Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a crise econômica por que passa o País.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Comentários sobre a crise econômica por que passa o País.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Cássio Cunha Lima.
Publicação
Publicação no DSF de 10/09/2015 - Página 268
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • REGISTRO, CRISE, ECONOMIA NACIONAL, RESULTADO, ECONOMIA INTERNACIONAL, IMPOSSIBILIDADE, FINANÇAS PUBLICAS, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, GOVERNO MUNICIPAL, MANUTENÇÃO, EMPREGO, PRODUÇÃO, COMENTARIO, ANALISE, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), REFERENCIA, REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, MUNDO, DEFESA, PROJETO DE LEI, AUTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ASSUNTO, COBRANÇA, IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS, CRITICA, OPOSIÇÃO, CONCENTRAÇÃO, ESFORÇO, REFORMA POLITICA.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Sem revisão da oradora.) - São cinco minutos, Sr. Presidente? (Pausa.)

            Eu lhe agradeço.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, um dos assuntos que mais têm mobilizado os Parlamentares, tanto Senadores quanto Deputados Federais, sem dúvida alguma, é o momento delicado por que passa o nosso País, momento de crise econômica e também de crise política e de crise moral. Eu, neste momento, como fizeram os oradores que me antecederam, quero me deter um pouco nesse assunto, Senador Paim. Eu não sou economista, não sou advogada, mas sou alguém do povo. Sou alguém do povo e gostaria de entrar - já tenho feito também vários pronunciamentos a respeito do assunto - numa análise, mesmo superficial, em relação à situação econômica do País.

            Em primeiro lugar, Senador Fernando Bezerra, quero resgatar o discurso de alguns que não apenas utilizam desta tribuna, mas que também escrevem para os jornais e procuram dizer à sociedade brasileira que o problema da crise econômica do Brasil foi um problema construído e gestado pelo primeiro mandato da Presidenta Dilma e que nenhum fator externo tem absolutamente nada a ver com a crise econômica por que passa o País. O problema, segundo estes, é a Presidenta Dilma, foram as ações anticíclicas que ela teve de usar para garantir o emprego, para garantir a renda, para não permitir que acontecesse com o País, com o Brasil, desde 2008, o que aconteceu com outras nações, com os Estados Unidos, com a maioria dos países europeus. O desemprego está ultrapassando a casa dos dois dígitos, e há queda de produção.

            Avalio que essas pessoas, infelizmente, não têm compromisso com o Brasil, porque sabem, tanto quanto nós, que essa é uma crise que tem um reflexo profundo da economia internacional. Aliás, as ações anticíclicas, a concessão de benefícios tributários, a ampliação dos gastos com investimentos, uma série de medidas que foram adotadas pelo Governo até agora tiveram o objetivo exatamente de evitar que acontecesse no Brasil, repito, o que aconteceu em outros países. Vamos utilizar o mercado interno brasileiro. Entretanto, as finanças públicas, não só do Governo central, mas de Estados e Municípios, chegaram a uma fase em que não suportam mais. Não suportam mais levar nas costas essas ações para evitar desemprego, para evitar queda de produção. Em decorrência disso, nós precisamos dar um outro passo. Nós precisamos mudar as medidas que vêm sendo adotadas no País. E é exatamente aí que nós chegamos.

            Muitos, na oposição, fazem de forma proposital: repetem, repetem, repetem, dizendo que o Governo pode ser comparado a uma biruta de aeroporto, que o Governo não tem rumo, que o Governo não sabe o que quer. Na realidade, o objetivo dessas pessoas é promover um desgaste político ainda maior para o Governo. Um desgaste político. O objetivo é aprofundar a crise política. Junto da crítica, improcedente, na minha opinião, no seu todo - claro que não em algumas partes, mas no seu todo, porque ela inicia de forma equivocada -, as pessoas que fazem a crítica são exatamente aquelas que estão malucas atrás de alguma coisa que envolva a Presidenta Dilma nos malfeitos que, infelizmente, vêm sendo revelados no nosso País.

            Sr. Presidente, acredito que, nessa hora, devemos ter um compromisso maior com o País, um compromisso maior com o povo, com a nossa gente, do que com as bandeiras partidárias, do que com os projetos políticos individuais de cada partido.

            Hoje, o editorial Portal Vermelho - um portal muito vinculado ao meu Partido - destaca matéria muito importante relativa à opinião e à análise divulgada agora, recentemente, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - É o próprio FMI que está fazendo o comunicado de que o crescimento econômico mundial, previsto anteriormente, será mais fraco do que aquele esperado. Haverá uma queda. Não sou eu que estou dizendo, é o Fundo Monetário Internacional. O FMI está afirmando de forma clara que a recuperação nas economias centrais não se está confirmando nos níveis esperados.

            E há mais: Christine Lagarde, a Diretora-Gerente do Fundo Monetário Internacional, tem avisado principalmente aos países emergentes, grupo no qual estamos incluídos, que precisam estar atentos ao agravamento do contágio da crise internacional. Destaca ainda, em mataria do jornal Valor Econômico, na edição da última quinta-feira que, abre aspas:

As ondas de incertezas criadas pela China estão fazendo naufragar também os cenários mais otimistas para a recuperação dos Estados Unidos e da Europa [fecha aspas].

            Abro novas aspas:

É interessante notar que mesmo países que costumam figurar como exemplares pelos defensores do credo liberal pagam o preço do agravamento da crise em escala global. A economia do Canadá [por exemplo] teve uma queda de 0,5% do PIB e está em recessão, a Austrália está prestes a mergulhar no mesmo quadro, e a Coreia do Sul, dependente das vendas para a China, acaba de sofrer uma queda de 14,8% [de quase 15%] em suas exportações.

            Outro dado apresentado:

A subida do dólar e a desaceleração da economia chinesa provocaram um tombo na indústria norte-americana, que teve uma queda em sua atividade pela segunda vez seguida [consecutiva].

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - É nesse quadro de incertezas que nós, os brasileiros, que o nosso País está inserido. Vivemos uma crise econômica cuja dinâmica é mundial, sim. É local também. Não estamos a esconder isso. É local, mas há uma dinâmica e há um fator internacional que têm que ser levados em conta.

            Tenho certeza absoluta de que mesmo aqueles que dizem que a única culpada pela crise econômica do Brasil é a Presidente Dilma sabem, lá no fundo, Sr. Presidente, dos reflexos que esse cenário adverso internacional na economia causam ao nosso Brasil. Mas, repito, fazem questão de negar esse fato, por puro oportunismo, na minha opinião, pois o objetivo, repito, é alimentar a crise política para aprofundar ainda mais o grave quadro econômico do País. É a tal da política do quanto pior, melhor, Sr. Presidente.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - V. Exª me concede um aparte?

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Claro, Senador. Com muito prazer.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Eu não gostaria de interromper o discurso de V. Exª, mas, estando presente no plenário e na condição de Líder do PSDB, peço este espaço para discordar de V. Exª. Não sou daqueles que escrevem na imprensa, porque não sou jornalista, mas sou daqueles que ocupam esta tribuna para fazer, como tenho feito ao longo do tempo, várias críticas, de todas as ordens, porque a situação do País não é nada fácil. Imagino o esforço que V. Exª faz para tentar, com sua inteligência, talento e uma oratória sempre muito eloquente, encontrar um mecanismo que possa justificar essa situação. Eu acho que V. Exª já ouviu falar na lei da atração. Creio que sim. A Presidente pediu tanto, pediu tanto uma crise internacional que ela conseguiu atrair a da China. Aí, sim, nós temos uma crise de verdade, porque, naquele tempo em que ela falava em crise internacional, a crise estava sendo debelada em vários países do mundo. Mas ela falou tanto em crise internacional que ela terminou trazendo para ela uma crise de verdade que, aí, sim, impacta e piora ainda mais a situação do País, que é a crise da China. Não trouxe ainda a solução para a estiagem, e estamos, nós outros, nordestinos, extremamente preocupados, Senadora Vanessa. V. Exª veio de um Estado abençoado por Deus com a abundância de água, que é o Estado do Amazonas, como toda a região Norte, diferentemente do Nordeste brasileiro. Eu faço o aparte só para introduzir esse tema, porque, obviamente, não vou convencê-la, nem V. Exª vai me convencer. Eu acho que dificilmente a senhora terá capacidade de convencer o povo brasileiro, que, nas pesquisas, aponta qual é o seu real sentimento. É óbvio que a crise da China impacta e aprofunda ainda mais as dificuldades que o País enfrenta. São dificuldades que foram criadas pelo próprio Governo, por uma série de fatores que não convém aqui discutir. Mas, no que diz respeito à estiagem, com a formação do El Niño, e a ciência já mostra que o El Niño formado representa para o Semiárido períodos de ciclos secos, e nós já estamos no quarto ano de seca, eu fico a imaginar o que acontecerá com o Nordeste brasileiro se não tivermos um período regular de chuvas no próximo período invernoso, como nós chamamos por lá, no próximo inverno. Os mananciais estão secando, as barragens praticamente já esgotadas. Em algumas cidades, já existem casos, Senadora, de Municípios terem que percorrer duzentos quilômetros diariamente, através de caminhões-pipa, para buscar água para suprimento das populações urbanas e rurais. Então, apenas para deixar o registro da discordância do seu pensamento político, mas, sobretudo, perdoe-me, da expressão “oportunismo”. Não há oportunismo nenhum. Há, sim, um debate democrático, um debate de ideias, de posturas diferenciadas, de comportamentos diferentes. Não somos do quanto pior, melhor. Pelo contrário, somos daqueles que contribuíram com o povo brasileiro para a construção de uma estabilidade econômica, para o fim da inflação, da hiperinflação. O nosso Partido foi aquele que lançou as bases para que o Presidente Lula - e não temos dificuldade nenhuma de reconhecer isto -, a partir de uma base, de uma estabilidade econômica, pudesse avançar em conquistas sociais que foram muito importantes para o nosso povo, e essas as conquistas estão sendo ameaçadas na atualidade.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Estamos retroagindo em termos de conquistas. Então, não há oportunismo. Permita-me fazer essa discordância. Há embate político, há divergência de pensamentos, de ideias, mas, de tanto pedir uma crise internacional, a Presidente da República terminou conseguindo uma de verdade, que é a crise da China.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Senador Cássio, quem sabe, de tanto falar, não possamos atrair a oposição para ajudar o País neste momento tão difícil, já que ela tem tanta capacidade de atração, em vez de a oposição seguir defendendo o impeachment da Presidente Dilma sem qualquer razão objetiva, clara. Eu vou dar esse conselho a ela, se assim me permite.

            Quero já considerar este meu pronunciamento um conselho. Vamos falar muito. Quem sabe assim a Presidente tenha a capacidade de atrair o apoio da oposição não para ela, mas para o País.

            O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - Mas a Presidente não conversa nem com o próprio Governo, avalie com a oposição!

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - V. Exª tenha a certeza de que eu não faço nenhum esforço. Não sou tão inteligente, não tenho o talento de V. Exª, mas eu procuro analisar a realidade tal qual ela é.

            Subi a esta tribuna para, primeiro, destacar que vivemos uma crise grave. Ninguém está escondendo isso. Vamos analisar o porquê da crise. Estou aqui relatando: a razão da crise são problemas internos e problemas externos também. Aí, há a primeira divergência. Muitos dizem que não, que só são problemas externos, tanto que V. Exª disse que, de tanto ela falar, ela atraiu.

            Engraçado, criticam a Presidente Dilma porque ela demorou para ver a situação do Brasil, a situação econômica que vinha se deteriorando. Será que a oposição não demorou para ver a situação internacional que vinha também se deteriorando? Porque não foi do dia para a noite que a China passou a viver um problema econômico. O problema econômico já vinha sendo vivido, como no nosso caso.

            Então, primeiro é isso. Eu não tenho que fazer esforço, mas apenas analisar a realidade à luz da franqueza, à luz do objetivo daquele que tem desejo de fazer com que o nosso País atravesse esse momento de muita dificuldade.

            E veja que sou uma socialista, Senador Cássio, uma socialista adversa ao rentismo! Esse, sim, é o grande cancro, Senador Cristovam, da sociedade, o rentismo, a especulação. Esse é o grande cancro. Aliás, tudo gira em torno disso.

            No fundo, no fundo, por que da crise econômica? Porque diminuíram as taxas de juros, e os grandes capitalistas não aceitam que se diminuam as taxas de juros. Por que nós estamos com uma política de juros tão elevada? Por quê? É preciso que se analise isso com muito cuidado.

            Sou uma economista que repugna o rentismo, orientando a economia do mundo inteiro, e ditando regras, e ditando ordens.

            Nesse momento, quero recorrer ao economista Fernando Honorato Barbosa. Ele é o economista-chefe do Bradesco. É claro, há muitos pontos dos quais eu discordo, mas acho que o fundamental que ele quis dizer na entrevista que deu ontem e que foi publicada no jornal Valor Econômico é que estamos vivendo um momento que requer um esforço de guerra, e que todos, absolutamente todos devem dar a sua contribuição.

            Aí, não adianta subir aqui e dizer: “A Presidente não sabe o que fazer!” Ora, na semana passada, eu vim aqui e disse que concordava com a Presidente por ter mandado um orçamento com déficit, porque é preciso que ela abra as portas para que a solução do nosso País seja coletiva. Não é uma solução de mágica. Não é uma varinha mágica que vai resolver os problemas do Brasil, não.

            O Senado está fazendo um grande esforço, a Agenda Brasil. Ontem, estivemos com o Presidente Renan. Propusemos a ele a criação de uma outra comissão de alto nível de especialistas para analisar o contencioso do Brasil, o contencioso tributário e fiscal. São mais de R$2 trilhões, Senador Bezerra. V. Exª sabe disso, e o Presidente Renan deverá formar essa comissão.

            Precisamos mudar o código da administração tributária no País. Vinte anos é a média de julgamento! Para ter uma taxa das pendências tributárias, são 20 anos, entre a parte administrativa e a parte judicial. Aí, 2% são o percentual de retorno.

            Nós não estamos falando aqui de bilhões, mas de trilhões. São mais de R$2 trilhões o passivo que temos no País. Mais de R$2 trilhões, dívida ativa, contencioso administrativo, judicial, tributário.

            Então, precisamos trabalhar essa reforma, porque precisamos de medidas emergenciais. E aí uns dizem: “Aumentar imposto, não; cortar despesas”.

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Vejam só diante do que estamos. Cortar despesas como?

            Está aí: os profissionais da Receita Federal em greve. Fizeram cair em mais de 30% as operações e a fiscalização. E quem perde com isso? O Estado brasileiro, que deixa de arrecadar ainda mais.

            Então, vamos tomar cuidado porque existe uma corrente, Senador Paim, que critica muito. Mas que corrente é essa? É a de um Estado mínimo.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senadora Vanessa...

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Eu já estou concluindo.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Apoio Governo/PT - RS) - .... em torno de 20 minutos, e o Senador Cristovam pede-lhe também um aparte.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Então, Senador Cristovam, tomar cuidado com essa corrente porque acho que as duas coisas têm que ser feitas. Vamos ver se não é o caso de substituir tributos em vez de criá-los; tributos mais inteligentes, que não sejam direcionados para aquele que menos tem, e, sim, para o que mais tem.

            O nosso Partido tem um projeto de lei há muito tempo, não é de agora, é de mais de uma década, da Deputada Jandira Feghali, para taxação de grandes fortunas. Dizem que é pouco, mas o que vier será muito bem-vindo. Vamos votar uma lei da repatriação de recursos. Essas são saídas.

            Agora, o meu apelo é apenas para que os discursos não fiquem dizendo: “A Presidente é incapaz, não consegue reunir”. A Presidente está com as portas abertas, dialogando e querendo a contribuição de todos. E o nosso dever de brasileiro, de brasileira é contribuir para encontrar a melhor saída para o País.

            Senador Cristovam; em seguida, eu encerro, Senador Paim.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Primeiro, Senadora Vanessa, a minha satisfação de vê-la reconhecer que há uma crise, porque, alguns meses atrás, nenhum Senador desta Casa da Base de Apoio reconhecia que havia crise. E havia, Senadora. Eu fiz muitos discursos aqui, falando que tudo indicava essa crise, publiquei, debati. Está aqui o Senador Paim que se lembra disso. E o que eu ouvia de vocês? Desculpem-me dizer assim: “Pessimismo! Não está vendo a realidade!” Era claro que essa crise viria, tanto por causa da de 2008 no mundo, como por causa dos equívocos brutais que a Presidente Dilma e seu Governo estavam cometendo, não percebendo a crise. Um trabalho meu chama-se A economia está bem, mas não vai bem. É de 2011, quando os indicadores de inflação, de emprego estavam bem, mas tudo indicava que isso era passageiro, por causa dos erros. Eram 15 itens sobre os riscos. O último deles era a euforia e o otimismo, que cegam. Felizmente, hoje a gente vê que a Base de Apoio do Governo, inclusive o meu Partido - embora sempre fui voz discordante nesse sentido -, percebeu que há uma crise. Se vem da China ou não vem da China, percebeu. Sobre a campanha do ano passado, ficou claro que estava assentada em falsas promessas para o futuro.

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eram claro, Senadora Vanessa! Mas passou. Finalmente, descobriu-se. Descobriu-se. Só que era bom, sim, o reconhecimento dos erros. Era bom, sim, dizer que a campanha foi baseada em um marqueteiro sem nenhum compromisso com a verdade, a não ser a verdade de ter mais voto que o opositor. Era preciso dizer isso. Aí a Presidente disse: “Se houve erro...” Não é assim. Tem que assumir, para haver esse diálogo. E eu fui falar com a Presidente. Eu fui com seis Senadores daqui, que nos consideramos independentes. E recebeu bem. Conversou. Mas a gente não vê nenhuma consequência concreta disto que a senhora afirma: que ela está de braços abertos para nos encontrar. A gente não vê. Eu não sei se ela procurou a oposição. Mas a impressão que dá é que ela continua rodeada dos que apenas elogiam, apenas bajulam.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu não vejo essa predisposição a um diálogo, que seria fundamental para sairmos de algo que é mais do que crise, Senadora. E aí, sim, é o que eu queria provocar: nós não estamos apenas em uma crise; nós estamos num esgotamento de modelo. Esgotou-se. E não é o modelo da Dilma, nem do PT: é inclusive - eu defendo - do PSDB também; esse modelo que vem do Itamar para cá, baseado numa democracia que a gente sabe que não está bem. Não está bem! Aqui, a 20 metros, está um juiz do qual estão dizendo que é o nosso herói hoje do Brasil. E é herói porque está prendendo políticos. Isso é uma crise da democracia. E felizmente ele está prendendo políticos. Felizmente. Mas é uma crise. É uma democracia que não tem proposta. A gente fala - muitos, hoje - em impeachment da Presidente Dilma, mas não se discute quem é que vai para o lugar exatamente, para fazer o quê, com que base de apoio. Então, é uma crise de democracia. A transferência de renda, que foi um gesto de generosidade - que começou com o Presidente Fernando Henrique, e que o Presidente Lula espalhou positivamente -, está se esgotando, até por causa da inflação. Eu acho que a Presidente Dilma não precisa reduzir os gastos com o Bolsa Família, porque já está fazendo, por conta da inflação. O crescimento econômico com base em indústrias tradicionais e agronegócio se esgotou, não vai levar o Brasil muito adiante. E a estabilidade financeira também. Ou seja, os quatro pilares se esgotaram. E se esgotou sobretudo a democracia. A prova é esta Casa vazia no meio de uma crise como essa. Isso é o esgotamento de um modelo. Também se constata a falta de perspectiva do que fazer. Eu conversava há pouco com o Senador Capiberibe: “E se a Presidente Dilma sair? Quem é que vai para o lugar? E, se ela não sair, como é que a gente fica? E a surpresa?” Há um desgoverno, Senadora Vanessa. Ontem, eu fiquei pasmo quando eu vi um Ministro respeitável - eu respeito o Levy -, numa calçada se eu não me engano em Paris, dizendo a jornalistas que vai aumentar imposto de renda, sem antes conversar, dialogar, negociar que faixas do imposto de renda vai aumentar. Então, a cada dia há uma surpresa de um Governo que vai e vem sem um rumo. E nós ficamos sem saber como ajudar o Brasil, como V. Exª cobrou aqui há pouco, corretamente. Como ajudar o Brasil hoje, Senadora Vanessa? Hoje, como eu ajudo o Brasil, a não ser dizendo estas coisas? Confesso que eu não sei, porque o poder está no Palácio do Planalto, o poder está com a Base de Apoio, o poder está com a Presidente Dilma. A senhora cobrou ajudar o Brasil. Eu quero ajudar o Brasil, é minha obrigação, independentemente de quem seja o Presidente - e hoje é a Presidente Dilma, que tem um mandato, inclusive. Como é que nós podemos ajudar? Aprovando qualquer coisa que chega aqui? Aprovando aumento de impostos? Eu não teria medo de aumentar impostos, se eu soubesse da credibilidade de quem vai usar esses recursos do imposto. Hoje, o problema de aumentar impostos é que não há credibilidade no Governo de que vai gastar bem esses impostos - eu não estou dizendo que é para mim, mas é na opinião pública em geral. Houve um esgotamento, e isso é mais grave do que a crise da China, dos Estados Unidos e mesmo da crise brasileira. É o fim de um ciclo, e nós não estamos sabendo - talvez esta seja a pior das crises: o vazio nosso, a incapacidade nossa, que somos os líderes de Brasil - formular um ciclo novo, com o apoio da população, para colocar no lugar do ciclo que se esgotou, cujos estertores nós estamos vendo neste momento. Então, eu fico feliz, porque a ideia de crise hoje é geral aqui, descobriu-se, percebeu-se, e esse é o primeiro passo para encontrar a saída; mas o segundo passo nós não estamos vendo como vai ser dado não, porque essa ideia de que tirar a Presidente Dilma resolve tudo...

(Soa a campainha.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... é um equívoco. Não resolve, não traz um novo ciclo. Agora, deixar a Presidente Dilma por mais três anos e meio do jeito que está aí também não vai resolver. Então, este é o desafio: não é só como ajudar o Brasil, é como enfrentar o desafio de um modelo que se esgotou, e não temos outro para colocar no lugar ainda.

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Senador Paim, eu vou precisar de um minutinho para concluir.

            Senador Cristovam, de toda a sua intervenção, eu captei as suas últimas palavras, Senador Cristovam, e o grande problema está aí. V. Exª diz: "Não cabe a ela resolver sozinha o problema do Brasil, mas ela ficar três anos e meio também não resolve".

            Senador, esse é o grande problema. Nós todos devíamos estar concentrados no debate da crise econômica. Mas, não: a oposição só está concentrada no debate sobre a crise política, achando que o Governo não tem rumo, que a Presidente Dilma não ganhou legitimamente, porque teria mentido, teria faltado com a verdade para com a população nas eleições.

            Senador Cristovam, a eleição já acabou! O povo brasileiro foi às urnas, e houve um debate gigantesco. Eu não fui candidata nas últimas eleições, mas trabalhei muito. Nas últimas semanas, eu não chegava nem em casa, porque vivia nas ruas debatendo política com o povo, porque era o nosso lado e era o outro lado. O debate foi político, e ela ganhou politicamente. Ela ganhou isso em cima de propostas. Então, vamos esquecer.

            V. Exª diz, mas, além de dizer, vamos praticar. O que é mais importante? Tirar o Brasil da crise econômica ou ficar alimentando uma crise política? Falar de impeachment, que não está nem na ordem do dia porque não há um crime em que a Presidente tenha sido envolvida? Ora, não há absolutamente nada. Mas não: “O Tribunal de Contas é razão, o Tribunal Superior Eleitoral é razão”.

            Então, essa é a grande crise do Brasil. Essa é a grande crise no Brasil.

            Nas manifestações, o que a gente vê não é o povo ou alguns partidos defendendo...

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ... a proposta A ou B. Não, são bonecos gigantes vestidos de presidiários, inclusive da própria Presidente.

            Então, se nós temos, de fato, interesse em ajudar, eu acho que, primeiro, é considerar isto: ela é a Presidente eleita do País. Enquanto o mundo político não chegar a essa conclusão, nós só vamos arrastar a crise política adiante e afundar o Brasil na crise econômica. Isso, na prática, é a tese e a teoria de “o quanto pior, melhor”.

            Senador, o senhor menciona o Ministro da Fazenda em Paris, falando de aumento de imposto. Eu falo o que eu li no jornal hoje: o Governador Rollemberg - nosso amigo querido, para quem torcemos muito para que tenha um excelente Governo - aumentando impostos também.

            Então, não é um problema do Ministro Levy. Será que o Governador Rollemberg não está conversando com a Câmara Distrital? Porque precisa de dinheiro e não tem como pagar! Não tem como pagar!

(Soa a campainha.)

            A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Então, é isto: acho que o que nós precisamos fazer, primeiro, é algo muito pontual: a Presidente é a Dilma.

            A Presidente é a Dilma? Ela ganhou as eleições? Então, vamos sair.

            Agora, dizer que ela não resolve é defender o impeachment sem que haja razão jurídica para isso. Acho que essa é uma análise que nós precisamos fazer não só do ponto de vista teórico, mas do ponto de vista prático, Senador Paim.

            Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/09/2015 - Página 268