Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Defesa da aprovação do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff em razão do cometimento de crime de responsabilidade.

Autor
Dário Berger (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Dário Elias Berger
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO:
  • Defesa da aprovação do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff em razão do cometimento de crime de responsabilidade.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2016 - Página 152
Assunto
Outros > SENADO
Indexação
  • DEFESA, APROVAÇÃO, PROCESSO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, ILEGALIDADE, UTILIZAÇÃO, DECRETO FEDERAL, OBJETIVO, ABERTURA, CREDITO SUPLEMENTAR, AUSENCIA, AUTORIZAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, IRREGULARIDADE, OBTENÇÃO, EMPRESTIMO, ORIGEM, BANCO DO BRASIL, BENEFICIARIO, GOVERNO FEDERAL, DESTINAÇÃO, FINANCIAMENTO, PLANO, SAFRA.

    O SR. DÁRIO BERGER (PMDB-SC. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, este é um momento histórico!

    E como tal, não podemos deixar que as palavras fossem perdidas em vão.

    As palavras devem servir como alicerces firmes, para que este instante em que vive a população brasileira seja lembrado como exemplo para o futuro.

    Reunimo-nos, hoje, para decidir se julgamos, ou não, a Presidente afastada.

    Decidiremos se o Senado Federal exercerá, ou não, sua prerrogativa constitucional de órgão julgador.

    Decidiremos se vamos exercer uma prerrogativa que a lei nos faculta e que deve ser exercida sempre que houver indícios suficientes de que o chefe do Poder Executivo cometeu crime de responsabilidade.

    A Comissão Especial do Impeachment trabalhou ao longo de 101 dias de forma séria, diligente e minuciosa, e, ao final da jornada, produziu um relatório que concluiu pela pronúncia da Senhora Presidente.

    Isso significa que existe juízo suficiente de probabilidade para recomendar que esta Casa dê continuidade ao processo e promova seu próprio julgamento.

    O relatório aprovado na Comissão Especial do Impeachment é uma peça eloquente e autoexplicativa.

    Estão lá, exaustivamente elencados e didaticamente organizados, todos os elementos que justificam - e sobre os quais se baseiam - as conclusões e o voto aprovados pela comissão.

    Cada Senador e cada Senadora formará, após análise detida e ponderada do relatório, seu juízo particular de valor.

    Não tenho a pretensão de querer induzir ninguém a esta ou àquela conclusão, pois, como já disse, o relatório é didático e autoexplicativo, e pouco, ou nada, resta que se lhe possa acrescentar.

    Gostaria, entretanto, de compartilhar com Vossas Excelências algumas experiências que tive como membro titular da Comissão Especial do Impeachment.

    Com muito orgulho, fui o único representante do meu Estado de Santa Catarina nessa Comissão. E devo relatar, senhor presidente, que a emoção me toma ao pensar na responsabilidade que assumi perante aos meus cocidadãos, perante à minha família e principalmente, perante a esta nação brasileira, que merece retomar de vez o seu orgulho e a sua esperança.

    Quem conhece o povo catarinense, sabe da seriedade e da competência que tiramos da nossa colonização predominantemente europeia, mas conhece também o patriotismo e amor à organização e aos padrões de moralidade e seriedade.

    Assim determinei a minha participação nessa Comissão Especial do Impeachment. Uma comissão destinada a tratar de tema tão sensível - um tema que reúne, de início e por definição, dois lados opostos, acusação e defesa -, essa comissão carregava, em sua própria gênese, um enorme potencial para o desentendimento, o enfrentamento e a discórdia.

    Não chego a dizer - porque não seria verdade - que os trabalhos transcorreram em clima de perfeita camaradagem e harmonia, mas confesso que chegamos a um ponto de equilíbrio que permitiu à comissão exercer suas funções e atingir seus objetivos sem qualquer prejuízo à conclusão dessa fase preliminar do processo.

    Grande parte do mérito pelo bom andamento dos trabalhos deve ser creditado a nosso presidente, o Senador Raimundo Lira, que exerceu o comando com firmeza, equilíbrio e serenidade, e garantiu as condições para que pudéssemos realizar perícias, analisar 171 documentos e ouvir 44 depoentes - 38 deles indicados pela defesa.

    O contraditório e a ampla defesa foram plenamente garantidos, em toda sua extensão, o que significou um exemplo democrático de um debate amplo e minucioso.

    A convicção de que a defesa pôde se expressar e produzir, ao longo do processo e dentro de suas regras, todas as provas e evidências que julgou necessárias é, sem sombra de dúvida, um dos pilares mais importantes a sustentar o relatório e a garantir um ambiente de tranquilidade para formarmos nossa própria convicção.

    Outro pilar que merece nosso reconhecimento e que confere ainda mais solidez ao relatório é o trabalho minudente e juridicamente denso realizado pelo relator, o Senador Antonio Anastasia.

    O relatório não teria o detalhamento, a consistência e o didatismo que tem se não tivesse sido elaborado por um profundo conhecedor do direito - um verdadeiro professor na área.

    Saber como transcorreram os trabalhos da Comissão Especial do Impeachment e como se construiu e se votou seu relatório é fundamental para conferir credibilidade ao parecer que foi aprovado.

    Está tudo documentado, em atas, notas taquigráficas, áudios e vídeos, que certamente ficarão para a análise histórica deste importante momento.

    Quem acompanhou os trabalhos da comissão pôde notar, entretanto, no comportamento da defesa, um determinado modus operandi que extrapola os aspectos puramente jurídicos e políticos do processo; extrapola o contraditório e a ampla defesa; e extrapola as evidências, as provas e a verdadeira busca pela verdade dos fatos.

    Essa estratégia - uma tentativa burlesca de vencer e de convencer por meio da desqualificação do adversário, das falácias e de um discurso baseado no medo - foi utilizada reiteradamente durante os trabalhos da comissão.

    Na falta de argumentos factíveis, a defesa recorre a construções mentais fantasiosas, a uma espécie de universo paralelo, uma dimensão alternativa onde só existem heróis - representados, obviamente, pela própria defesa - e vilões - representados por todos que discordem de suas teses.

    Nesse universo paralelo, o Senado Federal não teria legitimidade para afastar uma Presidente eleita por 54 milhões de votos; o relatório da comissão seria fraudulento (suas 441 páginas equivaleriam, segundo se ouviu, aos tanques, soldados e baionetas de 1964); e a história, nessa versão alternativa que se propala, absolveria a Presidente e condenaria como golpistas todos os que votassem contra ela.

    Retornando do universo paralelo para nossa verdadeira dimensão - para a realidade brasileira nua e crua.

    Realidade que tenho chamado a atenção aqui nesta tribuna, repetidas vezes, onde os juros exorbitantes paralisam a nossa economia.

    Onde a conta do supermercado sobe a cada dia e o salário, para quem tem o privilégio de ter um emprego, fica cada vez menor.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, não vamos deixar que a Constituição Federal, a Carta Magma deste país democrático perca a sua legitimidade.

    Representamos 200 milhões de brasileiros, e temos o dever de defender esse conjunto de leis que confere legitimidade ao Senado para processar, julgar e afastar definitivamente a Presidente da República.

    O Senado recebeu essa legitimidade porque os Senadores reúnem cerca de 150 milhões de votos e nenhum mandato eletivo representa um salvo-conduto com validade de quatro anos para praticar ilegalidades: a possibilidade de afastamento do Chefe do Poder Executivo por crime de responsabilidade é fundamento basilar de qualquer democracia.

    Quanto à fraude, aos tanques e aos soldados no relatório da comissão, se alguém, nesta dimensão, encontrar, por lá, qualquer um desses elementos, peço a gentileza de os apontar, pois confesso que, por mais que me tenha esforçado, não os vi.

    E a história, eu realmente espero que ela, a História, com “H” maiúsculo, nos julgue, a todos, e registre, não em notas de rodapé, mas em letras garrafais, quem, neste momento medular, crítico e estruturante de nosso País, esteve realmente ao lado do povo brasileiro.

    Espero que a história julgue quem, neste momento, saiu em defesa dos brasileiros, protegendo-os daqueles que, ao longo dos últimos anos, desrespeitaram as leis e demonstraram um verdadeiro desprezo pelas instituições e pela forma como o Estado Brasileiro se organiza.

    Daqueles que pretenderam governar sozinhos, como no tempo do império, mandando e desmandando, ignorando o sistema de freios e contrapesos, e a independência entre os poderes da República.

    Daqueles que ignoraram que o orçamento público não é uma mera peça de ficção contábil, mas um dos mais importantes instrumentos de gestão governamental, e que, por isso mesmo, deve-se submeter ao controle do Congresso Nacional, que é o legítimo detentor de tal poder constitucional.

    Espero que a história saiba julgar quais, dentre nós, saíram em defesa dos brasileiros para protegê-los daqueles que, ferindo as leis, empurraram a dívida pública para uma espiral de crescimento descontrolado cujas consequências todos, dos mais ricos aos mais pobres - e, infelizmente, principalmente os mais pobres -, estamos enfrentando: inflação alta, crescimento baixo, queda da renda, desemprego, falta de expectativas, desinvestimento e descrédito nacional e internacional.

    O meu voto, nesta sessão, estará respaldado pela Constituição Federal e pelas leis, e estará legitimado por um milhão, trezentos e oito mil, quinhentos e vinte e um eleitores catarinenses que me concederam a honra de representar nosso Estado no Senado Federal.

    Meu voto será pela procedência da acusação e pelo prosseguimento do processo, e estará dirigido ao futuro, ao Brasil e aos brasileiros.

    Meu voto será esse, porque não existe argumento que esconda a realidade; e a realidade é que, neste momento, nossos votos reúnem todas as condições - jurídicas, políticas e democráticas - para desviar o Brasil dessa órbita ilegal e desastrosa, esta verdadeira rota de colisão.

    Não podemos retroceder!

    Não podemos deixar que este manto negro da corrupção, do descaso com a coisa pública, do descontrole fiscal, das decisões arbitrárias, possa continuar a pairar sobre as nossas cabeças.

    Que venham novos tempos!

    Que possamos começar aqui a escrever uma nova história, que garanta qualidade de vida e sustentabilidade para todo o território brasileiro.

    Por Santa Catarina e pelo meu Brasil eu voto pela continuidade do processo de impeachment da Senhora Dilma Vana Rousseff.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2016 - Página 152