Discurso durante a 43ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque a temas prioritários para a Região Nordeste, a exemplo da dívida dos Estados com a União e das obras do PAC.

Autor
Fernando Collor (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/AL)
Nome completo: Fernando Affonso Collor de Mello
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL:
  • Destaque a temas prioritários para a Região Nordeste, a exemplo da dívida dos Estados com a União e das obras do PAC.
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2015 - Página 25
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Indexação
  • COMENTARIO, ASSUNTO, IMPORTANCIA, REGIÃO NORDESTE, ENFASE, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, DESCUMPRIMENTO, LEI COMPLEMENTAR, REFERENCIA, ALTERAÇÃO, INDICE, INDEXAÇÃO, DIVIDA PUBLICA, OBJETO, PREJUIZO, ECONOMIA, ESTADOS, DEFESA, PAGAMENTO, SUBSIDIO, PRODUTOR, CANA DE AÇUCAR, ESTADO DE ALAGOAS (AL), PRORROGAÇÃO, CONTRATO, ENERGIA ELETRICA, EMPRESA PRIVADA, COMPANHIA HIDROELETRICA DO SÃO FRANCISCO (CHESF), CONTRIBUIÇÃO, SETOR, PRODUÇÃO INDUSTRIAL, REGIÃO, APREENSÃO, PARALISAÇÃO, OBRAS, PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC), POSSIBILIDADE, DIFICULDADE, SOLICITAÇÃO, EMPRESTIMO, BANCOS, AMBITO INTERNACIONAL, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), BANCO INTERNACIONAL DE RECONSTRUÇÃO E DESENVOLVIMENTO (BIRD).

O SR. FERNANDO COLLOR (Bloco União e Força/PTB - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão

do orador.) - Exma Srª Presidente desta sessão, Senadora Gleisi Hoffmann, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, se a atual crise econômica brasileira afeta o País como um todo, significativos são os prejuízos que ela causa à Região Nordeste e, particularmente, aos Estados mais carentes e com menor possibilidade de investimento, como é o caso de Alagoas.

    Esse cenário nos remete a quatro grandes temas prioritários que demandam atenção por parte do Go- verno Federal: primeiro, a dívida dos Estados com a União; segundo, a subvenção aos fornecedores de cana-de-

-açúcar; terceiro, os contratos de energia elétrica entre a Chesf e as indústrias de base do Nordeste, e, quarto, as obras do PAC na região.

    Inicialmente, Srª Presidente, é incompreensível para a grande maioria desta Casa a decisão do Governo Federal em descumprir a Lei Complementar nº 148, de 2014, que estabeleceu a mudança do indexador da dí- vida pública dos Estados e Municípios, sancionada em novembro último pelo próprio Executivo federal. Será que teremos que aprovar uma nova lei para o Governo cumprir a lei anterior? Num país que almeja credibili- dade e segurança jurídica, isso é inconcebível!

    As bases do acordo entre o Congresso Nacional e o Governo Federal que permitiu a aprovação da lei criariam um novo horizonte para o desenvolvimento socioeconômico de Alagoas. Hoje, o Estado paga men- salmente à União mais de R$50 milhões do chamado serviço da dívida pública, cujo montante total é hoje su- perior a R$9 bilhões.

    Ao mudar o indexador da dívida com a União, a nova previsão legal aliviaria a situação fiscal de todos os entes federados, incluindo Alagoas e seus Municípios. Isso porque o indexador passaria a ser a taxa Selic ou o IPCA, o que for menor, mais 4% de juros, em vez do IGP-DI, mais entre 6% e 9% ao ano, o que hoje está em vigor. A lei garante ainda a correção retroativa do saldo devedor pela variação acumulada da Selic, desde a assinatura dos contratos.

    Em diversas ocasiões, Srª Presidente, tenho me manifestado sobre a necessidade de alteração desse in- dexador, constante do contrato de rolagem da dívida pública dos Estados. No caso de Alagoas - e, diga-se, da maioria dos entes federados -, o atual contrato consagrou o endividamento como algo simplesmente impagá- vel, além de ter agravado a sangria do Tesouro estadual, que precisa alavancar e construir seu desenvolvimento. Trata-se, na verdade, de devolver a Alagoas a dignidade mínima de sua capacidade de investimento perdida.

    A segunda questão, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, refere-se ao pagamento da subvenção aos for- necedores de cana-de-açúcar.

    Na semana passada, tive a informação do Ministro do Planejamento de que, com a revalidação da Medida Provisória nº 666, de 2014, que trata da questão, a subvenção passou a integrar os “restos a pagar” do Governo Federal. Contudo, a luta continua no sentido de viabilizar não só essa disponibilidade financeira, mas, principal- mente, a respectiva dotação orçamentária, de modo que o repasse de R$622 milhões chegue aos produtores de cana do Nordeste. A liberação das verbas permitiria compensar os prejuízos causados pela estiagem e, prin- cipalmente, estabilizar um segmento econômico determinante para a região. Afinal, são 21 mil fornecedores de cana no Nordeste, dos quais 7.500 fornecedores somente em Alagoas, que é um dos maiores produtores de açúcar e álcool do Brasil e que, ansiosamente, aguarda por essa liberação de recursos.

    No caso de Alagoas, a expectativa é de que sejam repassados cerca de R$200 milhões, o que significará proteger a economia do Estado e manter os empregos dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro.

    A ênfase que tenho dado a este tema, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, justifica-se pelo fato de que tanto a palavra do Governo como a própria medida provisória acabam se diluindo dentro do turbilhão de in- certezas que teimam em contaminar o panorama econômico nacional. Não sem razão, os fornecedores de ca- na-de-açúcar, essenciais no segmento sucroalcooleiro pelos milhares de empregos que geram, encontram-se apreensivos e, ao mesmo tempo, frustrados pela ausência concreta da solidariedade governamental. Soma-se a isso o agravamento do quadro em função da entressafra que se estende até o mês de setembro. Assim, vol- to a frisar: é preciso que se honre o compromisso feito pelo Governo com esse fundamental setor econômico nordestino e, por conseguinte, do meu Estado, Alagoas.

    O terceiro tema prioritário, Srª Presidente, refere-se à prorrogação dos contratos diferenciados de ener- gia elétrica firmados entre as diversas empresas e a Chesf, cujas alíquotas estão sendo revisadas pelo Governo Federal. O fato é que, em função do aumento do custo de energia afetando um setor que historicamente fun- cionou como importante instrumento de consolidação do parque industrial nordestino, o Governo assumiu o compromisso de apresentar, até o final do próximo mês de junho, uma alternativa aos segmentos industriais

denominados eletrointensivos, ou seja, os setores em que a energia elétrica tem grande peso no processo de

produção.

    Com esse propósito, inclusive, encaminhei ofício à Srª Presidente da República e tratei pessoalmente da questão com o Sr. Ministro-Chefe da Casa Civil.

    Srª Presidente, para demonstrar o impacto financeiro a ser gerado com a não prorrogação das alíquotas dos contratos, as empresas da moderna indústria de base são responsáveis hoje por 20% do Produto Interno Bruto, de R$16 bilhões, da Região Nordeste e também por cerca de 145 mil empregos diretos e indiretos. No caso de Alagoas, por exemplo, serão sacrificadas várias cadeias produtivas, como a das indústrias química e do plástico. Somente a planta de cloro-soda, que permitiu a implantação das indústrias de MVC e PVC no Estado

- a maior da América Latina e que tornou Alagoas o maior produtor de PVC do continente - consome 45% de toda a energia comercializada pela Eletrobras Distribuição Alagoas. Segundo cálculos, o fim do incentivo deve encarecer em até 40% a produção industrial, ou seja, uma verdadeira perversidade para a competitividade e os investimentos, além de uma ameaça à manutenção dos empregos qualificados do setor e à própria formação de mão de obra. Ao não dedicar uma atenção especial a este contexto, estaremos condenando a economia alagoana a uma crise sem precedentes e que fatalmente vai gerar a desindustrialização do Estado, com efeitos profundos na geração de emprego e na renda pelas próximas décadas.

    Novamente, em função do cenário econômico desfavorável que já se apresenta, estamos diante de mais uma incerteza para grande parcela geradora de emprego e renda no País, com destaque para o Nordes- te. Enquanto o Governo não apresentar a alternativa que prometeu para, ao menos, amenizar os impactos do reajuste dos contratos, só nos resta cobrar das autoridades, mais uma vez, a atenção e a prioridade que o assunto requer. Afinal, a não prorrogação dos contratos dos consumidores industriais da Chesf terá a perver- sa consequência de permitir que mais energia competitiva migre do Nordeste brasileiro para outras regiões, naturalmente, mais ricas do País.

    Por fim, uma última questão que também nos traz grande preocupação, é o risco que correm as obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, na região Nordeste.

    O panorama que se começa a perceber é a desaceleração e até mesmo a paralisação de canteiros de obras fundamentais para a infraestrutura de toda a região. A própria declaração da Presidente da República, em reunião com os governadores do Nordeste, trouxe um condimento a mais ao clima de incertezas, na me- dida em que o Governo passou a vincular os repasses de recursos para a continuidade das obras à aprovação do ajuste fiscal. Eu me pergunto: como isso poderá acontecer, se uma das medidas adotadas no ajuste fiscal do Governo é o contingenciamento de recursos destinados exatamente ao financiamento do próprio PAC? Ou seja, é uma decisão política cuja equação, convenhamos, não fecha.

    Realizações como a integração do Rio São Francisco, o maior empreendimento de infraestrutura do País, cujos recursos são totalmente financiados pelo PAC, além de construções que afetam diretamente o Estado de Alagoas, como a do Canal do Sertão e obras de saneamento básico, encontram-se hoje com sua continuidade e conclusão comprometidas. Da mesma forma, outros importantes empreendimentos, como a conclusão da duplicação da BR-101, do Programa Minha Casa, Minha Vida e de obras do setor de transportes, mais especi- ficamente as Ferrovias Norte-Sul e Transnordestina, estão há décadas em construção e, agora, encontram-se sem perspectivas de finalização.

    Apenas para dar uma noção do montante de recursos que hoje está ameaçado, lembro que, para 2014, quando eu exercia a Presidência da Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado Federal, havia uma pre- visão de investimentos em Alagoas, somente do PAC 2, da ordem de R$9,8 bilhões. A previsão era de R$9,8 bi- lhões! Apesar de todos os esforços, a meta não foi cumprida, como gostaríamos, e está agora mais prejudicada pelas medidas que se anunciam.

    Em suma, essas quatro grandes questões aqui trazidas compõem apenas o mosaico imediato e perceptível de prioridades para a economia de Alagoas e do Nordeste. A ele podemos somar um quinto componente de dificuldades: o impedimento que Estados e Municípios poderão passar a ter - esperamos que isso não ocorra, mas há essa iminente possibilidade - em contrair empréstimos junto a instituições como BID e BIRD para obras de infraestrutura, pois, ao que se anuncia, não receberão autorização da equipe econômica.

    Novamente, afeta-se o Pacto Federativo, na medida em que, com as restrições financeiras para a implan- tação do ajuste fiscal, o Governo Federal acabará restringindo a autonomia e a possibilidade de acordos dos demais entes federados junto a organismos internacionais

    Assim, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que se espera é que essa verdadeira camisa de força não seja posta e, menos ainda, imposta à economia dos Estados e dos Municípios. Mas, infelizmente, se não forem tomadas medidas urgentes e se não forem promovidas mudanças de postura, o futuro não será promissor. Senão, vejamos o cenário que se apresenta diante de nós: sem o repasse das subvenções aos fornecedores de

    cana-de-açúcar, sem a repactuação dos contratos dos chamados eletrointensivos, sem a mudança do indexa-

    dor da dívida pública dos Estados e sem a garantia da continuidade das obras do PAC, tudo isso certamente agravará ainda mais a queda de arrecadação tributária, como a do ICMS e a dos já combalidos Fundos de Par- ticipação dos Estados e dos Municípios, e engessará, assim, qualquer possibilidade que ainda exista de os Go- vernos estaduais e Prefeituras manterem os serviços básicos de atendimento à população.

    Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são essas e outras preocupações que hão de aparecer e de se con- cretizar se o Governo Federal não mostrar capacidade de se reinventar. Sob o prisma de um cenário maior, a verdade é que a conjugação da redução concomitante de componentes e de fatores básicos da economia, como o investimento, a produção, o consumo, o emprego e a renda, fatalmente nos levará ao conhecido cír- culo vicioso que não permitirá escaparmos da recessão e, pior, da estagnação econômica. Que isso não ocorra é o que todos desejamos.

    Para superar esta crise, não basta o ajuste fiscal na medida certa. Mais do que aumentar a arrecadação, o Governo precisa cortar os gastos de custeio, reduzindo sua máquina administrativa, racionalizando suas des- pesas, planejando melhor suas políticas públicas e revendo suas prioridades. Só assim, o Governo manterá sua capacidade de investir, de repassar recursos, de garantir o emprego e a renda da população, para, em conse- quência, permitir que a economia volte a crescer.

    Por tudo isso, devemos, sim, conclamar governos, setores produtivos e sociedade para unirem esforços, encontrarem alternativas e, assim, viabilizarem a recuperação econômica do País, começando pelas regiões mais vulneráveis e menos favorecidas, como é o Nordeste e o meu Estado de Alagoas.

    São essas, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, as minhas ponderações, e é este o meu apelo. Era o que tinha a dizer.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2015 - Página 25