Discurso durante a 59ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Solicitação de transcrição nos Anais do Senado de voto de congratulações à estudante paraense Laryssa da Silva Pinto, vencedora nacional do Concurso Internacional de Redação de Cartas promovido pela União Postal Universal e realizado, no Brasil, pelos Correios.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO:
  • Solicitação de transcrição nos Anais do Senado de voto de congratulações à estudante paraense Laryssa da Silva Pinto, vencedora nacional do Concurso Internacional de Redação de Cartas promovido pela União Postal Universal e realizado, no Brasil, pelos Correios.
Aparteantes
Donizeti Nogueira.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2016 - Página 101
Assunto
Outros > SENADO
Indexação
  • VOTO DE APLAUSO, VITORIA, AMBITO NACIONAL, ESTUDANTE, ESCOLA PUBLICA, MUNICIPIO, ORIXIMINA (PA), ESTADO DO PARA (PA), CONCURSO, AMBITO INTERNACIONAL, REDAÇÃO, CARTA, RESPONSAVEL, REALIZAÇÃO, FASE, BRASIL, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente, Senador Donizeti Nogueira, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, vou iniciar o meu pronunciamento de hoje com uma parte que fará bem a todos os brasileiros, neste momento tão difícil por que passa a nossa nação.

    Refiro-me ao requerimento que encaminho à Mesa, nos termos do art. 222 do Regimento Interno, para que seja consignado nos Anais do Senado voto de congratulações à estudante paraense Laryssa da Silva Pinto, que acaba de conquistar o título nacional, Senador Paim, que assume a Presidência neste instante, do Concurso Internacional de Redação de Cartas, promovido pela União Postal Universal e realizado no Brasil pelos Correios.

    Requeiro ainda que esse voto seja encaminhado à homenageada, a sua mãe, Srª Raquel da Silva Pinto e ao seu pai, Sr. Raimundo Pinto, ao Governador do Estado do Pará, Sr. Simão Jatene, à Secretária de Educação do Estado do Pará, Srª Ana Cláudia Hage, à Diretora da Escola, Professora Marinete Freitas, e a todas as professoras da Escola do Município de Oriximiná.

    A vencedora nacional deste ano do Concurso Internacional de Redação de Cartas é do Pará. Laryssa da Silva Pinto, do Distrito de Porto Trombetas, no Município de Oriximiná, foi a campeã, Senador Donizeti, da 45ª edição do concurso, que teve como tema: "Escreva uma carta a você mesma, aos 45 anos".

    A aluna de 15 anos estuda na escola pública Professor Jonathas Pontes Athias - e eu peço à Presidência que o voto de aplauso chegue aos professores e professoras da escola Professor Jonathas Pontes Athias, como já disse, do Município de Porto Trombetas, no Município de Oriximiná, no meu Pará - e cursa o 1º ano do ensino médio.

    Nesta redação, ela discorreu sobre a expectativa de melhor convivência entre os cidadãos no mundo, com respeito à religião, ao meio ambiente e atenção às artes e sobre a importância de questionar a realidade. Também expressou a sua intenção de ser aluna e professora do mundo, à espera de nunca se cansar de aprender, sabendo que para aprender é preciso ensinar.

    O concurso é de autoria da União Postal Universal, que congrega as atividades postais de 191 países em todo o mundo e que, neste ano, teve a participação de 1,6 mil escolas públicas e particulares em todo o Brasil.

    No Brasil, ele é realizado pelos Correios e o funcionamento de forma geral é feito em quatro etapas: escolar, estadual, nacional e internacional. As escolas escolhem até duas redações para participarem da etapa estadual. Depois, a primeira colocada da fase estadual concorre na fase nacional, onde é escolhida apenas a primeira colocada nacional, que irá representar o Brasil na fase internacional.

    Dessa forma, a redação de Laryssa irá agora representar o Brasil na etapa internacional, a ser realizada em Berna, na Suíça.

    Ao mesmo tempo em que desejo toda a sorte para a jovem Laryssa, peço o apoio de meus pares na aprovação deste voto, valorizando assim o esforço dessa brilhante paraense e estimulando, cada vez, mais o investimento em educação em nosso País.

    Para o conhecimento dos brasileiros, Senador Paulo Paim, vou ler a carta da jovem paraense de 15 anos, Laryssa da Silva Pinto, vencedora do concurso em nível Brasil, que irá representar o nosso País no concurso internacional em Berna, na Suíça.

    Diz a carta:

Cara Dúvida,

Tenho pensado muito sobre você esses dias. Você bem sabe que ter 15 anos não é nada fácil. Parece que tentei fugir tanto da infância que agora, quando me deparo com as incertezas, medos e pressões da adolescência, só me resta recorrer a você, o meu futuro.

Neste momento em que a escrevo, meu olhar está parado, como se tudo estivesse em um mesmo ponto. Os pensamentos voam e, em minha opinião, se vê melhor o mundo com eles do que com os próprios olhos.

Como disse um certo escritor, "o pensamento atravessa as cascas e alcança o miolo das coisas. Os olhos só acariciam as superfícies". Então, o que toca dentro de mim agora é a imaginação.

Não pretendo ser dona da verdade, pois esta, muitas vezes, não nos permite errar.

O que permeia toda a minha mente agora são mais dúvidas que verdades e é assim começo a dizer o que meu presente espera de você.

Eu gosto da palavra dúvida. Ela nos permite mudar de opinião; não ser certo nem errado. A dúvida nos concede a escuta e disso o mundo está muito carente. Já me encantei inúmeras vezes com os questionamentos do outro e isso me fez mudar de lugar, de opiniões. Desse modo, não tomem minhas palavras como verdades irrefutáveis, mas considere o que for sensato.

Diante disso, espero que esta sede em compreender o meio à minha volta permaneça também em você. Eis, portanto, minha primeira expectativa, que não me canse de aprender. Contudo, para aprender, é preciso também ensinar. Então, acrescente em minha espera mais um princípio. Faça-me aluna e professora do mundo, mas, por favor, não me ensine a fazer armas, bombas e guerra.

Quero aprender a fazer paz, fazer justiça e ser amor. Quero ver no reflexo do mundo a minha casa e nas pessoas, minha família. Lecione-me para que eu seja capaz de ser o que tanto falta em nosso redor hoje: tolerância. E quando digo ser tolerância, embasa-me que hoje, na teoria, muito dos politicamente corretos condenam Charlie Hebdo, entretanto não estão aptos a enxergar nas preferências sexuais, vestuárias, políticas e religiosas do outro uma oportunidade para serem passíveis e compreensíveis. Por isso, minha segunda expectativa é que você seja inteiramente aberta ao diferente.

E por falar em religião, eis nossa principal solução, nosso principal problema e nossa maior descoberta até hoje. Afinal, é a nossa crença que nos concede vivacidade, já que por meio dela acreditamos em algo maior e mais forte do que nós, a ponto de saciar nossos medos, nossas apreensões e todas as nossas impossibilidades humanas. Entretanto, esse refúgio vem tornando-se cada vez mais motivo de rivalidades, bombardeios e mortes, ao ponto de que minha terceira expectativa é o fim do desrespeito a Alá, a Javé, a Buda, aos Orixás, a Jesus, a Tupã, enfim, é o surgimento de uma era ecumênica.

Uma vez que o tempo é capaz de curar, eu espero também que ele seja capaz de findar nossas mazelas internas e externas. Já que é impossível termos uma sociedade melhor se nós não formos pessoas melhores, se não abandonarmos nossas deficiências éticas e nossas corrupções diárias, que, mesmo que não incluam o desvio de verbas ou lavagem de dinheiro, como fazem alguns de nossos líderes políticos, são alicerçados nos mesmos motivos que nos levam a corromper-se mais a fundo: o egoísmo.

Perante isso, minha quarta expectativa é que vivamos o melhor que o outro tem a nos oferecer, tendo em mente que nós devemos nos manter em conjunto porque estamos entrelaçados ao ambiente que nos cerca.

Reconheçamos, pois, isto. Somos ecossistema.

E quando, enfim, esta consciência de respeito mútuo for levada em conta, tenho certeza de que serão as desigualdades sociais, de gênero e econômicas que se extinguirão, e não a nossa fauna, a nossa flora e os nossos biomas. Espero isto de você também, pode incluir: escrúpulo.

Porém, o mundo atual não é constituído apenas de consecutivos deslizes. Temos algo que transmite o que sentimos, que toca, que emociona e que está presente no interior de cada ser vivo, talvez no seu próprio existir, na sua conexão com o Planeta. Esta dádiva que edifica o meio é a arte. E se todo artista é também um pouco altruísta, espero que esta se solidifique ainda mais no coração do mundo e na alma humana.

Posta todas essas minhas expectativas do auge da minha juventude e do mundo no ápice da sua insanidade desumana, considere-se, pois, um bote salva-vidas. Desde já, por favor, reconheça a sua importância em mudar. Tanto a mim quanto ao mundo. Você não é só o porvir, você é a esperança. Mas sou eu, agora, que posso escolher que amanhã quero para o mundo, porque o futuro é o segundo que se segue após este ponto final.

    Senador Paulo Paim, essa é a carta premiada da estudante Laryssa da Silva Pinto. Sem sombra de dúvida, uma jovem de 15 anos, Senador Donizeti, que escreve uma carta para ela quando tiver 45 anos - o título é "Escreva uma carta a você mesmo aos 45 anos" - e que, em sua adolescência, tem a capacidade de fazer um texto como esse, um texto que atinge todos nós, a ponto de ela ter sido escolhida entre todas as cartas do Brasil inteiro para representar o nosso País no concurso internacional em Berna, na Suíça.

    Concedo um aparte ao Senador Donizeti.

    O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador Flexa Ribeiro, meus parabéns por trazer essa carta ao Senado. Senador Paim, parece que é um espírito iluminado trazendo luz a um momento grave em que o mundo vive - não é o Brasil, é o mundo -, mas, sobretudo, o nosso País, quando ela se refere à religião. Essa carta precisa chegar a cada templo, a cada denominação religiosa, para que possa ser lida e para que possamos pensar que mundo queremos construir, porque, com pastores, leigos, pessoas que consideram que os negros não são seres humanos abençoados, esse não é o mundo que nós precisamos construir. Portanto, essa adolescente de 15 anos traz para nós uma reflexão, e eu queria sugerir que o Senado não só registrasse a carta nos Anais, mas que também a publicasse e a fizesse chegar a todos os Poderes. Vamos nós cumprir o papel de fazer essa carta chegar a todos os agentes públicos, políticos, para que essa reflexão seja, no cotidiano, para nós, uma baliza do que nós, hoje, com 60 anos, esperamos ver daqui a mais 30 anos. Ela está colocando para si uma tarefa de 15 para mais 30 anos, e nós podemos nos colocar essa tarefa, homens e mulheres de 60 anos, para os 90 anos. Acredito que vou viver bastante tempo.

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Se Deus quiser.

    O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Tenho fé nisso; tenho a bênção de Deus para continuar contribuindo com o meu País e sigo aprendendo para evoluir. Eu não poderia falar outra coisa, além de que eu fico surpreso, positivamente, com a reflexão feita nessa carta. O Brasil todo precisa conhecer, o mundo precisa conhecer essa reflexão, que foi iluminada, certamente, por espíritos evoluídos, pelo Divino Espírito Santo - eu, que sou católico -, para trazer uma reflexão tão importante para nós. Parabéns, Senador Flexa, por trazer hoje uma reflexão tão importante e, assim, por não entrarmos aqui naquele debate de todos os dias, de discutir contra e a favor do impeachment, mas discutirmos uma carta de tão grande importância para o mundo e, sobretudo, para o nosso País. Obrigado por me conceder o aparte, Senador.

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Eu que agradeço, Senador Donizeti, o aparte de V. Exª.

    Quero dizer que, ao ler a carta da Laryssa, em que ela, Senador Paim, na sua adolescência, com 15 anos, fala em tolerância, fala em egoísmo e fala em escrúpulo, resolvi deixar de fazer a segunda parte do meu pronunciamento - em homenagem à Laryssa -, que trataria dos problemas pelos quais, lamentavelmente, passa o nosso País.

    O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Senador, eu também estou suspendendo o meu discurso de hoje para outra data. Talvez, amanhã.

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Agradeço a V. Exª, Senador Donizeti.

    O Sr. Donizeti Nogueira (Bloco Apoio Governo/PT - TO) - Pela grandeza da carta e do momento, podemos encerrar esta sessão, presidida pelo Senador Paim.

    O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco Oposição/PSDB - PA) - Isso mesmo. Vamos encerrar, com a leitura da carta da Laryssa. Amanhã, nós falaremos da questão que aflige e angustia todos nós, brasileiros.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.

    Eu a encaminho à Mesa, para registro nos Anais do Senado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2016 - Página 101