Discurso durante a 32ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Indignação com o Ex-Presidente Lula por supostamente vincular o nome de S. Exª ao episódio da apreensão de helicóptero com drogas em 2013.

Autor
Zeze Perrella (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MG)
Nome completo: José Perrella de Oliveira Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Indignação com o Ex-Presidente Lula por supostamente vincular o nome de S. Exª ao episódio da apreensão de helicóptero com drogas em 2013.
Aparteantes
Ana Amélia, Antonio Anastasia, Ataídes Oliveira, Aécio Neves, Cristovam Buarque, Flexa Ribeiro, José Medeiros, Paulo Rocha, Ronaldo Caiado, Sérgio Petecão.
Publicação
Publicação no DSF de 18/03/2016 - Página 8
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • CRITICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, VINCULAÇÃO, FAMILIA, ORADOR, APREENSÃO, POLICIA FEDERAL, HELICOPTERO, CARGA, COCAINA.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srªs e Srs. Senadores, Sr. Presidente Petecão, acho que hoje é um dia ímpar na História do Brasil. Parabéns ao pessoal da Polícia Federal, parabéns ao Ministério Público, parabéns ao Sergio Moro pelo magnífico trabalho que vêm fazendo! 

    Ontem o Brasil acordou aterrado, depois que ouvimos aquelas gravações do nosso Primeiro-Ministro Lula, em que ele faz declarações inacreditáveis, eu diria - inacreditáveis! Lembro-me bem, Sr. Lula, quando aconteceu com a minha família aquele episódio do helicóptero que foi pego com 450kg de cocaína. O senhor, mesmo sabendo que éramos inocentes... Nas gravações da Polícia Federal - graças a Deus, na época o nosso piloto estava monitorado -, ficou absolutamente comprovado que nós não tínhamos nenhum envolvimento naquele episódio, tanto é que não constamos no inquérito nem como testemunhas, e o helicóptero da minha família, do meu filho, foi devolvido; mas o senhor nunca se esqueceu disso.

    E, mais uma vez, eu digo, Sr. Lula: eles estavam grampeados pela Polícia Federal, vários diálogos entre mim e ele; vários diálogos entre o meu filho e ele; vários diálogos entre ele e o restante da quadrilha que, graças a Deus, foi toda capturada.

    E o senhor perguntava quem era o dono do helicóptero: acabou de ser preso há três meses, no México e em Miami, quando foi desbaratada toda a quadrilha, e acabou com a farsa.

    O senhor, na sua desfaçatez de sempre, em vários discursos, inclusive, no sindicato que o senhor representou, disse, textualmente, que estavam preocupados com o empreguinho do Zé Dirceu, jogando para debaixo do tapete 450kg de cocaína. Para o senhor ver, Sr. Lula, como é que a vida dá voltas. O senhor não sabe o tanto que o senhor me magoou com aquilo, mesmo sabendo que não havia nada e talvez tentando atingir amigos meus que tinham e têm projetos políticos semelhantes ao seu.

    Eu sofri, Sr. Lula, mas hoje eu estou vendo: eu vejo o senhor dizer que não é dono de sítio; o senhor dizer que não é dono de apartamento no Guarujá, que, aliás, é do seu amigo que está preso, por falcatrua, e o senhor disse que é dele e não seu. O apartamento de U$7 milhões do seu filho também não é dele, mas do sócio dele; aliás, a empresa do seu filho só dá lucro para o sócio dele, porque ele mora no apartamento do sócio. O senhor já disse que ele era o Ronaldinho Fenômeno dos negócios, e me parece que sim.

    O senhor disse que cobra R$700 mil por uma palestra, eu ouvi isso, U$200 mil. Quem ganha R$700 mil por palestra, Sr. Lula, não pode ter um sítio, não pode ter vários apartamentos? O senhor sempre gostou de se postar de pobre, para explorar, como o senhor sempre fez, a boa vontade do povo brasileiro.

    Até eu cheguei a acreditar, Sr. Lula, que, um dia, o senhor seria diferente. Eu não votei no senhor na primeira eleição nem na segunda, mas eu cheguei a pensar que eu poderia estar equivocado. O senhor virou o Messias do Brasil através da mentira, através da falcatrua.

    Todos os seus amigos, Sr. Lula, estão presos, estão na cadeia, e o resto está para vir! Vai-se prender o resto da gangue o senhor pode esperar - o senhor pode esperar!

    O Brasil não merece isto: o senhor transformar-se em Primeiro-Ministro e a Presidente transforma-se em Rainha da Inglaterra, por medo de ser preso. Que País é este que nós estamos, meus senhores? Que País é este? Estou começando a ficar, como diria Rui Barbosa, que já foi desta Casa, até com vergonha de ser brasileiro.

    Fernando Collor, vocês não podem esquecer, caiu por um Fiat Elba. Posteriormente ficou comprovada a sua inocência, e não lhe devolveram o cargo. Não estou aqui fazendo valor de juízo nem defendendo ninguém.

    Vocês assaltaram a Petrobras. E, olhe, vou dizer mais: esse negócio da Petrobras, se formos olhar todas as obras do PAC, isso não é nada - isso não é nada! Vocês roubaram muito mais do que isso, para sustentar um projeto de poder, em nome de um projeto de poder falido, que está quebrando as empresas, acabando com os empregos e acabando com o Brasil.

    Olhe, Sr. Lula, o senhor sempre foi um grande brasileiro, o mais honesto de todos, aliás, mais honesto que o Chico Xavier, que a Madre Teresa de Calcutá. Eu nunca vi tanta honestidade. O Chico deve estar rolando no túmulo.

    Eu conheço o Chico Xavier. Sabe, Lula? Você não deveria ter usado o nome dele assim. O senhor atingiu toda a comunidade espírita; o senhor atingiu toda a comunidade católica; o senhor atingiu todos os evangélicos, com as suas comparações.

    Imagine se fosse todo mundo igual a você! Nós teríamos que mudar daqui rápido - mudar daqui rápido! O senhor é messiânico. O senhor me lembra o Jim Jones, quando 900 pessoas se suicidaram, porque ele pediu para que se suicidassem.

    O senhor tem companheiros até aqui dentro que eu respeito muito. Há vários bons companheiros do PT que o senhor, com a sua mentira e com a sua magia, consegue encantar; mas a nós, não, a maioria aqui, não, Sr. Lula. A sua máscara caiu.

    Eu fico olhando o Senador Lindbergh, eu gostaria que estivesse, mas não está. Aquele Lindbergh que defendia "Fora Collor!", cadê ele, aquele que pintou a cara e se notabilizou por aquela campanha? Hoje, com a mesma intensidade, ele defende este Governo, que para mim já acabou - com a mesma intensidade! -, jogando fora uma biografia que eu acho muito bacana, porque eu gosto particularmente dele.

    Quer dizer, um Fiat Elba era crime, mas essa coisa toda que está acontecendo aí não é, ainda que ele consiga provar que o apartamento não é dele, que o sítio não é dele, que ele mora de favor? Os amigos dele estão todos na cadeia, há mais de 20 empresários aí presos, e vai o resto. E ele não sabe de nada; mora no apartamento de um presidiário, e não sabe de nada!

    Vou dizer para os senhores do PT, inclusive ao Presidente Jorge Viana: o respeito que eu tenho por V. Exª, pelo Paulo, enfim, por todos os meus companheiros de PT aqui... Eu estou engasgado com esse episódio do Lula há muito tempo, e não é um desabafo, eu jamais vou usar esse negócio do helicóptero para desabafar, porque eu não tenho mágoa - graças a Deus - de ninguém.

    O senhor é um grande Senador, uma pessoa que eu respeito. Eu não tenho nada contra ninguém do PT aqui, e acho legítimo que defendam uma tese, mas está ficando ruim até para defender. Esse cara deixa vocês em maus lençóis: um homem que liga para um Ministro dele, da Casa Civil, e pede para conversar com o Procurador-Geral, para aliviar para ele; que pede para conversar com a Ministra Rosa Weber, que é uma referência de honestidade neste País e, como toda a Corte, tem feito um trabalho ímpar e imparcial?

    Eles tentam a todo momento envolver o Supremo, envolver o Senado, envolver o Presidente do Senado para mostrar que todo mundo é igual, mas não é todo mundo igual, não, Sr. Lula. Não é todo mundo igual, não, o senhor é que é diferente, o senhor é desonesto.

    Vocês não medem, não têm nenhum escrúpulo, acusam pessoas inocentes, botam na mídia - e elas, logo em seguida, são inocentadas -, como o senhor faz sempre com o pessoal da oposição, sem nenhum respeito, sem nenhum respeito, mas a máscara caiu, Sr. Lula. Sua hora está chegando, você pode aguardar.

    E digo mais uma vez: não é nenhuma mágoa. Esses mesmos grampos que solucionaram o meu problema, que mostraram que eu não tinha nada a ver com o caso do helicóptero, que o senhor usou de uma maneira torpe e covarde, vão levar o senhor para a cadeia, porque, graças a Deus, a Polícia Federal fez um trabalho maravilhoso à época e conseguiu prender toda a ramificação daquela quadrilha de traficantes internacionais, inclusive os chefes lá fora, no México, nos Estados Unidos e na Colômbia. E o senhor fazia graça com isso...

(Soa a campainha.)

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - ... esquecendo que a gente tem família.

    A diferença minha e sua, Sr. Lula, é que o senhor nunca me viu em petrolão, o senhor nunca me viu em mensalão e nunca vai ver, porque eu não sou da sua laia e nem do seu bando.

    É o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

    O Sr. Sérgio Petecão (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - AC) - Senador.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Um instante só, Presidente.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Permita-me um aparte.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Senador Cristovam.

    O Sr. Sérgio Petecão (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - AC) - Senador Zeze, depois, eu gostaria de um aparte.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - O.k..

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senador Perrella, umas das notícias boas que eu ouvi foi quando escutei a decisão que tiveram inocentando-o neste caso. E sabe por que a alegria? Não só pela simpatia, mas porque eu me lembrei do dia em que o senhor, conversando conosco do PDT, com os olhos até muito emocionados, deu a sua explicação daquele assunto do helicóptero. E nós acreditamos, mas muita gente não acreditou. Eu recebi durante semanas, meses e meses...

(Interrupção do som.)

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Com a palavra V. Exª, Senador Cristovam. O problema foi aqui na mesa. V. Exª tem a palavra.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Eu recebi mensagens que diziam: "O seu Partido está envolvido nisto do helicóptero do Perrella. Mas o Perrella é do seu Partido". E eu respondia dizendo sobre o que o senhor falou, sobre o que o senhor conversava conosco, mas as pessoas não acreditavam muito. Agora, eu acho que, com essa decisão, com essa situação nova, o senhor tem tudo para ficar satisfeito, orgulhoso e esquecer tudo isso que foi feito, se é que se pode esquecer. E nós, que estávamos do seu lado, no mesmo Partido, temos razões para dizer agora a quem perguntar: vejam que a justiça se deu. Muito obrigado, Senador Perrella, por ter ficado todo este tempo lutando e conosco, dando as suas explicações no primeiro momento - depois, nenhum de nós pediu mais, só no primeiro momento. Então, fico feliz, foi uma notícia que recebi com muita satisfação.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Obrigado, Senador Cristovam.

    E digo mais. Já, naquela ocasião, saiu uma nota da Polícia Federal dizendo que nós não tínhamos nada a ver, mas a Polícia não podia mostrar as gravações, porque estavam monitorando mais gente, estavam chegando aos cabeças daquela organização criminosa. O meu próprio piloto foi um réu confesso. Espero que ele tome aí uns 20 anos de cadeia, para aprender, pois, se não se preocupava com ele, devia se preocupar com a gente.

    E volto a repetir: o que estou falando, aqui, do Sr. Lula tem pouca relação com isso. Obviamente, eu vi o que ele era naquela época, uma pessoa que, um dia, cheguei a admirar, cheguei a achar que eu poderia estar equivocado, mas ele é muito bandido - mas é muito - e muito cara de pau.

    Com a palavra o Senado Petecão.

    O Sr. Sérgio Petecão (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - AC) - Senador Zeze Perrella, eu queria aproveitar esta oportunidade também para prestar a minha solidariedade. Eu acompanhei de perto aqueles momentos difíceis da sua vida, junto com o Senador Wilder. Quantas vezes nós conversamos, e V. Exª fazia o relato, dizendo: "Graças a Deus que eu estava grampeado, porque, se não fossem os grampos... Os grampos me ajudaram a provar a minha inocência". E, ontem, vi as pessoas com os nervos à flor da pele por conta desses grampos e vi V. Exª agradecendo pelos grampos. Isso prova a sua inocência. Então, eu queria prestar esta solidariedade a V. Exª. Como disse, acompanhei de perto o seu sofrimento e o de sua família, naquele momento em que o mundo desabou em cima de V. Exª e de sua família. Depois, graças a Deus, num breve espaço de tempo, V. Exª conseguiu mostrar ao povo brasileiro que não tinha nada a ver com aquilo e que apenas foi vítima de um piloto irresponsável que expôs toda a sua família. Então, eu quero dizer que sempre acreditei e acredito em V. Exª e tenho um carinho muito grande por V. Exª. Eram essas, neste momento, as minhas palavras, Senador Zeze Perrella.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Muito obrigado, amigo, Senador Petecão.

    Com a palavra o Senador Anastasia.

    O Sr. Antonio Anastasia (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Muito obrigado, Senador Zeze Perrella. Primeiro, eu quero cumprimentá-lo pelo seu pronunciamento firme e objetivo, como requer este momento grave que vive o Brasil. Estávamos há pouco reunidos e conversamos exatamente sobre esse tema que V. Exª abordou, de maneira muito adequada, em seu discurso, com a veemência e a indignação, que, hoje, são generalizadas entre todos os brasileiros. Em qualquer grande cidade do Brasil, basta abrir a janela para se perceber, nas ruas, o movimento de revolta. V. Exª sabe que eu sou Professor de Direito - e Direito Administrativo - na minha querida Universidade Federal de Minas Gerais. E, como Professor de Direito Administrativo, ensinei aos meus alunos, durante anos, exatamente o respeito que a autoridade tem de ter com a lei. O primeiro compromisso do servidor público e da autoridade investida da parcela do Poder Público é com respeito à lei. E é exatamente isto que, igualmente, Senador Perrella, me estarrece: chegar ao ponto de ver, ontem, o que veio a lume com as gravações da Presidente da República obstruindo a Justiça. Eu nunca vi isso, nem em contos de terror. E, como Professor de Direito, lamento muito que, na qualidade, hoje, de Senador da República, seja testemunha de um fato dessa gravidade. É abominável que o Brasil tenha de ouvir aquilo que escutamos: uma combinação entre uma Presidente e um ex-Presidente para obstruir a Justiça. Quem não deve não teme - sabemos disso. Queria cumprimentá-lo e reiterar, estarrecido, o quadro que vivemos. O povo nas ruas está dando a resposta necessária: "Basta!" Muito obrigado.

    O Sr. Ronaldo Caiado (Bloco Oposição/DEM - GO) - V. Exª me concede rapidamente um aparte, nobre colega? Eu gostaria de comunicar ao Plenário uma decisão que acaba de sair do Juiz Federal do Distrito Federal Itagiba Catta Preta Neto, que, neste momento, defere o pedido liminar para sustar a nomeação do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva para o cargo de Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República ou qualquer outro que lhe outorgue prerrogativa de foro - decisão, neste minuto, da Justiça Federal do Distrito Federal. Foi talvez a mais rápida permanência de um Ministro no Governo da Presidente Dilma. Foram alguns minutos, e já está destituído da função, por decisão do Juiz Federal Itagiba, o que mostra claramente o uso indevido da nomeação com desvio de finalidade, muito mais para tirá-lo das respostas que ele deverá dar à Justiça brasileira, principalmente ao Juiz Sergio Moro, da Justiça Federal do Estado do Paraná. É uma decisão que mostra que as instituições, com exceção do Executivo... O Poder Judiciário estará atento e está respondendo imediatamente a todas essas manobras que o Palácio do Planalto tenta fazer para dificultar que a Justiça Federal possa atingir todos aqueles que criminalizaram a prática no País de fazer política. Nossos cumprimentos ao Poder Judiciário...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Ronaldo Caiado (Bloco Oposição/DEM - GO) - Agora, ele não tem mais essa posição de Ministro. Ele volta, neste momento, a ter o foro de cidadão comum, como deve ter, e a responder por todos os crimes praticados. Muito obrigado pelo aparte que V. Exª me concede.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Que notícia boa!

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senador.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Nós sabemos que o foro comum... Se bem que o Supremo Tribunal Federal, Caiado, também tem demonstrado total independência, graças a Deus. Se ele não pagasse aqui, pagaria por lá. Mas, realmente, essa notícia é fantástica.

    Senadora Ana Amélia e, em seguida, Senador José Medeiros e Senador Flexa Ribeiro.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - Senadores, Senador Caiado, como V. Exª fez uma comunicação, eu queria dizer que, em menos de dez dias, é a segunda vez que o Poder Judiciário afasta de uma nomeação uma autoridade federal. Recentemente, por dez votos a um, o Supremo Tribunal Federal considerou que não era adequada a nomeação...

(Interrupção do som.)

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... do Ministro da Justiça. Agora, a Justiça em Brasília da mesma forma (Fora do microfone.) nega a competência e a legalidade da nomeação do ex-Presidente Lula para o Ministério da Casa Civil da Presidência da República. Eu queria dizer, Senador Zeze Perrella, que o seu pronunciamento é mais do que um desabafo. Eu não diria que é um acerto de contas, porque nós não devemos fazer política com o fígado, mas com a razão e, às vezes, com o coração - mas sempre com razão. V. Exª esperou muito tempo para fazer esse acerto e para mostrar a relevância do grampo e a relevância de uma investigação rigorosa feita pela Polícia Federal, que mostrou onde estava a verdade no seu caso e que, agora, está mostrando, na Operação Lava Jato, da mesma forma, também os desvios de comportamento e de atitude. O grampo tem sido revelador de autoridades que orgulham este País. Eu quero dizer do que ouvi nessas degravações, Senador Zeze Perrella. Eu queria elogiar a postura do Ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que, instado a observar o trabalho da Receita Federal, deu uma resposta não evasiva, mas, mais ou menos, da seguinte maneira: eles estão cumprindo com o seu dever. Foi o meu entendimento. Da mesma forma, a Ministra citada por V. Exª, gaúcha que orgulha muito o Rio Grande do Sul e o Poder Judiciário, Rosa Weber, pela atitude, pela compostura que tem neste momento demonstrado. Então, todas as tentativas de torpedear e de fazer manobras diversionistas para prejudicar a investigação na Lava Jato não deram resultado por conta da ação enérgica e exemplar...

(Soa a campainha.)

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... e da conduta seja do Ministério Público, na figura do Procurador-Geral Rodrigo Janot, seja da Polícia Federal, na figura do Leandro Daiello, Diretor-Geral, seja no Poder Judiciário, na figura do líder que comanda a Operação Lava Jato, o Juiz Sergio Moro. Mais do que isso, Senador, talvez estejamos vivendo, na história recente do Brasil, a mais aguda crise institucional. E o movimento que está acontecendo no Brasil não tem cara, Senador Cristovam Buarque. O movimento da sociedade brasileira dispensa lideranças. Qual é a cara do líder das redes sociais que levou para as ruas de 250 cidades brasileiras quase 4 milhões de pessoas e que ontem ocupou o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional? Nesta hora, é preciso...

(Soa a campainha.)

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) - ... evitarmos um banho de sangue em nosso País. Do jeito que as coisas estão andando... E nós temos a responsabilidade, e esta Casa precisa se debruçar, com um senso de equilíbrio e responsabilidade nesta hora... Não podem convocar o confronto, a violência para, por esse caminho, tentar uma saída que seja pior para o nosso País. Espero que as instituições, como o Poder Judiciário, o Ministério Público e outras instituições, estejam atentas ao que está acontecendo. Nós aqui no Congresso precisamos estar atentos e a serviço do equilíbrio, da dignidade, da responsabilidade, sob pena de as ruas também cobrarem de nós uma ação com maior responsabilidade, neste momento de crise aguda a que foi levado o País por quem mentiu à sociedade brasileira. É isso.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Muito obrigado, Senadora Ana Amélia.

    Senador José Medeiros e, em seguida, os Senadores Flexa e Ataídes.

    O Sr. José Medeiros (S/Partido - MT) - Senador Zeze Perrella, não tenho dúvida de que, apesar de muita gente estar chorando hoje, para V. Exª é um dia de regozijo. Eu queria parabenizá-lo, porque imagino o que seja por anos ficar com essa espada apontada - mesmo sabendo ser inocente, mas sempre com aquela pecha de ficarem lhe acusando. V. Exª, hoje, ganha esse presente. Ganha aquela moral de sair por aí e dizer: "Olha, aqui está o atestado da Justiça me inocentando do que me acusam." Isso é muito importante para qualquer ser humano, porque a honra, a moral, são valores que, por vezes, se demora uma vida inteira para se conseguir e, às vezes, se destroem em segundos. V. Exª hoje reconquista isso, a Justiça lhe passa isso. Para finalizar, Senador Perrella, eu ouvi agora há pouco, até essas manifestações, a leitura que o Senador Caiado fez aqui, e quero parabenizar a Justiça brasileira também. Creio que não só Montesquieu como Rousseau, neste momento, estão contentes com a Justiça brasileira, porque demonstra que o equilíbrio entre os Poderes, a independência e a harmonia entre os Poderes estão funcionando. Para que foi feito isso? Por que os pensadores pensaram isso? Para, quando um Poder se exacerbar, o outro Poder fazer o equilíbrio - e o Judiciário está fazendo. Há poucos dias, nas gravações que saíram, o Ministro da Educação dizia: "Em política, tudo pode." Não! Não pode tudo! Não pode tudo. Existem limites, e o limite é o limite da Lei, o limite que o Judiciário impõe quando o outro Poder se exacerba. Também agora há pouco eu vi a manifestação. Os manifestantes que protestavam contra a ida do Ministro ficaram a mais de 500m, com a polícia impedindo. Agora, os companheiros, não! Os companheiros estavam dentro.

(Soa a campainha.)

    O Sr. José Medeiros (S/Partido - MT) - É um cercadinho para chamar de seu. Então, o Partido dos Trabalhadores e o Governo da Presidente Dilma não podem transformar a instituição Presidência da República num terreiro seu, num puxadinho seu, e o Judiciário está demonstrando que não se pode tudo. Muito obrigado, Sr. Presidente.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Muito bem, Senador Medeiros.

    O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Senador Perrella.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Eu quero, também, antes que eu me esqueça, anunciar que estou me desligando, literalmente, do meu partido, apesar de não haver comunicado isso ainda nem para o meu Líder. Eu fiquei estarrecido ontem: o PDT tem quatro Deputados governistas. O Partido é bem dividido, hoje não há unanimidade no partido, mas colocaram quatro governistas lá na Câmara para defender esse pessoal que está aí. Como eu não concordo, acho que está passando da hora de ir embora, como eu já falei várias vezes. Estou saindo, literalmente, do Partido. Vou ficar sem partido e aguardar um partido novo. Vou comunicar isso ainda hoje ao Presidente do Partido, ao Líder, porque não dá para concordar com uma situação dessas. É um absurdo. Nós temos um ministeriozinho lá que foi dado para o André Figueiredo. Eu gosto do André - mas André, entrega esse Ministério! Que vergonha! Está sujando a sua biografia. O PDT precisa de um ministeriozinho para se manter no Governo? Isso é vergonhoso!

    Entregue os Ministérios! Tire esse pessoal que vai participar do impeachment para proteger esse Governo, e eu posso até repensar. Do contrário, meu irmão, eu vou embora, porque estou absolutamente envergonhado.

    Com a palavra o Senador Ataídes.

    Depois, o Flexa parece que passou a vez dele para o Líder Paulo.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Obrigado, Senador.

    O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Com licença, Senador Ataídes. Eu pedi ao Senador Perrella... O Senador Paulo Rocha também se inscreveu. Então, eu queria ceder a vez, que seria em seguida ao Senador Ataídes, ao Senador Paulo Rocha. Eu gostaria de ouvir o Senador Paulo Rocha, como Líder do PT, para falar depois dele.

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Então, se ninguém quiser falar antes, eu falo antes, com o maior prazer, e ouço com atenção o Senador Paulo Rocha, depois de mim, sem o menor problema.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Senador Perrella... Agradeço pelo aparte, Senador. Senador Perrella, V. Exª disse que está envergonhado.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Eu também estou envergonhado e indignado. Nós estamos vivendo o extremo da imoralidade no nosso País. Dia 13, mais de 6 milhões de pessoas foram às ruas lá no Tocantins, debaixo de chuva. Senhores e senhoras com mais de 80 anos de idade, debaixo de chuva, pedindo a renúncia - o impeachment, melhor dizendo - da Presidente Dilma e pedindo que o Sergio Moro botasse o Lula na cadeia. Pois bem. Hoje, quatro dias depois, o que esse Governo faz? Dá um tapa na cara de todo o povo brasileiro, nomeando...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO. Fora do microfone.) - ... esse cidadão chamado Lula, que é um (Expressão vedada pelo art. 19 do Regimento Interno do Senado Federal.). Repito aqui: não tenho medo desse elemento, porque é (Expressão vedada pelo art. 19 do Regimento Interno do Senado Federal.) sim!

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - A Presidência pede, inclusive, para retirar dos Anais...

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO. Fora do microfone.) - Eu tenho o direito de falar, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu sei. Só estou pedindo, até para proteger V. Exª e o Congresso...

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO. Fora do microfone.) - Eu posso falar.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Depende.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO. Fora do microfone.) - Não depende, não!

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - As palavras que rompam com o decoro parlamentar eu sou obrigado a pedir para retirar.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO. Fora do microfone.) - Entre com falta de decoro, então, contra mim. Faça isso!

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, não! Só estou pedindo à Taquigrafia, até para que o debate siga e que V. Exª tenha garantida a sua palavra... Eu só peço...

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO. Fora do microfone.) - Eu sei que V. Exª é um escudeiro, é um zangão do Lula. Isso todo brasileiro sabe.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - É só isso que estou pedindo. Eu queria...

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO. Fora do microfone.) - Eu vou concluir, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Não, não. Agora, a Presidência precisa falar. Eu ouvi V. Exª.

    Eu só estou querendo, me prendendo ao art. 19 do Regimento Interno do Senado, preservar que o debate siga da maneira como a democracia prevalece, que é sem limites.

    Eu estou aqui extrapolando todos os limites de tempo, porque o Senador Zeze Perrella está se sentindo, depois de um processo longo, hoje, na obrigação de vir prestar contas ao Senado sobre a conquista que ele teve em cima da justiça que ele buscou. Eu não estou medindo o tempo porque acho que faria isso com qualquer colega que passou pelo que ele passou e que, hoje, está recebendo a solidariedade de todos.

    Mas eu não posso abrir mão de cumprir o Regimento - e peço a compreensão de V. Exª - naquilo que rompe com o espaço de debate aqui no Senado. Diz o art. 19: "Ao Senador é vedado"... Não sou eu, Senador, e eu respeito V. Exª. Repito:"Art. 19. Ao Senador é vedado: [...] usar de expressões descorteses ou insultuosas".

    É só por isso que estou pedindo para não constar nos Anais, para que sigamos com o debate.

    V. Exª tem a palavra garantida pela minha Presidência e pelo orador que está na tribuna.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Agradeço, Sr. Presidente. É porque a indignação às vezes nos leva até a exagerar, Sr. Presidente. Eu peço desculpas.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Agradeço a compreensão e a gentileza de V. Exª de ajudar nos trabalhos.

    O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Eu peço desculpas. A indignação é tamanha... Mas eu vou encerrar, Senador Zeze Perrella. Mas eu quero dizer o seguinte: o Ministério Público Federal está fazendo a parte dele; a Polícia Federal está fazendo a parte dela; o Poder Judiciário está fazendo a sua parte. Acabamos de ter aqui informação de que um juiz aqui de Brasília, o Catta Preta, colocou então que o Presidente Lula não é mais Ministro de Estado. O povo brasileiro foi às ruas dia 13 agora, último, foi às ruas ontem, Brasil afora, e hoje está também nas ruas Brasil afora. O povo brasileiro também está fazendo a sua parte. Mas este Congresso Nacional tem que fazer a sua parte, porque, na verdade, é aqui que tem que ser decidido. E aqui repito o que eu disse ontem dessa tribuna: o maior Partido da Base do Governo, o PMDB, precisa urgentemente tomar uma decisão, porque, enquanto o PMDB estiver apoiando esse Governo corrupto do PT, nada vai acontecer. Eu imploro aqui novamente: o PMDB tem que tomar uma decisão. Encerrando então, Senador Perrella, o Congresso Nacional precisa fazer a sua parte, os Senadores precisam fazer a sua parte, a Câmara Federal precisa fazer a sua parte. Muito obrigado, Senador.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Com a palavra o Senador Aécio.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Senador Zeze, V. Exª não sabe com que alegria venho hoje a este microfone, não para cumprimentá-lo, pois V. Exª não precisa disso. Nós que conhecemos vossa trajetória, da sua família, temos absoluta convicção de como V. Exª age. Portanto, não é surpresa para nós o desfecho desse processo. Mas eu quero aqui estender a palavra de solidariedade que trago à sua família, ao seu filho Gustavo, vítima da agressividade, da irresponsabilidade de adversários políticos que acham que o confronto não deve se dar no campo das ideias, mas sim com a mais vil de todas as armas, que é a da calúnia, que é a da infâmia. V. Exª, Senador Zeze, honra Minas Gerais, V. Exª goza, neste Plenário, do respeito dos seus pares. Tenho certeza de que agora, de alma lavada, V. Exª dará curso à sua grande trajetória política. Tenho agora, a partir da palavra de V. Exª, do anúncio que faz - se bem entendi - de desfiliação do seu partido, quem sabe um convite para que V. Exª, no campo oposicionista, possa, como já disse mais de uma vez nesta Casa, ter asas para defender as suas ideias, as suas convicções e combater este Governo - como já vem fazendo V. Exª em vários outros momentos -, que tanta infelicidade traz a tantos brasileiros. Portanto, V. Exª, que foi caluniado, que foi ofendido, ultrajado, como eu disse aqui, pela mais cruel das ofensas que se pode fazer a um homem, que é quando ela atinge a sua honra, hoje se coloca para o Brasil inteiro como alguém que nem perto passou de todo aquele processo. Mas eu quero dizer - vejo que o plenário começa a ter a presença de Parlamentares da oposição e da Base governista -, e me permita neste aparte, Presidente Jorge Viana, dizer que este não é um dia comum. Nós estamos assistindo as ruas do Brasil...

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Por isso que eu estou colaborando com a intenção do Plenário,...

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Eu cumprimento V. Exª.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - ... de ouvir, de falar.

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Hoje não é um dia comum, e não podemos perder a percepção disso. As ruas do País inteiro, de forma espontânea, vêm se manifestando. Esta Casa tem o dever de ser a ressonância dos sentimentos múltiplos, vários, estratificados por todas as regiões do País, que nós temos colhido durante esses dias. Portanto, eu quero sugerir a V. Exª - falei agora há pouco, Senadora Gleisi, com o Presidente Renan Calheiros - que eu acho que hoje seria o dia para o Senado Federal, durante todas as horas que se sucederão, e se for o caso, durante o dia de amanhã, debatermos em profundidade, mas com responsabilidade, a gravidade desta crise e os caminhos que esta Casa...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - ... tem a sugerir, as contribuições que os Srs. e Srªs Senadores, experientes que são, muitos já governadores de Estado, como V. Exª, outros tantos com larga experiência nas mais variadas atividades, não apenas na política. Em alto nível, como convém aos belos momentos desta Casa, que tem como patrono Rui Barbosa, quem sabe nós possamos transformar o dia de hoje em um dia de um grande debate, duro, como é natural em tempos duros como os que estamos vivendo, mas respeitoso, como é dever desta Casa. A questão central hoje, e que colho como presidente do PSDB, é que os brasileiros se sentem ultrajados com uma decisão tomada com um sentido que não seria o mais nobre deles, com um sentido explicitado pelas últimas gravações tornadas públicas, que significava a possibilidade de impedir que o ex-Presidente da República - e nada de pessoal contra o ex-Presidente...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Aécio Neves (Bloco Oposição/PSDB - MG) - ...da República - pudesse ter a sua prerrogativa (Fora do microfone.) de foro alterada. Eu não vou adentrar ainda esse tema. Vamos estar aqui, nós da oposição, durante todo o dia. Acho que é importante que a base também esteja - nos reunimos até agora há pouco - para demonstrar ao País a necessidade de, por meio da política, da boa política, das boas formulações da política, apresentarmos para o País um desfecho para esta crise, que não pode ainda continuar a ser alimentada. O Brasil merece o início de um novo tempo, de uma nova quadra, para que nós possamos - oposicionistas, governistas, não importa, mas cidadãos brasileiros como um todo - iniciar uma nova história no Brasil, com respeito às instituições, com respeito à Lei e à Constituição, da qual somos todos escravos, mas com a coragem necessária para rompermos com o que está aí e, dentro daquilo que prevê a Constituição, iniciarmos uma nova página, como disse, na história do País. Fica, portanto, esse convite, e nós da oposição estaremos aqui prontos para um debate contundente, mas obviamente no nível que os membros do Senado Federal certamente saberão manter.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Obrigado, Senador Aécio, pelas palavras carinhosas. V. Exª acompanhou bem de perto, nessa trajetória de amigo, de cruzeirenses que somos, tudo o que eu passei e sabe o que significou para mim.

    Mas eu repito mais uma vez: aqui não vai nenhum sentimento de vingança. É o que eu digo: Deus é tão justo, não é?

    O homem, sabendo que eu não tinha nada a ver com essa história, falava em sindicatos, deu várias entrevistas dizendo: "O helicóptero é do Perrella, o piloto é do Perrella, e a droga é de quem?", insinuando não sei o quê. Os donos das drogas, Senador, estão todos presos, graças a Deus, e espero que o senhor vá para o mesmo lugar. Os donos da droga lá do Panamá, da Colômbia, da Bolívia, do Brasil estão todos na cadeia, e é o destino que espero para V. Exª.

(Soa a campainha.)

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Passo a palavra para o Senador Paulo Rocha.

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Apoio Governo/PT - PA) - Meu caro Senador Perrella, eu, sinceramente, como pessoa humana, sou solidário a V. Exª pelo que V. Exª passou nesse período. Agora, como Senador do PT, do Partido dos Trabalhadores, eu quero debater de outra forma. Sou solidário como pessoa humana, porque eu vivi, durante sete anos, essas investigações, porque eu fui envolvido naquilo que chamaram de mensalão. Fui absolvido, e o povo do Pará me elegeu com 46% dos votos. Mas V. Exª mistura agora tentando buscar...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Apoio Governo/PT - PA) - ... Lula, aí não, companheiro. O Lula não é bandido, o Lula não é salafrário, o Lula é uma liderança política, democrática, que foi construída na luta, nas ruas e que adquiriu o respeito na democracia, enfrentando, inclusive, a ditadura militar, foi preso, inclusive, pela ditadura militar. Agora, querem prendê-lo no processo da democracia. O que está em jogo aqui, no debate político, é a disputa de poder do Brasil, de poder político do Brasil. As oposições, que agora estão aqui tentando levar essa questão para a disputa no Judiciário, perderam as eleições democraticamente, aliás, fizeram uma boa campanha, uma bela campanha na disputa política, mas perderam as eleições, e o que foi que aconteceu depois disso? Processaram uma disputa política nos tribunais, no Ministério Público, nas ruas e, numa combinação - e isso é grave - da politização dos julgamentos, do espetáculo do julgamento, transformaram juízes em salvadores da Pátria, transformaram os juízes em grandes imperadores das saídas do País. Isso é o falecimento da política, isso faz com que os nossos partidos, que foram enfraquecidos ao longo do tempo por causa dessa disputa, agora não estejam com condições de resolver o problema da democracia e busquem as portas dos tribunais, contando com visões autoritárias de juízes de plantão. Agora, eu já falei, companheiro - e chamo de companheiro, porque passamos muito tempo lá na Câmara tratando isso no momento da democracia do País -, mas hoje infelizmente eu não lhe posso chamar de companheiro. Sabe por quê? Porque V. Exª liderou esse processo que está estabelecido nessa polarização. Primeiro, Aécio, V. Exª nos atacou profundamente na nossa alma de um partido democrático, um partido que foi construído na luta, nas ruas. Eu sou um operário, eu não sou professor, Anastasia, eu sou um operário, mas eu tenho a dignidade de um operário, eu não sou criminoso, eu não faço parte de organização criminosa. Eu estou olhando para V. Exª, Flexa, para lhe dar testemunho disso aqui. Nós não somos criminosos. Olhem para as companheiras...

(Interrupção do som.)

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Apoio Governo/PT - PA) - ... mais simples, que nem têm a cara de Senadora. O companheiro...

    O SR. ATAÍDES OLIVEIRA (Bloco Oposição/PSDB - TO) - Cadê o artigo aí, Sr. Presidente, ele está de costas para a Mesa, Sr. Presidente.

    Ele está discursando...

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Apoio Governo/PT - PA) - ... a companheira Regina, a companheira Fátima...

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Por gentileza, Senador Ataídes.

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Apoio Governo/PT - PA) - E foi nos instigando, o próprio Líder do...

(Tumulto no recinto.)

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Senador Paulo Rocha.

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Apoio Governo/PT - PA) - A própria liderança do nosso Partido... Eu não considero o PSDB, embora tenha alguns elementos com problemas também respondendo na justiça, uma organização criminosa, mas veja o que o companheiro tem tratado aqui com a Liderança do PSDB: quando se trata da delação contra vocês, aí é uma coisa política, mas, quando se trata de uma delação contra algum companheiro que esteja no Governo ou no PT, aí é criminoso. Não dá para fazer esse debate aqui. Aí, é o problema do financiamento de campanha. Todo mundo sabe que a origem de todo esse problema é financiamento de campanha, é a forma como se financia a política no Brasil, mas, quando sai o dinheiro da Odebrecht, do mesmo caixa da Odebrecht, para poder ajudar a campanha da Dilma ou do PT, isso é propina. Agora, quando sai do mesmo caixa da Odebrecht para financiar a campanha do PSDB, isso não, isso é apoio. Aí, não! Isso é financiamento. Aí, não. Aí, não dá! E esse processo leva a essa polarização. Lembrem que somos nós, a democracia e a política, que estamos deixando acontecer isso. Um juiz decidiu invadir a casa de três Senadores, e a Polícia Federal foi lá, invadiu, vasculhou, e nós deixamos. Prenderam um Senador da República, aqui, o Delcídio. Aí, nós levamos em votação e concordamos com a prisão. Depois, a Justiça relaxou, e nós deixamos. Agora, o efeito bumerangue, meu companheiro, caro Aécio, das acusações que V. Exª fazia contra as delações, contra nós. Vocês pegaram as delações do mesmo Delcídio e transformaram-nas numa grande peça jurídica, professor, para agregar o impeachment, mas, quando a outra revista, com efeito bumerangue, traz a delação em relação ao Senador Aécio, aí não, aí é política, é mentira, é ilação. Não dá para fazer esse debate. Por isso, eu vou concordar com esta última fala: felizmente, V. Exª veio agora para a coerência, para o debate político da democracia. "Ah, vamos chamar agora o Renan para nos acalmarmos", mas depois de acirrado? O que estão fazendo nas ruas nós sabemos fazer também. Nós fizemos muito. Na época do Sarney, quando ele, através dos decretos presidenciais, reduziu salário, nós fomos para a rua brigar. Na época em que o governo Fernando Henrique Cardoso começou a processar, a vender os nossos patrimônios, através do processo de privatização, nós fomos para a rua também. É correto vocês irem para a rua reclamar, defender a postura de vocês. Não é problema da democracia. O problema da democracia é este: transformar algumas instâncias do Judiciário com uma visão autoritária para tentar resolver o problema do confronto político que está no nosso País. Lembrem uma frase que não é nem petista, não foi nem nomeado por nós, do Ministro Marco Aurélio: "A pior ditadura é a ditadura do Judiciário."

    O SR. AÉCIO NEVES (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Sr. Presidente, art. 14, Sr. Presidente.

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Há uma lista enorme de Líderes inscritos. Agora, eu peço encarecidamente: já que há essa lista, eu vou dar a palavra ao Senador Aécio, pelo art. 14, óbvio, e eu peço a V. Exª que possa concluir, após o Senador Aécio, porque os oradores todos, os colegas, vão falar.

    Senador Aécio Neves, art. 14.

    O SR. AÉCIO NEVES (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Eu primeiro eu tenho que dar o art. 14, porque é assim que estabelece o Regimento Interno.

    O SR. AÉCIO NEVES (Bloco Oposição/PSDB - MG. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu não vou tomar muito tempo deste Plenário neste instante, pretendo voltar ainda à tribuna, talvez com o Senador Paulo Rocha um pouco mais sereno, um pouco mais tranquilo, mas quero dizer algo aqui que me parece muito distante das preocupações do Senador.

    Ele nos acusa de termos acirrado os ânimos do País. Teremos nós essa força? Nós, da oposição, acirramos os ânimos do País? Ou são essas denúncias sucessivas que não cessam?

(Soa a campainha.)

    O SR. AÉCIO NEVES (Bloco Oposição/PSDB - MG) - Ou são as medidas absolutamente equivocadas, irresponsáveis e atrapalhadas na economia que nos levam à pior recessão da nossa história, um desemprego sem precedentes no Brasil, que está levando as pessoas às ruas?

    Acusam-me, Senador Paulo Rocha, de, como Presidente do PSDB, ter impetrado uma ação na Justiça Eleitoral, a partir de inúmeras denúncias que nos chegavam. O PT fez isso corriqueiramente em inúmeros Estados.

    Se não tivesse cumprido, Senador Jorge Viana, a minha obrigação - e não é o PSDB que produz essas provas - de solicitar ao Tribunal Eleitoral que investigasse as denúncias que nos chegavam, eu certamente estaria prevaricando. Se não entro eu com essa ação, como Presidente do PSDB, Senador Paulo Rocha, o Brasil não estaria tendo conhecimento das gravíssimas denúncias que vinculam, sim, recursos da Petrobras ou do "propinoduto" ao financiamento da campanha eleitoral.

    Eu sempre disse: é essencial que o direito à livre e ampla defesa seja garantido. A Presidente terá lá todas as condições de demonstrar que essas acusações ou que essas delações são falsas.

    Agora, Sr. Presidente, o que eu percebo, de forma muito clara, e essas gravações de ontem trazem tudo isso à luz, é que há sim, há sim uma tentativa de nivelar aquilo que não é nivelável. Percebi, claramente, em algumas dessas gravações, que vale a pena sim, vamos citar uma, duas, dez, quinze vezes alguma figura, independentemente do que isso represente, para que, quem sabe, com isso, haja uma pressão explícita, como uma dessas gravações coloca, em torno do Procurador-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal.

    Não, nós temos, felizmente, Senador Paulo Rocha e Senador Cristovam Buarque, instituições que funcionam com independência, com altivez - se eventuais excessos forem cometidos por alguma delas, caberá à sociedade reagir a esses excessos -, mas, em relação àquilo que é dito sobre o PSDB, a nossa postura é muito diferente da postura do Partido de V. Exª: não atacamos as instituições, não demonizamos a imprensa, ao contrário, não consideramos isso - como considera o Partido de V. Exª - um ataque à democracia.

    Queremos que tudo seja investigado em profundidade. Não há, para os homens de bem, nada, absolutamente nada mais relevante do que a verdade, e é isso que estamos buscando. Não acredito que serão apenas essas as citações a nomes da oposição e ao meu próprio, muitas outras virão, e todas serão respondidas de forma cabal, clara, com serenidade, mas com absoluta firmeza.

    É preciso, Senador Paulo Rocha, que coloquemos nossos olhos no futuro, vamos olhar o que está acontecendo com o Brasil, vamos encontrar caminhos para que o Brasil rompa definitivamente com o que está aí ancorado na Constituição, para construirmos um tempo novo, de convergência e não de divisões.

    Quisera ter - e falo para encerrar, Senador Paulo Rocha - o poder de mobilizar as massas que ocuparam ontem e no último domingo as ruas do Brasil inteiro. Não tenho! Se V. Exªs não compreenderem de forma clara o que está acontecendo no sentimento e na alma dos brasileiros, certamente V. Exªs não estarão em condições de contribuir para uma saída que seja de interesse dos brasileiros e dos trabalhadores.

    Por último, Senador Paulo Rocha, quando V. Exª teve seu nome citado no mensalão e depois absolvido, V. Exª jamais teve desse Parlamentar uma citação que não fosse digna e de respeito. É isso que o PSDB e os tucanos esperam também de V. Exª.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Senador Perrela, para concluir.

(Soa a campainha.)

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Vou passar agora para o Senador Flexa Ribeiro para encerrar, atendendo ao pedido do Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Jorge Viana. Bloco Apoio Governo/PT - AC) - Senador, eu estava pedindo a V. Exª, há uma lista enorme.

    Faz mais de uma hora. Também tenho que seguir com a lista de oradores.

    O SR. ZEZE PERRELLA (Bloco Apoio Governo/PDT - MG) - Só para dizer para o Senador Paulo Rocha.

    Paulo, eu soube separar as coisas, jamais fiz qualquer acusação a qualquer um dos Srs. Senadores do PT, com os quais tenho a melhor das melhores relações, diria até amizade.

    Estive, desde o primeiro momento, a solidariedade de V. Exªs e o respeito de verdade. Não estou aqui para julgar ninguém. Estou falando é de uma figura que parei de respeitar, porque é leviana - para mim, engana todo mundo e engana até quem o apoia -, mas, quando se fala de terceiro turno, está-se esquecendo que o PT pediu o impeachment do Fernando Henrique por nada. E agora vem falar de terceiro turno. Lá na época não era terceiro turno, não, quando pediram o impeachment do Fernando Henrique sem motivo nenhum?

    Eu queria aproveitar - não quero falar muito mais, não - para convocar aquelas pessoas para que venham para a porta do Congresso e para a porta do Planalto, não podemos perder essa oportunidade do impeachment, ela é única e se faz necessária.

    Com a palavra o Senador Flexa Ribeiro.

(Durante o discurso do Sr. Zezé Perrella, o Sr. Sérgio Petecão, deixa a cadeira da Presidência, que é ocupada pelo Sr. Jorge Viana, 1º Vice-Presidente.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/03/2016 - Página 8