Discurso durante a 101ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao ex-Presidente da Câmara dos Deputados Antônio Paes de Andrade; e outros assuntos.

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Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Homenagem ao ex-Presidente da Câmara dos Deputados Antônio Paes de Andrade; e outros assuntos.
INDUSTRIA E COMERCIO:
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HOMENAGEM:
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Aparteantes
Jader Barbalho.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/2015 - Página 172
Assuntos
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Outros > INDUSTRIA E COMERCIO
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • PEDIDO, GOVERNO ESTRANGEIRO, VENEZUELA, PROTEÇÃO, GRUPO PARLAMENTAR, CONGRESSO NACIONAL, VISITA, PAIS ESTRANGEIRO, OBJETIVO, DEFESA, NECESSIDADE, MANUTENÇÃO, DEMOCRACIA.
  • COMENTARIO, SESSÃO, DEBATE, ASSUNTO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, JOSE SERRA, SENADOR, ALTERAÇÃO, LEI FEDERAL, ESTABELECIMENTO, PARTILHA, PRODUÇÃO, PETROLEO, PRE-SAL, PEDIDO, PARTICIPAÇÃO, ESPECIALISTA, ENGENHEIRO.
  • HOMENAGEM POSTUMA, LUIZ HENRIQUE, EX SENADOR, ANTONIO PAES DE ANDRADE, EX PRESIDENTE, CAMARA DOS DEPUTADOS, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu acredito que o Senador Jorge Viana explicou bem a situação.

            Eu conheço também, profundamente, esse trajeto do aeroporto até a cidade e conheço, como todos nós, a situação conflagrada que vive a Venezuela hoje. Panelaços, indignados, “cansei”... E os nossos Parlamentares foram à Venezuela em uma posição muito clara de apoio à oposição.

            E eu quero fazer um apelo ao governo da Venezuela pela segurança e pela integridade física de cada um dos nossos companheiros, queridos companheiros do Senado, nossos amigos pessoais. Acima de tudo, se eles tivessem ido à Venezuela em uma posição de restabelecer o diálogo e garantir a democracia, não teriam, provavelmente, esse tipo de hostilidade, absolutamente inaceitável, contudo.

            Presidente, no dia 30, nós vamos ter aqui uma sessão temática sobre a Petrobras e sobre o projeto colocado na pauta pelo Senador José Serra. Eu queria fazer duas sugestões, Presidente. Eu peço à Mesa que anote essas sugestões. Eu queria sugerir que dessa reunião participasse o geólogo Guilherme Estrella, funcionário da Petrobras, especialista em petróleo, que foi Vice-Presidente da Sociedade de Geologia e hoje é membro do conselho e é membro estrangeiro da Academia Nacional de Engenharia dos Estados Unidos, é um especialista em Engenharia; e que se acrescentasse, nessa exposição temática, também um companheiro de trabalho nosso aqui, da Casa, do Congresso Nacional, o Paulo Cesar Ribeiro Lima, que é Doutor em Engenharia pela Universidade de Cranfield, na Inglaterra, Mestre em Engenharia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e engenheiro pela Universidade Federal de Minas.

            Eu quero passar às mãos da Mesa, se os secretários me dão um auxílio, o currículo completo de cada um, requerendo à Mesa que os inclua como expositores da sessão temática do dia 30, para não ficar uma sessão temática só com representantes da entrega do petróleo, da quebra do monopólio, o que provavelmente não será bem aceito pelo conjunto da sociedade brasileira.

            Presidente, em curto espaço de tempo, o Brasil e o nosso PMDB perdem dois de seus mais ilustres filhos e dirigentes políticos. Em curto espaço de tempo, eu, pessoalmente, perco dois dos mais fraternais companheiros. Há semanas, foi-se Luiz Henrique, parceiro de Partido e da luta democrática desde a juventude. Agora, vai-se uma das figuras emblemáticas da política brasileira e símbolo da resistência peemedebista, meu irmão mais velho, Antonio Paes de Andrade.

            O bravo cearense de Mombaça, o curtido sertanejo do interior nordestino foi um militante indispensável, nos anos duros da ditadura militar; foi o homem da ponderação e do equilíbrio, nos anos da redemocratização; foi o Constituinte ousado, corajoso, na forja do novo País que emergia depois da longa noite do arbítrio; foi o Presidente da Câmara nos tensos e conflituosos dias que antecederam e sucederam a primeira eleição direta para a Presidência República, desde a eleição de Jânio Quadros.

            Na Presidência da Câmara assumiu mais de uma dezena de vezes a Presidência da República, interinamente. Uma subida honra para o sertanejo de Mombaça, um coroamento adequado para o lutador da democracia.

            Paes de Andrade começou sua longa e honrada trajetória muito cedo. Já aos 23 anos, foi Deputado Estadual do Ceará. Jovem advogado, tribuno brilhante, defensor intransigente das causas nacionais e populares, Paes conquistou seus conterrâneos, que até 1999 continuaram dando-lhe mandatos.

            Em 1963, aos 36 anos, Paes de Andrade deixava a Assembleia Legislativa do Ceará e deixava de ocupar as tantas secretarias de Estado, que sucessivamente comandou, para assumir o seu primeiro mandato de Deputado Federal.

            Eram dias de tumultos, de conflitos, de conspirações e de traições. Dias em que os interesses da Nação e do povo viam-se em cheque diante da maré conservadora, antinacional, antidemocrática e golpista. O advogado, o constitucionalista, o jurista, o professor de Direito, o jovem Parlamentar não teve dúvidas sobre de que lado deveria estar.

            Com a deposição de Goulart e com a extinção dos partidos, Paes filia-se ao MDB e aí começa sua longa e brava militância de resistente. E é um dos autênticos. E é um daqueles guerreiros tenazes, destemidos, que arrostam os perigos da prisão, da cassação, do desaparecimento. O sertanejo não teme os arreganhos, as ameaças e as arbitrariedades dos ditadores.

            Paes não se contenta em lutar apenas aqui, no Brasil.

            Membro da União Parlamentar Internacional, ele participa de inúmeras assembleias pelo mundo. E eleva sua voz corajosa em defesa dos direitos humanos, contra as cassações de mandatos, contra as prisões, as torturas e assassinatos de resistentes.

            Nessa época, a União Parlamentar congregava representantes de 130 países e contava com o apoio da ONU, o que garantia a repercussão de suas reuniões e fazia ecoar as denúncias do bravo cearense.

            Minhas ligações com Paes datam do final dos anos 70, no aceso da luta pela anistia e pela redemocratização. Foi uma amizade, um companheirismo que se despertou à primeira vista e durou por toda a vida.

            Nem nas tentativas que fiz para que o PMDB fosse o protagonista na cena política brasileira, lançando seu próprio candidato à Presidência da República, deixei de contar com o apoio firme e corajoso de Paes de Andrade.

            Paes sempre comungou com os ideais de um PMDB condutor, comandante, e não um partido caudatário, subserviente e diminuído. O maior partido do País, com as maiores bancadas federais, estaduais e municipais não podia renunciar, seguidamente, à progenitura e à liderança.

            Para mim, foi uma honra ter combatido ao lado de Paes de Andrade. Ainda na última convenção do nosso PMDB, tendo sido antecipadamente derrotada a nossa tese de candidatura presidencial própria, estivemos os dois lá para testemunhar o compromisso do presidente do partido...

(Soa a campainha.)

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) - ... de que, em 2018, vamos ter o nosso próprio candidato à Presidência da República.

            Sras e Srs. Senadores, mesmo que exaltem a memória do grande brasileiro Paes de Andrade, mesmo que destaquem sua vida, sua luta e sua grande contribuição para a liberdade e a democracia, fica a sensação terrível do vazio, da falta, a verdade de que não vemos, a verdade de que não vamos vê-lo mais.

            Perde o Brasil um homem honrado, que tantas contribuições deu a sua Pátria, perde o Parlamento um de seus mais insignes e devotados membros, perde o PMDB um militante exemplar...

(Interrupção do som.)

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) - ... e eu perco um dos meus melhores (Fora do microfone.) amigos e companheiros.

            Que Deus o tenha, e que o Brasil...

            O Sr. Jader Barbalho (Bloco Maioria/PMDB - PA) - Senador Roberto Requião, V. Exª me permite um aparte?

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) - Como não, Senador Jader.

            O Sr. Jader Barbalho (Bloco Maioria/PMDB - PA) - Eu gostaria de aproveitar a intervenção que V. Exª faz em homenagem ao companheiro Paes de Andrade para dizer a V. Exª, para dizer à Casa, dar o meu testemunho de que V. Exª passou a conviver com Paes um pouco antes do que eu. Eu convivi com Paes de Andrade a partir da legislatura da Câmara, em 1975. Ele fazia parte do grupo dos Autênticos. E eu me recordo bem, em consequência daquela eleição, a nossa Bancada teve um acréscimo significativo.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Jader Barbalho (Bloco Maioria/PMDB - PA) - E nós fomos recebidos por ele e por outros companheiros que eu gostaria, se possível, de homenagear aqui, como Alencar Furtado, que, eleito pelo Paraná, era também cearense; Nadyr Rossetti, que foi tragado pela ditadura; Amaury Müller; Lysâneas Maciel e tantos outros companheiros que faziam parte do que se chamada Grupo Autêntico. E eu quero dar o meu testemunho do acolhimento do Paes de Andrade. Ele, mais velho e com mais tempo de atuação política do que nós, foi a ponte de abrigo para que nós nos integrássemos ao que V. Exª há pouco se referiu, ao grupo chamado de Autênticos. Era um grupo dentro da Bancada do PMDB que fazia questão de pressionar a direção partidária. Inclusive, o nosso bravo Ulysses Guimarães, que, quero fazer um registro, era cercado por um dos grupos mais conservadores do MDB Nacional. Posteriormente, o Dr. Ulysses assumiu o papel que não serei eu que irei aqui declinar, porque já está declinado na história do Brasil. Então, quero aproveitar para, nesta oportunidade, dar o meu testemunho também e dizer que V. Exª lamenta, como todos nós lamentamos, a morte, o desaparecimento de Paes de Andrade.

Eu, nestes casos, Senador Requião, quero festejar a vida, porque a morte é uma consequência inevitável. Eu quero festejar a vida de quem efetivamente aproveitou a vida para ser útil em um dos períodos mais difíceis da vida brasileira. Portanto, os meus cumprimentos a V. Exª.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Jader Barbalho (Bloco Maioria/PMDB - PA) - E aproveito este aparte para fazer a minha homenagem a esse grande companheiro, que tantos e relevantes serviços prestou não só ao nosso Partido, mas fundamentalmente à democracia brasileira. Os meus cumprimentos a V. Exª pelo pronunciamento.

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) - Senador Jader, Paes de Andrade: firme, sério, nacionalista, progressista, incorruptível. Que Deus o tenha, Senador Jader. E que o Brasil, o Parlamento e o nosso PMDB saibam honrar esse filho, esse Deputado e esse militante que dedicou a sua vida à democracia, ao País e ao PMDB velho de guerra, o PMDB dos Autênticos, o PMDB que tinha coragem de enfrentar a ditadura.

            (Interrupção do som.)

            O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/PMDB - PR) - Viva o bravo sertanejo de Mombaça (Fora do microfone.), Antônio Paes de Andrade.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/2015 - Página 172