém ainda querer dizer que eu votei “sim”. E eu não sou homem de ficar fazendo esse tipo de jogo, Senador Cássio Cunha Lima. Então, fiz questão. Outros Senadores também tiveram a mesma atitude. Eu devia tê-lo aparteado - aliás, tentei - quando V. Exª estava falando desse tema. V. Exª já foi para outro tema, mas eu não queria deixar de colocar, com muita clareza, qual foi a minha posição aqui nesta Casa, não para destratar ou para hostilizar, respeitando opiniões daqueles que divergem de mim - afinal de contas, esta é uma Casa política, apenas e tão somente - e querendo contribuir para que consigamos restabelecer aquele entendimento que é muito importante que exista nos parlamentos, em especial no Parlamento que representa os Estados, como é o caso do Senado da República. Agradeço o aparte a V. Exª.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Agradeço ao Senador Moka, por quem tenho, além de admiração pessoal, sintonia de pensamento em vários instantes. E vamos fazer a análise que cabe, como intérpretes que somos nessa democracia representativa, para que o povo compreenda o que está se passando no Senado Federal.

            Eu peço a tolerância da Presidente só para ouvir o Senador Omar.

            Senador, por gentileza.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Democracia Participativa/PP - RS) - O tema é relevante, Senador.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Muito obrigado.

            O Sr. Omar Aziz (PSD - AM) - Primeiro, Líder Cássio, eu quero tratar da questão da Petrobras. Primeiro, agradeço ao Senador Moka a recepção a mim e ao Senador Cameli, ao Senador de Brasília, Reguffe - nós conversamos há pouco, está aqui atrás. Questão Petrobras. Eu falei há pouco - a Senadora Ana Amélia falava sobre esse assunto -, e não falamos sobre a Petrobras, agora, dizendo que quanto pior melhor para nós; falamos com uma dor, porque todos nós que um dia lutamos por “o petróleo é nosso”, com uma história em relação à Petrobras, ficamos abismados. Mas uma coisa nos chama a atenção: ninguém, nenhum partido político, seja de situação, seja de oposição, seja neutro, seja lá o que for, discorda que há corrupção na Petrobras. Isso já é um grande avanço. Já é um grande avanço! Antigamente, aparecia uma corrupção, e aí apareciam uns dez, uma tropa de choque para defender; agora, não aparece ninguém. E a simples troca da presidente Graça Foster não vai resolver o problema da Petrobras. Eu até pedi, fiz um apelo há pouco, que a Petrobras retire aquela propaganda mentirosa que está na televisão. Mentirosa! Porque ela já induziu o povo brasileiro a pegar suas economias e comprar ações; ela já induziu o trabalhador que passou uma vida toda trabalhando e economizando a comprar suas ações; muitas instituições de previdência que fizeram investimento vão ter problemas com seus associados, com as pessoas que fazem parte das suas agremiações. O que nós queremos hoje? Seja oposição, seja situação, quem é brasileiro - e todos somos brasileiros, independentemente de partido, e ninguém é melhor do que ninguém nesta Casa, não é, e o Brasil hoje demonstra claramente que quer as mudanças - está passivo em relação a tudo que está passando, mas é preciso que o Governo tome providência, faça a sua parte; que mude culturalmente a forma como hoje entendem as instituições brasileiras, que não são do Governo que está de plantão, seja PT, seja PSDB. Entendem que aquilo é propriedade particular, e vamos nomear lá uma pessoa incompetente para tomar conta. Não! Temos que mudar essa cultura de partido político querer mandar. Aqui, no Brasil, parece que tudo já tem dono, quando se fala “é área de fulano, é do partido tal”. Isso tem que mudar, Senador Cássio. Agora, eu mesmo tive uma decepção. Ainda há pouco, o Senador Agripino falava sobre petróleo. O Amazonas tem um dos melhores petróleos do mundo. A qualidade do petróleo amazonense é aquela em que se tira o petróleo e se pode colocá-lo no carro, que o carro vai andar, para se ter uma ideia. O petróleo venezuelano é um dos piores do mundo, porque ele é grosso. Nós temos a maior jazida de silvinita do mundo. E eu fui à presidente da Petrobras para que a Petrobras fizesse um investimento de 4 bilhões e nós pudéssemos ser autossuficientes em fertilizante no Brasil. Ela disse para mim, há três anos, que não tinha dinheiro para fazer isso. Mas tem 88 bilhões para serem jogados fora! Fertilizantes, que hoje o Centro-Oeste, que produz, vai buscar esse fertilizante na Rússia e no Canadá. A nossa jazida de silvinita é maior do que a do Canadá. Nós teríamos condições - lá temos gás, temos o potássio -, poderíamos produzir silvinita e dar uma alternativa à Zona Franca, criando um polo petroquímico, produzindo uma coisa que o Brasil precisa, que o Brasil importa. O Brasil, quando chega ao final do ano, quando vai fazer as contas entre o que importou e o que exportou, cai na compra que precisa de fertilizantes. Então, o senhor não vai contar conosco, com os Senadores, porque somos do partido A ou do partido B, ou porque votamos na Mesa em A ou B; estamos aqui juntos para tentar melhorar este País e vamos colocar, pontualmente, tudo aquilo que nossas regiões... O senhor fala da Paraíba, dizendo: “o nosso orçamento seria dez anos de orçamento”. O Amazonas também não está longe disso!

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Ao tempo em que fui governador, deixo claro. O orçamento da Paraíba hoje é maior.

            O Sr. Omar Aziz (PSD - AM) - Lógico. Mas aí você pega o orçamento de Roraima, de Rondônia, de Amapá, o senhor vai ver que dá para fazer 20 anos, 30 anos de orçamento. Você vai pegar o orçamento do Piauí e vai dar 30 anos. E lá há brasileiros que acreditaram na Petrobras, que ainda têm o sonho da Petrobras. Eu fico espantado porque o negócio é tão feio que ninguém tem coragem de defender. Eu acredito que nós podemos fazer as mudanças que este País quer. Estamos aqui para colaborar com isso. E peço ao PSDB, que é um Partido de uma importância nacional muito grande, que o que aconteceu ontem aqui não nos atrapalhe em relação a fazermos essas mudanças juntos. Conheço quadros do PSDB valorosos, que ajudaram este País. E não podemos ter o comportamento, quando nós que democratizamos este País lutando, principalmente com um exemplo não muito bom. O Senador Aécio Neves - e isso eu vou dizer a ele na primeira oportunidade - se lembra bem de que, quando Tancredo Neves foi eleito Presidente da República, houve um partido que se retirou da Câmara, achando que não era o momento certo. O PSDB não pode cometer o mesmo erro que o PT cometeu na época da eleição. As mudanças não começam da forma como queremos, mas com o trabalho que a gente pode fazer adiante. E, se hoje nós estamos numa democracia, é porque brasileiros em 1985 tiveram a coragem de votar em Tancredo Neves para que a gente pudesse fazer essas mudanças na democracia brasileira. Estamos aqui por causa disso. Era isso que eu queria colocar para o senhor, Senador Cássio.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Agradeço, Senador Omar, pela participação, pelo aparte. Vou concluir o pronunciamento, em decorrência do tempo. Apenas permito-me discordar de V. Exª no que diz respeito aos dois movimentos: o nosso movimento pretérito foi exatamente em direção à construção da democracia; o movimento da direção da Casa ontem foi no sentido inverso, em desrespeito à democracia ao não acatar a representatividade da Casa, que tem uma origem, o voto popular. Está lá na nossa Constituição: “Todo poder emana do povo”. E o povo brasileiro foi desrespeitado ontem porque nós temos uma delegação expressa desse povo para ter participação neste Parlamento.

            Portanto, foi a opção política que o Presidente Renan fez, e eu faço a leitura porque estou sendo assistido pelo Brasil através da TV Senado, que terá repercussão na mídia. O movimento de ontem de parte da Base do Governo não foi um movimento de ataque à oposição, mas um movimento de defesa, porque estamos diante de uma situação tão grave que fica literalmente indefensável. V. Exª acabou de dizer que não aparece ninguém para defender a Petrobras. Não se defende aquilo que é indefensável. Extrapolou todos os limites daquilo que pode ser imaginado!

            A situação é tão grave que ninguém poderia sequer imaginar. Corrupção existe desde que o mundo é mundo, infelizmente. Onde existir um agrupamento humano existe espaço para a corrupção, que deve ser punida, deve ser combatida.

            Acontece que, desses anos para cá, o que se vê é o aparelhamento do Estado brasileiro para práticas reiteradas de corrupção, em todas as áreas, para a manutenção de um projeto de poder. É isso que o Brasil vive hoje e é isso que a população já não suporta mais. E esta é a Casa própria para fazer esse debate e para apontar, botar luz. O movimento de ontem foi muito claro nesse sentido.

            Portanto, para concluir...

            Escuto o Senador Capiberibe, com muita honra.

            O Sr. João Capiberibe (Bloco Democracia Participativa/PSB - AP) - Senador Cássio, Líder do PSDB...

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Democracia Participativa/PP - RS) - Só queria lembrar aos Senadores que existem outros oradores inscritos, mas estamos sendo tolerantes porque o tema é relevante.

            Então, há dois oradores inscritos aguardando, mas o aparte do Senador Capiberibe, por democracia da Mesa, ao Senador Cássio.

            O Sr. João Capiberibe (Bloco Democracia Participativa/PSB - AP) - Obrigado, Senadora Ana Amélia. Obrigadíssimo. Srª Presidente, o que me surpreende, se o tratamento que nos foi reservado ontem fosse dirigido à oposição, daria para entender, em função do antagonismo e dessa polarização histórica entre o PSDB e o PT, mas o meu partido não é um partido de oposição. O PSB não é um partido de oposição e também não é um partido de situação. A situação do nosso Partido é peculiar. Há uma determinação, uma definição da Executiva Nacional, Senadora Ana Amélia, que nos deixa numa situação de extrema dificuldade, que é a da independência. E independência em política é sempre muito difícil de definir, mas a expectativa do nosso Partido é a de que nós possamos estabelecer uma comunicação direta com a sociedade, trazer aqui para dentro do Parlamento aquilo que é de interesse coletivo e colocar e poder dialogar com a situação e com a oposição. Excluir o PSDB, excluir o DEM, que são Partidos que fazem, de fato, oposição clara e definida, poderia até ser compreensível para a sociedade. Mas excluir o PSB, que não é um Partido de oposição, torna-se algo absolutamente incompreensível. É como se a Mesa se transformasse num clube de uns poucos. Uma Mesa que poderá ser caracterizada como a Mesa da base do Governo. Algo assim. Não sei como é que... Aqueles que não lerem pela cartilha do Governo, que não se definirem claramente como situação, como apoiadores de forma clara e definida do Governo, não fazem parte da Mesa. Aquilo que estranho: é como se houvesse um desejo do PT, um desejo do Governo em ver o PSB na oposição, vamos empurrar esses seis Senadores, nós queremos que eles façam oposição.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Bem-vindos, de braços abertos. Bem-vindos.

            O Sr. João Capiberibe (Bloco Democracia Participativa/PSB - AP) - Eu sei que V. Exª nos receberia de braços abertos, mas nós não podemos, pelo menos por enquanto. Eu até falei que... Ontem eu disse aqui que vou solicitar uma reunião da Executiva do meu Partido para a gente poder refletir um pouco mais sobre essa nossa posição aqui. Realmente, o que aconteceu ontem é de um autoritarismo, de uma arrogância em relação ao Colegiado. Nós somos 81 Senadores, vamos estar aqui diariamente, um ao lado do outro, conversando, dialogando, e, de repente, somos completamente excluídos, e não caberia... O PSDB, o seu Partido, tem 11 Senadores e não pode estar excluído da governança da Casa. A Casa não pode ser governada apenas... Aqui não se trata do Poder Executivo. Aqui é o Parlamento, uma composição de vários partidos. Enfim, eu confesso que lamento profundamente o que aconteceu ontem, algo triste para o Parlamento, para o Senado Federal, e a expectativa é que realmente vamos ter isso. Foi algo que marcou. Estes próximos dois anos serão marcados pelo dia de ontem e, lamentavelmente, já aconteceu. Eu sei que vamos ter sempre muitos confrontos, mas internos; trazer para o nosso Collor a disputa interna é muito ruim.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Agradeço, Senador Capiberibe, pela contribuição à análise política que estamos fazendo nesta oportunidade dos episódios de ontem e as suas consequências e desdobramentos que o Brasil precisa compreender.

            Nem sempre as pessoas entendem claramente o que está acontecendo aqui no plenário, até porque não são especialistas em Regimento. Tem muita discussão técnica, e eu acho que é muito importante, sob todos os aspectos, inclusive sob o aspecto pedagógico da formação política dos nossos jovens, da discussão e do debate da sociedade, traduzir para que o povo brasileiro saiba o que está por trás de tudo o que aconteceu ontem neste plenário.

            Eu peço vênia à Presidente para que eu possa ouvir o Senador Cristovam, que pede o aparte.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Democracia Participativa/PP - RS) - Estamos na fase dos oradores inscritos, mas, por favor, Senador, com a brevidade possível, para o aparte ao Senador Cássio Cunha Lima.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito obrigado, Srª Presidenta, até porque acho que, de fato, este tema merece que nós nos debrucemos sobre ele. Primeiro, eu quero dizer, como um dos eleitores do Senador Luiz Henrique, que eu não quebrei a proporcionalidade desta vez. Eu quebrei duas vezes antes, quando votei no Taques, quando votei no Randolfe, porque tinha que fazer um protesto aqui, e o protesto exigia quebrar a ideia da proporcionalidade. Mas, agora, nós optamos por um Senador do PMDB. Então, respeitávamos a proporcionalidade. Se votar em outro do PMDB é quebrar, Senadora Ana Amélia, então, não devia ter eleição. O PMDB se reunia, escolhia o seu candidato e comunicava ao Plenário quem já era o novo Presidente. Era uma farsa! Então, nós respeitamos. Mas o que me preocupa neste momento é que sensação que eu tenho, Senador Cássio, quando leio os jornais, quando vejo a televisão - posso estar enganado, talvez eu seja o único -, mas a sensação é a de que o “barco Brasil” está à deriva. Essa é a sensação que eu tenho. Estamos à deriva. Estamos à deriva pelos indicadores econômicos, que quem - e aqui está a Senadora Ana Amélia, que teve esse papel anos atrás - olhava o horizonte do “barco”, do ponto de vista da economia, sabia que isso iria acontecer. Quantas vezes debatemos aqui, Senadora, e éramos ridicularizados. Previa-se; estamos à deriva, porque nós não víamos a Presidenta da República demonstrando sensação da realidade e nem mesmo o que fazer. Caramba! Que a Presidente da Petrobras iria sair era previsível há muito tempo e, quando sai, não conseguir nomear imediatamente... Esse nome deveria estar na gaveta da Presidenta há meses! Então, uma empresa como a Petrobras fica sem direção. O que aconteceu com o Ministério da Economia há algum tempo. Depois, o fato de que toma medidas econômicas fazendo exatamente o oposto do que defendia antes. Está à deriva. Agora, por que eu estou trazendo esse assunto? Porque um dos elementos fundamentais para este País sair da situação de deriva seria o Congresso ter um papel de pilotagem junto do Poder Executivo, não contra. E o Presidente Renan Calheiros ontem abdicou da possibilidade de ser o coordenador do Congresso na busca de um novo encaminhamento para o Brasil. Isso traz para nós uma preocupação adicional. Como ajudarmos o Brasil a sair da deriva sem ter aqui dentro do Congresso alguém que seja capaz de coordenar com o respeito que deve merecer de todos nós a coordenação do nosso trabalho. É muito preocupante, é um agravante à deriva em que estamos.

            O SR. CÁSSIO CUNHA LIMA (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Agradeço ao Senador Cristovam pela colaboração sempre lúcida que V. Exª traz a esta análise que faço neste instante e encerro o meu pronunciamento, diante de tamanha tolerância da Presidente Ana Amélia, com uma pergunta: o Sr. Vaccari, tesoureiro do PT, foi levado coercitivamente para um depoimento na Polícia Federal, repetiu o modus operandi de obstaculizar a Justiça, porque não abriu a porta de casa, a polícia teve que pular o muro, e tem sido assim ao longo dessas investigações, e o Sr. Pedro Barusco, em delação premiada, afirma que o Sr. Vaccari teria recebido US$4,5 milhões dentro do impressionante número que ele atesta de US$200 milhões, que foram transferidos irregularmente, de forma ilegal, pela via da corrupção, para o Partido dos Trabalhadores.

            Para encerrar, no debate, entre tantos debates da campanha eleitoral, o Senador e candidato a Presidente Aécio Neves se dirigiu à Presidente Dilma e perguntou na campanha se a Presidente confiava no tesoureiro do PT, o Sr. Vaccari, e a resposta foi que sim, que tinha uma confiança incondicional.

            Fica aqui, na tribuna do Senado, como Líder do PSDB, a renovação da pergunta à Presidente Dilma: se ela tem confiança no tesoureiro do seu partido, o Sr. Vaccari, que foi levado hoje coercitivamente para um depoimento na Polícia Federal. E agora entendemos por qual razão: em decorrência da delação premiada do Sr. Pedro, que atestou que ele, Vaccari, recebeu US$4 milhões, dentro de um total de US$200 milhões, que foram transferidos para o PT.

            Agradeço pela tolerância e também pela audiência atenta do Plenário.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/02/2015 - Página 158