Comunicação inadiável durante a 24ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da entrega à Presidência do Senado do Relatório da Procuradoria Especial da Mulher referente ao exercício de 2015.

Comentário sobre a viagem ao município Antonio Prado e visita ao Hospital São Jose.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Comunicação inadiável
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Registro da entrega à Presidência do Senado do Relatório da Procuradoria Especial da Mulher referente ao exercício de 2015.
SAUDE:
  • Comentário sobre a viagem ao município Antonio Prado e visita ao Hospital São Jose.
Publicação
Publicação no DSF de 09/03/2016 - Página 11
Assuntos
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Outros > SAUDE
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, MULHER, ENFASE, ENTREGA, COMENDA, BERTHA LUTZ, COMENTARIO, IMPORTANCIA, HISTORIA, CATEGORIA, BRASIL, DEFESA, IGUALDADE, SEXO.
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, VIAGEM, ANTONIO PRADO (RS), RIO GRANDE DO SUL (RS), COMENTARIO, VISITA, HOSPITAL, DEFESA, LIBERAÇÃO, MEDICAMENTOS, COMBATE, CANCER, NECESSIDADE, AMPLIAÇÃO, CAMPANHA, VACINAÇÃO, ABRANGENCIA, MULHER.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Caro Presidente desta sessão, Senador Jorge Viana, obrigada pelas palavras estimulantes.

    Agradeço ao Senador José Medeiros, que é o primeiro orador inscrito; ao nosso Senador Eduardo Amorim e também ao Senador Paim, que abriram mão para duas Senadoras, uma pela Liderança e eu para uma Comunicação.

    Como entendi que a cerimônia de entrega do Prêmio Bertha Lutz era muito forte, muito simbólica, eu não havia feito a inscrição como Liderança previamente, então preferi abordar agora, Senador, como V. Exª fez, alguns aspectos que considero relevantes.

    É claro que poderíamos falar muito das mulheres, do papel da mulher. Penso que todo dia é dia da mulher, porque todo dia a mulher está envolvida com uma série de responsabilidades, seja na sua casa, no cuidado com os filhos, na profissão, na atividade política. Enfim, todo dia nós matamos um leão.

    Eu poderia chegar à história, falar de mulheres que marcaram a história: Maria Quitéria de Jesus na Guerra da Independência, Princesa Isabel na abolição da escravatura, Dalva Maria Carvalho Mendes e outras tantas mulheres; a arte e a cultura: Carmen Miranda, Rachel de Queiroz, Chiquinha Gonzaga, Cora Coralina; o esporte: Maria Lenk, Maria Esther Bueno; a caridade, a religião: Irmã Dulce, Zilda Arns, Madre Paulina, Odetinha e Princesa Isabel.

    Essas mulheres todas nos honram muito, assim como nossas mães, que nos geraram e nos puseram no mundo, mas hoje é dia de falar também de mulheres muito simples, aquelas que não aparecem na televisão e não são fotografia de jornal; aquelas que, anonimamente, Senador Jorge Viana - e o senhor deve conhecer muitas lá no seu Acre -, são zelosas cuidadoras: cuidadoras da casa, cuidadoras da família, cuidadoras de um parente doente, de um irmão, do marido, do filho. Essas mulheres são muito especiais.

    No sábado, ao visitar o Hospital São José, em Antônio Prado, uma cidade na Serra Gaúcha conhecida pelo seu patrimônio arquitetônico colonial italiano, eu encontrei uma jovem esposa ao lado do marido, Luciano Scopel, de 33 anos, Senador José Medeiros - 33 anos, quase da sua idade. E ele, magrinho, na porta do quarto, quando me viu passar, postou-se, com uma voz muito tênue, muito tênue, e com um olhar súplice, e disse: "Senadora, precisamos muito de ajuda para essa pílula do câncer. Os remédios que eu tomo já não servem mais" - 33 anos, com um câncer no fígado - "e eu queria ter tempo de cuidar do meu filho de 4 anos". Não dá para descrever uma cena dessas, especialmente quando nós somos o alvo do apelo de uma pessoa que está com uma doença tão grave quanto essa, e uma pessoa tão jovem. Então, a Marinéia e a família do Luciano Scopel toda são cuidadores dele.

    Aqui também falou há pouco a Conceição, nossa Deputada do Amazonas, a respeito da necessidade de aprovar e logo haver o registro dessa tão falada pílula do câncer, a fosfoetanolamina sintética, algo em que o Senador Ivo Cassol tem se empenhado tanto. E essa pode ser, para essas pessoas, a última esperança de cura. E é exatamente por isso também que falo da Marinéia e da família, das cuidadoras, das que, zelosamente, ali do lado do seu paciente querido, ficam meses, às vezes até anos, cuidando pela recuperação.

    Aliás, sempre que há um parente doente, cabe a uma mulher a maior carga do trabalho. Há um interessante documento da Organização Mundial da Saúde com a seguinte conclusão: as mulheres são as principais cuidadoras e constituem mais da metade dos profissionais de saúde e a maioria das educadoras e professoras. Nós mulheres somos mais expostas às doenças de transmissão respiratória, em particular influenza e coqueluche, e também transmitimos o vírus influenza e a coqueluche (ou tosse comprida, como é conhecida no nosso interior) aos nossos contatos. Entretanto, como muitas mulheres não fazem parte da força de trabalho ou têm que reduzir sua jornada para cuidar da família ou dos familiares doentes, têm menos oportunidades de receber as vacinas nas empresas em que trabalham ou adquiri-las na rede privada por receberem salários menores que os de seus colegas homens. Além disso, muitas vezes, as cuidadoras não têm sequer tempo para cuidar de sua própria saúde.

    No Brasil, apesar de as campanhas anuais de vacinação incluírem idosos (com mais de 60 anos), crianças (com menos de 5 anos), gestantes, portadores de doenças crônicas, profissionais de saúde, indígenas e presidiários, não incluem quem cuida de crianças com menos de 5 anos (incluindo babás, atendentes de berçários, creches e escolas), de idosos e de portadores de doenças crônicas de qualquer idade. Essas mulheres não têm acesso livre à vacina. Estudos internacionais revelam que, entre os profissionais de saúde, em sua maioria mulheres, meu caro Senador Eduardo Amorim, as coberturas vacinais são mais elevadas entre os médicos com maiores conhecimentos sobre os riscos e benefícios da vacinação do que entre as atendentes e as enfermeiras - mulheres.

    As mulheres fecharam 2015 como as mais afetadas pelo aumento do desemprego no Brasil - estávamos falando de saúde, agora de seu poder aquisitivo. As informações foram divulgadas pelo IBGE. E a última Pesquisa Nacional de Domicílios apontou que 4,6 milhões de brasileiras estão desempregadas, o que representa 52% do total de desocupados no País. Os números são referentes aos meses de julho a setembro de 2015.

    Talvez por isso, uma das homenageadas aqui hoje com a Comenda Bertha Lutz, para minha alegria, indicada por três Senadores do Rio Grande do Sul - por mim, pelo Senador Lasier e Senador Paim -, tenha sido a escritora e cronista Lya Luft, uma acadêmica, uma profissional das letras que dispensa comentários. A Lya Luft não veio, foi representada na cerimônia de hoje e foi a figura mais solicitada - 12 veículos de comunicação de diversas áreas, inclusive internacionais, solicitaram ao Senado entrevistas e agendamentos para Lya Luft, caso ela estivesse aqui presente. É claro que também a figura do Ministro Marco Aurélio Mello, como primeiro homem a ser homenageado, representou aqui, pelo discurso que fez comprometido com a causa das mulheres, o que eu disse: ele tem uma alma, um coração e uma mente com uma parcela muito, muito feminina, porque o que falou revela um homem muito sensível à causa das mulheres.

    Em homenagem a Lya Luft e a todas as mulheres aqui homenageadas, eu quero ler a parte de um trecho de um artigo que ela escreveu. Muito obrigada, Lya Luft, pelas suas palavras, pelo poder que elas têm, pelo que você representa nas letras brasileiras e na sociedade brasileira, com sua visão ao mesmo tempo sensível...

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... e crítica da sociedade. Em "O sentido das coisas", Lya escreveu:

Sempre procurei, tantas vezes em vão, encontrar o significado de tudo. Por exemplo, por que há pessoas boas e más, por que as pessoas boas fazem coisas más e vice-versa, por que entre pessoas que se querem bem pode haver frieza ou até maldade, por que… lista infindável, ainda mais para quem tem um pouco de imaginação. A cada momento reinventamos o mundo, reinventamos a nós mesmos, reinventamos nossos afetos para que seja tudo menos doloroso.

Escrevendo sobre a situação do Brasil um pequeno livro que deve aparecer em breve, observo ainda...

(Interrupção do som.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Estou citando Lya Luft:

Escrevendo sobre a situação do Brasil um pequeno livro que deve aparecer em breve, observo ainda mais intensamente o que acontece, tanta coisa inacreditável, mas real. Assim reflito quase constantemente sobre todas as loucuras, baixezas, perigos, sustos, desalentos atuais, aqui e ali uma luzinha minúscula que logo bruxuleia. Vai se apagar para sempre? Nada é para sempre. As coisas más, as fases ruins, também hão de passar. Mas, no momento, não sou otimista.

    O que escreveu Lya Luft é o que talvez passe pelo coração de milhares de brasileiros, de todos os lados, de todos os cantos, de todos os pensares e de todas as crenças. Obrigado, Lya Luft, pelos brasileiros que costumam ler essa avaliação crítica, refletindo tantos sentimentos ao mesmo tempo. Sem dúvida, vamos acreditar na nossa capacidade, na nossa responsabilidade, em todos os momentos, de afeição, de indignação, de respeito. O que você sempre defendeu eu aqui também defendo: uma intransigente defesa das nossas instituições. Esta é a democracia que queremos: instituições cada vez mais fortes.

    Nós aqui passaremos; o Senado ficará. Juízes e magistrados passarão; o Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores ficarão. Os membros da Polícia Federal passarão; a instituição ficará. Elas são eternas, imortais; nós somos passageiros e temos de valorizar as instituições.

    Muito obrigada, Lya Luft.

    Obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/03/2016 - Página 11