Discurso durante a 118ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relato da visita de S.Exª à região do Alto Solimões, no Estado do Amazonas, que teve como objetivo principal debater a necessidade da ampliação da participação das mulheres na política; e outros assuntos. Considerações acerca de agenda cumprida por S. Exª na região do Alto Solimões (AM), a fim de debater a necessidade da ampliação da participação das mulheres na política; comentários sobre o aumento da violência contra a mulher no Brasil; crítica ao pronunciamento do Ministro das Relações Exteriores, José Serra, divulgado pelo noticiário El País, contrário à participação da mulher na política.

Manifestação de solidariedade à atriz Letícia Sabatella, hostilizada em Curitiba (PR), por manifestantes favoráveis ao impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Relato da visita de S.Exª à região do Alto Solimões, no Estado do Amazonas, que teve como objetivo principal debater a necessidade da ampliação da participação das mulheres na política; e outros assuntos. Considerações acerca de agenda cumprida por S. Exª na região do Alto Solimões (AM), a fim de debater a necessidade da ampliação da participação das mulheres na política; comentários sobre o aumento da violência contra a mulher no Brasil; crítica ao pronunciamento do Ministro das Relações Exteriores, José Serra, divulgado pelo noticiário El País, contrário à participação da mulher na política.
MOVIMENTO SOCIAL:
  • Manifestação de solidariedade à atriz Letícia Sabatella, hostilizada em Curitiba (PR), por manifestantes favoráveis ao impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Aparteantes
José Medeiros, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 02/08/2016 - Página 14
Assuntos
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Outros > MOVIMENTO SOCIAL
Indexação
  • COMENTARIO, ATIVIDADE POLITICA, ORADOR, LOCAL, MUNICIPIOS, TABATINGA (AM), BENJAMIN CONSTANT (AM), ATALAIA DO NORTE (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), OBJETIVO, DEBATE, AMPLIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, MULHER, POLITICA, AUMENTO, VIOLENCIA DOMESTICA, BRASIL, CRITICA, PRONUNCIAMENTO, JOSE SERRA, MINISTRO, ITAMARATI (MRE), DIVULGAÇÃO, JORNAL, EL PAIS, ASSUNTO, OPOSIÇÃO, IGUALDADE, SEXO, POLITICA NACIONAL.
  • MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, ATOR, VITIMA, HOSTILIZAÇÃO, LOCAL, CURITIBA (PR), ESTADO DO PARANA (PR), AGRESSOR, PARTICIPANTE, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, DEFESA, APROVAÇÃO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Sr. Presidente, Senador Paulo Rocha.

    Srªs Senadoras, Srs. Senadores, companheiros e companheiras, venho à tribuna neste momento para falar a respeito de visita que fiz nesses últimos dias à região do Alto Solimões, no meu Estado do Amazonas. Estive visitando e me reunindo com a comunidade, com a população, com lideranças parlamentares, com executivos, com trabalhadores nos Municípios de Tabatinga, de Benjamin Constant e Atalaia do Norte. Municípios localizados, Senador Paim, na região sudoeste do Estado do Amazonas.

    E a viagem a esses Municípios, cujo objetivo principal era levar o debate sobre a necessidade da ampliação da participação das mulheres na política, além desses eventos que realizamos, os três eventos, nos três Municípios, que aconteceram na Câmara de Vereadores, com presenças significativas, importantes, não apenas de lideranças das mulheres, mas também de muitos homens, que conosco debateram sobre a necessidade da ampliação da presença da mulher em todos os locais da sociedade, mas, sobretudo, naqueles onde as decisões são tomadas, e da necessidade também da divisão do poder entre homens e mulheres em nosso País...

    A viagem a esse três Municípios, que se localizam na tríplice fronteira entre o Brasil, o Peru e a Colômbia, foi, sem dúvida nenhuma, para mim, Sr. Presidente - nós que estamos tão envolvidos no trabalho interno do Senado Federal, e isso nos tem tirado a possibilidade de estarmos, com maior frequência, mais presentes nos Municípios do interior dos nossos Estados -, uma viagem de renovação. E com que fiquei muito feliz, Sr. Senador Paulo Rocha, V. Exª que é do Estado do Pará, e que me trouxe muita alegria e esperança foi ver o quanto a nossa gente que vive no interior está bem informada sobre o que acontece no Brasil.

    Diria até que me surpreendi ao ver que, lá em Atalaia do Norte, lá em Benjamin Constant, lá em Tabatinga - repito, região de fronteira com Colômbia, com Peru, a milhares de quilômetros longe de Manaus, mil e poucos quilômetros de distância -, eles estão até mais bem informados do que as pessoas que vivem nas grandes cidades, nos grandes centros, por uma razão simples: porque as pessoas que vivem no interior assistem à televisão, cujo sinal é captado através da antena parabólica, e a antena parabólica permite que, lá no interior, eles assistam a vários canais, como, por exemplo, a TV Senado. E como a TV Senado aumentou a sua audiência nos Municípios do interior é algo impressionante, Srs. Senadores. Então, fico feliz de ver o que a comunicação pode fazer e como pode transformar o nosso País.

    Essas três cidades participam e tomam parte da mesorregião do Alto Rio Solimões. Tivemos a oportunidade, como disse aqui, de nos encontrar com inúmeras lideranças - lideranças de mulheres; lideranças indígenas de várias etnias, marubos, kokanas, e cito aqui a liderança Josefina Awea, que é uma líder tikuna; lideranças de trabalhadores rurais, de assentamentos agrícolas -, para debater os mais diversos problemas que vivem lá e os problemas que vivemos no País.

    No Município de Benjamin Constant, tivemos uma reunião importante com vários Vereadores - quase a totalidade dos Vereadores daquele Município -, e com a Prefeita, a Srª Iracema Maia, que vem fazendo um belo trabalho na área social. Em Tabatinga, além de me encontrar com o Prefeito da cidade, o Prefeito Magalhães, encontrei-me com a ex-Vereadora Branca, com o Vereador Zilmar, com Camila e com várias mulheres.

    Esse é um Município importante, que tem mais de 70 mil habitantes. O meu Partido, o PCdoB, é presidido por uma mulher, Camila Alvarado. E estive também com o nosso pré-candidato a Prefeito lá, o companheiro Leonardo Bona.

    E, Sr. Presidente, uma coisa me chamou também a atenção nos debates que fizemos nas Câmaras de Vereadores. Aqui, falo de Municípios de pequeno porte, mas, para o nosso Estado, o Município de Tabatinga é um dos maiores: Tabatinga tem 15 Vereadores; Benjamin Constant, 12 Vereadores; e Atalaia do Norte, 11 Vereadores. Todos esses Municípios têm em comum o fato de que cada um deles só tem uma mulher Vereadora, ou seja, em Tabatinga, dos 15 Vereadores, somente há uma mulher Vereadora.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Se V. Exª me permitir um aparte, eu entro na sequência, nesse mesmo assunto.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Exatamente. Em Benjamin Constant, Senador Paim, dos 12 Vereadores, somente uma mulher. Em Atalaia do Norte, dos 11 Vereadores, somente uma mulher.

    Concedo o aparte a V. Exª, Senador.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - Exatamente, a participação da mulher na política. Participei - depois, vou dialogar um pouco na tribuna com este Plenário -, em Canoas, de algumas atividades. Olhe esse dado de que falei, e o pessoal entendeu com enorme preocupação, que vai na linha da sua fala. Canoas tem um Deputado Federal, que já presidiu inclusive a Câmara, já assumiu a função até de Presidente da República. Canoas tem um Senador com dois mandatos e quatro de Deputado Federal. Canoas tem um Deputado Estadual. Canoas tem um Prefeito, que é o mais bem avaliado do Estado do Rio Grande do Sul, com cerca de 80% de aceitação. E Canoas tem 21 Vereadores. Não há uma Vereadora!

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Nenhuma mulher.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) - E nem se lembram. Eu perguntava para eles quando houve ali uma Vereadora, e a maioria dizia que não sabia. Achavam que nunca. E alguém disse que não sabia quantos anos atrás, décadas, houve uma. Não há uma Vereadora! Isso, de fato, mostra que V. Exª está coberta de razão. Eu acompanhei, V. Exª fez uma cruzada nacional pela mulher na política. Estou convicto. Não é que... Às vezes, os Vereadores podem estar nos ouvindo e dizerem: "Ah! O Paim agora não quer que a gente se eleja. Só quer mulher." Não é isso. Eu só quero que as mulheres tenham, pelo menos, 50%, o que seria bom. E a gente fica com os outros 50%. Ficaria bem feliz se fosse assim. Então, aproveito a oportunidade para falar para o meu Rio Grande e para Canoas, especificamente, que é preciso haver mulheres na Câmara de Vereadores de Canoas. Parabéns a V. Exª.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Obrigada, Senador Paim. E quero dizer que a realidade da sub-representação feminina nos Parlamentos de nosso País é uma realidade que existe em todos os Estados, em todas as unidades da Federação. Para quem não conhece - Senador Paim, V. Exª falou muito em Canoas -, Canoas é um Município da Região Metropolitana de Porto Alegre, e não há uma mulher Vereadora, veja V. Exª!

    E, uma vez, eu chegando a outro Município do interior do meu Estado e dialogando com os Vereadores, eles diziam: "Não, Senadora. Aqui, nós temos uma Vereadora, sim, e é uma Vereadora que representa muito bem todas as mulheres." Veja!

    É isso, porque, no fundo, eles acham que, quando nós desenvolvemos a campanha por mais mulheres na política, nós estamos querendo tirar um espaço que é deles. Não! Estamos mostrando que este espaço, o espaço da representação política, é o espaço da sociedade, e a nossa sociedade é dividida ao meio: metade, homens, e metade, mulheres.

    E aquele tempo em que à mulher era dada somente a tarefa de cuidar da casa, do esposo e dos filhos, ficou para trás. Hoje, nós participamos e construímos a riqueza nacional com 40% da mão de obra. Hoje, nós temos um nível de escolaridade superior ao dos homens, mas ainda amargamos o recebimento de um salário 25% inferior ao dos homens. Então, a luta é importante.

    Neste mês de agosto, Senador Paim, V. Exª verá muito as mulheres juntas. Nós vamos realizar vários encontros, vários eventos, porque agora, no próximo dia 7, comemoramos dez anos da Lei Maria da Penha. E, no debate contra a violência, nós vamos introduzir também a necessidade do empoderamento das mulheres.

    E estamos lançando uma cartilha, como um folder, mostrando dois gráficos. Em um dos gráficos, o Brasil ocupa uma das primeiras posições; no outro gráfico, ocupamos as últimas posições. E qual é o gráfico em que nós ocupamos as últimas posições? No gráfico de presença da mulher no Parlamento; e o em que nós ocupamos as primeiras posições é o gráfico da violência contra a mulher.

    Isso está diretamente ligado, porque não basta a Lei Maria da Penha. É preciso que o homem veja a sua companheira, é preciso que o homem veja a sua enteada, que o homem veja a mulher como um ser humano tal qual ele, e não uma pessoa cujo corpo ele pode utilizar da forma como bem entende - batendo, espancando e, muitas vezes, tirando a vida e desagregando famílias.

    Senador Paim, nesses últimos tempos, eu li muitos pronunciamentos dos Senadores e dos Deputados Federais quando o Parlamento brasileiro, lá no final da década de 20 e início da década de 30, debatia o direito ao voto das mulheres. O mais comum e o presente em todos os discursos era o seguinte: as mulheres não poderiam votar, porque seria a desagregação completa da família brasileira. Ora, senhores, nós votamos; somos votadas; trabalhamos fora, e nossas famílias não estão desagregadas.

    Aliás, o que desagrega, o que destrói a família é a violência contra a mulher, porque, quando uma mulher é agredida, não apenas ela sofre a violência, mas toda a família: as crianças, os filhos se desestruturam. É toda a família, todo o núcleo familiar. Então, acho que infelizmente isso é importante.

    E já que nós trouxemos esse assunto, Senador Paim, que precisamos enfrentar... E lá nós falávamos muito da PEC, que o nosso objetivo é chegar, igual aos outros países, a como é que os outros países trabalham essas diferenças, como é que os outros países enfrentam a diferença de gênero, a desproporção, a desigualdade entre os gêneros, principalmente no que diz respeito à ocupação dos espaços no poder.

    O ideal para nós, as mulheres brasileiras, seria também aprovarmos uma reforma política e implantarmos aqui um sistema político eleitoral tal qual existe na maior parte do mundo, em que um partido se apresenta à sociedade, aos eleitores e às eleitoras, com uma lista preestabelecida. E, naquela lista preestabelecida, existe a alternância entre homens e mulheres. É assim na Europa, é assim na maior parte do mundo, na maior parte dos países, e os que não eram estão fazendo reforma.

    Mas dificilmente conseguiremos isso no Brasil. Então, por isso é que nós fizemos um acordo, não no Senado, mas na Câmara, para aceitar chegarmos ao percentual de 16% de uma presença das mulheres em reserva de cadeiras. Primeiro, é um número pequeno, é um percentual muito pequeno; deveria ser o paritário, 50%.

    Esse é o espelho da nossa sociedade. Mas quem votará são os homens. A PEC já foi aprovada aqui; falta ser aprovada lá na Câmara dos Deputados.

    Então, fizemos esse acordo, primeiro, porque entendemos que é melhor do que o temos hoje; segundo, porque os 16%, percentual mínimo previsto de reserva de cadeiras, poderão, na prática, superar os 20%; e, terceiro, Senador Paim, porque isso fará com que cidades como Canoas não vivam mais sem a presença sequer de uma mulher no Parlamento. Há vários Estados que não são representados aqui por uma mulher na Bancada federal.

    Se aprovada a PEC, isso será impossível. Já é um começo. Não é o que nós queremos, mas é, sem dúvida nenhuma, um começo.

    E, falando nesse aspecto, falando na discriminação que nós ainda sofremos - a prova maior disso é a nossa ausência no processo político -, cito a deplorável manifestação do nosso colega Senador licenciado, que ocupa interinamente a posição de Ministro das Relações Exteriores do Brasil. Refiro-me ao Senador José Serra.

    Na última semana, na segunda-feira passada, ele esteve no México num debate sobre as relações exteriores, sobre o comércio e sobre a relação bilateral entre Brasil e México. Segundo o noticiário do El País, Senador Paulo Rocha, a delegação brasileira estava composta por seis homens - seis empaletozados, engravatados - e uma mulher. Já na delegação do México havia quatro mulheres e dois homens. Aliás, a Ministra de Relações Exteriores do México é uma mulher, Srª Claudia Ruiz Massieu, e a Embaixadora do México no Brasil é uma companheira nossa, uma ex-Parlamentar, ex-Senadora do México, ex-Presidente do Parlatino (Parlamento Latinoamericano), uma amiga nossa, uma mulher lutadora, Embaixadora Beatriz Paredes.

    Quando o Ministro interino, Senador José Serra, foi falar, ele simplesmente expressou, através de uma recaída e de um sincericídio, seu real pensamento e sua real opinião em relação a isso, Srs. Senadores. Ele disse que a situação do México traz um grave problema e um risco para o Brasil. Veja o que o Senador licenciado, Ministro interino de um Governo interino, disse publicamente lá no México: a realidade do México representa um perigo para o Brasil. Também disse que o México não era um bom exemplo para o Brasil, porque lá existem muitas mulheres no poder e quase metade dos Parlamentares são mulheres. Disse que aqui no Brasil é diferente - a grande maioria dos Parlamentares são homens - e deu como exemplo o Senado Federal: no Senado Federal, menos de 20% é composto por mulheres. E ainda falou: "Quando eu lá estava, eu tinha 13 colegas Senadoras." Na realidade, nós somos 12 Senadoras. Ou seja, ele demonstrou a sua opinião machista, a sua opinião contrária à presença das mulheres. Isso é lamentável!

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Concede-me um aparte, Senadora?

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Em seguida, Senador.

    Pela Procuradoria das Mulheres do Senado Federal, nós estamos fazendo uma interpelação. Não será uma interpelação judicial, não.

    Será apenas um expediente que mandaremos através da Procuradoria ao Senador licenciado, Ministro interino das Relações Exteriores, para que nos diga o que quis dizer quando falou, no México, publicamente, que a realidade do México representava um perigo para o Brasil, visto que a maioria dos políticos daqui é de homens, enquanto lá quase que existe paridade.

    A bela matéria, esse pronunciamento do Senador Serra girou o mundo inteiro, Senador Paulo Rocha, envergonhando-nos, envergonhando o nosso País. Aliás, isso explica muito o porquê de o Ministério, o primeiro escalão deste Governo usurpador, deste Governo golpista não ter uma mulher. Só há homens; nenhuma mulher. O Senador Serra falou que o México, que tem quase a metade de Parlamentares mulheres, representa um perigo para o Brasil. Vejam que visão machista, partindo de um Senador como o Senador Serra! Isso explica a dificuldade que nós temos de aprovar leis e reformas que garantam uma presença maior da mulher na política.

    Vejam a realidade do México: dos 128 Senadores, 47 são mulheres. Já, na Câmara dos Deputados, 46% são mulheres. Eles fizeram uma reforma político-eleitoral, Senador Alvaro Dias, recentemente no México, e colocaram o nível de candidatura de mulheres em 50%.

    Pois bem, trata-se de um país que nos serve de exemplo, que serve de exemplo para o mundo, porque também a presença das mulheres nos espaços de poder serve para medir a democracia, e esse fato é analisado por um Ministro interino do Brasil como um país que representa um perigo para nós. Vejam que absurdo!

    Senador José Medeiros, concedo um aparte a V. Exª.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Senadora Gleisi Hoffmann...

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Não, Vanessa.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Senadora Vanessa.

(Soa a campainha.)

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Aliás, não é a primeira vez, Senador Paulo Rocha, que confundem as duas.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Às vezes, eu até acho que é proposital, nobre Senador.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Pois é! Senadora Vanessa, eu, por exemplo, sou defensor de que haja mais mulheres na política.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - É claro! Eu sei disso perfeitamente.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Aliás, eu tenho sido um parceiro da Procuradoria da Mulher, tenho percorrido o País. No ano passado, fizemos diversas viagens. Fizemos um seminário muito bom em Cuiabá. Nesta semana, o TSE acabou diagnosticando que, pela primeira vez, há mais eleitoras no Brasil, Senador Paulo Rocha.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Em todos os Estados.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Em todos os Estados do Brasil. Então, sem dúvida, nós defendemos. Obviamente, espero que não precisemos de cotas muito em breve, que as mulheres possam estar inseridas no processo tal qual os homens e que possam, inclusive, ser maioria, para que possam ser bem representadas. Entretanto, Senadora Vanessa, deixe-me também fazer um contraponto aqui. É importante...

(Interrupção do som.)

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - ... se não as pessoas vão ficar pensando que o Senador Serra é totalmente contra as mulheres. Na verdade, quando nós tiramos do contexto, fica muito grave a fala. Na verdade, o Senador Serra, espirituoso que é, em um momento de descontração, acabou falando: "Isso representa um perigo." Mas não que ele pense dessa forma. Tenho, inclusive, conversado com ele. É lógico, V. Exª está na oposição, tem que capitalizar isso e falar mesmo. Faz parte da política ser interpelado, mas é bom que se faça esse contraponto, porque não é isso que o Senador Serra pensa, que as mulheres não devem participar da política. Muito pelo contrário. Um abraço.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Nobre Senador, primeiro eu quero registrar, de fato, não apenas o apoio de V. Exª à luta das mulheres, mas a participação efetiva, que é mais importante, Senador Medeiros. V. Exª tem sido nesta Casa, ao lado do Senador Paim, ao lado do Senador Paulo Rocha e de tantos outros, uma pessoa que tem erguido bem alto essa bandeira, mostrando que a defesa das mulheres não deve partir apenas delas, mas deles também e principalmente.

     Então, primeiro, registro isso.

    Segundo, Senador, não há necessidade de V. Exª defender, porque não há defesa para o Senador licenciado, Ministro interino das Relações Exteriores, José Serra. O que ele disse lá em tom de brincadeira é o que ele pensa. Aliás, infelizmente, é o que pensa uma parcela significativa dos homens, que ainda nos tempos atuais à mulher não cabe a ocupação dos espaços de poder, mas apenas os espaços onde eles possam mandar nelas. Infelizmente, é isso. Eles são contra a política de cotas, porque, no fundo, eles são contra a presença da mulher. Não tenho dúvida quanto a isso.

    O Senador Serra vai receber o nosso expediente, e tenho certeza absoluta de que ele vai se retratar na resposta que encaminhará não a mim, mas à Bancada Feminina do Congresso Nacional.

    Eu acho que nós não temos que ficar aqui xingando o Senador. Nós temos que mostrar ao Senador que ele está equivocado, que ele precisa mudar de opinião, que nós precisamos fazer a reforma no Brasil como fez a Argentina, o Uruguai, o México e tantos outros países. A mulher não pode viver marginalizada na política.

    Eu perguntava lá no interior, Senador Paulo, a toda aquela plateia: "Vocês acham que é correto lutarmos pela presença maior da mulher na política ou vocês acham que está bom os homens serem Vereadores, Deputados, Senadores?" "Não, está correto". E por quê? Ora, porque uma lei feita por homens e mulheres é uma lei mais completa, é uma lei mais justa, é uma lei que trará o sentimento da sociedade.

    É inimaginável! Sei que, daqui a alguns anos, eles vão se lembrar dos tempos atuais: "nossa, naquela época, as mulheres não estavam na política; elas só eram alguma coisa por cento." Como eu sempre digo, a primeira Senadora a tomar assento no Senado Federal foi em 1979, 45 anos depois de eleita a primeira Deputada Federal. Agora - e o Senador Renan acatou o nosso pleito -, depois de uma reforma é que nós tivemos direito a ter um toalete aqui no plenário do Senado Federal, porque ele era masculino somente.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) - Só para ilustrar o seu pronunciamento, há 12 Estados representados por uma mulher: o Amazonas, pela própria; a Bahia, pela Senadora Lídice da Mata; o Espírito Santo, pela Senadora Rose de Freitas; Goiás, pela Senadora Lúcia Vânia; o Mato Grosso do Sul, pela Senadora Simone Tebet; o Paraná, pela Senadora Gleisi Hoffmann; o Piauí, pela Senadora Regina Sousa; o Rio Grande do Norte, pela Senadora Fátima Bezerra; o Rio Grande do Sul, pela Senadora Ana Amélia; Roraima, pela Senadora Angela Portela; São Paulo, pela Marta Suplicy; e Tocantins, pela Senadora Kátia Abreu.

    Em se tratando de Partidos, o PCdoB tem 1; o PSB, 2; o PMDB, 4; o PP, 1; e o PT, 3.

    Então, a representação é isso.

    Os nossos Estados, outros que não têm mulher, estão a dever. Alguns não por serem machistas, Senadora. Por exemplo, o meu Estado já teve uma Senadora, a Senadora Ana Júlia.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Que foi governadora. A Ana Júlia foi governadora também.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) - Foi governadora. O seu Estado já teve duas: a Senadora...

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - A primeira Senadora do Brasil veio do meu Estado.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) - ... Michiles.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - A Senadora Eunice Michiles, que tem uma história muito bonita. À época, ela era da Arena/PFL, foi suplente do Senador João Bosco Ramos de Lima, quando, já no final do regime militar, criaram a tal sublegenda. O Partido que apoiava a ditadura, o PFL, não me lembro se à época era...

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - O PDS.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - O PDS, à época, convidou-a por ser mulher e por ter uma imagem leve. Ela aceitou, porque eram dois candidatos por cada partido. A somatória dos votos é que dizia quem seria o eleito pelo partido, e o mais votado entre os dois era o eleito. E, por muito pouco, ela não ultrapassou o Senador João Bosco Ramos de Lima. E não o ultrapassou, sabe por quê? Porque não a deixavam se pronunciar durante os comícios. Ela, segundo eles, era só para enfeitar e dar leveza ao palanque - veja!

    Então, a Senadora Eunice Michiles, do meu Estado, sem dúvida nenhuma foi pioneira.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Mato Grosso também teve a Senadora Serys.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Serys Slhessarenko, uma pessoa que fez um belíssimo trabalho aqui, no encaminhamento da luta em defesa dos direitos das mulheres. Aliás, estava com V. Exª lá na campanha "Mais mulheres na política".

    Por fim, para concluir esta minha participação, Sr. Presidente, eu quero também ainda, ligando a essa questão da mulher, fazer uma denúncia.

    Infelizmente, ontem, no dia em que ocorreram várias manifestações contrárias ao Governo interino, usurpador, do Sr. Michel Temer - algumas a favor deste Governo, mas penso que a grande maioria era contrária -, em Curitiba, a atriz e militante Letícia Sabatella estava caminhando pela rua, dizem que nas proximidades da Praça Santos Andrade, onde há o Teatro Guaíra e a Universidade Federal do Paraná, e lá foi agredida por palavras, por gestos por um grupo de pessoas que começou a gritar palavrões, inclusive chamando-a de petista. Vejam! Chamaram-na de petista e de um monte de palavrões. Uma agressão que deve ser condenada; uma agressão que deve ser, antes de mais nada, denunciada.

    Então, aqui, Sr. Presidente, eu deixo a minha solidariedade a Letícia Sabatella, que não apenas é uma atriz do nosso País, mas uma militante. Não uma militante do Partido dos Trabalhadores ou de qualquer partido que seja, mas uma militante das causas sociais. Aliás, é bom que se diga que ela fez oposição a grande parte do mandato da Presidenta Dilma Rousseff. Mas, infelizmente, por se posicionar publicamente hoje contra o golpe, ela foi tratada como ontem, domingo, na cidade de Curitiba, capital do Paraná. Porém, de forma muito altiva, ela foi até a delegacia, registrou queixa, e a rede social rapidamente se mobilizou.

    Vejam os senhores: essas pessoas que agrediram Letícia Sabatella com palavrões diziam estar na rua lutando pela saída permanente da Presidente Dilma, lutando contra a corrupção.

    E um dos senhores que mais gritou palavrões - nem posso repeti-los desta tribuna - e que desrespeitou Letícia Sabatella é um senhor chamado Gustavo Abagge, cujo pai, segundo notícia das redes sociais...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - ...era Presidente do Banestado, na época em que funcionou uma CPI sobre o Banestado. E o pai do Sr. Gustavo Abagge, um dos agressores da atriz, da militante e da mulher Letícia Sabatella, consta do relatório da CPI que tem o indicativo de que fique banido do mercado financeiro por no mínimo dez anos. Pois é exatamente esse senhor que se dizia, ontem, estar lutando contra a corrupção, que agrediu, da forma mais covarde, a atriz, a cidadã, repito, Letícia Sabatella.

    Então, fica aqui a minha solidariedade a ela e o meu mais veemente repúdio a essas pessoas, que, em uma atitude desrespeitosa à condição humana e à cidadania, tratam pessoas de forma tão desleal, de forma tão agressiva, como trataram Letícia Sabatella, ontem, em Curitiba.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) - Muito obrigada, Sr. Presidente.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Igual fizeram com Janaina Paschoal também, como com tantas outras.

    Infelizmente, este debate está muito ruim.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Rocha. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) - Obrigado, Senadora Vanessa.

    Pela ordem das inscrições, tem a palavra o Senador Paulo Paim.

    V. Exª dispõe de 20 minutos.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) - Enquanto o Senador Paim se dirige à tribuna, eu poderia encaminhar à Mesa duas proposições? V. Exª me permite?

    Eu encaminho à Mesa, a V. Exª, Sr. Presidente, dois requerimentos. Em um requerimento apresento voto de congratulações à União da Juventude Socialista, que, neste último final de semana, elegeu a sua nova diretoria para o biênio 2016/2017, recolocando na direção um companheiro lá do meu Estado, um jovem talentoso, Renan Alencar. Então, registrando o sucesso do 18º Congresso da UJS, quero cumprimentar não só o Renan, mas toda a diretoria e toda a juventude brasileira pelo belo congresso que realizaram.

    Por fim, Sr. Presidente, registro aqui, com muita tristeza, o falecimento de Moacir Andrade. Moacir Andrade era um ilustre artista plástico amazonense. Ele faleceu no último dia 27, na nossa cidade de Manaus.

    Aqui, no Senado, Sr. Presidente, Senador Paulo Rocha, há um livro editado, belíssimo, mostrando os maiores artistas, os maiores pintores do Brasil. Faz essa mostragem através do acervo do próprio Senado Federal. E lá está Moacir Andrade, um ser humano fenomenal. Eu tenho, inclusive, algumas publicações, como Parlamentar, com ilustrações, todas elas autorizadas pelo meu amigo Moacir Andrade, que nos deixou.

    Então, aqui apresento voto de pesar pelo seu falecimento e transmito o meu abraço e o meu carinho aos seus filhos, às suas filhas, à grande, bela e querida família que ele tem.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/08/2016 - Página 14