Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apresentação dos temas prioritários para a bancada feminina no Congresso; e outro assunto.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL. CULTURA. ELEIÇÕES, PARTIDO POLITICO.:
  • Apresentação dos temas prioritários para a bancada feminina no Congresso; e outro assunto.
Aparteantes
Cássio Cunha Lima.
Publicação
Publicação no DSF de 14/02/2015 - Página 5
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL. CULTURA. ELEIÇÕES, PARTIDO POLITICO.
Indexação
  • ANUNCIO, DELIBERAÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), ASSUNTO, PREVIDENCIA SOCIAL, DEFESA, NECESSIDADE, MANUTENÇÃO, DIREITOS E GARANTIAS TRABALHISTAS.
  • ELOGIO, MUSICA, GRUPO, MUSICA BRASILEIRA, CARNAVAL, ASSUNTO, AUMENTO, PODER, MULHER.
  • REGISTRO, REUNIÃO, BANCADA, MULHER, SENADO, ASSUNTO, PRIORIDADE, REFORMA POLITICA.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Senadora Ana Amélia, que preside a sessão neste momento. Quero cumprimentar V. Exª, cumprimentar a todos, sobretudo a quem assiste a TV Senado neste momento - como diz o jornalista querido que cobre a Rede Globo, Heraldo Pereira: “Que nos dá o prazer da audiência!”

            Antes de iniciar o assunto que me traz a esta tribuna, Srª Presidente, que diz respeito a uma reunião que tivemos nesta semana - V. Exª, eu e todas as Senadoras desta Casa -, para tratarmos do mês de março, o Mês da Mulher, para tratarmos já um pouco da pauta que interessa à bancada feminina, eu quero, mais uma vez, destacar o fato de que, proximamente, deveremos analisar as medidas provisórias que seriam, ou são, as primeiras ações do Governo da Presidenta Dilma, editadas, ainda no ano passado, no sentido de promover um ajuste nas contas públicas, um ajuste que se faz necessário em decorrência da crise econômica que abate o mundo.

            Essas medidas provisórias são sensíveis porque tratam de questões previdenciárias, porque tratam de questões trabalhistas. E a Presidenta Dilma não apenas disse durante sua campanha eleitoral - a campanha que a reconduziu à Presidência da República -, mas também se comprometeu; mais do que um discurso bem elaborado, o que a Presidenta fez, durante a campanha, foi se comprometer perante a Nação brasileira de que nenhum direito do trabalhador, da trabalhadora brasileira seria subtraído.

            Então, vamos iniciar o diálogo, não só as discussões na Casa. Eu digo diálogo porque deveremos debater o tema com o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiras, com as centrais sindicais. Aliás, esta semana, as centrais estiveram em Brasília - estiveram com o Presidente Renan Calheiros, com o Presidente da Câmara dos Deputados - para tratar dessa matéria e para pedir o apoio dos Congressistas no sentido de que promovam mudanças que mantenham os direitos, todos eles, Srª Presidente.

            E o que eu tenho lido na imprensa é que, em decorrência dessa grande e forte mobilização que vem ocorrendo no Brasil, há um posicionamento a favor das mudanças. Esse posicionamento vem não só por parte dos trabalhadores, mas por parte dos Parlamentares - e aí há unanimidade: são os Parlamentares que não apoiam o Governo da Presidenta, são os Parlamentares que apoiam o Governo da Presidenta. Ou seja, temos quase que uma unanimidade em torno do fato de que precisamos mudar essas medidas.

            Eu fico até satisfeita em ver que, diante desse quadro, é o próprio Ministério da Fazenda que já trabalha com alternativas, alternativas para buscar em outros lugares, de outras formas, a economia, o aumento da arrecadação, que não exatamente com essas medidas. Então, eu estou bastante, muito otimista em relação ao encaminhamento dessa matéria.

            Outra questão em que eu entro, agora, Presidenta, Senadora Ana Amélia, diz respeito à mulher. Eu quero trazer hoje uma boa informação, mesmo porque hoje começa o Carnaval no Brasil. Pelo calendário, o Carnaval é na terça-feira, e, depois, na quarta-feira, há a Quarta-Feira de Cinzas, mas o Carnaval começa hoje. Hoje já se iniciam os desfiles das escolas de samba do primeiro grupo da maior parte dos Estados brasileiros, com exceção do Rio de Janeiro, que, por ser o Carnaval símbolo do País, começará a partir de domingo, salvo engano. Hoje começa em São Paulo, no meu Estado do Amazonas e em vários Estados brasileiros. E a boa informação que eu trago, Srª Presidente, é de que o tema empoderamento da mulher ganhará singular reconhecimento ao ser destaque, como samba-enredo, de uma escola do grupo especial do que é uma das maiores expressões da identidade cultural brasileira: o Carnaval. Agora, neste ano, como resultado da parceria entre ONU Mulheres e Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, uma das escolas de samba mais tradicionais do País, as folionas e os foliões do Rio de Janeiro e do Brasil inteiro que vão brincar o Carnaval, no Rio de Janeiro, irão sambar ao som do tema “Empoderar mulheres, empoderar a humanidade. Imagine!” Esse é o tema da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Eu vou repetir o tema da Mangueira: “Empoderar mulheres, empoderar a humanidade. Imagine!” Com o enredo Agora Chegou a Vez, Vou Cantar: Mulher de Mangueira, Mulher Brasileira em Primeiro Lugar!, a data celebrará a passagem da IV Conferência Mundial sobre a Mulher. A escola de samba promoverá ainda oficinas gratuitas de formação em igualdade de gênero e eliminação da violência contra as mulheres, para a comunidade local. Pois, neste ano, nós estamos comemorando 20 anos da realização da IV Conferência Mundial das Mulheres das Nações Unidas, realizada em Beijing, no ano de 1995.

            E é algo que marcou muito a minha vida política, Senadora Ana Amélia, porque eu, Vereadora de Manaus, estava presente na conferência de Beijing. Foi muito interessante porque, à época, o governo era do Presidente Fernando Henrique Cardoso, meu Partido era de oposição, mas quem organizou e coordenou a representatividade brasileira na conferência foi, à época, a Primeira-Dama, a Drª Ruth Cardoso. E, atendendo a um apelo das Parlamentares mulheres, não as Parlamentares federais, mas as estaduais e as municipais, o Governo brasileiro garantiu a participação oficial também de deputadas estaduais e de vereadoras juntamente com as Deputadas Federais e Senadoras na representatividade do governo brasileiro. E de Manaus foram duas vereadoras.

            É algo que foi marcante, sem dúvida nenhuma. Ali nós fortalecemos muitas políticas públicas importantes para as mulheres. Foi ali que conseguimos fortalecer a lei das quotas, que, 20 anos depois, carece de um balanço. E o momento é providencial, porque estamos iniciando - iniciando, não, dando continuidade, com muita ênfase, e mais: com a decisão de aprovar - a reforma política. O debate da reforma política nunca saiu do Plenário de nenhuma das Casas, mas pouco temos avançado quanto à aprovação efetiva das matérias: quando conseguimos avançar no Senado, quando conseguimos votar alguns itens da reforma política aqui, na Câmara, o projeto para; quando a Câmara avança em alguns projetos e os vota, eles chegam aqui e param. Neste ano, não. Parece que há disposição de votarmos essa matéria. Então, a Conferência das Nações Unidas de Beijing, em 1995, fortaleceu os países do mundo para que estabelecessem suas quotas.

            E repito: precisamos nós as Parlamentares fazer esse balanço - e os Parlamentares também -, para entender que não a pauta da mulher somente precisa ser analisada, adaptada, atualizada, mas também, no Brasil, em relação à política, em relação à lei de quotas para as mulheres, somos chamadas a fazer esse balanço e ver onde precisamos atualizar a lei, para que ela seja efetiva, porque, infelizmente, o balanço de quase 20 anos de lei com quota não é muito positivo. É óbvio que aumentou o número de mulheres, mas num percentual irrisório. A média geral deve ter passado, Senadora Ana Amélia - V. Exª sabe, porque trata do tema como eu, todas nós tratamos -, de 8% ou 9% para 11%. É muito pequeno. É muito pequeno, levando-se em consideração que nós mulheres somos a maioria da sociedade. Nós mulheres somos a maioria do eleitorado brasileiro. Somos a maioria do eleitorado, mas sequer ocupamos 15%, 20% das cadeiras deste Parlamento.

            Enfim, nos traz muita alegria o fato de uma escola de samba da tradição da Mangueira, da importância da Mangueira ter pactuado esse acerto com a ONU Mulheres Nações Unidas, organismo vinculado às mulheres, tendo esse belíssimo enredo.

            Todas nós fomos convidadas - V. Exª, eu - pra estarmos lá na ala do empoderamento. Não pudemos ir, infelizmente. Gostaria muito de ter tido a possibilidade de estar no Rio de Janeiro brincando nessa ala importante, que trata da mulher, mas estarei do lado de cá, por meio da televisão - como tenho certeza de que V. Exª e tantos brasileiros e tantas brasileiras estarão -, admirando e torcendo.

            Eu vou aqui dizer: a Mangueira não é a minha escola número 1. Por quê? Não sei, mas o brasileiro e a brasileira, desde muito cedo, elege um time de futebol, elege uma escola de samba. Eu tenho um time de futebol do meu Estado, tenho a escola de samba do meu Estado, tenho o Boi no meu Estado. Só são dois Bois, é algo muito difícil, porque é o Caprichoso e o Garantido, mas, desde muito nova, elegi o meu Boi, que é o Boi Caprichoso, mas não deixo de ter amor, reconhecimento, respeito também ao Garantido. Eu também, há muito tempo, escolhi a minha escola de samba no Rio de Janeiro, que não é a Mangueira, é a Portela. Mas, este ano, eu vou torcer para a Mangueira, Senador Cássio, por casua do enredo belo. E não só o enredo; é um enredo que se traduz em ações práticas durante o ano todo, ações de formação das mulheres, de esclarecimento, de cursos contra violência na comunidade da Mangueira.

            Eu concedo aparte a V. Exª, Senador Cássio.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - E concede um aparte a um mangueirense.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (PCdoB - AM) - Ah, olha aí. Que bom.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Eu tive a oportunidade de conhecer de perto o trabalho da Mangueira, porque, durante 12 anos da minha vida, eu morei no Rio de Janeiro. O meu pai era Prefeito de Campina Grande nos idos de 1968 e foi cassado na ditadura militar. E, após a cassação do meu pai, que foi Senador também, Ronaldo Cunha Lima, nós moramos dois anos, inicialmente, em São Paulo e, depois, moramos no Rio de Janeiro durante onze anos. Lá conheci de perto a Mangueira. O meu irmão mais velho, Ronaldo Cunha Lima Filho, já desfilou como ritmista, tocando tamborim na Mangueira em diversos Carnavais. Então, fico muito feliz em ver uma portelense torcendo pela Estação Primeira de Mangueira, pela Verde e Rosa. É claro que, no tom descontraído de Carnaval, até mesmo o Plenário do Senado Federal encontra a descontração do Carnaval brasileiro, e isso é muito bom para desanuviar as tensões que têm pairado neste plenário nos últimos dias. Então, quero cumprimentar V. Exª, trazer a minha palavra de reconhecimento pelo gesto de grandeza de poder deixar de lado as cores da sua escola para abraçar temas, temas envolvidos com a mulher brasileira, com o nosso povo, com a nossa gente, e desejar que possamos ter, nesta experiência fantástica que é o Carnaval brasileiro, o espaço para a divulgação da nossa cultura, da nossa arte, das nossas tradições e, também, dos nossos sonhos de um País melhor. Cumprimento V. Exª pela oportunidade do pronunciamento e pela descontração do tema.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (PCdoB - AM) - Eu agradeço, Senador Cássio, o aparte e o incorporo ao meu pronunciamento, repetindo, apenas, como isso emociona. Creio que deva emocionar o Brasil, mas, a nós mulheres, em especial, Senadora Ana Amélia. Creio que a maioria do povo brasileiro, que assiste às escolas pela televisão, não tem conhecimento do tema da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, que é a questão da mulher - “Empoderar mulheres, empoderar a humanidade. Imagine!” - e do samba da escola: Agora Chegou a Vez, Vou Cantar: Mulher de Mangueira, Mulher Brasileira em Primeiro Lugar!

            Imagino a população assistindo ao Carnaval com esse tema, que toca, diretamente, o cotidiano da vida! E imagino a emoção das mulheres, daquelas que sofreram violência em algum momento da sua vida - a violência doméstica, a violência de gênero, como a chamamos. Eu imagino a emoção, Senadora Ana Amélia!

            E quero fazer um desafio a V. Exª, Senador mangueirense Cássio! Nós não poderemos estar no Carnaval desfilando na ala do empoderamento, mas já pensou se a Mangueira vence? Acho que nós teremos o dever de ir ao desfile dos vitoriosos - ou, mesmo que ela não vença, se ela estiver lá -, em um gesto de estender a mão para a escola de samba, porque esse acerto com a ONU Mulheres foi uma coisa interessante e faz parte da iniciativa do movimento intitulado “O valente não é violento”, que a ONU Mulheres desenvolve, no mundo inteiro, no combate à violência que a mulher sofre. “O valente não é violento” é o tema das Nações Unidas no âmbito da campanha do Secretário-Geral: “UNA-SE pelo fim da violência contra as mulheres!”

            Como vemos, a alegria do Carnaval pode e está sendo uma forma criativa e descontraída de sensibilizar a sociedade e mostrar ao mundo a importância de reforçar, a cada dia, o empoderamento da metade feminina da população. Então, quero dizer parabéns à Mangueira, à ONU e à ONU Mulheres, porque utiliza este momento de alegria... Geralmente, durante o Carnaval, a violência aumenta, por causa do álcool, dos acidentes, mas estamos procurando construir um novo momento para o Carnaval, um momento de mais segurança e conscientização.

            Eu devo ainda registrar hoje, Srª Presidente - somando à alegria do Carnaval, da Mangueira, da luta a favor das mulheres, que cresce no mundo inteiro -, com alegria, o que foi o nosso primeiro encontro. Digo nosso falando das Senadoras que têm assento nesta Casa. Somos 13 Senadoras no exercício do mandato, visto que a Senadora Kátia Abreu está exercendo a função de Ministra da Agricultura, como esteve, recentemente, a Senadora Marta à frente do Ministério da Cultura. Houve uma reunião, um café da manhã, durante esta semana, na terça-feira, na qual determinamos a pauta das atividades do mês de março.

            Primeiro, eu não poderia, como Procuradora da Mulher - reconduzida que fui pelo Senador Renan Calheiros, Presidente da Casa, porque assim determina a resolução do Senado Federal -, deixar de agradecer o apoiamento que tive de todas as Parlamentares. Sem ele, eu não terei condições não de levar um trabalho, mas de coordenar minimamente um trabalho, cuja coordenação nós devemos dividir com toda a Bancada feminina, em um momento tão importante como este, de tantos debates políticos que envolvem a questão de gênero. Então, quero agradecer o apoio de todas as Senadoras.

            Nesse aspecto, somos muito unidas. Não olhamos quem representa o PCdoB, quem representa o Partido dos Trabalhadores, quem representa o Partido Popular (PP), da Senadora Ana Amélia, quem está no PSDB ou no PMDB. O que nós olhamos é que nós representamos vários Estados, os quais compõem uma Nação chamada Brasil, que tem um contingente de mulheres que infelizmente sofrem muito ainda pela discriminação e que sofrem em todos os aspectos. O que nos une é o fato de sermos tão poucas aqui no Senado, tão poucas na Câmara e tão poucas, no Brasil, sobretudo, nos espaços de poder, nos espaços de tomada de decisão.

            Acertamos que haverá reuniões mensais para trabalhar uma pauta anual que montaremos a partir de março, porque, na primeira reunião, nós nos detivemos em debater muito a pauta do mês de março, uma vez que, no mês de março, o dia 8 é o Dia Internacional da Mulher. E há muito que nós não apenas utilizamos o Dia Internacional da Mulher, mas o mês de março para tratar de assuntos que digam respeito a questões de gênero e à necessidade da luta para o estabelecimento de uma sociedade que trate de igual forma ambos os sexos.

            Então, determinamos a agenda do mês, da qual passo a falar e a dar conhecimento público desta tribuna neste momento.

            Achamos por bem, como eu disse aqui, que não só o dia 8 de março, mas todo o mês seja celebrado como o mês da mulher, a partir de uma agenda construída em consenso entre nós, as Senadoras e as Deputadas Federais, porque tudo o que nós organizaremos e realizaremos será feito em conjunto pelas Senadoras e pelas Deputadas Federais. Somos apenas 13 Senadoras e em torno de 45 Deputadas Federais. Num universo aqui de 81 Senadores, somos 13. E lá, de 513 Deputados, somos 45. Ou seja, é um número insignificativo, que, costumo dizer, deve ser motivo de constrangimento não para o governo A ou B, mas para a própria Nação, para o próprio Estado brasileiro.

            O nosso tema prioritário, definido por unanimidade, que será a logomarca de todo o mês de março e das nossas mobilizações durante estes primeiros meses de trabalhos legislativos, será a reforma política, Senador Cássio. Mas a reforma política tem de ser inclusiva em relação ao gênero feminino. Nós a compreendemos como um passaporte - nós, mulheres, estamos compreendendo a reforma política como um passaporte - para que possamos mudar a realidade extremamente perversa da representação da mulher no Parlamento brasileiro. Ela é perversa não só para as mulheres, mas para o sistema democrático, porque um Parlamento que se mantém há décadas com apenas 10% de representação feminina não pode ser considerado um Parlamento democrático e inclusivo, tampouco nossa democracia pode ser considerada uma democracia forte.

            Repito: no nosso sistema democrático, mais da metade da população, que são as mulheres, está alijada do poder. E ainda há alguns ou até mesmo algumas que dizem: “Mas a mulher não está empoderada, não está no Parlamento, porque não quer.” Essa não é uma assertiva real, que corresponda à realidade. A mulher não está no poder não porque não quer ou porque não leva jeito, como dizem os homens, mas porque não tem espaços. As argentinas, as uruguaias, as americanas, as colombianas, as venezuelanas, enfim, têm aptidão. E a mulher brasileira não a tem? O que é isso? É que lá elas contam com um sistema eleitoral que favorece muito mais sua presença no Parlamento do que aqui em nosso País.

            A proposta de consenso independe, repito aqui, dos partidos políticos.

            Esperamos que esse esforço concentrado faça com que nossa representação alcance... Senadora Ana Amélia, o que estamos fazendo, o movimento que estamos iniciando é um movimento muito forte, porque o nosso objetivo, como todas disseram - V. Exª deu ideias magníficas -, é pular da média de 10% para 25% ou 30%. Assim fizeram os países, deram esse salto, e esse salto é possível que seja dado.

            Então, nós definimos que teremos uma próxima reunião logo após o Carnaval, no dia 24. Já estamos trabalhando com a Consultoria. Aliás, já consultamos vários juristas que tratam de legislação eleitoral, de sistema eleitoral, para que nos ajudem. Dentro de cada sistema eleitoral que se põe à mesa, Senadora Ana Amélia, nós apresentaremos a nossa proposta. Para esse sistema, nós defendemos isso; para aquele sistema, nós defenderemos aquilo, de tal forma que a gente possa alcançar, no mínimo, um quarto de presença das mulheres nos Parlamentos do Brasil inteiro.

            Nossas atividades terão início no dia 3, quando ocorrerá a instalação da Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher - já estou concluindo -, que foi anunciada aqui pelo Presidente Renan Calheiros e que é uma Comissão fruto de uma resolução, aprovada no passado, de iniciativa da CPMI de Violência contra as Mulheres.

            No dia 4, às 11 horas, no Salão Branco, teremos a abertura da exposição fotográfica “3 em 1”. O que significa “3 em 1”? Empoderamento das mulheres, violência e saúde. É uma exposição promovida pelo Banco Mundial, que está percorrendo os Parlamentos do mundo inteiro. Então, no dia 4, às 11 horas, teremos a inauguração dessa exposição na Chapelaria, no Salão Branco do Congresso Nacional.

            No dia 5, teremos o primeiro debate desta Legislatura, organizado pela bancada feminina, mas com a presença de homens, obviamente, porque nós os convidaremos, o que faz parte do nosso projeto “Quintas Femininas”, com pautas femininas, para tratarmos da reforma política sob a ótica de gênero.

            No dia 11, neste plenário, em sessão solene do Congresso Nacional alusiva ao dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, faremos a entrega do prêmio Bertha Lutz, em que figuras importantes, simples, todas elas reconhecidas na luta pelo combate à discriminação de gênero, estarão presentes. Entre elas, quero simbolizar as seis mulheres que serão homenageadas neste ano através da Ministra Cármen Lúcia, que é a Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal, que já presidiu, com muita competência, o TSE, a Justiça Eleitoral brasileira, e que futuramente será a Presidenta do nosso Supremo Tribunal Federal.

            Nos dias 12, 19 e 26, nós prepararemos possivelmente a realização de grandes debates em Brasília ou fora de Brasília acerca da reforma política e da inclusão de gênero.

            No dia 11, ou melhor, no dia 18, inauguraremos outra exposição acerca das Memórias Femininas na Construção de Brasília.

            No dia 17, haverá uma recepção, uma apresentação por parte do Congresso Nacional, da Secretaria de Mulheres da Câmara, da Procuradoria da Mulher, da bancada feminina do Senado e da Câmara às embaixadoras de países que servem no Brasil e também, por sugestão do Senador Cristovam, que aqui está, às embaixadoras brasileiras que atuam no âmbito do Itamaraty, para que, cada vez mais, possamos mostrar que nossa luta, a luta das mulheres, é uma luta internacionalista, porque a discriminação é vivida aqui e nos países mais desenvolvidos também.

            Então, Senadora Ana Amélia, é com muita alegria que faço este pronunciamento neste momento. Não posso encerrar sem repetir aqui minhas saudações efusivas à ONU Mulheres e à Mangueira, porque o Carnaval, que tem um sabor especial todos os anos, terá neste ano um sabor mais especial ainda para todas as mulheres brasileiras.

            Muito obrigada, Senadora Ana Amélia, inclusive pela sua benevolência quanto ao tempo.

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Democracia Participativa/PP-RS) - Obrigada, Senadora Vanessa Grazziotin. Eu a cumprimento pela manifestação, pelas iniciativas da Procuradoria da Mulher, que, a partir desta Legislatura, contará também com uma mudança no Regimento, para que a escolha da Procuradora seja uma escolha democrática, uma escolha entre as Senadoras que compõem este Colegiado tão importante. E a Senadora Vanessa terá, sem dúvida, um papel relevante, por ter sido a primeira, no sentido de dar continuidade.

            A eleição serve para democratizar, assim como nós entendemos que a composição da Mesa deve seguir o critério da proporcionalidade. No caso da Procuradoria, não há o problema da proporcionalidade, mas deve haver democracia na escolha da Procuradora.

            Ela está em boas mãos. A Senadora Vanessa teve todo o apoio de todas as Senadoras para continuar ali, a despeito de ser essa uma decisão exclusiva do Presidente da Casa, porque o Regimento assim determina. Mas, no próximo exercício legislativo, a gente vai fazer uma escolha entre as Senadoras, de maneira democrática, não necessariamente pela proporcionalidade, porque alguns partidos têm maior representação.

            Nem todos estão ali. Então, será pelo número de mulheres. Eu acho que esse é um critério mais adequado e correto, Senadora Vanessa.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (PCdoB - AM) - Perfeito! Se V. Exª me permite a intromissão...

            A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Democracia Participativa/PP - RS) - Pois não, Senadora.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (PCdoB - AM) - Já fiz um longo pronunciamento. Eu ia tocar nesse assunto, mas, como eram muitos os tópicos nesse tema, Senadora Ana Amélia, acabei não falando a respeito disso.

            Como V. Exª mesma disse, essa é uma decisão importante. A gente sabe que as conquistas não vêm todas de uma vez, mas em partes. É uma ideia que existe desde que surgiu a Procuradoria, que nasceu no Senado, da mesma forma que nasceu na Câmara. Entretanto, o tempo de vida da Procuradoria da Câmara é bem maior do que a do Senado. Nós trilharemos por esse caminho. Assim como conseguimos o apoio da Casa, daqueles que, há três anos, foram candidatos a Presidente da Casa, nós conseguiremos daqui a dois anos o total apoio. Aliás, espero que antes possamos aprovar a mudança na Resolução do Senado Federal, garantido essa autonomia à bancada feminina, que se diferencia de tudo, como V. Exª disse.

            Eu não gostaria que, daqui a alguns anos, vivêssemos o problema que a Câmara vive hoje: apesar de ter dado avanços significativos, a Presidência, agora, quer mudar as regras estabelecidas pelas mulheres, porque estas não estão muito claras no Regimento. V. Exª disse, com toda a razão, que nós, mulheres, precisamos ter a autonomia de escolher e determinar quem deve estar à frente dessa Procuradoria, que passa a ser muito importante para todas nós.

            Muito obrigada mais uma vez pelo apoio, Senadora Ana Amélia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/02/2015 - Página 5