Discurso durante a 14ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Discurso inaugural de S. Exª, em que aborda os temas que terão prioridade durante seu mandato.

Autor
Simone Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Simone Nassar Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO:
  • Discurso inaugural de S. Exª, em que aborda os temas que terão prioridade durante seu mandato.
Aparteantes
Aloysio Nunes Ferreira, Ana Amélia, José Medeiros, Sandra Braga.
Publicação
Publicação no DSF de 24/02/2015 - Página 61
Assunto
Outros > SENADO
Indexação
  • DISCURSO, POSSE, SENADOR, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), AGRADECIMENTO, POPULAÇÃO, ENTE FEDERADO, COMENTARIO, HISTORIA, VIDA PUBLICA, ORADOR, CITAÇÃO, PAI, SITUAÇÃO, MULHER, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, ATENDIMENTO, INTERESSE, POVO, PAIS, ENFASE, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL.

            A SRª. SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão da oradora.) - Muito obrigada, Senhor Presidente.

            Eu gostaria de, em seu nome, Presidente Paulo Paim, cumprimentar as senadoras e senadores aqui presentes. Senadora Ana Amélia, é a primeira vez que ocupo o plenário do Senado Federal, desta augusta Casa de Leis, Casa de Rui Barbosa, Casa do mais alto Parlamento deste País, mas, principalmente, a Casa do povo brasileiro.

            E eu não poderia começar as minhas palavras sem antes fazer um agradecimento. Agradecer porque, por obra de Deus e pela vontade da maioria absoluta do povo de meu Estado, exerço hoje a mais árdua, a mais difícil, mas, igualmente, a mais honrosa missão de minha vida pública: a de representar, no Senado Federal, o meu querido Mato Grosso do Sul e nossa generosa gente. A Deus eu, humildemente, agradeço; e à população do meu Estado, Senador Aloysio, eu só tenho como devolver tudo isso em forma de um trabalho incansável na defesa dos interesses públicos do Estado e da Nação brasileira.

            Digo aos senhores e às senhoras que estão aqui que, para exercer bem minha missão, sei que preciso trazer comigo os ensinamentos que aprendi durante minha vida. O maior deles é legado de minha mãe: os valores da fé cristã. Procurarei seguir exemplos de homens e mulheres anônimos deste País que fizeram a história do Brasil. Refiro-me a homens e mulheres que dedicaram suas vidas ao bem comum e, com isso, mudaram destinos e vidas de seus semlhantes. E, na impossibilidade de mencionar a todos, refiro-me aos homens e mulheres que perderam suas vidas em prol da redemocratização deste País. Reverenciá-los torna-se muito mais importante neste momento em que vivemos crises e ameaças de retrocesso democrático na América Latina.

            Sei que preciso seguir exemplos de homens e mulheres desta Casa e, também, na impossibilidade de nominá-los, os reverencio na figura de fé, ética e coragem do ex-Senador Pedro Simon. Não preciso ir longe. Tenho, no meu Estado, homens públicos de valor. Faço referência ao ex-Governador André Puccinelli, homem de coragem, trabalho e empenho destemido; homem com quem aprendi, nesses últimos quatro anos, ao ter o privilégio de ser sua Vice-Governadora. Mas o maior exemplo eu trago de minha casa. As primeiras lições de minha vida pública, eu as aprendi com meu pai. Quantas vezes, literalmente segurando minhas mãos, ele me mostrou o caminho da ética e da coragem, mas, principalmente, uma característica que lhe era muito peculiar: o respeito pelas pessoas. Ao me mostrar o caminho certo, ele impediu que me desviasse para caminhos mais fáceis, mas obscuros. Lembro-me de suas frases célebres: “O homem público tem de servir, e não ser servido”; “É preciso servir ao Brasil, servindo Mato Grosso do Sul e nossa querida terra natal Três Lagoas.” Foram muitos os seus ensinamentos.

            E, hoje, estar nesta tribuna, nesta Casa, percorrer os caminhos que ele percorreu, passar pelos corredores do Senado e estar neste metro quadrado, nesta tribuna em que ele, de forma tão eloquente e tão apaixonada, se dirigiu ao Brasil, dando sua parcela de contribuição à Nação, tudo isso me traz uma profunda emoção e uma grande saudade. Mais do que isso, estar nesta tribuna me traz um senso de responsabilidade, a responsabilidade de honrar a sua memória. Peço a Deus que me dê serenidade, que me dê coragem para que eu possa enfrentar os desafios que, sei, hão de vir, com a mesma altivez, com a mesma coragem e com a mesma ética de meu pai.

            A minha responsabilidade, Senadora Ana Amélia, como a de V. Exª, é maior. Como mulher, sei da obrigação que tenho de honrar as mulheres brasileiras. Somos tão poucas na vida pública, mas não é por isso, não é pela falta de representatividade; é porque ainda somos as mais discriminadas e marginalizadas. Somos a cara mais pobre deste País. Somos as maiores vítimas da violência - e não apenas da violência doméstica. Refiro-me à violência urbana, porque, Senador Aloysio, quando a violência urbana mata os nossos jovens nas favelas, nos morros, no trânsito, está matando, aos poucos, o coração de cada mãe. Somos ainda discriminadas no mercado de trabalho. Nas mesmas funções dos homens, chegamos a receber até 25% menos de salário. Somos ainda vítimas de preconceitos. Somos as primeiras a sofrer o peso das crises econômicas e sociais.

            Por isso, e diante de tanta responsabilidade, eu digo, com muita sinceridade e clareza, que eu me sinto pequena. Não tenho - e tenho consciência disso - a experiência dos Srs. e Srªs Senadoras que ocupam o seu assento neste Parlamento, mas tenho a vontade de aprender e tenho a convicção de que Deus não necessariamente escolhe os capazes, mas capacita os escolhidos. Quero e peço a ajuda dos Srs. e das Srªs para que eu também possa dar a minha parcela de contribuição ao País.

            Nesse particular, gostaria de fazer um parêntese: fui muito bem recebida nesta Casa. Agradeço o carinho e as palavras elogiosas de cada um dos Senadores e Senadoras que conviveram com o meu pai. Agradeço, de modo especial, aos servidores públicos do Senado Federal pelas palavras, pela gentileza, pelas histórias contadas. Eu, que comecei a minha vida pública como servidora na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul por seis anos, aprendi a valorizar e a reconhecer o trabalho e a dedicação daqueles que, efetivamente, sustentam o Parlamento neste País.

            Eu me refiro a todos, servidores efetivos, comissionados, terceirizados; aqueles que mantêm limpo o Plenário, a Casa, para que possamos bem trabalhar; aqueles que nos servem o copo d’água, que nos trazem até o Senado, que nos recebem na Chapelaria; os ascensoristas, os servidores efetivos e comissionados dos gabinetes, das Comissões, das Diretorias, deste Plenário, da Comunicação, da Taquigrafia, das Diretorias e das Consultorias Jurídica e Legislativa.

            Rendo minhas homenagens, porque sei que este Parlamento, se tem a credibilidade que tem, se é o mais alto Parlamento deste País, muito deve ao trabalho e ao empenho dos senhores e das senhoras.

            Senadora Sandra, acabo de chegar das ruas, juntamente com mais 26 Senadores e Senadoras que chegam a esta Casa. Andando pelas ruas, ouvindo, em praça pública, a população brasileira, percebo que chego aqui num dos momentos mais difíceis da Nação. Crise parece ser a palavra-chave de 2015, e tomara que seja só de 2015! A crise se avizinha, avoluma-se e nos impõe desafios.

            Correndo as ruas, conversando com a população, pude perceber os anseios, as necessidades, os problemas, mas, principalmente, as prioridades do povo brasileiro: saúde pública eficiente, educação com qualidade, segurança pública que realmente nos proteja, desenvolvimento econômico e social. Não quero e não podemos retroceder nos avanços que conseguimos nos últimos 20 anos neste País, e aí estou me referindo ao emprego, ao aumento da renda do trabalhador, à diminuição da carga tributária. São questões que, no dia a dia, já estão na boca de qualquer um dos 200 milhões de brasileiros. E, diante desses desafios, a pergunta que temos de fazer é se estamos realmente preparados para enfrentá-los.

            Sonho? Utopia? Conseguiremos alcançar esses fins máximos do interesse público? Sim, se nós mudarmos, mas nós temos as ferramentas, nós temos os instrumentos para fazer a mudança que o Brasil quer, a mudança de que o Brasil precisa. Esses instrumentos, já os vi citados na voz de inúmeros Senadores que, aqui, com muita galhardia e propriedade, sobre eles discorreram.

            Eu ouvi, na semana passada, o pronunciamento do Senador Aloysio. Entendo que as reformas estruturantes são necessárias. Mas não devemos parar por aí.

            Temos de, urgentemente, mudar muitos dispositivos da Constituição Federal e das leis infraconstitucionais. A reforma política é prioritária. É preciso assegurar transparência e dar à população a sensação de que o sistema eleitoral que aí esta assegura ao povo brasileiro que a sua vontade é soberana. E aí precisamos, sim, rediscutir financiamento de campanha, voto distrital, coligações. São temas que estarão à baila, e acredito que o Senado dará resposta, ainda neste semestre, à população brasileira.

            Mas é preciso enfrentarmos igualmente a questão da carga tributária. Isso é necessário e urgente, para que possamos impedir a desindustrialização, comentada hoje aqui pelo Senador Medeiros. Sei que estou na contramão do discurso que ouço do Governo Federal, mas é importante diminuirmos a carga tributária, principalmente desonerando a folha, para que possamos voltar a ter uma indústria que cresça neste País. Hoje, o que sustenta o Brasil é o agronegócio, é o homem do campo, é o produtor rural, é o pecuarista.

            Além da reforma tributária e da reforma política, entendo que existem outros importantes problemas, talvez de solução mais demorada, mas que precisamos começar a debater o quanto antes.

            Eu fui prefeita por duas vezes da minha querida cidade natal, Três Lagoas, e o que vemos hoje é que é impossível, com este pacto federativo que aí está, colocar remédios nos postos de saúde, conseguir as vagas nas creches para as nossas crianças, construir, fazer asfalto, tapar os buracos, recuperar as pontes na zona rural, em suma, fazer as obras e os serviços públicos que a população tanto almeja.

            A Constituição coloca como responsabilidade dos Municípios, Senadora Ana Amélia, provavelmente, 80% ou 90% dos serviços públicos que a população quer e exige. Quase tudo que pensarmos é de responsabilidade dos Municípios, à exceção da segurança nacional, do ensino universitário e dos serviços de saúde de alta complexidade, que são responsabilidade da União; e da segurança pública e do ensino médio, que são de responsabilidade do Governo do Estado. A maioria absoluta dos demais serviços fica a cargo do Município. E é realmente lá que tem de ficar, porque ali o prefeito e a Câmara de Vereadores estão mais próximos do cidadão, que pode exigir a prestação de serviços mais eficientes.

            Enquanto não redistribuirmos o bolo tributário, nenhum avanço significativo será alcançado.

            A saúde pública continuará a mesma, um caos na maioria dos Municípios brasileiros. Nós não conseguiremos enfrentar, com a dignidade necessária, a questão da educação de qualidade, porque, acredito, hoje, nem 15% ou 16% do bolo tributário vão para os cofres dos Municípios. E aí nós temos a burocracia, aí nós temos a demora, aí nós temos a falta de fiscalização, aí nós temos os desvios do dinheiro público. É preciso enfrentar isso com coragem e fazer um novo pacto federativo neste País.

            Por fim, porque sou filha do interior do Brasil - como acredito que é o caso da maioria dos senhores e das senhoras -, ouvindo aqui o nosso Senador de Mato Grosso, quero dizer que o interior, senhoras e senhores, tem sede de desenvolvimento. Mas, mais do que sede de desenvolvimento, nós, que somos do Centro-Oeste brasileiro, do Norte e do Nordeste, temos muito a oferecer ao Brasil. Somos os grandes Estados produtores. Produzimos a matéria-prima necessária para a indústria. Somos os exportadores que permitem que a balança comercial brasileira fique no positivo, e, muitas vezes, sustentamos os demais setores, o secundário e o terciário.

            É importante nós falarmos do desenvolvimento regional com responsabilidade. Hoje, avançamos muito, é verdade. Nós temos os fundos, como o Fundo do Centro-Oeste. Temos ações específicas, obras de infraestrutura do próprio Governo Federal, espalhadas pelos quatro cantos do País. Mas isso fica ao sabor dos ventos, de acordo com a vontade dos governantes.

            Nós não temos uma legislação consolidada e sistemática, um Plano Nacional de Desenvolvimento Regional, como nós temos o Plano Nacional de Educação, que estabeleceu metas que precisam ser cumpridas num período de dez anos. Precisamos também ter um Plano Nacional de Desenvolvimento Regional, que comece agora, que leve 15 anos, não importa, mas que estabeleça que nós temos um recurso específico de financiamento com percentual estabelecido no Orçamento, para que saibamos, desde agora, quanto se dará para as obras de infraestrutura necessárias, para que possamos também levar as indústrias para os rincões mais distantes do País.

            Eu não quero me alongar nesta minha primeira fala. Eu quero apenas, encerrando meu pronunciamento, deixar clara a minha posição. Meu pai sempre dizia: “Em casos de dúvida, minha filha, ouça as vozes das ruas.” E as vozes das ruas clamam por saúde pública, por educação, por segurança, por diminuição da carga tributária, por mais geração de emprego - enfim, por melhoria na qualidade de vida.

            Se eu pudesse resumir tudo isso, diria uma única palavra: “cidadania”, que, hoje, infelizmente, é conhecida apenas na sua acepção mais restrita, como o direito do cidadão, como eleitor, de votar, de escolher seus governantes e de ser votado, mas que é muito maior que isso.

            Lembro-me, como se fosse hoje - eu ainda era adolescente -, da cena marcante e memorável do Dr. Ulysses Guimarães erguendo a Constituição Cidadã em 1988. Não sei, confesso, quais foram suas palavras na literalidade, mas seu conteúdo guardo comigo. A cidadania, disse ele, começa no alfabeto, com o abc, passa por uma juventude assistida e protegida dos males da sociedade moderna, mas só se consolida com o trabalhador que tem salário digno, que pode comer, morar, ter hospitais, remédios, lazer; mas ela só termina com a aposentadoria digna. Isso é cidadania. É isso que o povo quer, e é para isso que vim representar Mato Grosso do Sul no Senado.

            As minhas palavras finais são de agradecimento. Começo como terminei, pedindo ajuda a todos os senhores e senhoras, porque quero também eu dar minha parcela de contribuição. E aqui deixo como imagem final um fato que me chamou muito a atenção quando eu estava em campanha. Uma senhora olhou para mim, dedo em riste, e disse: “Simone, você é a minha última fagulha de esperança”. Eu não posso decepcionar as mulheres e os homens do meu Estado. Quero dizer aos senhores...

            Pois não, Senadora Ana Amélia.

            A Srª Ana Amélia (Bloco Democracia Participativa/PP - RS) - Senadora Simone, acho que todos os Senadores aqui ficaram ouvindo-a. Quem subiu à tribuna não foi uma recém-eleita Senadora, que talvez nunca tivesse exercido mandatos nesta Casa. Chegou aqui uma política com posição clara e firme e com uma genética inquestionável. Seu pai, Ramez Tebet, presidiu esta Casa, o Senado Federal, e todos têm uma lembrança muito saudosa do seu papel e da sua relevância. V. Exª mostra sua visão como ex-prefeita de uma cidade do Mato Grosso do Sul. Tem aqui colegas representantes da melhor qualidade, como meu amigo Waldemir Moka, do seu Partido, o PMDB, e como o Senador Ruben Figueiró, do PSDB, uma figura doce e muitíssimo preparada, um sábio, que era também nosso conselheiro por sua experiência de vida, por sua capacidade e por sua integridade pessoal, moral e ética. Então, V. Exª está chegando aqui com a naturalidade de uso da tribuna de uma experiente Parlamentar, que chegou para não decepcionar aquela eleitora que lhe apontou o dedo em riste. É esse o sentimento que grande parte dos eleitores conscientes brasileiros têm em relação à classe política. E é isto que, quando eles vão votar, eles estão exigindo de nós: compromisso com a ética e com a responsabilidade. Eu queria cumprimentá-la e dizer que estaremos juntos aqui, homens e mulheres, Senadora Simone Tebet. Eu também sempre fiz parte das minorias. Fui jornalista num ambiente só masculino. A universidade era formada em 90% por homens. Depois, no exercício da profissão, no jornalismo econômico, 90% eram homens. Felizmente, hoje mudou tudo: são 90% de mulheres nas faculdades, são 90% das mulheres colunistas fazendo jornalismo econômico no País. Então, isso mudou. E espero que, brevemente, esta Casa também mude, com mais mulheres como a senhora fazendo a diferença aqui, com esse protagonismo e com essa decisão. Quanto a essa questão do pacto federativo, V. Exª traz a experiência de uma prefeita. Para quem paga imposto, Senadora, não importa saber se a segurança ou a saúde são de responsabilidade do Estado, da União ou do Município. O que importa é haver o serviço. Agora, a forma como essa repartição do recurso é feita é inaceitável, é antidemocrática, é injusta e fere o princípio de uma repartição equilibrada entre os entes federativos. A nossa Federação está fragilizada. Está fragilizada porque as prefeituras, ao longo do tempo, tiveram aumento das responsabilidades e uma redução gradual da receita. Quando o Governo Federal faz festa com o chapéu alheio, desonera, reduz IPI para vários setores importantes, impacta sobre a receita das prefeituras, sobre o FPM (Fundo de Participação dos Municípios). E aí como vai fechar a conta, Senadora? Como é que vai fechar a conta no fim do ano? E aí o prefeito é responsabilizado criminalmente porque não cumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, uma lei maravilhosa, que veio botar um freio na gastança. Então, precisamos discutir com urgência, como disse V. Exª, não apenas a reforma política, mas também essa questão do pacto federativo. Hoje, ser prefeito é um ato de coragem. Então, eu queria me solidarizar com o seu pronunciamento, dizer que estamos aqui, juntos, porque esta é a Casa da República e esta Casa tem responsabilidade com os eleitores, como essa senhora que, lá em seu Mato Grosso do Sul, a questionou para dizer que a senhora é o último fio de esperança que resta para ela, uma eleitora que não sei que idade tem, mas não me importa, o que importa é que ela tenha a cidadania expressa nesse pedido que ela lhe fez. Parabéns, Senadora!

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Obrigada, Senadora Ana Amélia. As suas palavras elogiosas são muito mais uma forma carinhosa de a senhora se dirigir a mim do que o meu merecimento. Mas eu aproveito para externar aqui o orgulho que tenho, como mulher, de vê-la representando não só o seu Rio Grande do Sul, mas todas as mulheres brasileiras. Eu já era sua admiradora, porque assistia à TV Senado, ainda como mera espectadora. Hoje, a minha admiração aumenta pelos seus posicionamentos firmes. Isso me orgulha! E quero dizer que terei muito o que aprender com a senhora.

            Eu encerro dizendo, portanto, que, andando pelas ruas, Senador José Medeiros, Senadora Sandra, Senador Aloysio, eu percebi uma coisa que não havia percebido ainda nas outras campanhas das quais participei, seja como eleitora, ou ajudando nas campanhas eleitorais do meu pai, seja na minha campanha de Deputada Estadual e depois duas vezes Prefeita e Vice-Governadora. Eu senti um clima de impaciência. A população não vai esperar mais. Ela talvez tenha depositado nos seus mandatários, nessas eleições de 2014, o pouco, o muito pouco que ainda lhe resta de confiança na classe política e, como essa eleitora disse, a última fagulha de esperança em todos nós.

            Sabemos que o Brasil precisa muito de nós. E nós devemos muito ao Brasil. Eu tenho convicção de que iremos encontrar força e o caminho certo para transformar essas esperanças em certezas.

            Muito obrigada.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Senadora, por favor, o Senador Aloysio Nunes.

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Perdão, Senador, eu não o vi. É um prazer.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Muito obrigado. Obrigado pelo alerta, meu prezado Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Como é o primeiro pronunciamento, não há limites, fique à vontade.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Senadora Simone Tebet, eu estava aguardando a oportunidade de vê-la na tribuna pela primeira vez. Esta é a primeira vez que assisto a um discurso, a um pronunciamento de V. Exª aqui na tribuna do Senado. Eu tinha ouvido falar muito, e muito bem, da senhora, através de pessoas que deram o seu testemunho sobre o seu valor como mulher trabalhadora, aguerrida, lúcida, o seu espírito público, a sua capacidade administrativa, demonstrada à frente da Prefeitura de Três Lagoas, a sua eloquência, que denota uma cabeça bem organizada, um raciocínio claro. E eu quero dizer a V. Exª que fiquei muito feliz em ouvi-la, feliz pelo fato de o povo do seu Mato Grosso do Sul ter decidido mandá-la para cá, para o Senado Federal, na sequência do mandato do seu pai, que foi um queridíssimo amigo meu. Nessa eleição, aliás, no Mato Grosso do Sul, dois filhos de amigos queridos, diletos já falecidos, disputaram a eleição, o filho Nelson Trad e o filha de Ramez Tebet. A senhora chega aqui precedida de uma expectativa muito positiva dos nossos colegas sul-mato-grossenses - o Waldemir Moka, Delcídio do Amaral, já anteriormente do nosso prezadíssimo Figueiró - e eu tenho certeza de que V. Exª será uma grande Senadora.

            A SRª. SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Obrigada.

            O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Tudo a credencia para isso, e esse discurso que eu ouço, que traça um roteiro, quase que um programa de trabalho, quase que uma profissão de fé de atuação parlamentar, vem confirmar essas melhores expectativas que todos nós tínhamos a respeito da sua presença nesta Casa. Muito obrigado.

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Senador Aloysio, vindo de V. Exª, um homem da experiência, com a bagagem, com a envergadura de V. Exª, para mim é uma honra. Quero dizer que não trago nada de novo. Na realidade, espelhei-me e espelho-me em homens públicos da grandeza de V. Exª. Já o ouvi aqui, nesta tribuna, como disse, falando dessa questão do Pacto Federativo, da questão da reforma tributária, e falando com muito mais eloquência do que eu. Então, essas palavras, eu as recolho como um estímulo, para que eu possa, aprendendo, poder estar à altura do cargo, merecedora da confiança dos 2,5 milhões de cidadãos sul-mato-grossenses.

            Senador José Medeiros.

            O Sr. José Medeiros (Bloco Democracia Participativa/PPS - MT) - Senadora Simone, seja bem-vinda. E, olha, com certeza, o Mato Grosso do Sul não poderia estar mais bem representado. Eu creio que Três Lagoas também deve estar muito contente de ver esse discurso. E o Senador Aloysio colocou muito bem. V. Exª já foi prefeita, tem a experiência do cargo. E, Senador Aloysio, eu acrescento aqui, porque sou vizinho, e ali, no Mato Grosso, Senadora Simone, é conhecida em verso e prosa a administração que V. Exª fez em Três Lagoas, a administração transformadora. E, quando V. Exª vem aqui, na tribuna do Senado, e fala sobre desenvolvimento regional, fala com propriedade de quem fez a região se desenvolver, porque Três Lagoas hoje é exemplo para Mato Grosso, para Mato Grosso do Sul, para muitos Municípios do Brasil, pela pujança que ficou ali. É uma região industrializada, e V. Exª tem ali as digitais naquele desenvolvimento. Então, eu fico muito contente de saber que o Estado vai estar bem representado por uma quase conterrânea - porque Mato Grosso e Mato Grosso do Sul às vezes até confundem -, com o seu preparo. Diria que as nossas dificuldades, que as nossas necessidades são muito parecidas. Quero cerrar fileiras com V. Exª em busca de uma melhor divisão desse bolo federativo. Quando V. Exª coloca a dificuldade dos prefeitos aqui é a realidade nua e crua hoje no País. Um amigo comenta que hoje é mais fácil alguém sair sem processo de um homicídio do que de um cargo de prefeito, porque ser ordenador de despesa da forma como está dividido o bolo federativo hoje é uma tarefa quase impossível. Muito obrigado pelo aparte.

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Senador José Medeiros, fico muito feliz por ser aparteada por um representante do nosso querido Estado irmão, Mato Grosso. Temos situações muito similares. Somos grandes produtores de soja, de carne bovina, de milho, de cana de açúcar, de etanol; no meu caso específico, Mato Grosso do Sul - já que me permitem fazer essa referência e o nosso Presidente me dando pelo menos mais dois minutos...

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Mais doze. (Risos.)

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Eu acredito que com mais dois minutos eu consigo concluir.

            Eu tive o privilégio e a grande honra, como disse, de administrar a terra em que nasci. Ali, por sorte, por uma ajuda de pessoas extremamente competentes ao meu redor, cercando-me da Legislação e do apoio do Governador André Puccinelli, nós conseguimos atrair as duas maiores fábricas de celulose do mundo. Não é só Mato Grosso do Sul ou Três Lagoas, é o Brasil que detém hoje as duas maiores fábricas de celulose do mundo, e elas estão no meu Município, gerando uma divisa extraordinária, aumentando a economia local, cada uma, em 300%. Essa foi a realidade da cidade enquanto eu a estava administrando.

            Estou dizendo isso porque sei que o desenvolvimento do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul passa pela industrialização. Sei que V. Exª vai se somar a mim, ou melhor, eu vou me somar a V. Exª e aos demais Senadores, não só de Mato Grosso, mas de Tocantins, de Goiás, do Centro-Oeste, do Norte e do Nordeste, clamando pelo desenvolvimento dessas regiões brasileiras.

            Falamos muito em desigualdade social. Nós não podemos nos esquecer da desigualdade regional, que leva também à desigualdade social. Eu falei aqui que a cara mais pobre do País é a cara de uma mulher. O que eu não falei é que, pelos dados do IBGE, a cara mais pobre deste País não é simplesmente a cara de uma mulher, é a cara de uma mulher negra e nordestina.

            É essa desigualdade que nós precisamos combater. Os instrumentos, as ferramentas, somos nós que temos a responsabilidade de criar, para garantir à sociedade brasileira aquilo que ela quer, que é essa diminuição da desigualdade. Para que essa mancha, essa vergonha que nós temos, possa desaparecer.

            Nós precisamos desses instrumentos que mencionei. E tenho convicção de que isso passa, principalmente, por um plano nacional de desenvolvimento regional.

            Obrigada pelas considerações, obrigada pelas palavras carinhosas, eu as recolho com muito carinho, e isso só aumenta a responsabilidade que tenho com meu Mato Grosso do Sul e com o nosso querido e amado Brasil.

            Muito obrigada.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Senadora Simone, mais uma vez. (Risos.)

            Senadora Simone, deixe-me só cumprimentá-la, quebrando o protocolo porque normalmente quem está na Presidência não faz apartes, mas tive a alegria de viver aqui na Casa com seu pai. Uma figura ímpar.

            Lembro-me, com oportunidade, e vou lhe contar esse fato. Ele foi ao Rio Grande do Sul - disso já falei, vou contar um detalhe que não contei - fazer uma palestra a meu pedido na universidade. Conquistou todos os estudantes, independentemente da questão ideológica ou parlamentar, mas sabe quem mais ele conquistou? O meu motorista. Porque eu botei um motorista à disposição dele que ficou andando com ele. O meu motorista ficou impressionado - deve estar ouvindo esta fala e vai lembrar. Marcão, o seu nome -: Senador, mas que cara, bacana, gentil, se vê que não tem problema financeiro e me tratou como se eu fosse o irmão dele. O Marcão ficou acompanhando-o em todo o período em que esteve lá.

            Esse para mim é o Ramez Tebet.

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Muito obrigada.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Uma figura diferente.

            E me permita que diga agora. Eu fui convidado para uma reunião, uma sessão de homenagem, na Presidência do Senado, e lá cheguei, meio atrasado, como sempre, e estava V. Exª falando, e eu ouvindo V. Exª , aí perguntei: quem é essa senhora, essa moça? E alguém me disse: “Essa é a filha do Ramez Tebet, Paim.

            Está falando em nome dele, da família, enfim, e pode escrever que ela vai ser sua parceira no Senado.” E hoje, V. Exª está aqui no Senado, eu na Presidência, assistindo ao seu pronunciamento.

            Permite-me, de tudo o que falou, com tranquilidade, com competência, com sabedoria, mas tomei nota de três palavras, eu, que trato tanto nesse mundo de direitos humanos. Falou a palavra mulher, negra, nordestina, e falou aposentados. Isso mostra um universo, porque mulher lembra criança, negra lembra todos os discriminados, nordestino também e os aposentados hoje, neste País, são os que mais sofrem.

            Será uma alegria enorme, aqui, nesta Casa, caminhar ao seu lado, dialogar com V. Exª na busca de fazer o bem sem olhar a quem.

            Seja bem-vinda, seu velho pai lá de cima está orgulhoso de V. Exª.

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Obrigada, Senador Presidente Paim.

            Agradeço o seu aparte, quebrando aí o protocolo, porque isso me permite, talvez, reparar aqui um erro imperdoável. Falei de tantas qualidades do meu pai, como homem público - coragem, ética, o próprio respeito com as pessoas -, e talvez tenha me esquecido da sua maior qualidade, que não foi só na vida pública, mas também como cidadão, como ser humano. Quanto mais alto ele subia, mais humilde se tornava. Esse foi, talvez, o grande ensinamento que minha avó Angelina passou, não só a ele, mas a toda a família: a importância de ser, acima de tudo nesta vida, humilde.

            Muito obrigada.

            A Srª Sandra Braga (Bloco Maioria/PMDB - AM) - Senadora.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. PT - RS) - Senadora, convocada novamente, o culpado agora não sou eu.

            Senadora Sandra.

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Preocupada só com o horário.

            A Srª Sandra Braga (Bloco Maioria/PMDB - AM) - Serei rápida. Senadora, apenas para parabenizá-la pelo seu brilhante discurso. Você chega aqui nesta Casa já com uma história muito bonita, escrita e vivida também pelo seu pai; chega também aqui com a experiência do Executivo, que é muito importante para todos nós que vivemos no dia a dia da realidade brasileira. Portanto, quero dizer à senhora que estarei do seu lado nessa luta, dividindo também todas as preocupações e buscando também as soluções. Seja muito bem-vinda e parabéns mais uma vez.

            A SRª SIMONE TEBET (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Obrigada, Senadora Sandra. Tenho certeza de que, juntas, vamos escrever uma nova história, uma história mais bonita, principalmente para as mulheres brasileiras.

            Muito obrigada.

            Obrigada, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/02/2015 - Página 61