Discurso durante a Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Exposição das razões que motivaram S. Exª a filiar-se ao PPS.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Exposição das razões que motivaram S. Exª a filiar-se ao PPS.
Aparteantes
Acir Gurgacz, Aloysio Nunes Ferreira, Alvaro Dias, Ana Amélia, Antonio Anastasia, Antonio Carlos Valadares, Ataídes Oliveira, Aécio Neves, Benedito de Lira, Blairo Maggi, Cássio Cunha Lima, Elmano Férrer, Eunício Oliveira, Fernando Bezerra Coelho, Garibaldi Alves Filho, Gleisi Hoffmann, Hélio José, José Agripino, José Serra, Lasier Martins, Lindbergh Farias, Lúcia Vânia, Marta Suplicy, Paulo Paim, Raimundo Lira, Randolfe Rodrigues, Reguffe, Ronaldo Caiado, Simone Tebet, Tasso Jereissati, Vanessa Grazziotin, Waldemir Moka, Wellington Fagundes, Zeze Perrella.
Publicação
Publicação no DSF de 18/02/2016 - Página 21
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • DISCURSO, FILIAÇÃO, ORADOR, PARTIDO POLITICO, PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS).

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Medeiros, quero inicialmente dizer da minha satisfação de que senhor esteja presidindo esta sessão. Creio que, neste meu pronunciamento, que farei a partir de agora, ser- aberta a possibilidade de um trabalho intenso entre nós, Senador Medeiros, na mesma sigla partidária.

    O SR. PRESIDENTE (José Medeiros. Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Muito me honra está presidindo a Mesa do Senado Federal neste momento do seu discurso, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Pessoas como nós caminhamos na política, carregando bandeiras, e, a cada momento, em alguns mais, outros menos, temos que tomar decisões. Continuamos carregando a bandeira ou acomodamos diante das dificuldades. É muito comum isso acontecer.

    Carreguei bandeira, quando jovem, na luta pela democracia, pelo socialismo. Por conta disso, saí do Brasil nove anos e, ao voltar, passei a carregar a minha bandeira, Senador Ana Amélia, de uma maneira muito tranquila como professor universitário, nada mais. Mas ali eu carregava a bandeira de uma maneira cômoda, a bandeira da transformação do Brasil, e carreguei, formulando ideias, e algumas se espalharam até pelo Brasil, como a Bolsa Escola, que virou Bolsa Família, que surgiu ali na minha salinha da Universidade de Brasília, e outras.

    Em 1990, decidi que, para carregar as bandeiras de transformações, Senador Ivo, deveria entrar em um partido. E, embora tenha votado no primeiro turno de 1989 no Leonel Brizola, eu entrei no Partido dos Trabalhadores, que me parecia a formação mais concreta para carregar as transformações que a gente queria. E, ali, eu continuei tentando: fui Governador do Distrito Federal, fui Ministro no Governo Lula.

    Em 2005, consolidou-se minha sensação de que, outra vez, Senador Cássio, eu me acomodava ou mudava, para continuar tentando. E, vi que o Partido dos Trabalhadores tinha perdido o vigor transformador da sociedade brasileira que ele nos oferecia; a transformação para governos transparentes, sem corrupção; de fazer uma grande reforma na educação de base, o que tentei, como Ministro; a formulação de um projeto industrial que fosse capaz de conviver com o meio ambiente equilibrado e distribuição de rendas.

    O PT perdeu o vigor transformador, e eu superei a tentação de desistir, e decidi ingressar em um novo partido. Naquele momento, lembro-me de uma reunião em São Paulo, em que conversei com o Presidente do PPS, Roberto Freire, e o Presidente do PDT, Carlos Lupi, para saber onde era melhor para mim, tão próximas eu sentia essas duas agremiações, para carregar as bandeiras. E decidi ingressar no PDT, por conta do Darcy, um grande mestre; por conta do Brizola; por conta da bandeira da educação; e assim o fiz.

    Fiz e aí continuei a luta, inclusive, sendo candidato a Presidente da República pela oposição, tanto que disputei com Lula. E o PDT, quando me abrigou, era de oposição. O Presidente Carlos Lupi era um opositor radical, eu diria. E quero aqui prestar homenagem: não fosse Carlos Lupi, depois da morte de Brizola, talvez o PDT não tivesse sobrevivido.

    Acontece que, terminada a eleição em que disputei pela oposição, o Presidente Lupi conseguiu trazer o PDT para dentro do Governo. Carlos Lupi virou Ministro. Eu fui contra, manifestei que aquilo era um gesto que traria dificuldade para o Brasil, porque o Brasil precisava de uma formulação alternativa transformadora, e, dentro do Governo, nós ficaríamos amarrados.

    Mas não consegui fazer prevalecer esta minha ideia de o PDT ser um partido da esquerda, independente, querendo levar adiante as transformações que o Brasil precisava.

    Continuei insistindo. Insisti por um ano, dois anos, três anos, sete anos. Hoje, mais uma vez, percebo, como em outros momentos, que tenho de me acomodar, Senadora Marta, ou mudar, como a senhora fez há pouco tempo. E ficou impossível me acomodar, vendo a televisão, lendo os jornais, conversando com as pessoas nas ruas.

    Eu não nego que, aos 72 anos, que farei no sábado próximo, a tentação de acomodamento é muito grande. A gente tem até uma certa desculpa para se acomodar. Por que continuar? Mas, vendo a televisão, ouvindo o rádio, conversando, fica difícil se acomodar sem um profundo complexo de culpa diante do futuro do País da gente.

    E foi aí que, numa conversa com Roberto Freire, presidente do PPS, em que ele veio conversar sobre por que não carregar a bandeira do seu Partido, eu perguntei: "Por que não me acomodar?" E ele disse que a gente não tem direito de se acomodar, chamada a atenção, além de que é uma oportunidade histórica de participar de um momento tão difícil.

    Continuamos as conversas. E eu comunico aqui que, de fato, diante da inflação, da corrupção, do descrédito, da destruição de estatais, da saúde caótica, da recessão repetida ano depois de ano, da energia desarticulada, do analfabetismo que não é combatido como deveria, da deseducação, da universidade que fez esta grande coisa de aumentar o número, mas que levou uma decadência na qualidade, porque não se fez o trabalho de base, eu me sinto na obrigação de, como cidadão brasileiro, como político, como Senador que ainda tem mais de dois anos de mandato, em vez de desistir, mudar. Mudar de sigla para não mudar de partido - o partido da educação, o partido da transformação, o partido da democracia transparente, aberta, sem corrupção.

    Creio que o PDT deixou de oferecer a possibilidade de lutar pelas transformações, devido à sua imbricação com o Governo atual, sua imbricação com um Governo que - pior do que crise - está provocando uma decadência no rumo do Brasil para um progresso democrático, justo, eficiente.

    Diante disso, fiz a opção de ir para o PPS, uma outra sigla, um outro Partido, para continuar a minha marcha, carregando as minhas bandeiras, as bandeiras que continuo carregando desde quando adolescente - um pouco depois, aos 18 anos, aos 20 anos - junto com o próprio Roberto Freire, em Pernambuco, onde carregávamos a bandeira do socialismo e da democracia.

    A vinda para o PPS tem diversas razões. Uma delas, eu não posso negar, é esse lado emocional de uma amizade de mais de 50 anos, de um companheirismo permanente, apesar de nunca no mesmo Partido. Quando ele era do Partido Comunista, cuja história eu respeitava e respeito até hoje, eu era da esquerda católica, da Ação Popular. Mas essa relação pesa. Mas não é só isso. Amizade é para ter amigos; companheirismo de Partido é para ter a mesma bandeira.

    O que me atrai hoje é a possibilidade que o ex-Senador e atual Deputado Roberto Freire oferece de, juntos, inclusive com a possibilidade de um Congresso extraordinário no próximo ano, trabalharmos um projeto claro e alternativo para o Brasil e um projeto claro e alternativo para um Partido que sirva ao novo Brasil desse novo tempo.

    Como disse há pouco um jornalista de Brasília a mim, também do PPS, o mundo está mudando a cada minuto, e os partidos passam décadas sem se transformarem. É preciso que os partidos entendam que a maneira de fazer política hoje não pode ser mais parecida com a da Grécia junto com o rádio. É outra coisa. Nós temos de fazer política hoje on-line com a população, e não esperando cada quatro anos para ouvir o que o eleitor tem para dizer.

    Nós temos de fazer política hoje sabendo que as pessoas que carregam as nossas bandeiras não estão apenas no nosso partido; às vezes, estão em outro partido, e nós temos de conviver com elas. E às vezes, dentro do nosso partido, tem gente que não carrega a nossa bandeira. É uma realidade que surgiu. E não adianta cair no sectarismo de dizer "só conversamos com aqueles que estão ao nosso lado", nem no sectarismo de dizer "vamos chutar quem está junto a nós, mas não pensa exatamente igual à gente".

    Os partidos têm de mudar para entender a realidade deste momento de certo caos ideológico, do ponto de vista das siglas, mas onde, Senador Lasier, ainda existe, como dizia um pernambucano chamado Fernando Lyra, o lado de lá e o lado de cá.

    Não o lado de cá ser o meu partido, e o lado de lá ser o partido do outro. É o lado da unidade de propósitos de um País diferente. Um País, por exemplo, onde a gente saiba que, ao nascer, cada uma das crianças vai ter direito de acesso à escola com a mesma qualidade desde a primeira infância; que não se vai definir o seu futuro pelo CPF do pai e da mãe ou pelo CEP da casa onde mora. Não! Vão ter a mesma chance. Ou seja, um País que não desperdice talento, porque cada criança fora da escola é um talento perdido para o País. A gente precisa de bandeira como essa, de partido que construa isso, de partido de bandeira.

    A gente precisa ter um País capaz de fazer um sistema de saúde que funcione bem. Mas funcionar bem - e recentemente um artigo da Senadora Marta tocava nisso -, saúde funcionar bem não é ter bons hospitais apenas; é ser tão boa a saúde que não é preciso ter muitos hospitais. Senador Lasier, hoje vi na televisão os hospitais superlotados, e o locutor dizia: "A doença..." Toda aquela doença não precisaria de hospital se a gente tivesse combatido os mosquitos na data certa. Os hospitais vêm para corrigir a ineficiência com que nós trabalhamos um projeto de saúde no Brasil. Saúde na sua visão total, não específica de cada coisa.

    Nós precisamos de um País onde a democracia seja verdadeira, e não apenas uma democracia na aparência. A democracia verdadeira é aquela em que isto aqui funciona bem, e funciona bem convivendo com a opinião pública, com a pessoa, mas funciona bem sem cair nas tentações da opinião pública, que é prisioneira do presente, sendo capaz de elaborar os desejos da população para hoje com o futuro que nós temos que construir. A democracia da transparência, da honestidade. Com liberdade de imprensa plena, o que a nossa hoje não tem, porque, hoje, nós temos uma liberdade, Senador Maranhão, de escrever tudo nos jornais, mas 13 milhões não sabem ler. Então, não há uma liberdade de imprensa plena. E 40 milhões são capazes de ler, mas não vão entender. Então, não há uma liberdade plena.

    É esse Brasil novo que a gente tem que formular, com um partido capaz de entender não apenas esse País que a gente quer, novo, mas também como ser partido, Senador Cássio, no mundo de hoje.

    Nós estamos querendo ter partidos no mundo do século XIX, quando estamos no século XXI!

    O PPS está me permitindo sonhar que é possível haver uma agremiação política capaz de pensar um Brasil novo através de um partido novo, sem necessidade de ser um partido criado agora - um partido que tem uma história de quase cem anos, porque não devemos repudiar o que foi o Partido Comunista. Naquele momento, ele encarnava o que os alemães chamam de espírito do futuro, o espírito do tempo. Viu-se que precisava mudar, e o PPS foi capaz de se transformar daquilo que servia antes a um projeto e que deixou de servir porque a realidade mudou, e, quando a realidade muda, ou tudo muda ou fica para trás - perde-se o espírito do tempo. Mudou uma vez. Eu creio que está na hora de a gente, junto, começar a mudar outra vez. Esse é o desafio que o presidente do PPS e muitos dos companheiros estão querendo fazer. E eu não vou desistir!

    Eu vou continuar carregando a bandeira, mudando de sigla para não mudar de partido, no sentido de bandeira - as bandeiras que eu tenho carregado ao longo de tanto tempo e que eu senti que não estava mais podendo carregar, por essa imbricação da minha sigla, do meu Partido, com um governo que está levando à decadência o Brasil - ao contrário do que eu esperava ao carregar as bandeiras por mais de 50 anos.

    Estou aqui comunicando aos colegas essa decisão, e dizendo que vão continuar contando com o mesmo Senador. Não mudei nada do que penso, do que defendo; ao contrário, mudo para continuar defendendo tudo isso, e creio que vou estar num bom lugar para isso, com muita esperança. E espero que, com os 72 anos que eu já posso dizer que tenho, eu não precise tentar; mas não hesitarei em tentar, enquanto eu for capaz de não desistir e de não me acomodar. Dois verbos malditos para quem quer continuar vivo: desistir e acomodar-se.

    Quero ainda falar um pouco mais das bandeiras, mas antes eu queria passar a palavra às pessoas - os companheiros, as companheiras, os amigos, as amigas, os colegas - que estão pedindo a palavra.

    Pela ordem, a Senadora Ana Amélia antes, depois a Senadora Marta Suplicy, depois o Senador Lasier.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador Cristovam, eu quero primeiro agradecer a exortação aos moços que V. Exª está fazendo. Aos moços jovens que, sem perspectiva, descrentes, sem esperança, não têm assumido a coragem de fazer como o senhor faz agora, com a juventude dos 72 anos e disposto a continuar carregando a bandeira. A bandeira das suas ideias, do seu idealismo e do seu compromisso com o País. E eu lembro muito bem da sua campanha nacionalista, da sua campanha à Presidência da República, e falavam no candidato de uma nota só. O Brasil precisa de candidatos de uma nota só, Senador Cristovam Buarque, e talvez na educação esteja a raiz de todos os nossos males. E eu queria, então, agradecer-lhe por essa lição de otimismo que V. Exª mostra a todos nós. Aos 72 anos, V. Exª carrega uma bandeira, faz um comício virtual todos os dias pelas redes sociais, que, como poucos jovens, V. Exª usa de maneira extremamente eficiente. V. Exª é um dos mais assíduos nas redes sociais e faz política de maneira grande, responsável e muito ética. É isso que a sociedade brasileira aguarda de todos nós. E V. Exª expressa aqui muito bem esses compromissos e esses valores. Quero cumprimentar o PPS, do amigo Roberto Freire, que eu admiro há muitos anos. Conheço muito bem a coragem que teve de enfrentamentos muito relevantes para o País, por exemplo, quando foi a discussão da Lei da Biossegurança. E eu não me esqueço das batalhas enfrentadas pelo Partido, com a coragem de avançar na ciência, para evitar o obscurantismo científico do nosso País em relação, por exemplo, às células-troncos, à transgenia; e tudo isso foi enfrentado pelo Partido numa hora muito difícil, mas o Partido, com a liderança dele, foi em frente, porque acreditou nas suas ideias, e hoje se está revelando a eficácia e o acerto daquela atitude visionária. Então, V. Exª, com essa manifestação de hoje nos deixa - a mim, pelo menos - carregados de orgulho de conviver com um político do seu nível, da sua altura, da sua estatura, Senador Cristovam Buarque. Parabéns ao PPS, que ganha um grande homem público para seguir as bandeiras do seu ideário de compromisso com o Brasil.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senadora, e pode ficar certa de que o orgulho é mútuo.

    Senadora Marta, V. Exª honra-me com o seu aparte.

    A Srª Marta Suplicy (Bloco Maioria/PMDB - SP) - Bem, em primeiro lugar, quero parabenizar V. Exª, Senador Cristovam, pela sua trajetória, pelo seu empenho, como dizia a Senadora Ana Amélia, em relação à tal da bandeira única da educação, que não é a única, quem convive com V. Exª aqui no Senado, percebe suas inúmeras preocupações. Mas esse título de bandeira principal que V. Exª carrega é realmente um título honorífico, em um país em que a educação caminha a passos de tartaruga e tem em V. Exª um defensor intransigente. Eu queria dizer que não é fácil sair de um partido. Por isso digo que sua atitude é uma atitude corajosa, muito consciente, eu sei que pensada com muito cuidado. Mas há momentos em que existe um limite, em que nós não podemos mais permanecer. V. Exª expôs com muita clareza que limites o fizeram sair do partido a que pertencia. Realmente, o Brasil está esfarelando economicamente. Na atual situação, nós não vemos uma credibilidade atrelada ao Governo, que nos permita ter muitas esperanças. Nós vemos possibilidade de reformas, que são extremamente importantes, como a da Previdência, mas que são jogadas ao léu, como se fossem um teste, e não vêm atreladas a um projeto Brasil. Isto é o que mais me chamou a atenção também no discurso de V. Exª: o projeto Brasil de que nós necessitamos. É disso que se trata, quando pensamos que um partido não dá mais conta. O mais importante é que nós tenhamos um projeto com começo, meio e fim, crível, em que possamos ter esperança, que não vai apenas aumentar impostos, porque, agora, aumentar imposto é ir para o ralo, dentro da perspectiva deste Governo, mas um projeto que contemple um futuro para esta Nação, com sacrifícios que nós sabemos que vamos ter que fazer, não há nenhuma dúvida. Mas que façamos um sacrifício em que possamos acreditar, e não da forma como as coisas caem aqui no Congresso Nacional. Quero parabenizá-lo também pela escolha do partido. Acredito que não poderia ser mais feliz. O PPS é um partido de tradição, de glórias, um partido que fez a boa luta no Brasil, que se apresentou nas horas mais difíceis e que tem na sua liderança Roberto Freire, um líder que admiro profundamente. V. Exª contou também de sua amizade de jovens. Isso também ajuda, acho que é uma coisa que gera uma empatia, uma simpatia, bons propósitos, bons programas, boas ideias, quando comungamos, desde jovens, com os mesmos ideais. Os caminhos foram diferentes, cruzaram-se em algum momento, e agora se unem. Eu espero que se unam para o bem do Brasil, porque V. Exª pode contribuir muito, muito, muito para que nós recuperemos o rumo e um bom projeto para a nossa Nação. Parabéns.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senadora Marta.

    De fato, a palavra mais comum em relação a mim, nessa decisão, que a Senadora Ana Amélia e a senhora usaram, é coragem. Às vezes eu me pergunto: estou fazendo certo ou errado? Eu não sei, mas estou tendo coragem de fazer. Alguns dizem que é difícil ter coragem a partir de certa idade. Pode ser o contrário, não é? Pode ficar mais fácil. Você não tem mais do que se explicar, já fez tanta coisa, não vai ter tantas para fazer. Mas eu fico muito satisfeito quando dizem que é um gesto de coragem. Eu acho que em política a gente precisa disso.

    Mais uma coisa sobre o que a senhora falou: o PPS e o Presidente do PPS, Roberto Freire, estão sendo generosos ao dizerem: "Nós queremos mudar. Nós queremos nos atualizar. Venha ajudar nisso. Vamos convocar um congresso extraordinário para repensar de que Brasil a gente precisa".

    A situação é tão difícil, Senadora Vanessa, que a gente precisa usar a palavra "novo" duas vezes, precisa "renovar o novo" no Brasil que a gente sonhava. Porque o novo fica velho hoje de um dia para o outro. Então é preciso muita ousadia para renovar a novidade, tanto a novidade do Brasil que a gente sonhava, como também a novidade de um partido que foi comunista, não recusou, não rasgou, não fez nada dizendo que aquilo era errado, mas disse: "Agora é de outra coisa que a gente precisa". E isso algumas décadas atrás. E agora se dispõe a uma atualização outra vez, não com a mesma radicalidade, porque não é mais necessário nem mudar nome, nada disso.

    Quanto à outra coisa que as pessoas às vezes me perguntam: "Mas por que um partido socialista?", é porque eu, pessoalmente, acho uma palavra bonita. O que a gente tem é que atualizar o conceito de socialismo. Para mim, socialismo hoje não tem mais nada a ver com estatização. Tem a ver com publicização, servir ao público. E está cheio de coisa estatal neste País que não serve ao público, serve para enriquecer pessoas, para dar dinheiro para campanha. E para mim, eu encontrei um slogan para definir o que é socialismo hoje. Mas alguns podem dizer que isso não é socialismo, que isso é "redondo", que isso é "amarelo". Pode ter outra classificação. Para mim, socialismo é o filho do pobre estudar na mesma escola que o filho do rico. E que, pelo talento, pela persistência, pela vocação, cresça um mais do que o outro. Essa desigualdade que vem do talento é positiva. Foi um erro do velho socialismo querer a igualdade plena. Não há que haver igualdade plena. Tem que ter igualdade pelo menos em duas coisas, plenamente: saúde e educação. Ninguém morrer antes do tempo porque não tem dinheiro, ninguém não usar o seu talento pleno por falta de dinheiro. O mais é o talento, é a persistência e a vocação que vão permitir você se diferenciar das pessoas.

    Então, socialismo eu continuo achando uma bela palavra. Coragem eu recebo com muita satisfação.

    E passo a palavra ao Senador Lasier.

    Quero dizer aqui, Senador Lasier, que das coisas que me incomodam mudar é perder a sua convivência partidária, mas entendo perfeitamente suas razões para continuar no PDT. Vou sentir falta do ponto de vista partidário, mas tenho certeza de que aqui é capaz de ficar até mais próxima a nossa relação de amizade.

    O Sr. Ronaldo Caiado (Bloco Oposição/DEM - GO) - V. Exª me concede um aparte logo a seguir, por favor.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Com o maior prazer, Senador.

    O Sr. Ronaldo Caiado (Bloco Oposição/DEM - GO) - Obrigado.

    O Sr. Lasier Martins (Bloco Apoio Governo/PDT - RS) - Senador Cristovam, é evidente que para trabalhistas como eu hoje é um dia triste. Afinal, estamos perdendo a nossa estrela maior do PDT, o seu prestígio, o seu conceito limpo, a sua cultura, a sua experiência gerencial de quem foi reitor, de quem foi Governador do Distrito Federal, de quem tem sido um dos Senadores mais destacados e admirados desta Casa. Sorte para o PPS e sorte para o nosso amigo Roberto Freire, que estão levando um extraordinário quadro político para suas hostes. Ainda mais quando ouvimos V. Exª dizer que muda de sigla, mas não muda de bandeira. E aí o nosso inconformismo se agrava: mas por que essas bandeiras não podem ser desempenhadas, levadas adiante dentro do PDT? E aí a causa de todas, a principal causa de todas. Nós temos acompanhado, Senador, o seu dilema há meses, desde o começo do ano passado, quando, aliás, fui muito bem recebido aqui por V. Exª e com quem aprendi muitas lições. Tanto quanto eu, tanto quanto o Senador Reguffe, tanto quanto o Senador Perrella, o senhor era pela saída do Governo, porque a trajetória do Governo Federal não condiz com a história, com o retrospecto do PDT e dos artífices do PDT: Getúlio; Alberto Pasqualini, o grande ideólogo; Jango; e Brizola. Nós não poderíamos continuar em um governo que se caracteriza pela maior recessão da história do Brasil nos últimos anos, com inflação, desemprego, rebaixamento internacional no conceito econômico, juros altos, impostos altos e corrupção, principalmente corrupção, sempre tão verberada pelo nosso grande líder Leonel Brizola, que jamais teve um ataque quanto à sua conduta, quanto à sua moral, um homem que viveu a vida inteira, 60 anos, na política, mantendo o nome limpo. Alberto Pasqualini, que preconizava o equilíbrio entre capital e trabalho, traçou as normas fundamentais do trabalhismo, que V. Exª tem seguido exemplarmente. Nós estamos perdendo um trabalhista que vai continuar trabalhista no outro partido, temos certeza disso, até pelas bandeiras que V. Exª está dizendo que vai pregar lá. E V. Exª deveria ter ficado aqui para pregar aqui. Mas eu sei das razões, Senador. Nós sabemos quantas reuniões fizemos tentando convencer V. Exª a não sair: "Vamos lutar! Vamos perseverar que a coisa vai mudar!". E quem não sabe fica sabendo hoje: o Sr. Senador Cristovam Buarque está saindo do PDT pelo absolutismo do Presidente do Partido, o mandão do Partido. Se ele não disse, eu digo. E é uma pena lavarmos roupa suja fora de casa. A mesma razão do Reguffe, que não está aqui, mas, se estivesse, estaria dizendo a mesma coisa; ou do Perrella, que também quer a saída do Governo há muito tempo, com essa derrocada que está vivendo. E também porque o próprio Presidente do Partido, Carlos Lupi, escrevia aqui, Sr. Senador, Srs. Senadores, no dia 21 de julho de 2005, o que Brizola pensava sobre Lula, que vivia o episódio de Waldomiro Diniz, do mensalão. Naquela época, Carlos Lupi criticava e cobrava. E o que acontece hoje no petrolão é infinita vezes pior do que acontecia lá. Então, por que o Presidente do PDT procede diferentemente? Qual é o proveito? Qual é a causa? É um mistério. Um homem que foi Ministro do Governo e foi demitido, um homem que vive hoje do mandonismo, porque não instala diretórios estaduais do PDT em treze Estados. Treze Estados do Brasil vivem hoje com comissões provisórias para que o Presidente do partido posso mandar e desmandar e fazer o que bem entende. Então, senhores, quando nós estamos perdendo a estrela maior do Partido, isso precisa ser conhecido. Mas nós não seguiremos o mesmo caminho. Nós vamos ter um pouco mais de paciência, porque não é possível que esse presidente absolutista persevere na conduta nefasta, desagregadora do nosso grande PDT, o maior partido no Rio Grande do Sul. E esta é uma das razões por que eu não saio do Partido: eu não posso trair o voto, a fidelidade do Estado mais trabalhista do Brasil e porque eu ainda acredito numa reversão. Senador Cristovam, estaremos torcendo por sua conduta, por suas propostas, por sua experiência em outro partido, porque o senhor certamente vai fazer bem ao Brasil lá, o que não pôde fazer aqui. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu que agradeço, Senador. Realmente, como o senhor disse, eu não falei, mas assino embaixo de suas palavras em relação às razões. Muito obrigado.

    Eu quero dizer ao senhor que a gente não deve ter o direito de mudar de bandeiras, mas tem o direito e a obrigação de escolher o terreno por onde carrega as bandeiras. E hoje as bandeiras que eu quero carregar, o terreno onde está caminhando o PDT não permite. É muito difícil.

    O Sr. José Serra (Bloco Oposição/PSDB - SP) - V. Exª me permite, Senador Cristovam?

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Sim, com muito prazer.

    O senhor ainda acredita e tem que continuar enquanto puder. E tem minha solidariedade em continuar. Mas, para mim, isso se esgotou. É um terreno lamacento. E eu não uso lamacento aqui nem mesmo no sentido de corrupção, mas no sentido da infidelidade aos compromissos do passado, aos valores políticos que tinha. Então, o terreno não permite carregar a bandeira. Eu carregarei em outro terreno.

    Um ponto só mais. Eu disse que vou sentir falta da convivência. Outra coisa de que vou sentir falta na convivência no PDT é com a juventude pedetista. Realmente eu vou sentir falta. É uma juventude combativa, agradável, batalhadora. Mas isso a gente continua, até porque no futuro, quem sabe, não vamos nos encontrar, porque eles também têm bandeiras e, de repente, vão perceber que ou tem que mudar o terreno ou terão a competência de pavimentar o terreno que eu não consegui pavimentar.

    Eu passo a palavra ao Senador Caiado, que está de pé.

    O Sr. Ronaldo Caiado (Bloco Oposição/DEM - GO) - Obrigado, Sr. Presidente. Nobre Senador Cristovam...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Depois, o Senador Cássio, a Senadora Vanessa e o Senador Alvaro, antes do Senador Serra.

    O Sr. Ronaldo Caiado (Bloco Oposição/DEM - GO) - Senador, como há vários colegas que querem apartear V. Exª neste momento importante da sua vida política, eu quero dizer que, ao chegar ao Senado, V. Exª é uma das pessoas que sempre admirei, porque sempre teve a coerência e a coragem de levar uma bandeira que, hoje, parte da população entende e sobre a qual alguns governantes já se sensibilizaram, graças a essa atuação de V. Exª, durante toda a sua trajetória de vida e de seus mandatos políticos. V. Exª traz hoje a representação ao PPS, um Partido que tem de nós todo o respeito pelos quadros que representa não só na oposição no Congresso Nacional, mas em vários Estados, aqui com a presença do seu Presidente, o Deputado Roberto Freire, com o Líder da Bancada, o aguerrido Líder, Rubens Bueno, que sempre soube comandar a sua Bancada e sempre soube fazer uma oposição de alto nível de conteúdo e de preparo. V. Exª estará assumindo o comando de um Partido, e todos sabemos que, sem dúvida alguma, terão como representante no Senado Federal um Parlamentar respeitado por todos nós, independente de sigla partidária. Na área da educação, todos nós reverenciamos não só o conhecimento, mas as propostas que V. Exª apresenta nesta Casa; projetos dos quais eu sou um entusiasta, como sendo a União responsável por arcar com o pagamento para que possamos dar um tratamento diferenciado e qualificado aos professores do Brasil, um nível de educação capaz de levar o Brasil a ter melhores perspectivas, saindo dessa crise que enfrenta na data de hoje. Parabenizo a iniciativa de V. Exª. É logico, Senador Cristovam, que todos nós gostaríamos de ter a filiação de V. Exª. Quer dizer que, amanhã, se o Democratas tiver também uma filiação de um Senador do quilate e também das bandeiras que V. Exª defende, isso enobrecerá e enriquecerá todo o Partido. O PPS está de parabéns. V. Exª tem uma trajetória e não precisa explicar o porquê da mudança. Todos nós sabemos que V. Exª tem uma coerência, que é a coerência da educação, da defesa da qualificação do ensino no Brasil. Meus parabéns, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Caiado.

    Eu quero dizer que também tenho uma admiração pela maneira como o senhor se comporta nesta Casa, pela maneira como faz o seu dever de casa, chegando aqui mais preparado do que muitos de nós. É um prazer tê-lo como meu colega aqui.

    Senador Cássio, por favor, que ficou de pé

    O Sr. Cássio Cunha Lima (Bloco Oposição/PSDB - PB) - E poderia, Cristovam - permita-me tratá-lo assim pela nossa relação fraterna -, simbolicamente ficar de joelhos, não como um gesto de vassalagem e nem de submissão, mas como uma atitude de deferência e reconhecimento a uma trajetória que merece o aplauso do povo brasileiro, sobretudo do povo de Brasília, tão bem representado por V. Exª neste Senado da República, por todas as qualidades que foram aqui já elencadas. Fez-se um rosário de elogios que são todos merecidos e com os quais eu concordo. Mas eu queria trazer uma contribuição nova a essa análise que fazemos hoje do comunicado que V. Exª faz de mudança de partido, que não é algo fácil nem tampouco banal, simplório de ser realizado, pelo menos para alguns - uns chegam em partidos com uma rapidez de quem troca uma camisa -, e a movimentação que V. Exª faz é em decorrência de toda uma postura de coerência e, sobretudo, de análise lúcida da complexa conjuntura que o Brasil vive hoje. Talvez tenha sido esta a contribuição mais valiosa que V. Exª tem trazido, além de tantas outras, claro. Apenas destaco esta, nessa leitura que não é fácil, que tem sido extremamente complexa: para onde o País caminha ou para onde devemos evitar que o Brasil ande? E quais são as alternativas, as propostas e as contribuições que podemos dar para o futuro do nosso País? Ganha indiscutivelmente o PPS - e aqui saúdo o PPS na pessoa do Deputado Roberto Freire e de vários outros Deputados e Deputadas que aqui prestigiam com sua presença. Apenas nomeio e cito especificamente o Deputado Roberto como o Presidente da legenda, mas o cumprimento é extensivo a todos que formam esse Partido, que tem uma contribuição importantíssima a dar na democracia brasileira, sobretudo nesta quadra difícil em que o Brasil vive. Que V. Exª possa ter o mesmo sucesso, o mesmo êxito que alcançou no PDT, Partido que agora perde a sua filiação, e perde muito ao não tê-lo mais em seus quadros; e que essa mente brilhante, que essa inteligência privilegiada que V. Exª tem possa continuar a serviço dos brasileiros, sobretudo a reflexão madura, sensata, serena, astuta e qualificada para que nós juntos possamos formar essa oposição que o Brasil precisa, necessita, com a coesão que o momento exige, para apontar os rumos de mudança e de transformação tão necessárias para o nosso País. Que Deus proteja a sua caminhada, e que possamos louvar a sua trajetória até aqui!

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador.

    Eu quero dizer que, de fato, é duro sair de um partido. Eu não vou negar. Rompe uma relação. Passa a sensação de um erro, um fracasso cometido antes. Mas pelo menos, no meu caso, eu não passo a impressão de oportunismo, porque eu vou para a oposição. Saí do PT quando o Lula era o maior líder operário, popular - alguns diziam do mundo. O PT era o maior Partido - ainda continua grande. Não havia desemprego, o dólar era barato, não havia nada concreto ainda de corrupção... Saí por causa da falta de vigor transformador, não da falta de vergonha, que possa ter ocorrido depois... Tudo estava fácil para estar dentro, e eu fui para a oposição. E agora, outra vez, o PDT, que era oposição, ficou Governo, eu saio não para me aproximar do poder. Então, é duro, mas não é essa ideia de que mudou para ficar perto de onde está o poder. Não. Eu mudei para tentar conquistar o poder, sim, porque o partido é para isso, para cumprir compromissos que assumimos com a opinião pública, com a população e, sobretudo, com um futuro melhor para o Brasil.

    Senadora Vanessa. Não precisava nem se levantar, ouviu?

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Senador Cristovam, primeiro eu quero dizer que esse meu ato de pedir um aparte ao pronunciamento de V. Exª é um ato muito humilde, para homenagear a figura do Senador Cristovam Buarque. V. Exª sabe o respeito que não apenas eu nutro pela sua postura, pela sua história passada e pela presente, mas que todos os nossos colegas, Senadores e Senadoras, têm por V. Exª. Eu imagino que não deva ser fácil para qualquer um mudar de partido, principalmente para pessoas como V. Exª, que sempre teve uma atuação muito firme na política. Como acabou de dizer, saiu do PT, foi para o PDT e agora muda de partido. Senador Cristovam, independentemente do lado em que V. Exª esteja - V. Exª acaba de dizer: é oposição ao Governo que o meu Partido, o PC do B, apoia, lutando para que haja mais mudanças, e mudanças no sentido de dar um caráter progressista e de justiça social ao nosso País -, no que diz respeito a essas lutas, nós temos sido parceiros aqui no plenário, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É verdade.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - V. Exª é um nacionalista, que defende os direitos da população. E eu tenho aprendido com V. Exª, a cada dia aqui nesta Casa, que a educação vem antes de qualquer outra coisa, porque a educação constrói um país, constrói uma nação. Pessoas educadas são capazes de construir o seu presente e de construir o seu futuro. Então, Senador, quero lhe desejar muito boa sorte nesse caminho. V. Exª, sim, é daqueles Parlamentares, daqueles políticos, que a gente fala com muito orgulho. Esse deve ser o espelho para a juventude brasileira, essa, sim, é a realização, o exercício da boa política. Senador Cristovam, sou uma pessoa muito privilegiada de poder conviver com V. Exª - e olha que V. Exª sabe que não concordamos com tudo, mas, nas bandeiras estruturantes do País, estamos juntos. Então, muito boa sorte. Quero desejar, não só de minha parte, mas do meu Partido, o Partido Comunista do Brasil, muito sucesso e que V. Exª continue defendendo a bandeira da democracia, a bandeira da educação, a bandeira da justiça social, Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigada, Senadora. A senhora me toca bastante e me provoca emoção com suas palavras. Gostaria de ter aqui também o Senador Inácio Arruda, podendo falar para mim - e creio que falaria parecido, pela relação que criamos aqui.

    Muito obrigado.

    Passo a palavra, agora, ao Senador José Serra e, em seguida, ao Senador Aécio Neves.

    O Sr. José Serra (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Senador Cristovam, vou me permitiu lembrar um episódio já um tanto esquecido, mas, que reflete, de maneira significativa, a relação que tenho com V. Exª. Em 1998, estava no Ministério da Saúde e deixei meu gabinete, mais de uma vez, para ir a um comício apoiar a candidatura de V. Exª para Governador - eu e o Ministro Paulo Renato, da Educação.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - E Pedro Malan.

    O Sr. José Serra (Bloco Oposição/PSDB - SP) - E até Malan -, enfrentando uma certa resistência de segmentos do meu Partido aqui em Brasília, mas convencido de que estava fazendo o certo, que era dar um impulso à candidatura de V. Exª e à possibilidade que viesse a governar Brasília e se somar às forças de transformação que nós, naquele momento, procurávamos vitalizar em nosso País. Acompanho a vida pública de V. Exª desde a época da transição do governo Sarney, da transição democrática do regime autoritário para a democracia, na época de Tancredo Neves. V. Exª talvez não lembre, mas quem nos apresentou foi o então Deputado e articulador da candidatura de Tancredo, Fernando Lira, e V. Exª, em seguida, ocupou a reitoria da Universidade de Brasília. Desde aquela época, o tenho presente como referência. Quero dizer que essa admiração, tenho verificado, se estende a muitos setores, muitas camadas da população brasileira - como tenho observado agora no Senado - e com diferentes públicos. Toda vez que se menciona o nome de V. Exª ou alguém procura citar alguma referência positiva no Senado, aparece o seu nome, em diferentes segmentos. V. Exª ficaria surpreso até de ver essa diversidade, que, aliás, presenciávamos neste plenário quando das intervenções em homenagem a V. Exª, que vêm desde o Caiado até a Senadora Vanessa, o que mostra bem a capacidade que V. Exª tem de mobilizar setores diferentes da política e da nossa população. Quero dizer que este meu desejo de boa sorte é um desejo de boa sorte para V. Exª e para o Brasil, porque considero que estamos juntos nesta luta. E V. Exª, no PPS, certamente encontrará mais condições para constituir e solidificar esta frente de reconstrução nacional que temos de fundar e organizar em nosso País. O Brasil está enfrentando uma situação de crise como se tivesse entrado numa guerra e a perdido. Em matéria de retrocesso econômico, é o maior da nossa história; em matéria de degradação moral das instituições, é a maior da nossa história; em matéria de crise social, não tivemos nada parecido até agora. Reconstruir o Brasil vai ser uma tarefa difícil, que passa não apenas pela identificação de quais são as questões, mas também da mobilização no sentido de enfrentá-las. Quero, realmente, fazer esse chamado a V. Exª e ao nosso queridíssimo amigo Roberto Freire - agora terei os dois no mesmo Partido para poder dialogar. Temos de trabalhar nessa direção com muita intensidade, muito empenho, porque estamos arriscados a comprometer, transformar o futuro em uma vítima de um presente de irresponsabilidade. Todos nós temos a responsabilidade de impedir que isso aconteça. Tenho certeza de que o País e este Senado vão contar com a contribuição decisiva de V. Exª, inclusive numa área - e não estou aqui fazendo nenhuma referência especificamente setorial - a que V. Exª tem dedicado boa parte do seu empenho - não é exclusivamente, V. Exª não é apenas o Senador da educação, é um Senador do País, das diferentes questões que o País enfrenta, mas da educação também. Eu considero que o setor que está em situação pior no Brasil hoje é a educação. Fala-se da saúde, eu mesmo tenho dito - de fato, o estrago feito nos últimos anos na saúde foi muito grande -, mas, quando analiso, percebo que é mais fácil pensar na recuperação da saúde do que da educação, dados os problemas estruturais que o setor educacional tem tido no Brasil. É o maior nó que nós temos e é o que mais tem a ver com o nosso futuro, que preocupa tanto a V. Exª. Portanto, essa conclamação para essa frente de reconstrução é porque V. Exª participa do conjunto da luta e porque, no que se refere à educação, é um dos líderes, senão o maior aqui, neste Congresso, visando a essa reconstrução e ao enfrentamento dessa crise, que compromete o nosso futuro. Queria lhe dar aqui o meu abraço pessoal, de amizade, de admiração e minha alegria de poder conviver com V. Exª aqui, no cotidiano do nosso trabalho. Meu grande abraço.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador, muito obrigado.

    O senhor lembrou que me conheceu em 98, mas eu lhe conheci em 64, porque o senhor era o Presidente da UNE, e eu, lá em Recife, junto com o Roberto Freire acompanhávamos o seu trabalho.

    O Sr. José Serra (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Aliás, foi quando eu aprendi a trabalhar com o Partido Comunista na época e o PPS de hoje, mas eu não o conheci na candidatura ao Governo de Brasília, eu o conheci na época do Tancredo.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Então, em 85.

    O Sr. José Serra (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Em 85.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Em 98, fizemos campanha.

    Eu queria dizer que...

    O Sr. José Serra (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Aliás, queria dizer a V. Exª que sou o único orador do comício de 13 de março vivo. Não quero criar nenhuma ansiedade. (Risos.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu não sei se por longevidade ou por juventude na época, porque tinha 21 anos.

    Eu quero dizer que, recentemente, lendo um livrinho de Darcy Ribeiro, ele cita uma frase que fiz quando ele recebeu o Honoris Causa da UnB, em que eu disse no meu discurso: "Quando crescer, quero ser Darcy Ribeiro". Eu digo aqui, se eu pudesse ser jovem outra vez, eu queria ser o Serra de 1964, na aventura que o senhor viveu e que o senhor transcreve tão bem neste maravilhoso livro que é Cinquenta Anos Esta Noite. Aquele livro, voltando ao que disse a Senadora Ana Amélia, é um manifesto para a juventude perceber que política se faz com princípios e com aventura. É um livro de aventura, carregado de princípios e de luta, para realizar aqueles princípios.

    Eu fico muito orgulhoso de que estejamos juntos aqui, pela admiração tão antiga. Apesar da mesma idade naquela época, o senhor parecia ter 30 ou 40 a mais do que eu, porque já convivia com João Goulart, com Juscelino, com Arraes, com Brizola, apesar dos 21 anos - e isso, lembrando, saindo de uma banca que vendia frutas num mercado em São Paulo, de seu pai, um pobre italiano, que fez o senhor não apenas Senador, não apenas Governador de São Paulo, Prefeito de São Paulo, Professor em Princeton e em tantos lugares, mas a grande figura que é.

    E quero agradecer aqui, de público, quando o senhor foi, junto com Paulo Renato, meu amigo saudoso, e com meu amigo, também, até hoje, Pedro Malan, fazer campanha para mim, apesar de que o PSDB apoiava o outro candidato.

    Muito obrigado.

    Eu passo a palavra agora ao Senador Alvaro Dias.

    O Sr. Alvaro Dias (Bloco Oposição/PV - PR) - Senador Cristovam, quero me somar aos colegas que enaltecem a sua figura neste momento de transição da vida política de V. Exª. Sei que a angústia decorrente dessa sensação de impotência em razão de a ferramenta política de que dispomos não atender às expectativas que temos para sermos úteis ao País é uma angústia que acompanha líderes éticos e competentes como V. Exª, sobretudo num momento como este, que vivemos no Brasil, de verdadeira tragédia política, em que há uma indignação que provoca, certamente, no povo brasileiro a ansiedade pela rebeldia. A inquietude de V. Exª, essa manifestação de inconformismo é fundamental nesta hora, Senador Cristovam, porque nós sabemos que os conformados não promovem mudanças e não escrevem história. V. Exª, ao revelar o seu inconformismo e ao mudar, para buscar uma ferramenta política que permita ser mais útil ao País, dá uma demonstração de vitalidade própria da juventude. V. Exª afirma - e recolho estas palavras como a essência do seu posicionamento - que muda de sigla para não mudar de lado. É essencial que V. Exª não mude de lado, e nós não poderíamos esperar de V. Exª outro comportamento, porque o lado de V. Exª é este: o da ética, da dignidade, da postura de respeito à sociedade e, sobretudo, do talento, do preparo e da competência, que faz de V. Exª uma liderança política admirada no Senado e no País. Os cumprimentos, portanto, a V. Exª, por essa busca, por essa tentativa de ser mais útil, num momento em que o País exige mudanças transcendentais na busca do seu futuro; e os cumprimentos ao PPS, pela conquista desse patrimônio invejável que é V. Exª na política brasileira.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Alvaro Dias (Bloco Oposição/PV - PR) - Os cumprimentos a Roberto Freire, o Presidente Nacional; a Rubens Bueno, o Líder na Câmara e o Líder do PPS no meu Estado. O PPS conquista um líder que honra qualquer partido e que honra a política brasileira, tão desgastada nos últimos tempos. Parabéns a V. Exª pela coragem da mudança.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador. Eu posso dizer o mesmo: o senhor também acaba de mudar, e isso demonstra coragem, sem dúvida alguma.

    Quero dizer que, de fato, para mim há duas palavras que só poderiam ser ditas em relação a quem já morreu, que são conformismo e acomodamento. Acho que nunca deveria ser correto dizer que uma pessoa viva está acomodada: só no caixão. E, pior ainda, conformada: só no caixão.

    Nós fazemos parte dos que não se conformam e dos que não se acomodam.

    Passo a palavra ao Senador Aécio.

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Senador Cristovam, este é um momento marcante para o Senado brasileiro. Eu ouvia, do meu gabinete, o início do pronunciamento de V. Exª, depois, aqui, os vários e qualificados apartes, das mais variadas forças políticas que têm assento nesta Casa, e a palavra que mais ouvi, que mais me chamou a atenção neste momento, até porque reproduzida já nos veículos de imprensa, que já dão notícia do pronunciamento de V. Exª, é a palavra saída - Senador Cristovam sai do partido no qual estava já há vários anos. Esta expressão, saída, nos leva sempre a um sentimento, nos induz a um sentimento de afastamento, de distanciamento, até de um certo alinhamento, mas, curiosamente, Senador Cristovam, aqui, a visão privilegiada que tenho do discurso de V. Exª no plenário do Senado Federal não é essa. A visão que me passa o conjunto das análises aqui feitas, das interpelações feitas a V. Exª é a de uma aproximação, é quase a de um aconchego, porque V. Exª, com essa opção que faz, aproxima-se, ou busca readquirir aquilo que é absolutamente essencial para homens públicos da estirpe, da dimensão de V. Exª, que é encontrar as condições para lutar pelos seus sonhos, na busca da sua utopia. Aqui já foi dito, não preciso eu me aprofundar no respeito que esta Casa tem pela trajetória de V. Exª, pelas contribuições inúmeras que vem dando à boa política no Distrito Federal e também no Brasil. O que V. Exª neste instante busca é o exercício pleno do seu mandato, que é, na verdade, a busca da consolidação das suas ideias. Permita-me aqui certa licença poética. Se nós tivéssemos que interpretar o homem público - falo na dimensão maior que essa expressão possa trazer, e V. Exª é um dos mais bem acabados representantes do homem público, na dimensão que interessa às sociedades evoluídas -, se os homens públicos fossem animais, deveriam ser uma ave, para que tivessem asas para, com absoluta liberdade, buscar alcançar os objetivos a que se propõem, quando abdicam de várias outras atividades ou possibilidades profissionais e mesmo pessoais para se dedicar à causa comum. Felizmente, Senador Cristovam, a política não é uma ciência exata. Portanto, a questão quantitativa, a não ser nos períodos da apuração eleitoral, não é a mais relevante. V. Exª traz agora, de corpo inteiro, às oposições um reforço, e talvez ainda V. Exª não tenha a dimensão exata do que ele significa neste momento, Senador Cristovam, da criminalização da política, da degradação da atividade pública, do distanciamento, principalmente, dos mais jovens. V. Exª se referia aqui, tenho certeza, com um sentimento ainda de aperto no coração, à saudade que terá da juventude - e sempre vigorosa juventude - pedetista. Eu próprio tive oportunidade de com ela conviver e faço aqui um parêntese até para dizer, na presença do meu querido amigo Roberto Freire e do Líder Rubens Bueno, ao lado do Senador Anastasia, que o início da minha caminhada em Minas teve exatamente o apoio do partido que hoje V. Exª deixa e do partido que, a partir de hoje, V. Exª passa a integrar. Então, a minha percepção é de que, com V. Exª, com a liberdade que passará a ter a partir de hoje, em um dos mais respeitados partidos brasileiros, o PPS, as oposições ganham, e ganham muito, porque, como disse o Senador Serra, poucas vezes - eu nenhuma vez anterior a essa -, viu-se uma crise de consequências tão graves para a vida cotidiana dos brasileiros como esta na qual o Governo do PT nos mergulhou: crise econômica, crise moral, mas, principalmente, uma crise social - essa, sem precedentes. Eu não concebo, não consigo enxergar um projeto que coloque fim a esse modelo que aí está, fracassado aos olhos da grande maioria da população brasileira, para iniciarmos um outro ciclo no Brasil. Sei que o PPS dele fará parte, ao lado do PSDB e de várias outras forças políticas que, tenho certeza, a cada dia se somarão a nós. E V. Exª, nesse agrupamento de homens de bem, certamente terá um papel absolutamente destacado para nos orientar e ajudar a construir não uma vitória, mas um novo caminho: um caminho que resgate a vida pública, um caminho onde os homens de bem, como dizia o velho Milton Campos - nosso conterrâneo, Governador Anastasia -, possam ter um palmo de chão limpo para dialogar, para conversar em busca da construção de um País diferente. Encerro dizendo, para que fique aqui registrado, que, neste momento, como eu dizia, de degradação da vida pública, de desconfiança cada vez maior da sociedade em relação aos seus representantes, V. Exª faz o caminho inverso àquele que se tornou a norma e o procedimento mais comum nesses tempos mais recentes - aqui não faço nenhum juízo de valor em relação às motivações de cada um, apenas uma análise realista do que vem acontecendo no Brasil. Aquilo a que nós assistimos, em grande escala, foi a migração de Parlamentares de oposição, ou mesmo independentes, para o seio do Governo, não por acreditarem nas propostas desse Governo - acredito que poucos acreditavam -, mas exatamente pelo conforto que o Governo ensejava a esses que buscavam ali as garantias ou as condições, legítimas, até, para continuarem a sua vida pública. E isto precisa ser ressaltado: V. Exª faz o caminho inverso. V. Exª sai de um partido da Base Governista para ingressar num dos mais bem estruturados e sólidos partidos da oposição brasileira. Tenho relações no partido de V. Exª, no PDT - partido até hoje de V. Exª -, que quero preservar para o futuro. Aqui mesmo está o Senador Lasier, ao meu lado; o Senador Zezé, entre outros. São Senadores que sempre, de alguma forma, encontraram conosco convergência na busca da construção de uma maneira diferente de fazer política. Fica aqui o meu respeito a esses que continuam no PDT, mas tenho absoluta certeza de que o mandato extremamente vigoroso e profícuo de V. Exª terá ainda uma dimensão muito maior, porque V. Exª subirá, a partir de hoje, a essa tribuna como um pássaro com asas e com liberdade para construir a utopia de V. Exª e que é de milhões de brasileiros. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Aécio, duas referências.

    Primeiro, agradecer o seu destaque a minha fala em relação à juventude pedetista, a minha manifestação de carinho, de saudade que terei.

    Segundo, sua participação aqui tem um simbolismo muito importante para mim, porque o senhor foi um exemplo de que, às vezes, para manter-se no mesmo lado, a gente tem que fazer gestos que parecem incoerentes, como eu votar no senhor e manifestar publicamente que votei no senhor no segundo turno, com a máxima coerência, ...

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Uma das páginas mais belas da minha biografia, estará lá registrado, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... com a máxima convicção, pelo seguinte: o senhor representava, eleito, uma lua de mel que todo Presidente novo traz para o País. A Presidente Dilma não representaria, como não representou, já chegou com um Governo cansado. Segundo, o senhor teria mais condições de enfrentar a crise econômica que eu aqui, como outros, tanto alertamos que aconteceria, durante meses e meses. O senhor chegava com legitimidade de não ser o culpado daquilo, a Presidente Dilma não tem isso.

    Então, eu votei e manifestei publicamente. E quanta gente não me criticou dizendo como poderia eu votar em um candidato do PSDB! E por que não? Afinal de contas, para mim continua até hoje, como símbolo de uma postura correta em direção ao futuro, o Fernando Henrique Cardoso, o José Serra que estava aqui. Então, não é pelas siglas que diferenciamos quem está ou não ao lado do que definimos como progresso e que a temos sempre que nos perguntar: “Será que não estamos errados ao definir progresso como isso?”

    Mas, ao votar no senhor, eu fiz um gesto, que a meu ver mostrava uma coerência, sem ficar nessas coisas menores que as pessoas tomam para dizer que são ou não de um lado. Então, eu fico feliz pela sua presença e em poder permitir que eu reafirme isso.

    Eu passo a palavra, agora, ao Senador Anastasia.

    O Sr. Antonio Anastasia (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Muito obrigado, eminente Senador Cristovam Buarque. Eu não poderia deixar, igualmente, de associar-me aos eminentes pares do Senado Federal neste momento tão relevante da vida política e pública de V. Exª. E, também, da minha parte, não só endossar, mas também aplaudir toda essa sua trajetória e essa sua decisão. Eu gostaria, tão somente, eminente senador Cristovam, de maneira muito singela, de reiterar aqui o que já foi dito, que é o seu tema fundamental da educação, mas mediante um olhar diferente. V. Exª tem na bandeira da educação, e corretamente, uma coluna vertebral da sua atuação já consagrada na vida pública, mas da educação no sentido mais amplo possível, e não só a instrução pública formal, necessária e que nós tanto nos empenhamos para aprimorar. V. Exª tem, no seu currículo, algo que eu invejo e, já lhe disse outras vezes, aplaudo de maneira significativa: quando governador do Distrito Federal, V. Exª deu uma prova cabal de humanidade e, possivelmente, a mais vigorosa prova de civilidade que nós temos no trânsito brasileiro. Pode parecer pequeno, mas no seu governo, Brasília tornou-se uma cidade a respeitar a faixa de pedestre. Somente Brasília, no Brasil, hoje, mantém essa regra, que é a mais singela de todas pelo mundo afora. E por que tivemos isso nesta Capital? Graças ao seu empenho pessoal, - eu, à época, morava em Brasília - o governador do Distrito Federal, pessoalmente, se empenhou, nesse gesto simbólico, para cuidar da vida de cada um dos cidadãos que habitam a nossa Capital, a Capital da esperança. Isso demonstra civilização, isso demonstra educação, isso demonstra a humanidade. Esses gestos podem parecer pequenos em uma essência, mas têm toda a grandeza da modificação da vida de milhares e de milhões de pessoas. Como aquele Juiz, do Rio Grande do Sul, conterrâneo do eminente Senador Lasier, que aqui está, que proibiu o fumo nas aeronaves. Um gesto, também, pequeno e singelo e que modificou completamente o panorama de algo que é uma postura e um comportamento civilizatório de que nós tanto precisamos. Portanto, eminente Senador Cristovam, entre tudo aquilo que já foi dito aqui, dos atributos, do reconhecimento, da capacidade, da inteligência, da trajetória, da hombridade, da honestidade, tudo aquilo que V. Exª tem no seu acervo, eu me permito, de maneira muito singela e modesta, acrescer esse exemplo concreto, trazer a lume algo que V. Exª realizou dentro de um grande programa do Distrito federal, mas que é algo que sensibiliza todos pela sua humanidade e pela prova de civilidade. A educação é isso, não é só instrução, mas é o nosso comportamento cidadão, em relação ao próximo. Parabéns, e tenho certeza que agora, no novo Partido, o PPS, V. Exª seguirá essa trajetória iluminada que tanto nos agrada, esse convívio que temos com V. Exª. Muito obrigado, Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu que agradeço, Senador Anastasia, pela sua sensibilidade, porque ali foi um gesto de professor no governo. Foi isso que a gente fez. Não foi um gesto de engenharia do trânsito, foi de educação no trânsito. Embora, a ideia inicial seja de um engenheiro, o Engenheiro Miura, que era o meu diretor do Detran.

    Mas eu queria fazer uma confidência. Um desses dias, conversando com uma pessoa, ela perguntou se eu me incomodava quando aqui - de vez em quando acontece -, em vez de me chamarem de Senador, me chamam de professor. Eu disse: eu sinto a maior satisfação. Agora, eu acho que deviam chamar também o Anastasia de professor, porque é isso o que ele faz, sobretudo, e o José Agripino assiste, lá na Comissão de Relações Exteriores, e que na hora de discutir alguns dos nossos temas, o senhor nos dá uma aula de história, muitas vezes.

    Muito obrigado, Senador Anastasia.

    Eu passo a palavra, agora, ao Senador Blairo Maggi.

    O Sr. Blairo Maggi (Bloco União e Força/PR - MT) - Senador Cristovam, é uma alegria cumprimentar V. Exª quando está deixando o PDT e ingressando no PPS. Eu gostaria, muito brevemente, de dizer que todos aqui conhecem o Senador Cristovam como o homem da educação, que debate muito a educação. Mas eu aprendi aqui, neste plenário, em muitas oportunidades, a conhecer o outro Senador Cristovam: o Senador Cristovam da economia. Bons e grandes debates nós fizemos aqui neste ano, no ano passado, sobre a economia brasileira, e o Senador Cristovam sempre foi um daqueles que, como vários, eu também aqui, sempre dissemos para onde essa economia estava indo, os problemas que ela poderia trazer. Infelizmente, Senador Cristovam, nós estávamos certos de que o País não estava indo por um bom caminho. E aliás, continua não indo por um bom caminho. Muitas coisas ainda vão piorar, para depois talvez, no futuro, voltar a melhorar. Então eu quero cumprimentar V. Exª pelo tempo em que militou no PDT e dar as boas-vindas. Que o senhor seja bem recebido no PPS pelo Presidente Roberto Freire, pelo Rubens Bueno, pelo nosso ex-Ministro Raul Jungmann. É um partido em que eu já militei. Por dois mandatos, fui governador, eleito no Estado do Mato Grosso, por esse partido. Conheço bem suas lideranças, conheço bem seu pensamento, conheço bem a forma aguerrida como Roberto Freire, Rubens Bueno, Jungmann e outros Parlamentares fazem política. Portanto, se V. Exª faz este movimento, um movimento de ida para a oposição, um movimento de ganhar voz mais ativa na oposição, V. Exª não poderia ter escolhido um partido melhor que esse, com essa opção de ir para o PPS, porque é um partido autêntico, um partido que aceita a discussão, mas que tem princípios rígidos, princípios fortes, e que não abre mão desses princípios. Portanto, eu conheço o partido para que V. Exª está indo, e será muito bem recebido, terá oportunidade de fazer as discussões. Não será fácil vencer a opinião daqueles que vivem nesse Partido e fazem esse Partido, mas eles aceitam e fazem a discussão. Portanto, V. Exª vai se dar muito bem nesse Partido e ganhará, como disse aqui outro colega, asas para voar muito alto na oposição. Parabéns! Felicidades! Contamos com V. Exª aqui para continuarmos fazendo os debates na economia e em outros temas que dizem respeito ao dia a dia no nosso Brasil. Parabéns, Senador Cristovam.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

    Eu quero dizer, aproveitando para falar também para o Senador Aécio, que a gente tem que fazer oposição com capacidade de diálogo. E isso tenho feito aqui sempre.

    Aqui, Senador Aécio, quando comentei por que do voto no senhor, eu esqueci um item: eu acho que o senhor teria aberto mais diálogo com o Brasil se fosse Presidente, até pela genética do velho Tancredo, com que cheguei a trabalhar, e também, Senador Anastasia, pela mineirice, que também ajuda. Eu creio que nós teríamos tido mais diálogo. E diálogo é fundamental para manter uma nação funcionando bem. Essa foi mais uma das razões pelas quais eu votei no senhor no segundo turno das últimas eleições.

    Senadora Simone.

    A Srª Simone Tebet (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Senador Cristovam, ouvindo atentamente os nossos colegas Senadores e olhando para a figura de V. Exª, uma pessoa que eu admirava mesmo antes de conhecer, cheguei a uma conclusão: pior que não ter o que dizer sobre uma pessoa é ter muito o que falar sobre ela, porque a gente não sabe como reverenciá-la à altura do que ela merece. É o caso do conflito que vivo neste momento. V. Exª sabe, particularmente, da minha admiração e do meu respeito. Já por diversas vezes tive oportunidade de conversar com V. Exª. Entendo e vejo em V. Exª todos os atributos e bons adjetivos que não um homem público, mas um homem tem que ter na vida: trabalhador, competente, sensível, experiente, honesto. Mas V. Exª tem algo, como homem público, que falta, infelizmente, para muitos de nós: credibilidade. Eu tenho certeza de que essa credibilidade V. Exª vai carregar para onde for, em que partido estiver. Lamento pelo PDT, que o perde, e parabenizo pelo PPS, porque V. Exª vai engrandecer as cores desse Partido, principalmente porque vai levar também os ideários partidários do PDT para o PPS: a luta pelos direitos trabalhistas, das famílias mais carentes, da justiça social e, nunca poderia deixar de dizer, da bandeira da educação. Eu quero aqui, se me permite, ratificar as palavras do Senador Anastasia. Na semana passada, por coincidência, minha filha que está estudando no ensino médio me disse assim - e não é comum dela; como todo jovem, não gosta muito de falar de política ou tem todas as críticas a respeito: "Mamãe, você é amiga do Senador Cristovam"? E eu disse assim: "quem me dera, minha filha. Mas sou colega e tenho uma admiração muito grande". E perguntei por quê. E ela disse assim: "porque eu gosto muito dele. Inclusive, essa semana, nós estávamos estudando sobre as leis que pegam no País. Falamos da Lei Cidade Limpa" - acho que é esse o nome que dá a uma lei que tirou os outdoors do Estado de São Paulo - "e falamos da lei do pedestre. A única cidade do País que obedece a faixa de pedestre é Brasília". E eu a provoquei: por que você acha que essa lei pegou? Necessária ela é, disse eu, como muitas leis no Brasil, que atendem ao interesse da população, que a população tem interesse. Da mesma forma, nós temos muitas leis nesse sentido. Ela, mais do que depressa, me respondeu: "porque teve, mamãe, campanha educativa para ensinar as pessoas antes de começar a multar". Ela me ensinou isso. Lembrei-me desse episódio pela fala do Senador Anastasia e quero a V. Exª: não se sinta um peregrino solitário nessa bandeira da educação. Ao seu lado, há companheiros e companheiras, Senadores e Senadoras quem entendem e veem na educação o único caminho para o desenvolvimento e para a justiça social neste País. E ao seu lado há milhares e milhões de jovens como a minha filha, que entendem que é através da educação que nós teremos um país digno, mais igualitário. Eu desejo a V. Exª toda a sorte dentro do PPS e eu encerro com uma fala de V. Exª que me marcou muito aqui, nesta tribuna, quando V. Exª disse que "as ruas estão falando, e nós não estamos sabendo o futuro do Brasil". Infelizmente, é isso que está acontecendo. E não é só no Governo. É também nesta Casa. Que nós possamos ter pautas realmente prioritárias no Senado, no plenário do Senado, para que possamos dar as respostas necessárias que a população quer e precisa. Parabéns pela luta. Parabéns pelo ideal. Parabéns pela fé na educação e na juventude deste País.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senadora. Eu quero pedir que diga uma coisa à sua filha. Diga, primeiro, que eu me considero seu amigo e diga que eu fui amigo do avô dela e que tínhamos até o mesmo alfaiate, por coincidência. Ele foi uma figura que honrou esta Casa, na Presidência inclusive, e que deixa até hoje saudade. Eu tenho certeza de que ele teria muito orgulho do seu trabalho aqui. Diga isso à sua filha.

    A Srª Simone Tebet (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Muito obrigada. Obrigada, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Moka.

    O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Senador Cristovam, bem, eu o considero meu amigo.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É verdade.

    O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Nós somos parceiros, não só como professores, mas parceiros aqui nas nossas lutas. Cumprimentava o grande Roberto Freire e lembrei a ele: eu, Presidente da Câmara; ele, uma das grandes Lideranças. Fui eleito vereador em 1982 na primeira eleição pós-regime de exceção, regime da ditadura. Depois trouxemos João Herrmann Neto. Enfim, conheço. E brinquei com ele: comecei a frequentar as aulas do chamado "Partidão" - eu estava indo até bem -, mas aí chegou àquele centralismo democrático e não deu para mim, Senador. Mas falo ao Rubens Bueno, às Lideranças e faço questão de dizer: particularmente tenho um respeito muito grande pelo PPS.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Waldemir Moka (Bloco Maioria/PMDB - MS) - Nunca fui militante, mas simpatizante quando, na minha vida estudantil, participei da UFMS, depois do Diretório Acadêmico de Medicina; participava de todas essas lutas. E sempre tivemos nessas lideranças uma referência muito grande e, em especial, de Roberto Freire, que particularmente admiro muito, além de Raul Jungmann e de todos outros. Então, acho que eles recebem nos seus quadros o que há de melhor no Senado, que é V. Exª, um homem com estatura de um político digno, muito sério, honrado e que todo o Senado respeita em função da sua postura, da sua seriedade. E mais do que isso, V. Exª ontem, com uma fala, fez com que um projeto que iria ser aprovado seja votado hoje para que duas emendas sejam inseridas. Respeito e credibilidade é o que V. Exª representa. Parabéns ao PPS, e eu me permito dizer isso em nome do grande e extraordinário homem público que é Roberto Freire. Seja feliz, é o que desejo. Tenho certeza de que o PPS mais do que nunca terá em seus quadros um valoroso militante, um homem que tem realmente uma biografia invejável neste País. Parabéns, meu grande amigo Cristovam Buarque!

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Moka, muito obrigado. Realmente a palavra "amigo" cabe muito bem entre nós. O senhor inspira simpatia.

    E eu quero dizer, Senador Moka, que, se o senhor saiu naquela época do PCB, afastou-se, por causa do centralismo democrático, está na hora de voltar, porque o centralismo democrático acabou. Apesar da força da Liderança do Roberto Freire, não há centralismo democrático.

    Eu passo a palavra agora ao Senador José Agripino, que é também uma das figuras por quem tenho muito respeito.

    O Sr. José Agripino (Bloco Oposição/DEM - RN) - Senador Cristovam, eu quero dizer a V. Exª que estou invejoso do meu colega Presidente Roberto Freire, porque conseguiu o que eu tanto gostaria: tê-lo companheiro de partido. Mas V. Exª vai estar muito bem abrigado, em um Partido de homens decentes. Aliás, o PDT é um Partido também de pessoas decentes, de boa formulação programática, que o abrigou. E aqui não vai nenhuma recriminação que eu poderia fazer ao PDT, mas, sim, uma louvação à postura política do PPS, que tem ideias - como o PDT as tem -, mas tem uma posição política. Eu acho que V. Exª, neste momento, deve estar feliz com o alvará de soltura que V. Exª consegue indo para um partido de oposição. Há quantos meses, há quanto tempo nós - V. Exª na tribuna, eu o aparteando; eu na tribuna, V. Exª me aparteando - falamos sobre assuntos contemporâneos, que não são apenas sobre educação? A Senadora Ana Amélia falou do candidato a Presidente que jocosamente era chamado "o candidato de uma nota só". Claro que a grande prioridade de sua vida pública é a educação, mas quantas vezes debatemos aqui os erros da economia, antecipando-nos àquilo que produziu a crise a que estamos assistindo e que levou V. Exª a, inquieto, adotar uma posição diferente. Nada contra a formulação programática do seu Partido PDT, mas tudo contra a posição política de alinhamento do PDT com um Governo que chegou ao fim. V. Exª, acima de tudo, deseja uma saída para o País e sabe que, com o atual Governo, não há saída; com a atual Presidente da República, não há saída. E todos aqueles que somarem pela manutenção da atual Presidente estão prolongando a crise e a dor do povo brasileiro. Daí - creio eu - a opção que V. Exª faz por um partido com quadros da qualidade de Roberto Freire, de Rubens Bueno, de Raul Jungmann - que se fazem presentes nesta sessão para ouvir a palavra de V. Exª -, a sua saída, vem em nome da busca de uma saída para o País, vem somar forças àqueles que entendem que o País governado pela atual Presidente da República não tem saída. E não adianta ficar onde se dá resguardo a um projeto que já chegou ao fim. V. Exª, portanto, toma a iniciativa corajosa de fazer uma reopção partidária. Eu, como Líder da oposição nesta Casa, aplaudo sua iniciativa. E agora vamos conviver sem amarras, sem amarras; agora V. Exª conseguiu o alvará de soltura. V. Exª agora é o homem certo, no partido certo, para o discurso certo de que o País precisa. Por isso, fiz questão de vir aqui dar a V. Exª as boas-vindas às hostes da oposição, das quais V. Exª nunca se apartou. Mas agora V. Exª se insere em um partido, ao lado do Presidente desta sessão, seu companheiro de partido, o eminente Senador José Medeiros, que desempenha e vem desempenhando um papel importante, no sentido de promover a salvação do nosso País. Seja muito bem-vindo, Senador Cristovam Buarque!

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador!

    De fato, até certo ponto era possível combinar a crítica com um partido no governo. Mas se chega a um ponto que não dá mais, o povo começa a não entender qual é o limite da crítica dentro do governo. E, aí, tem que ser um partido capaz de enfatizar mais do que a crítica, mas a necessidade de se opor com firmeza ao que está aí.

    A ideia do PPS, como Roberto Freire tem dito, é que a gente precisa trabalhar pelo Brasil, em oposição ao governo que está aí, no rumo ruim.

    Eu quero aqui aproveitar para convidar a juventude, os professores deste País: venham aceitar a própria generosidade do PPS, de um Congresso extraordinário, para repensar o Brasil e para onde devemos levá-lo, repensar como deve ser um partido para essa condução.

    Tragam a chave de fenda, porque o pneu está furado! Mas tragam o GPS, porque o rumo está equivocado. É mais do que mudar os pneus, Senador Ataídes, que é o ajuste; é preciso um GPS que nos diga que rumo tomar - e é essa a intenção que eu vejo dentro do PPS.

    Eu passo a palavra agora ao Senador Hélio José e depois ao Senador Aloísio, que, depois do Roberto Freire, que aqui está, é quem eu conheço há mais tempo nesta Casa.

    O Sr. Hélio José (Bloco Maioria/PMB - DF) - Senador Cristovam, fiz questão de ficar em pé aqui para falar com V. Exª. V. Exª é um ídolo aqui da nossa cidade, Brasília. Todo mundo o admira, gosta muito de V. Exª. V. Exª foi um governador que deixou saudade, com um rosário de realizações, como a Paz no Trânsito, que a Senadora aqui colocou; o Saúde em Casa; o Prove; a parceria popular com os carroceiros. V. Exª fez tanta coisa boa aqui nesta cidade que deixa todos os brasilienses bastante otimistas com essa atitude que V. Exª acaba de tomar. De repente, pode ser mais uma possibilidade na questão majoritária do País. Então, quero parabenizar V. Exª pelo trabalho extraordinário que realiza nesta Casa. V. Exª tem todo o nosso respeito e consideração - e acho que posso falar isso em nome do meu amigo Senador Reguffe, que está aqui do meu lado. Nós três aqui temos atuado em sintonia, em defesa dos trabalhadores, em defesa dos servidores públicos. E essa paixão de V. Exª pela educação, pelos professores é o que o torna cada vez maior. Grande! Nós só temos que admirá-lo e dizer que pode contar com a nossa solidariedade. Vamos sempre caminhar juntos. Lembro-me de quando V. Exª tinha 2% das pesquisas no PT, e fizemos aquela reuniãozinha, ao lado da CUT, com os eletricitários. Nós fomos à luta e conseguimos ganhar o governo aqui em Brasília. Depois V. Exª resolveu voltar para o PDT, fez um trabalho extraordinário, além de Senador aqui por duas vezes. Então, Brasília deve muito a V. Exª e o Brasil também. Esse caminho que V. Exª está tomando enche de esperança uma parcela significativa do povo que vê na educação uma saída, uma saída. E eu acredito que essa seja a solução, como V. Exª tanto defende. Tanto é que ontem V. Exª colocou aqui a necessidade de se excluir a questão do piso nacional dos professores. Apresentamos a emenda e hoje devemos discutir essa questão para aprofundá-la. Então, subscrevo todas as palavras que foram colocadas aqui pelos que me antecederam. Conte com a gente, Senador. A Bancada de Brasília está unida, em harmonia, para fazer o melhor para Brasília e para o Brasil. Obrigado, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu é que agradeço, Senador Hélio José.

    Quando lá atrás, há vinte e tantos anos, eu decidi dar um passo no sentido de ser militante do PT, ser candidato a governador, o senhor lutava junto...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... como engenheiro da nossa Companhia Energética de Brasília.

    Senador Aloysio e depois Senador Perrella, com muito prazer.

    E aí terminamos, porque eu creio que vamos precisar votar a emenda que protege o piso salarial dos professores.

    Senador Aloysio.

    O Sr. Aloysio Nunes Ferreira (Bloco Oposição/PSDB - SP) - Meu prezado amigo Senador Cristovam Buarque, eu quero, em primeiro lugar, cumprimentar o PPS, que recebe hoje alguém do porte político, intelectual, humano de V. Exª, reforçando aqui a Bancada que é tão bem representada pelo nosso colega José Medeiros. Realmente eu o conheço há 50 anos, assim como Roberto Freire, que eu conheci em 1965. E os tempos passaram, mas eu vejo que V. Exª é capaz de se reatualizar permanentemente. Eu acompanhei, como seu colega, seu admirador, seu companheiro em tantas comissões, o acúmulo de - digamos - uma sensação de mal-estar, de incomodidade por V. Exª pertencer a um partido da Base do Governo, sendo que progressivamente, à medida que o desastre se caracterizava. Mas, quantas vezes a sua voz na tribuna não alertou para as consequências para o rumo absolutamente equivocado que o Governo vinha tomando, já desde o primeiro mandato da Presidente Dilma Rousseff? V. Exª foi um dos primeiros Senadores a alertar para as consequências daquelas medidas populistas, demagógicas, irresponsáveis que estavam sendo tomadas com o fito apenas de ganhar as eleições. Acompanhei o tom crescente e, sobretudo, o divórcio, o dissenso irreparável ocorrido entre a sua visão política e aquilo que está sendo feito no Brasil hoje. Portanto, a sua permanência e presença no PDT, infelizmente, eram incompatíveis, sendo o PDT hoje um partido da Base do Governo, partido integrado por tantos amigos e pessoas que nós admiramos. Vem para o PPS com o propósito de, junto com o Roberto Freire, com seus companheiros que aqui vejo Deputados Federais, fazer, realizar um grande Congresso, um grande encontro que, seguramente, será um marco na realização de um projeto que, há muito tempo, frequenta os propósitos dos fundadores do PPS, que é ser um novo polo de articulação da esquerda democrática brasileira. E esse projeto é cada vez mais urgente, na medida em que um partido de "esquerda" - e aqui, como Lênin, eu uso a palavra "esquerda", entre aspas - acabou por levar o Brasil a uma situação de profunda crise econômica, social e política. Bem, parabéns, meu caro amigo Cristovam Buarque, por esse passo importante que V. Exª dá na sua carreira política e parabéns, sobretudo, aos meus amigos do PPS!

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador, muito obrigado, nós nos conhecemos há tanto tempo!

    De fato, tendo o Senador Medeiros como o único aqui do PPS, Senador Perrella, com a minha entrada, eu consigo dobrar, vou aumentar em 100%, Senador Roberto. Mas eu espero que, em breve, eu represente apenas um aumento de 30%, 20% para que outros Senadores também se juntem a nós. Eu ficarei muito feliz em não provocar um aumento tão grande de 100%.

    Eu passo a palavra agora ao Senador Perrella, com quem eu tenho tido muitos bons momentos no PDT.

    O Sr. Zeze Perrella (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Senador Cristovam, eu gostaria de dizer para o senhor do respeito que nós temos da sua decisão. Nós conversamos muito aqui sobre a situação do nosso Partido e há na verdade uma insatisfação geral dos Senadores do PDT com relação aos rumos do Partido. Entendemos a posição do senhor. O Partido se fechou integralmente, não aqui entre nós, Senadores, mas na sua grande maioria, com o projeto falido que aí está, um projeto em que nós não acreditamos há muito tempo. Acho que o senhor fez bem. Eu digo para V. Exª, que o meu caminho também talvez seja não ficar no PDT, por concordar com V. Exª, por entender o momento que o Brasil atravessa. Eu acho que nós não podemos pactuar com tudo isso que está acontecendo aqui ou dar o aval do nosso Partido para todas essas coisas ruins que estão acontecendo. Nós temos uma crise de corrupção que é a maior do mundo, ou a segunda maior do mundo, e parece que as pessoas não estão entendendo a gravidade disto. É como se não estivesse acontecendo nada. Eu nunca vi tanta corrupção no País e tanta baderna como está acontecendo neste Governo. Eu não culpo nem diretamente a Presidenta Dilma, porque ela, por si só, pode ter as suas boas intenções, mas, na verdade, ela virou refém desse projeto falido que levou o Brasil à falência. O mais importante é que ouvi a Presidenta dizer que o Partido que ocupou o poder antes dela quebrou o Brasil duas vezes. O Brasil já estava quebrado. Eu falo sempre com o Senador Aécio também, concordando com as palavras do Magno Malta. Para ele, ele tem que dar graças a Deus de não ter pego o País agora, porque ele ficaria quatro anos pagando contas, ia sair com fama de incompetente e essa turma voltaria, e voltaria forte. Nós respeitamos demais os programas sociais do Governo, mas eu acho que o Brasil, neste momento... Esses programas sociais, da maneira que foram feitos, para arrumar votos, quebraram o Brasil. Isso quebrou o Brasil! V. Exª sempre defendeu investir na educação. O senhor já percebeu que esse dinheiro que é investido no Bolsa Família... Não estou falando da necessidade de se receber. Nós não podemos virar um País de esmoleiros a troco de votos. Eu não concordei com essa política. Respeito os programas sociais. No Governo Fernando Henrique, havia esse programa parecido, só que a família era obrigada a ter um filho na escola, coisa que o senhor sempre defendeu. Eu quero dizer que respeitamos demais a decisão do senhor. O senhor só cresce aos nossos olhos. O senhor é um político respeitado, não só por nós, seus pares, mas respeitado no Brasil inteiro pela sua coerência e pela sua integridade moral. O senhor é realmente respeitado. Então, respeitamos também a sua decisão e acho que o caminho de todos nós do PDT, se não conseguirmos mudar, isso é sairmos também. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Perrella. Eu quase peço desculpas por não ficar dentro, lutando junto com vocês, mas chega um ponto em que cada um escolhe, em que diz: já não dá mais.

    Senador Ataídes.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Senador Cristovam, serei bem breve. V. Exª sabe do carinho, do respeito e da admiração que eu tenho por V. Exª. Eu peguei essa parte para dizer só uma frase, mas não tem como não parabenizar o Deputado Roberto Freire, Presidente desse grande Partido. Também parabenizo o Deputado Rubens Bueno, por quem eu tenho uma admiração especial. Posso dizer aos senhores que os senhores estão ganhando um belo patrimônio político, que causa inveja em muitos outros presidentes de partidos. Senador Cristovam Buarque, V. Exª tem uma bandeira aqui que muito me admira, que é a educação, mas o Senador Blairo foi muito feliz quando ele colocou que o senhor é muito mais do que um professor; tem se portado como um grande economista. Eu venho da contabilidade, do direito tributário. Eu não me esqueço de uma frase de V. Exª - não sei se eu vou falar ipsis opsis verbis - em que o senhor dizia que a economia vai bem, mas estava mal. Se eu estiver errado, corrija-me por favor. E hoje está aí: o Brasil está com uma dívida interna e externa bruta de R$3,927 trilhões de reais, e, só no ano de 2015, nós pagamos R$501 bilhões, tão somente com juros dessa dívida. Hoje nós temos o desemprego na casa, lamentavelmente, dos 21,35%, e não na casa dos 10%, ou seja, nós temos mais de 20 milhões de brasileiros hoje sem trabalho. Pois bem, Senador, esta é minha frase, que eu quero dizer: eu continuo ainda me sentindo um chegante na política, diante dos senhores, diante do senhor, de V. Exª, do meu querido e admirável Senador Aloysio Nunes e tantos outros. Só quero lhe dizer que V. Exª está deixando um legado a mim. O legado é o seguinte: é possível fazer política com ética, moral e honestidade. Vou carregar para sempre, Senador Cristovam Buarque, este legado: é possível fazer política com ética, com moral e com honestidade. Que Deus lhe conduza e continue lhe dando muita sabedoria e saúde nessa nova estrada.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Ataídes, quero dizer que fico feliz de vê-lo lembrar esse pequeno folheto que fiz, chamado "A economia está bem, mas não vai bem". É de 2013, e nele eu listava 15 obstáculos que iriam ameaçar a educação. Aconteceu, lamentavelmente, quase tudo aquilo.

    Passo a palavra, agora, ao Senador Benedito.

    O Sr. Benedito de Lira (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - AL) - Meu caro Senador Cristovam, ouvi aqui diversos companheiros cumprimentando-o pela decisão que V. Exª toma. Eu poderia ficar quieto, sem que também manifestasse a minha satisfação. Quando aqui cheguei - não nesta Casa, mas na Câmara dos Deputados -, V. Exª era Governador do Distrito Federal, Professor da Universidade, Ministro da Educação, e isso me chamava a atenção, por uma razão muito simples: à época da minha juventude, infância e adolescência, toda a minha trajetória foi na escola pública, e eu me sentia feliz com aquilo, orgulhoso, porque era bem diferente da escola pública de hoje. Com a sua presença no Ministério, reacenderam-se as luzes da esperança em mim, pela sua dedicação e pelo compromisso que V. Exª tem para com a educação. Ao chegar aqui, eu trouxe algumas referências para o Senado da Casa vizinha em que eu participava como Deputado, dentre elas, a figura de V. Exª. Sinto-me feliz hoje, mais do que ontem, por uma razão muito simples que vou revelar agora. Estou feliz pela sua filiação ao PPS, que conheço e com o qual convivo no meu Estado, com o meu querido companheiro Regis Cavalcante, que aqui se encontra, um aliado da minha luta em Alagoas. Aqui senti-me muito mais à vontade porque V. Exª, nobre Senador, ao se filiar ao PPS, estará, sem dúvida nenhuma, contando muito mais comigo porque tenho uma formação, tenho um sentimento muito grande por aqueles que desejam uma melhoria e qualidade de vida para o povo brasileiro. Esse Partido ao qual V. Exª se filiou é um aliado nosso em Alagoas. Vamos continuar aliados, porque esse jovem político do meu Estado tem o apoio, o respaldo desse grande timoneiro da atividade política nacional, que é o seu Presidente Nacional, Roberto Freire, por quem tenho respeito e admiração. Cumprimento-lhe e desejo-lhe muitas felicidades. Que Deus continue lhe dando a sabedoria que V. Exª tem para continuar nessa trajetória. Tenho certeza absoluta de que o Brasil, cada vez mais, precisará da sua presença nesta Casa pelo seu trabalho, pela sua eficiência, pela sua capacidade e, acima de tudo, pela sua coerência. Queira, portanto, Senador Cristovam, receber o meu carinho, o meu respeito. Agora sim eu posso falar duplamente, com o Senador colega e com um aliado, o que somos, não aqui em Brasília, porque não faço política aqui, somente em Alagoas, e sou aliado do seu Partido em Alagoas. Para onde o PPS for - eu já disse ao Regis -, estaremos juntos, e vice-versa. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador. Eu quero lembrá-lo de que, quando eu o conheci aqui, eu disse: nós temos tudo para ser amigos, porque o Senhor tem o nome da minha mãe, D. Benedita. Isso me traz uma lembrança interessante, Senadora Vânia, a quem passarei a palavra depois, que tem a ver um pouco com isso, Senador Tasso. Há sessenta anos, eu com dez anos, mandaram-me para casa porque o Presidente Getúlio Vargas tinha falecido. O professor não disse se tinha sido suicídio, eu não me lembro.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu cheguei em casa e minha mãe estava chorando, estava aos prantos, não porque era do PTB, mas porque era varguista. O meu pai, no dia seguinte, colocou na parede de onde almoçávamos a foto de Getúlio e a carta testamento. Vai ver foi ali que nasceu o político, embora ela dissesse que não queria que eu fosse político ou advogado jamais! Vai ver que foi ali que nasceu, quando eu vi minha mãe chorando, o que trouxe aquilo que eu acho ser o componente fundamental da esquerda, a compaixão pelos excluídos, pelos pobres, desejo de progresso, no sentido positivo, Senador Acir. O Senhor, com o seu nome, Benedito, traz-me essa lembrança, Senador. Muito obrigado.

    Senadora Lúcia Vânia.

    A Srª Lúcia Vânia (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - GO) - Senador Cristovam, quero parabenizá-lo pela escolha. V Exª escolheu um Partido que defende valores e princípios tão ardorosamente defendidos por V. Exª nesta Casa e na sua trajetória política. Portanto eu acredito que, dentro do PPS, V. Exª terá o espaço para ampliar essa voz quase que solitária em favor da educação no nosso País. V. Exª tem sido um Quixote em favor da educação e tenho certeza de que esse sonho que V. Exª carrega terá ressonância dentro desse novo Partido. Tenho certeza que esse Partido reserva para V. Exª um lugar de destaque e V. Exª haverá de mostrar ao Brasil que a sua bandeira é a bandeira do futuro, do presente, é a bandeira que o País precisa defender. Muito obrigada e felicidade nessa nova morada.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senadora Lúcia Vânia, eu agradeço muito e a senhora sabe do respeito pelo seu trabalho lá no Peti, quando a senhora criou no plano federal o primeiro programa realmente de luta contra o trabalho infantil.

    Há poucos dias esteve aqui o Prêmio Nobel da Paz, Kailash, que é um batalhador na luta contra o trabalho infantil e nós falamos do seu trabalho.

    Muito obrigado, Senadora Lúcia.

    Eu passo a palavra ao Senador Tasso Jereissati, que muito me honra, até porque eu sou cearense honorário.

    O Sr. Tasso Jereissati (Bloco Oposição/PSDB - CE) - Senador Cristovam, eu não estava no Plenário, mas ao ouvir o discurso de V. Exª, não tive a menor dúvida de que tinha a obrigação de estar aqui neste momento e fazer uma saudação muito especial a V. Exª. V. Exª hoje, dentro desta Casa, tem a consciência de que é uma referência. No momento em que existe uma perda de valores morais e éticos gigantesca e quase generalizada na política brasileira, nos políticos brasileiros, e principalmente na percepção que a população brasileira tem de nós políticos, V. Exª hoje é uma das poucas e grandes referências. No momento em que V. Exª deixa um Partido e muda para o outro, e deixa um Partido que vai mais do que nunca ao encontro do Governo e do Poder e passa para um Partido que tem uma tradição, uma história de dignidade, com a presidência do nosso querido Deputado Roberto Freire, V. Exª dá mais um exemplo do porquê V. Exª é uma referência. Temos visto, ao longo desses últimos anos, aqui e na Câmara dos Deputados, vários políticos mudarem de partido, mas sempre em busca do poder, noventa e tantos por cento em busca do poder, saindo de um partido de não poder em busca do poder, de uma determinada circunstância que lhe favoreça, que lhe dê mais poder. V. Exª dá um exemplo importantíssimo neste momento que nós vivemos: sai de um Partido que, mais do que nunca, está se misturando com o poder para vir para um Partido que tem história, tem dignidade, tem quadros, mas não tem poder e não tem nada a lhe oferecer a não ser a convivência com homens de qualidade e a sua consciência tranquila...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Tasso Jereissati (Bloco Oposição/PSDB - CE) - ... de que está, naquele momento, no lugar que a história lhe reserva para estar. Então, mais uma vez, eu me orgulho de ser, se me permite, seu amigo e de ter V. Exª como a referência que salva ainda muitos de nós dessa imagem tão poluída do político brasileiro. Sucesso e, mais uma vez, que Deus lhe proteja nessa sua vida.

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Senador Cristovam, permita-me apenas subverter aqui a ordem um instante - já tive a oportunidade de apartear V. Exª - para uma informação. Permita-me apenas abrir esse parêntese no importante discurso de V. Exª para trazer ao Plenário uma informação que acaba de ser divulgada pouquíssimos minutos atrás, menos de dez minutos atrás. A Standard & Poor's acaba de rebaixar a nota de crédito do Brasil mais uma vez, de BB para BB-. Na verdade, faz isso após avaliar que o processo de ajuste da economia brasileira não alcançará os objetivos expostos ou buscados pelo Governo. É mais uma nota triste em um contexto realmente de notícias extremamente negativas que o Brasil vem colhendo. Apenas para que essa informação seja também compartilhada pelos Srs. Senadores. Peço desculpa a V. Exª e peço que volte ao seu discurso.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador Aécio. O Senador Lindbergh quer falar sobre isso ou posso continuar?

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Não, não, eu quero fazer um aparte a V. Exª.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado. Então, está na ordem aqui.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Eu só achei que o Senador Aécio falou sobre esse rebaixamento com tanta... Parecia feliz com esse anúncio.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu quero comentar o Senador Tasso.

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - V. Exª mais uma vez me interpreta mal.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Tasso, eu agradeço quanto a me chamar de amigo, é uma honra para mim, realmente eu tenho um carinho muito especial pelo senhor.

    Quero dizer que o PPS tem a oferecer para mim a história, a vontade de se reciclar. Agora, não tem nenhuma obrigação comigo, não tem nenhum compromisso assumido comigo. Isso de que serei candidato a Presidente até pode vir a ser, não vou dizer que não, mas não existe esse compromisso nem da parte do PPS nem da minha parte de aceitar na hora certa. Eu me sinto absolutamente no direito de dizer não. Já fiz isso uma vez, não sei se vai valer a pena. Então, tem a oferecer, mas não tem nenhuma obrigação, nenhum compromisso, a não ser procurarmos um projeto para o nosso País, Senador Acir, e, ao mesmo tempo, construir um Partido atualizado que sirva a isso.

    Eu passo a palavra agora ao Senador Randolfe; depois, ao Senador Fagundes, Senador Acir, Senador Reguffe, Senador Lindbergh. E eu espero que a gente vote a nossa emenda.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Inscreva-me aí, Senador Cristovam.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Perfeitamente, Senador Cristovam. Emenda idealizada por V. Exª.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Os últimos serão os primeiros.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito bem. Está bom, Senador Garibaldi.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Querido - permita-me chamá-lo assim: querido - amigo, Senador Cristovam, nós vivemos tempos difíceis e tempos confusos. Cristovam, estar com você aqui no Senado hoje é motivo de muita honra e regozijo para mim, porque eu o conheço, sem conhecê-lo, há mais de 20 anos. Eu li, em 1991, sua obra quase profética que tinha como título A Revolução na Esquerda e a Invenção do Brasil, quando estava no movimento estudantil, Senador Lindbergh, quando era dirigente do Centro Acadêmico de História e V. Exª era reitor da Universidade de Brasília. Como nós poderíamos imaginar que essa sua obra de 1991 ia ser quase profética em relação aos acontecimentos que atingem a chamada esquerda, principalmente no período entre 2005 e 2015? Era quase profética, porque V. Exª já advertia, nessa obra de 1991, sobre a necessidade de a esquerda no Brasil ser reinventada com base em outros valores e tratar, por exemplo, da necessária e urgente questão da sustentabilidade, a questão do meio ambiente. Naquele momento da queda do Muro de Berlim, era quase algo deslocado do momento falar daquilo. Nos tempos atuais, em que a reinvenção de utopias é necessária mais do que nunca, um dos quadros com que nos deparamos é o do desencontro partidário em nosso País. Senador Cristovam, V. Exª em si é um partido, porque V. Exª em si tem um programa para o Brasil. Não descarte a possibilidade ainda de o PPS, agora seu novo abrigo, escolhê-lo como candidato à Presidência da República, porque a participação e a presença de V. Exª numa eleição presidencial é indispensável para que o País debata agendas que ainda não cumpriu, como sua obsessão pela educação. Então, permita-me o atrevimento de dizer que é inadequado V. Exª separar o seu nome da possibilidade de o PPS ter em V. Exª uma candidatura à Presidência da República, pela indispensabilidade que tem V. Exª para o Brasil. V. Exª se associa - óbvio que eu ficaria mais eufórico ainda se a associação de V. Exª, até pelas identidades programáticas, fosse com a Rede - a um Partido por que eu tenho o maior carinho, em especial aqui no Congresso Nacional, em que tenho dois queridos amigos: V. Exª, Senador Cristovam, e o Senador José Medeiros, que dirige esta sessão. Com a atuação de V. Exªs aqui neste plenário, sua e do Senador José Medeiros, eu tenho perfeita identidade. Com a atuação de V. Exª, mais do que identidade, nós temos aqui neste plenário inspiração, porque - e digo isso para concluir, Cristovam, permita-me também chamá-lo assim - V. Exª continua me inspirando, seja em 1991, quando eu era militante do movimento estudantil, dirigente do Centro Acadêmico de História, quando eu lia sua obra, seja hoje, com sua atuação aqui no Senado. Onde estiver, seja qual for o partido, tenha certeza de que estarei ombreado com V. Exª, porque sei que ombreado e liderado por V. Exª estaremos em bom termo, no termo dos interesses do Brasil.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Randolfe - chamemos assim. Eu fico muito feliz de ver aqui, juntinhos, Randolfe, Lindbergh e Reguffe, três meninos que viraram líderes ou três líderes desde quando eram meninos, que eu conheci jovens universitários. Fico muito feliz. No seu caso, Randolfe, nós desenvolvemos realmente uma grande amizade a partir de uma viagem que fizemos por um rio da Amazônia, lutando contra o tráfico de sangue, lutando contra aquela ação denunciada de que estaria havendo uso de sangue de nossos caboclos e índios para pesquisas sem autorização deles, aquela viagem que fizemos.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Exatamente. Mais precisamente, em 2007, sobre as águas do Rio Matapi.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Certamente.

    Muito obrigado por suas palavras.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Socialismo e Democracia/REDE - AP) - Eu que agradeço.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Não importa se é Rede ou PPS, nós vamos estar juntos nessa luta pelo Brasil.

    Passo a palavra agora ao Senador Wellington Fagundes.

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco União e Força/PR - MT) - Senador Cristovam, pude conviver com V. Exª há poucos dias, no Chile, quando V. Exª fez uma palestra representando a Comissão Senado do Futuro, uma palestra brilhante. Lá tivemos, no Congresso do Futuro, com quase 80 autoridades internacionais, inúmeras palestras, e pude sentir e ver o brilhantismo de V. Exª, falando como brasileiro para todo o mundo. Dentre todas as palestras, sem dúvida nenhuma, a palestra de V. Exª e a do Prêmio Nobel da Paz Kailash foram as mais aplaudidas, aplaudidas de pé, com entusiasmo. Vejo aqui Roberto Freire. Tenho certeza, Roberto, de que você, como Presidente desse Partido tradicional, como todos nós, sente a emoção do momento da filiação. É uma pessoa como pouquíssimos no Congresso Nacional, um Parlamentar de caráter nacional. Digo que é de caráter nacional um Parlamentar que consegue ser eleito por vários Estados brasileiros. Tenho certeza, Senador Cristovam, de que, se V. Exª fosse candidato no meu Estado, Mato Grosso, seria eleito Senador da República, assim como em outros tantos Estados, principalmente por sua luta pela educação, reconhecida nacionalmente. Quero aqui apenas me ater um pouco ao ser humano que é o Senador Cristovam Buarque. Tive a oportunidade, nesses dias em que lá vivemos, de conviver com sua esposa, D. Gladys, que está aí.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco União e Força/PR - MT) - V. Exª falava com tanto entusiasmo das suas filhas, das suas duas netas. Esta semana, li uma reportagem sobre o Papa que destacava exatamente o direito que o Pontífice tem de ser também um ser humano e relacionei aquela matéria a V. Exª. Por isso, tenho certeza de que sua decisão, neste momento, madura e muito bem pensada vai fazê-lo contribuir muito mais ainda ao longo da sua vida. Tenho certeza de que Deus dará a V. Exª muitos anos de vida para continuar ajudando o Brasil, principalmente nesse desafio das futuras gerações, que é a questão da educação. Portanto...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco União e Força/PR - MT) - Quero parabenizar V. Exª e desejar que Deus o abençoe. Que o Brasil possa também, quem sabe, tê-lo como candidato a Presidente da República, para contribuir muito mais no debate, principalmente nessa questão da educação.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador Wellington. Eu poderia dizer até mais sobre a sua figura humana, sua esposa, mas estou ficando preocupado, porque nós temos que votar aqui umas emendas, não é isso, Senador Presidente? Estou preocupado, mas ainda tenho aqui cinco inscritos e não quero abrir mão de nenhum, começando pelo Senador Acir, que tem sido uma grande figura para mim, desde antes de estarmos aqui.

    O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Apoio Governo/PDT - RO) - Muito bem, Senador Cristovam, eu não poderia deixar de vir aqui para lhe dar um abraço e dizer que sentimos muito a saída de V. Exª do nosso Partido, mas tenho certeza de que não vai sair do nosso convívio. Quero também agradecer todo o apoio que o amigo Cristovam nos deu, nesses anos todos em que estivemos trabalhando juntos aqui no Senado, em busca de dias melhores para a população brasileira, principalmente para as pessoas que mais precisam de apoio dos governos, as minorias brasileiras. Quero desejar sucesso a V. Exª em seu novo Partido e pedir para que continuemos o nosso trabalho, um trabalho por um Brasil melhor, um trabalho para que nós possamos realmente realizar ações e criar leis que possam melhorar a qualidade de vida da população brasileira mais carente. Eu tenho certeza de que V. Exª vai continuar junto conosco, junto com o pensamento daquelas pessoas que estão no PDT, com essa preocupação que o nosso Partido tem de cuidar da educação e do ensino público. Tenho certeza de que V. Exª, independentemente de onde estiver em termos de partido, vai continuar nos ajudando nessa longa jornada que temos pela frente. Quero dizer, mais uma vez, que lamentamos muito a sua saída do PDT, mas entendemos que é uma opção de V. Exª. O PPS ganha um grande quadro. Em nome do nosso Partido, o PDT, desejo a V. Exª, ao amigo Cristovam, grande sucesso. Continuemos a nossa jornada, e que V. Exª continue sendo sincero e correto como sempre foi conosco até hoje. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Acir. Não tenha dúvida, até porque vamos continuar com algumas bandeiras, e o PDT é firme, por exemplo, na bandeira da educação, não há dúvida nenhuma. O PDT vai continuar firme com a bandeira da federalização da educação, e vamos estar juntos. Eu quero apenas dizer ao senhor que eu falei aqui que eu ia ter muita saudade da juventude pedetista, mas vou ter saudade também de um velho do PDT, que é o seu pai, que é o seu suplente e que sempre foi muito correto comigo. Ele abriu as portas da universidade para que eu fizesse palestras. E, quando ele vier aqui, eu espero continuar encontrando-o, com a simpatia que ele tem e com o exemplo de vida. E muito obrigado, Acir, pela sua Liderança e pela relação que tivemos e que vamos manter.

    Eu passo a palavra ao Senador Reguffe.

    O Sr. Reguffe (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Cristovam, eu não posso deixar de fazer um aparte a V. Exª, apesar de eu estar inscrito para falar logo após. Eu não posso deixar aqui também de dar o meu abraço carinhoso a V. Exª, que foi meu professor na universidade, que é meu amigo e que é uma pessoa com quem estaremos sempre ombreados no coração e nas lutas. E eu aqui quero apenas registrar: todos mostram o imenso respeito que este Plenário tem por V. Exª. V. Exª foi aparteado pelo Plenário inteiro. E eu não poderia também deixar de lhe dar um abraço, mesmo falando logo após V. Exª. Foi apenas para deixar o meu abraço carinhoso aqui.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado. Eu entendo perfeitamente a sua curta fala, porque não precisa entre nós, e, além disso, você vai falar daqui a pouco. E é uma grande honra ter sido seu professor e ver o respeito que hoje você recebe de todo o Brasil pelo seu comportamento.

    Senador Lindbergh.

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Senador Cristovam, eu conheço V. Exª há mais de 20 anos.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Lindbergh Farias (Bloco Apoio Governo/PT - RJ) - Lembro-me de V. Exª Reitor na UnB, fazendo uma revolução naquela universidade. Lembro-me de um fórum que V. Exª organizou na UnB: Fórum do Pensamento Inquieto. E V. Exª, na verdade, é um Senador inquieto, no bom sentido; é um Senador que foge dos maniqueísmos, das disputas apenas de Fla-Flu, situação ou oposição; é um Senador que analisa com equilíbrio todos os projetos. Por isso, V. Exª é uma voz muito respeitada aqui. Às vezes, temos divergências - temos muitas divergências na economia -, mas eu digo sempre que o Senador Cristovam é um homem extremamente avançado, é um Senador progressista. E eu diria que algumas vitórias que nós tivemos este ano aqui seriam impossíveis sem a participação de V. Exª. Por exemplo, a redução da maioridade penal, V. Exª se expôs nesse debate; V. Exª se expôs no debate sobre Estatuto da Família, sobre o Estatuto do Desarmamento; expôs-se na discussão sobre terceirização, sobre financiamento empresarial. Então, eu digo, com todo o respeito e admiração que tenho por V. Exª, que V. Exª inspira muitos nesta Casa, V. Exª nos inspira, porque o tema da educação é seu tema central, mas V. Exª participa de todo debate aqui: do debate econômico, do debate de rumos do País. Então, V. Exª vai continuar no PPS ou em qualquer outro partido a nos inspirar e a inspirar muita gente que está começando na política também, porque V. Exª olha para frente. V. Exª é um homem extremamente avançado e tem o meu profundo respeito por isso. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Lindbergh. Você sabe que é mútuo, lembro de você menino visitando a UnB, a reitoria. Muito obrigado.

    Senador Renan, ainda há mais duas pessoas. Podemos? Nós aqui queremos votar as emendas.

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Fique inteiramente à vontade.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Está bom.

    Senador Garibaldi...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu passo a palavra ao Senador Garibaldi; depois, ao Senador Eunício e a meu novo Líder, que é o Senador Medeiros.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/PMDB - RN) - Senador Cristovam Buarque, o Senador Reguffe disse que V. Exª foi o professor dele nos bancos acadêmicos. Desde que eu cheguei ao Senado, o senhor é meu o professor aqui dentro e inspira um exemplo que merece ser visto e acolhido, neste momento, um momento de descrença nos políticos, na atividade política, nos partidos. V. Exª paira acima disso. Então, eu só posso parabenizar o PPS - o Deputado Roberto Freire está aqui presente - e lamentar junto aos companheiros do PDT a perda enorme que eles tiveram.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Garibaldi, muito obrigado.

    Eu só quero fazer uma pequena referência a seu respeito. Eu não esqueço uma viagem que fiz pelo interior do Rio Grande do Norte com a minha esposa, a Gladys, que está aqui. Foram 2 mil quilômetros para escrever uma matéria para o Correio Braziliense. Por onde eu passava, havia um cano levando água para qualquer lugar do Rio Grande do Norte, de tal maneira que a pessoa dizia: "Depois do Garibaldi, pode não ter água nem para a agricultura, mas não falta água para a casa da gente". Parabéns por aquele gesto de humanidade com o povo do Rio Grande do Norte.

    A palavra agora, com o Senador Eunício, que também, como eu disse ao Senador Tasso, é, como eu, por determinação da Assembleia, cearense.

    O Sr. Eunício Oliveira (Bloco Maioria/PMDB - CE) - Professor Cristovam, não só o orgulho de ser nordestino como V. Exª, mas de termos convivido nesta cidade de Brasília já há quase 30 anos. Conheci V. Exª ainda como o Reitor dos reitores da Universidade de Brasília. Passando a Universidade de Brasília pelo sofrimento que passou durante a ditadura militar, V. Exª seguiu depois o sentimento da democracia, colocando essa universidade no patamar que ela merecia ter como a universidade da Capital Federal. V. Exª foi Ministro da Educação quando eu era Ministro das Comunicações. Eu convivi com V. Exª de perto pelo dia a dia de Brasília e pela convivência no Executivo. V. Exª sempre foi um homem dedicado à educação, mas V. Exª sempre foi um homem dedicado às causas públicas, da decência, da seriedade, da transparência e até da humildade, pelo conhecimento que tem V. Exª. Portanto, eu acho que, no dia de hoje, o meu amigo Roberto Freire deve estar extremamente gratificado pela entrada de V. Exª no PPS. Eu acho que o PDT perdeu um dos melhores quadros que o Brasil tem, fazendo, lamentavelmente, uma péssima troca: trocar o ex-Governador do Ceará por V. Exª não foi uma boa opção. E eu tenho a convicção de que, agora, em 2018, o povo brasileiro vai dar essa resposta. Portanto, Prof. Cristovam Buarque, V. Exª engrandece qualquer partido, engrandece a vida pública e tem sido aqui o meu orientador do ponto de vista de comportamento nesta Casa. Portanto, receba aqui o meu abraço e a minha alegria por vê-lo tomar essa decisão corajosa de sair de um partido político - e aqui fala alguém que já está há mais de 40 anos no mesmo Partido e numa única filiação. Eu acho que V. Exª sai do PDT pelas circunstâncias, porque V. Exª é um homem da dignidade, da transparência, da honestidade e de exemplo para todos nós que fazemos política no Brasil.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu que agradeço, Senador Eunício, as suas palavras. Nós temos tido aqui uma muito boa relação. O senhor é um dos aglutinadores desta Casa - e faz isso não só aqui dentro, como também recebendo cada um de nós na sua casa, sempre que tem uma oportunidade. Muito obrigado por tudo isso.

    Senador Medeiros, fico feliz. E o destino quis que o senhor fosse o último, como meu Líder a partir...

    O Sr. Fernando Bezerra Coelho (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - PE) - Ainda não. Ainda não.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Acima de Líder, um pernambucano. Então, como pernambucano, Fernando, você tem todo o direito de passar por cima do Líder...

    O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - E um piauiense...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... a não ser que o Medeiros deixe para depois.

    O Sr. Fernando Bezerra Coelho (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - PE) - Eu agradeço a compreensão do colega Senador José Medeiros. Senador Cristovam Buarque, eu não poderia deixar de vir à tribuna de apartes para trazer uma palavra neste momento que sei que é muito especial e muito importante para a sua trajetória política. As circunstâncias e a conjuntura política o obrigaram a uma tomada de posição. E, como sempre, V. Exª toma-a de forma transparente, clara, objetiva, serena, pensando nos interesses do Brasil, pensando nos interesses do povo brasileiro. Eu conheço a sua caminhada, conheço a sua trajetória, como pernambucano que V. Exª é - político de Brasília, mas uma autoridade para todos os brasileiros, sobretudo na área da educação. Na sua luta no sentido de conquistar o respeito da opinião pública para traçar um novo caminho para o desenvolvimento nacional a partir de ações da educação, V. Exª angariou simpatia e granjeou o respeito de toda a comunidade política nacional. Eu quero trazer uma palavra de homenagem a essa trajetória política bonita que V. Exª construiu. Eu acho que a opção que V. Exª faz pelo PPS é acertada dentro do quadro atual. Lamento que o PSB não tenha sido distinguido com essa opção partidária, porque V. Exª honraria qualquer partido que escolhesse para poder continuar sua militância e sua trajetória, mas tenho certeza absoluta de que o PPS, Partido ao qual fui filiado, que me fez Prefeito de Petrolina por duas oportunidades, está vivendo um momento ímpar, um momento importante, fortalecendo seus quadros. Certamente, o nosso Presidente Nacional Roberto Freire se sente lisonjeado e distinguido com essa opção e com sua chegada para continuar na luta por um Brasil mais justo, mais fraterno e mais solidário. Boa sorte.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

    Senador Randolfe, Senador Reguffe, aqui está mais um que eu conheci menino também. Eu conheci o Fernando namorando a filha de uma figura formidável chamada Zito Souza Leão, que foi quem me ofereceu emprego, quando eu quis voltar do exterior para o Brasil, na APL, que era o escritório de projetos dele. Ali, você estava. Um menino de Petrolina, que virou prefeito, Senador, ministro e está aqui honrando Pernambuco. Muito obrigado, Fernando, por suas palavras.

    Senador Férrer, com muito prazer, eu lhe passo a palavra.

    O Sr. Raimundo Lira (Bloco Maioria/PMDB - PB) - Senador Cristovam, se o Regimento e o tempo permitirem, eu gostaria de fazer um aparte também a V. Exª.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Eu consulto o Presidente Renan, porque eu acho que o tempo pode estar passando...

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Não. Por favor...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Por mim, tudo bem. Fico lisonjeado.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Da mesma maneira, Senador.

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Eu quero deixar a Casa inteiramente à vontade para que todos participem na intervenção do Senador Cristovam Buarque.

    E eu quero, desde logo, ressaltar aqui, no plenário do Senado Federal, a honrosa presença do Deputado Roberto Freire e de dirigentes da Executiva do PPS. E, agora, informados, nós nos sentimos na obrigação de cumprimentar o PPS, porque filia-se a ele um dos mais valorosos integrantes desta Casa: o Senador Cristovam Buarque.

    Fiquem inteiramente à vontade.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador, por suas palavras gentis.

    O SR. REGUFFE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Presidente Renan Calheiros, eu só quero que seja garantida a minha palavra depois.

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Conforme o procedimento que combinamos, a palavra de V. Exª está garantida.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Férrer.

    O Sr. Elmano Férrer (Bloco União e Força/PTB - PI) - Meu professor! A exemplo do nosso companheiro Garibaldi, eu queria tratá-lo também como meu professor, Prof. Cristovam Buarque. E me parece que nós estamos despedindo-nos do nosso Senador Cristovam Buarque há quase 3 horas. Parece-me que só o Pedro Simon teve uma sessão quase que dedicada à partida. Faz 2 horas e 40 minutos que os companheiros desta Casa se manifestam pela mudança de partido do nosso Cristovam Buarque. E isso traduz o carinho, a admiração e o respeito que todos os seus pares têm por V. Exª. E eu não poderia deixar também, já que nenhum trabalhista do PTB - que fique bem entendido - tenha se manifestado. V. Exª era uma esperança que eu tinha de resgatar o trabalhismo no nosso País, o que via também em outro gaúcho, nesta Casa - de quem me permito não citar o nome -, e naqueles que poderiam resgatar o Partido, como falaram aqui de Pasqualini, de Getúlio, de Brizola, de João Goulart, de muitos líderes que passaram por este País. O PDT perde, o trabalhismo perde, mas ganha um grande Partido, idealizado, gestado pela inteligência do nosso Roberto Freire, de Raul Jungmann, de Rubens Bueno e de muitos outros que souberam, num momento de transformação política no mundo, criar um partido dissidente do Partido Comunista do Brasil, com uma transformação, sem negar jamais os princípios que deram origem ao PCdoB. Então, V. Exª, pelo que vimos e assistimos aqui, traduz uma esperança. É um Senador que tem experiência da academia, tem experiência do Executivo, como Ministro da Educação, como Governador aqui do Distrito Federal. E todos nós assistimos, neste momento, ao carinho que esta Casa tem por V. Exª. Eu gostaria que V. Exª, como tive a oportunidade de lhe dizer, fosse uma esperança do resgate do trabalhismo em nosso País. Mas sei que, com sua inteligência, com seu discernimento, continuará honrando e dignificando esta Casa, mesmo no PPS, um Partido que tem uma história, não muito longa como tem o PCdoB, mas uma história recente no nosso País. E tenho certeza de que V. Exª vai qualificar, vai dignificar o Partido Popular Socialista. Eram essas as considerações que eu tinha a fazer a V. Exª. Parabenizo-o pela acertada escolha do novo Partido que V. Exª passa a integrar a partir de hoje.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Férrer. Sua lembrança das três horas de debate me faz sair daqui com uma certeza: esta é uma vez em que o debate foi muito melhor do que o discurso. Eu estou muito mais feliz com o debate e com os apartes.

    Senado Raimundo.

    O Sr. Raimundo Lira (Bloco Maioria/PMDB - PB) - Prof. Senador Cristovam Buarque, sei o quanto V. Exª se sente feliz em ser chamado de professor. Não sei se, neste momento, eu devo parabenizar V. Exª ou o Deputado Roberto Freire, de quem eu me aproximei em 1988, quando fomos visitar a então União Soviética, em uma comitiva do Presidente Sarney. Nós nos conhecíamos apenas de nome, mas convivemos e eu vi como Roberto Freire era uma pessoa correta e um homem do bem. Mas, ao receber V. Exª, um dos melhores quadros da política brasileira, Roberto Freire e o seu Partido, o PPS, com certeza também merecem essas congratulações e esses parabéns. V. Exª é de Pernambuco. Minha esposa é campinense, mas minha sogra é de uma família de Pernambuco - família Veloso da Silveira. Eu possuo empresa e casa em Recife. Minha esposa fez pós-graduação em Sociologia Rural na Universidade Federal de Pernambuco, no Instituto de Ciências do Homem. Lembro bem que o orientador dela era o professor, o cientista Dr. Paulo. Então, temos uma relação muito grande com Pernambuco e, portanto, uma relação também com V. Exª. Tive a felicidade de, residindo aqui, no Distrito Federal, ter V. Exª como Governador do Distrito Federal. Nunca, em nenhum momento, na sua entrada, na sua saída, na sua permanência, saiu, na imprensa local ou brasileira, uma palavra que ferisse a honradez e a dignidade de V. Exª - um Governador aberto ao diálogo. Lembro-me bem de que eu mesmo, na condição de ex-Senador, enviei uma carta para V. Exª dando uma sugestão sobre determinada questão de interesse urbano da cidade. Eu estava na Paraíba quando V. Exª ligou para mim, apesar de ser um assunto pequeno, um assunto de pouca importância, um assunto sem urgência, mas a cortesia, a atenção que V. Exª teve me cativou pelo resto da vida. Portanto, todos nós aqui, todos aqueles que tiveram uma palavra de carinho, de apreço, de elogio, de reconhecimento a V. Exª disseram tudo isso com absoluta sinceridade, do fundo do coração, porque V. Exª é merecedor de todas essas considerações do Senado e do País, especialmente do Distrito Federal. Um abraço. Felicidades. Que continue com esse mesmo sucesso no seu Partido, o PPS.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Senador Raimundo, muito obrigado por sua fala, muito obrigado por sua lembrança...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ... desse telefonema. É de uma importância enorme lembrar isso. Para quem estiver a nos assistir, quem estiver pensando em fazer política, a partir do que o senhor falou, é bom lembrar que pequenos gestos fazem grandes e boas relações na política. Eu fico muito feliz de ter feito esse gesto para o senhor.

    Senador Paim.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Concede-me um aparte também?

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Com o maior prazer, pois ia ficar faltando isso. Eu só vou seguir a ordem.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Com certeza.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - O Senador Paim e o Senador Telmário, dois Senadores que eu também não gostaria que faltassem.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Senador Cristovam, menos que um minuto. No período em que convivi aqui, na Casa, com V. Exª, tive momentos cada um mais bonito que o outro. Quando V. Exª ia à tribuna, eu dizia, quando estava presidindo, que V. Exª, como um mestre, com a sua forma de falar e de dialogar com a população, dava verdadeiras aulas para o País.

(Interrupção do som.)

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Apoio Governo/PT - RS) - Eu poderia citar inúmeros momentos. O momento mais bonito não foi quando nós estivemos na mesma trincheira, 99% das vezes. Sabe qual foi o momento mais bonito? Foi um dia em que eu discordei de V. Exª e nós ali nos desencontramos, mas queríamos a mesma coisa. O mais bonito não foi esse. O mais bonito foi quando, depois de três ou quatro dias, V. Exª me olhou e me deu um abraço daqueles de quebrar costela, como que dizendo: "Paim, eu sou seu amigo e você é meu amigo". Eu admiro muito V. Exª. Olha, palmas para o PPS. Eu considero V. Exª uma das principais figuras públicas deste País, e V. Exª sabe que esse depoimento é verdadeiro. Um abraço, meu amigo, Cristovam Buarque.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Sei disso e tenho muito carinho. Agora, eu queria lembrar que, naquele momento, Senadora Gleisi Hoffmann, eu estava do lado do Governo e o senhor estava contra. (Risos.)

    Senador Telmário.

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Senador Cristovam, eu estava numa missão fora do Senado correndo contra o tempo, porque eu não queria perder este momento. Eu vinha, na minha caminhada, pensando: eu fico alegre ou eu choro? Porque hoje talvez, de todos os Senadores que estão aqui, o que está mais triste sou eu.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - É verdade. É verdade.

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - O mais triste sou eu. Estou triste e estou alegre, porque a minha tristeza é pela admiração, pelo carinho, pelo respeito, pelo companheiro, pelo amigo, pelo correligionário, pelo pires que sempre esfriou a temperatura dentro do nosso Partido. Eu estou no meu segundo ano aqui, nesta Casa, e aprendi muito com V. Exª e com todos os demais companheiros que compõem o nosso Partido. Eu sempre lutei muito e defendi muito dentro do Partido que tanto V. Exª quanto o Senador Reguffe tivessem a liberdade de expressão, de comportamento, de sentimento. O nosso Partido, o PDT, é um Partido democrático, um Partido que, sem nenhuma dúvida, também foi uma grande plataforma de V. Exª, um Partido que também ousou, porque, no momento em que a coligação era vertical, o PDT teve a coragem de assumir a sua candidatura não pelo o que V. Exª representava - e eu tenho dito que V. Exª seja talvez um dos homens mais preparados da República -, mas porque, naquele momento, o Partido não olhou o seu quadro, nem o que poderia acontecer. Por exemplo, eu tinha um irmão que era federal e que tinha uma eleição garantida, mas, pela verticalidade, ele perdeu, porque não pôde coligar. Então, o PDT foi, sem nenhuma dúvida, um Partido solidário, amigo de V. Exª. E V. Exª enobreceu e enobrece não só o PDT como qualquer outro partido, como é o Partido do Deputado Roberto Freire, uma pessoa por quem tenho todo carinho e respeito, apesar da distância. Ele é homem público, homem nacional e de um Partido como é o PPS. V. Exª vai ter essa nova caminhada nesse novo Partido. Eu espero também que o PPS oportunize a V. Exª a oportunidade de o brasileiro poder escolher V. Exª...

(Interrupção do som.)

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Por favor, Telmário.

    O Sr. Telmário Mota (Bloco Apoio Governo/PDT - RR) - Dê-nos o tempo aqui, porque eu sou o único que estou chorando aqui. Os outros só aplaudiram. Então, eu quero aqui aproveitar a presença do Presidente do PPS e dizer que ele não proíba que V. Exª coloque o seu nome na disputa para a Presidência, porque V. Exª está preparado e pode ter essa oportunidade, oportunizar o nosso povo. Hoje, aqui dentro, quando se fala em educação, fala-se em Cristovam. Quando se fala em educação, fala-se em liberdade, em progresso, em desenvolvimento. Então, V. Exª vai nesse novo caminho, mas pode ir na certeza de que as portas do PDT estarão sempre abertas para V. Exª. V. Exª tem espaço em qualquer partido, e o PDT hoje está de luto pela sua saída. Meu muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Telmário, mas o senhor realmente usa umas expressões que surpreendem carinhosamente a gente. Uma foi quando o senhor me ligou por dezembro e disse: "Eu te proíbo de sair do PDT!" Eu achei isso uma forma de grande carinho. E agora, em vez de dizer "eu estou triste, estou reclamando", não, o senhor disse: "Estou chorando!" Isso demonstra uma grandeza de alma muito grande, que eu tenho percebido no senhor aqui, sobretudo na sua defesa enfática dos povos indígenas. Eu também estou triste por sair, mas nós vamos estar juntos, Senador.

    Senadora Gleisi.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Apoio Governo/PT - PR) - Obrigada, Senador Cristovam, professor e, poderia dizer, meu grande amigo, uma pessoa por quem tenho muito carinho, uma deferência muito especial. Aprendi a respeitá-lo muito antes da convivência nesta Casa. Eu o conheci como uma liderança do meu Partido, como uma referência na luta pela educação. E tivemos muitos momentos de embates aqui, de discussões, de posições diferenciadas, mas sempre, sempre, V. Exª me tratou com muito respeito e muita consideração. E sempre, nos debates, as colocações que V. Exª fazia contribuíam, abrilhantavam o debate, melhoravam, muitas vezes, as posições colocadas e me ajudavam, inclusive, a refletir sobre aquilo mesmo que eu estava falando. Então, eu queria parabenizá-lo exatamente pela coragem, como escutei V. Exª dizer aqui, e tantos outros colegas reconhecerem, de ter esse posicionamento, de mudar de partido. Fico muito sentida que não seja o partido ao qual pertenço. V. Exª já foi do PT, um grande companheiro, um grande colega, mas desejo-lhe toda a sorte. E sei que nós vamos continuar tendo nesta Casa essa relação de respeito e, sobretudo, de debate, de debate construtivo a favor do Brasil e do povo brasileiro. Então, meu grande abraço. Boa sorte. Seja muito feliz nessa sua nova trajetória no novo partido e que possa estar sempre conosco para o bom debate, para o bom combate.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senadora Gleisi.

    De fato, tivemos muitos encontros em reuniões do PT em Foz do Iguaçu. V. Exª trabalhava em Itaipu. E fico muito orgulhoso, porque um desses encontros foi para fazer campanha da sua candidatura no Paraná, quando fomos juntos, com a senhora sua mãe, conversando todo o tempo.

    Muito obrigado mesmo pelas suas palavras carinhosas.

    Há dois inscritos mais, Senadora...

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Coloque-me na lista, Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ...Rose...

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Senador Valadares.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - ...Senadora Fátima e Senador Valadares.

    A Srª Rose de Freitas (Bloco Maioria/PMDB - ES) - Sr. Presidente, Senador a quem muito admiro, com quem tive oportunidade de trabalhar na área da educação. É evidente que a atitude de V. Exª, não são muitos que podem tomá-la nas circunstâncias políticas de hoje do Brasil, onde há tanta veleidade de comportamentos em se mudar de partido por questão de oportunidade, por questões regionais. V. Exª faz isso como tudo o que V. Exª fez. No dia em que o encontrei às quatro e pouco da manhã como Ministro da Educação, levando as suas reivindicações, eu que era Relatora daquela matéria, e dizendo que não poderia abrir mão delas para avançar na educação, eu vi diante de quem eu estava. E tem sido assim ao longo dos anos. O que posso dizer que sou diante de V. Exª? Uma aprendiz, uma observadora, uma amiga, uma admiradora, uma aluna que, com disciplina, quer seguir os seus caminhos, nem que seja de longe, para saber que atitudes com coerência não são tolas, são sábias. V. Exª, quando muda de partido, muda porque quer complementar a sua jornada de trabalho com a coerência, com os princípios que sempre nortearam a sua vida. Não sei dizer mais do que vou dizer agora. Quando nós nos formos - e desejo que V. Exª vá muito depois de mim -, V. Exª vai deixar registrado nesta Casa - este Congresso é a síntese da política brasileira - que a síntese do seu comportamento, da sua história foi o caráter da sua luta política. Eu quero deixar o meu abraço e, se puder, seguir pelos mesmos caminhos que o senhor até agora percorreu nesta Casa, na história política deste País. 

    Muito obrigada.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senadora Rose, sobretudo porque a senhora, no ano passado, foi uma das Senadoras mais importantes do Brasil pelo seu trabalho, pois ninguém acreditava que seria possível fechar o Orçamento da União. Parabéns. Aquele foi um grande trabalho.

    Senadora Fátima Bezerra.

    A Srª Fátima Bezerra (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - Senador Cristovam, quero também me associar, antes de mais nada desejar felicidades nesse novo desafio que V. Exª assume na sua trajetória política, parlamentar, e dizer, Senador, de maneira muito sincera, que, independente de diferenças de opções partidárias, da alegria que tenho em ser sua parceira. Quero dizer que tenho muito orgulho de compartilhar com V. Exª o sonho, a luta por uma educação de qualidade. V. Exª, hoje, no seu pronunciamento, dizia que a sua vida é movida por causas, é movida por bandeiras. O Brasil inteiro reconhece que uma das principais causas que o senhor abraçou, uma das principais bandeiras que o senhor abraçou e continua abraçando é a luta em defesa da escola pública...

(Interrupção do som.)

    A Srª Fátima Bezerra (Bloco Apoio Governo/PT - RN) - ...é a luta em defesa do magistério. É exatamente essa bandeira que mais compartilho com V. Exª, seja como militante político, como militante social, como o grande gestor que foi como Ministro e como Governador. Enquanto eu era Deputada Federal, V. Exª, aqui no Senado. Hoje, a alegria do Rio Grande do Norte com a sua tamanha generosidade em ter me feito a primeira Senadora de origem popular daquele Estado para, aqui no Senado, ao seu lado, continuar essa luta incansável em defesa da educação.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado Senadora. Para os que ouviram a senhora me chamar de parceiro, eu vou explicar exatamente uma parceria firme.

    A Lei do Piso Salarial deveria se chamar Bezerra Buarque, porque fui eu, aqui, e a senhora, na Câmara, que fizemos. É claro que é preciso fazer justiça também ao Ministro Fernando Haddad, na época, e ao Presidente Lula, porque se não quisessem não viraria lei.

    Essa parceria vai ficar firme na história. Nós dois fizemos a Lei do Piso, com o apoio do Haddad e do Lula.

    E para encerrar, Senador Renan, eu passo a palavra ao Líder do PPS, meu caro amigo Senador Medeiros.

    O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Presidente, eu estou na lista de aparteantes.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Oh, Senador Valadares, desculpe-me, mas depois então do Senador Medeiros.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - MT) - Senador Cristovam, é uma honra para o PPS. A bancada do PPS toda esteve aqui, a bancada da Câmara. Até agora está aqui o Presidente Roberto Freire, a Deputada Carmen Zanotto, o Deputado Regis Cavalcante, o Deputado Moses, o Deputado Marcos Abrão, o Deputado Raul Jungmann e, como disse, o Deputado Rubens Bueno. Enfim, para todos nós do PPS é uma honra tê-lo, porque V. Exª, perdoe-me o termo, é um pop star da política nacional. Pop star não no mau sentido, não no sentido pejorativo, mas no sentido bom do que todo mundo falou aqui hoje, da sua honradez, da sua retidão e de como V. Exª é esse farol que guia os mais novos para como deve ser e como devia ser a política, porque na política nacional, infelizmente, existe uma ética que é e uma que deveria ser. V. Exª representa essa ética que deveria ser e nos orgulha muito, principalmente a mim, que vou ter um companheiro aqui no Senado com quem vou poder aprender muito e a quem já admirava desde menino. Um abraço.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador.

    Antes de passar para o Senador Valadares, que encerrará, eu quero dizer que não dá para ser o pop star, porque só pode ter um por família. E na minha família o pop star já é o Chico. Não cabe outro Buarque como pop star.

    Senador Valadares, tenho muita honra de que o senhor feche este período que tanta emoção me deu.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - SE) - Prezado Senador Cristovam Buarque, V. Exª sempre foi considerado aqui nesta Casa um pensador-mor, principalmente em favor da educação, um formulador de ideias. Não só um governo se beneficia com pessoas que tenham ideias tão consubstanciadas na ciência e também na imaginação, mas os próprios partidos políticos se ressentem dessa falta. E V. Exª, sem dúvida alguma, tanto no PDT como no PT e agora no PPS, tem essa contribuição à formulação de novas ideias não só para um novo partido, onde V. Exª ingressa, mas também para defender as boas causas e sairmos dessa crise social, econômica e política em que estamos mergulhados. Se podemos atribuir um nome a V. Exª, poderíamos dizer, em função do trabalho em favor da educação, que o Senador Cristovam Buarque é o protetor da educação brasileira, por tudo o que tem feito em favor desse segmento social tão importante para o futuro do nosso País. E posso dar o meu testemunho de que V. Exª nunca fugiu do debate nem das grandes decisões desta Casa, sempre foi um homem presente nas decisões mais importantes do Senado Federal. Enquanto outros preferem viver na tranquilidade das águas suaves, V. Exª, no momento do debate, fica maior ainda do que é. V. Exª age como as águias, que, durante as tormentas, não se escondem como os passarinhos, voam mais alto. E é por isso que nós, que fazemos o Senado Federal, admiramos a sua posição sempre coerente, sempre corajosa em defesa das boas causas do Brasil. O PDT perdeu um grande Senador, o PT perdeu um grande Senador, ganhou o PPS um grande Senador, mas o Senado continua com este grande Senador, o que é mais importante.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Valadares.

    Eu quero concluir dizendo que aceito o título de protetor da educação, até pelo meu nome. Afinal de contas, São Cristóvão é o protetor dos motoristas. E os professores são os motoristas das consciências das nossas crianças. Então, muito obrigado.

    E Senador Renan, eu quero agradecer o tempo que me foi dado, quero agradecer a cada um e a cada uma que fez pronunciamento. Esse debate, como eu disse, foi muito melhor do que o discurso. O discurso ficou pequeno. E, como disse o Senador Valadares, continuo aqui, na luta por um Brasil melhor.

    Muito obrigado, Senador.

    O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. Bloco Maioria/PMDB - AL) - Concedo a palavra ao Senador Reguffe.

    E quero, mais uma vez, em nome da Mesa do Senado Federal, cumprimentar o Senador Cristovam Buarque.

    Quero cumprimentar o Deputado Roberto Freire, que, como disse muito bem, integrou esta Casa no passado e é o Presidente do PPS, pelo grande fato político que significa, no dia de hoje, a filiação do Senador Cristovam Buarque.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Apoio Governo/PDT - DF) - Obrigado, Senador.

(Durante o discurso do Senador Cristovam Buarque, o Sr. José Medeiros deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Renan Calheiros, Presidente.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/02/2016 - Página 21