Discurso durante a 137ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas aos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e defesa da rediscussão de todo o sistema educacional do País.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Críticas aos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e defesa da rediscussão de todo o sistema educacional do País.
Aparteantes
José Medeiros, Reguffe, Sérgio Petecão.
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2016 - Página 20
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • CRITICA, RESULTADO, INDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BASICA (IDEB), DIVULGAÇÃO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), ASSUNTO, TAXA, APROVAÇÃO, CORPO DISCENTE, EXAME ESCOLAR, EDUCAÇÃO BASICA, MOTIVO, DECADENCIA, RENDIMENTO ESCOLAR, EFEITO, SOCIEDADE, CALAMIDADE PUBLICA, COMPARAÇÃO, ATENTADO, TERRORISTA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), DESAPROVAÇÃO, CRITERIOS, OMISSÃO, DIFERENÇA, ESTUDANTE, ESTADO DE POBREZA, CLASSE DE RENDA, VALOR, RELEVANCIA, COMENTARIO, ERRO, CRIAÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, BOLSA FAMILIA, PREJUIZO, IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, REGISTRO, AUTORIA, ORADOR, PARTIDO LIBERAL (PL), OBJETIVO, FEDERALIZAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR, BENEFICIO, LONGO PRAZO.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Telmário, nosso Presidente neste momento, agradeço ter aceito a Presidência, para que eu possa fazer uma pequena referência, como outros já fizeram aqui, sobre o famoso Ideb, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica no Brasil, que é uma vergonha.

    Quero aqui chamar a atenção para uma coincidência: o Ideb foi divulgado quase no mesmo dia em que se completavam 15 anos do atentado terrorista que derrubou as Torres Gêmeas. Eu digo coincidência, porque há uma correlação entre esses dois fatos. O que aconteceu nos Estados Unidos foi um ato terrorista da maior brutalidade que se pode imaginar e que caracteriza o terror. Uma brutalidade: o assassinato de milhares de pessoas indefesas, Senador Medeiros, civis, que não estavam em guerra. Estavam no local de trabalho e, de repente, foram surpreendidas por uma bomba, que eram os dois aviões Boeing.

    Pois bem. O que nós divulgamos aqui com o Ideb tem um impacto talvez ainda maior do que aquelas bombas que explodiram e derrubaram as Torres Gêmeas: é a bomba da omissão do Brasil com a educação de suas crianças.

    Ali, naquele dia 11 de setembro de 2001, foram assassinadas quase 3 mil pessoas. As famílias até hoje não se recuperaram. As vidas foram perdidas. Dois prédios foram derrubados, e outros, ao redor. O país passou a viver num pânico contra o terrorismo. Ninguém pode menosprezar aquele ato, mas é preciso analisar que, no lugar daqueles dois prédios, há outro construído; as famílias que mantêm o sofrimento - nunca esse sofrimento vai desaparecer - vão aos poucos se recuperando - só os mortos não serão recuperados. A luta foi despertada para enfrentar o terrorismo.

    Aqui, Senador Medeiros, Senador Telmário, as consequências são de mais longo prazo e mais difíceis de corrigir. Aqui não se está derrubando um prédio, porque a gente constrói outro no lugar. Aqui se estão desfazendo gerações de brasileiros que são incapazes, por falta de receber educação correta, de participar da vida nacional plenamente e de construir um Brasil moderno, progressista, como nós todos desejamos. O Ideb é a prova de uma bomba de proporções gigantescas sob o nome da omissão com a educação no nosso País.

    O Ideb é uma vergonha, porque nós definimos metas, e não cumprimos. Mais grave: são metas minúsculas de notas. Deveríamos ter como meta dez, deveríamos ter como meta dez, nove, oito, mas a meta é quatro vírgula pouco, a meta é cinco vírgula alguma coisa, e nós ficamos, em alguns níveis da educação, abaixo dos quatro. Isso é um suicídio. É como se estivéssemos explodindo uma bomba contra nós próprios por causa da omissão, por causa de não fazermos o que deveria ser feito ao longo de décadas. Entra governo, sai governo; um governo promete, outro promete, e nada. Aqui, ali, há uma cidade que melhora, há um Estado que melhora, mas o Brasil piora. Piora, Senador Telmário, porque, em educação, mesmo quando a gente melhora, se a gente melhora menos do que os outros, a gente está piorando. Se nós melhoramos menos do que os outros, nós estamos piorando. Mais grave ainda: mesmo quando a gente melhora, a melhora é para uma classe social, e não para outra.

    As pessoas não percebem como o Ideb carrega, Senador Telmário, algo que ninguém vê. Primeiro, no Ideb do ensino médio, só entram nas provas para chegar àquele valor minúsculo, pequeno, insignificante os que estão no ensino médio - 50% nem entram para fazer o exame. Se nós pegássemos os 50% que não chegaram ao ensino médio e os colocássemos na média para calcular o Ideb com nota zero, cairia para metade. Não está explícito. Está escondido. Aquele número não reflete a realidade. É como se a gente estivesse medindo febre com um termômetro que só medisse a metade da temperatura.

    Além disso, o Ideb não mostra a diferença entre a qualidade da educação da parcela rica e a qualidade da educação da parcela pobre. Então, o Ideb esconde dois fatos: os que não estão sendo avaliados, os que não estão na escola e a desigualdade dos que estão na escola, entre aqueles que estão em escolas boas e aqueles que estão em escolas ruins. Essa é a tragédia que a gente está enfrentando. É uma calamidade que nós estamos tendo, e ninguém fala em calamidade.

    Senador, quando a gente vê, como em Mariana, uma enxurrada de lama, todo o mundo vê a calamidade; quando a gente vê a seca lá no seu Estado de nascimento e no meu, a gente vê a calamidade; quando aparece uma inundação, a gente vê a calamidade. A educação a gente não percebe como calamidade, mas, sim, é calamidade. A educação sem qualidade é a desconstrução de um país, Senador Reguffe, é a desconstrução de um futuro que não aconteceu ainda e que, quando acontecer - porque o tempo é inexorável e virá -, será feio, ineficiente, com baixa produtividade, com violência por causa das desigualdades. Está visível a calamidade embutida nos resultados do Ideb. Está visível para quem quiser analisar um pouco, para quem não ficar só nos números, para quem olhar por trás dos números, para quem perceber que hoje, no mundo, a educação é a base do progresso, é a base da construção de uma sociedade justa. Não o estamos percebendo.

    Eu creio que o Presidente Temer deveria decretar calamidade pública e convidar todos os brasileiros a enfrentar essa calamidade. Talvez constituir um pequeno grupo de pessoas que tragam uma proposta não para dois anos de governo, mas para os 20 próximos anos e juntos tentarmos fazer isso.

    Nós usamos sete anos para fazer as Olimpíadas. Conseguimos! Em cinco, fizemos a base de Brasília. Conseguimos! Por que a gente não consegue imaginar 20 anos na frente de uma geração de brasileiros? Por que não? Porque não percebe a calamidade que vem depois, porque continua achando que é possível este País crescer na economia sem educação. Não há como, gente.

    A causa dessa recessão foi a irresponsabilidade do governo anterior, mas a causa mais profunda é a baixa produtividade de nós, brasileiros, que vem da falta de educação. A violência pode ser culpa da falta de polícia hoje, mas o que está por baixo é um país que não conseguiu se educar plenamente, para que a violência não seja o caminho a que alguns têm que recorrer para sobreviver. Não percebemos a calamidade. Não decretamos calamidade pública, até porque é mais do que pública, é uma calamidade histórica, uma calamidade que destrói a história do País.

    Foi coincidência do Ideb este ano. Todo ano é a mesma coisa, mas foi uma coincidência que este ano tenha saído na véspera...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - ... da lembrança da tragédia do atentado terrorista das torres gêmeas, em Nova York. Mas é uma maneira de nos lembrar de que aquela calamidade se conseguiu reconstruir. A calamidade da educação de base degradada, como é a nossa, que nós oferecemos às nossas crianças, vai ser muito difícil de ser recuperada. Por isso, quanto mais cedo iniciarmos, melhor. E, para iniciarmos, é preciso a consciência de que é uma calamidade histórica o que estamos enfrentando.

    Senador Telmário, eu gostaria de que o Senado pudesse decretar calamidade pública. Não sei se pode, pedi que estudassem. Mas se não puder, é preciso que um governo decrete calamidade pública um dia no quadro educacional brasileiro, para ver se daí a gente cria - eu vou usar a palavra certa - constrangimento, vergonha e procure usar nossos recursos para superar essa calamidade.

    Eu gostaria, Senador Telmário, de que fosse possível passar a palavra para dois Senadores que pediram a palavra, Senador Telmário e Senador Reguffe.

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque. Eu sempre tenho dito aqui, no Senado, que V. Exª é como se fosse o atalaia, principalmente nesse assunto. Antes, V. Exª alertava, lá no início de 2015, sobre o que poderia vir em termos de economia para o Brasil. Mas, muito antes disso, V. Exª já alertava, há muitos anos, sobre a educação no Brasil e sobre o futuro do Brasil se continuassem fazendo as mesmas ações. Há um pensador que disse que é impossível que você mude o futuro, se você faz sempre as mesmas coisas. É impossível você obter resultados diferentes, se você age sempre da mesma forma. Eu me preocupo, porque eu vejo V. Exª sempre trazendo esses temas, preocupado. Fazemos audiências públicas, mas continuamos na mesma batida. Eu vejo, por exemplo, que nós participamos e, em algum momento, fomos tidos como um dos players dos países emergentes - China, Índia, África do Sul, Rússia e Brasil. E, desses países todos, infelizmente o Brasil está sempre na rabeira em termos de educação. Vemos, por exemplo, na Índia, que vende serviços para o mundo inteiro, que a sua capacidade, a sua produtividade, o conhecimento que eles produziram deixa hoje o país com um índice de empregabilidade muito grande. E estamos hoje com mais de 20 milhões de desempregados, porque, como V. Exª disse sobre o índice do Ideb, o índice de desemprego também é diferente, porque não são contados os desalentados e os que desistiram de pedir emprego já. Então, a nossa preocupação é que não há um norte para onde ir. Hoje, por exemplo, os estudantes estudam para a prova e, três dias depois, eles já provavelmente não tirariam a mesma nota que tiraram naquela prova, porque já esqueceram.

(Soa a campainha.)

    O Sr. José Medeiros (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - MT) - Isso é comum. E aí há um grande problema, porque os pais e professores estão na mesma batida. Há pais até que fazem o trabalho para a criança, para ela não tirar uma nota ruim, porque vai ficar traumatizada e tal. Para começar, aliás, as provas até estão desaparecendo em alguns lugares, porque não se reprova mais. A preocupação é com a nota, não com o aprendizado. E aí não vemos a saída disso. Eu vejo que nós temos que falar mais sobre educação, precisamos falar sobre educação, porque disso depende o nosso futuro, que cada vez fica mais longe. E cada vez ficamos naquela história de que o Brasil é o País do futuro. Eu era menino, quando ouvia isso; e continuamos sendo este País do futuro, um futuro que nunca chega. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senador Medeiros, antes de passar a palavra ao Senador Reguffe, eu queria dizer que o senhor lembrou um aspecto importante: como nós escondemos os problemas. Uma das maneiras de esconder os problemas da educação foi essa invenção da promoção automática, que não é o mesmo do ciclo, em que você não segura, você deixa o menino avançar com seus coleguinhas nas primeiras séries, independente da prova, mas chega a um ponto em que ele tem que ser avaliado. Não avaliar aluno na escola é como não vacinar crianças. Nós vacinamos contra o sarampo, vacinamos contra a paralisia infantil. Não avaliar é como não vacinar contra a ignorância, contra o despreparo, contra a falta de educação. Então, nesse sentido, serve para mostrar o que o senhor mesmo disse para o desemprego: nós escondemos a realidade, falseamos, usando o conceito de média, em vez de ir lá dentro e verificar exatamente o que está acontecendo.

    Senador Reguffe.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) - Senador Cristovam, V. Exª é um exemplo na luta por uma educação melhor neste País. V. Exª apresentou, durante toda a sua trajetória política, que não começa neste mandato como Senador da República, uma série de projetos extremamente interessantes e criativos que poderiam e podem melhorar a educação neste País. Projetos como o Bolsa Escola, como a Poupança Escola, como a Escola Ideal, em que a pessoa, para se alfabetizar, recebesse também do Governo. Durante apenas aquele período em que está se alfabetizando, que o Governo pudesse investir para que a pessoa se alfabetizasse, recebendo uma bolsa, mas com caráter temporal, até que se alfabetizasse, para que pudesse estudar e tivesse uma complementação. Então, eram projetos extremamente interessantes. Eu vi o governo anterior investir apenas no Bolsa Família. Ter políticas compensatórias durante um período temporal é justificável num país que tem tantos miseráveis quanto o Brasil, só que isso não pode virar uma política perpétua, uma política permanente. Isso não pode virar um emprego. A pessoa tinha que receber isso durante um período, durante o qual se qualificasse para se reinserir no mercado de trabalho, e não aquilo virar um emprego simplesmente. Então, eu considero que V. Exª é um exemplo na luta por uma educação melhor neste País, considero os projetos de V. Exª sensacionais. O Bolsa Escola ficou muito conhecido, mas o Poupança Escola nem tanto. O Poupança Escola era um projeto sensacional, em que a criança, ao passar de ano, receberia um dinheiro na sua conta, que não poderia tirar da sua conta até que ela se formasse. Quando ela se formasse, muitos poderiam abrir um empreendimento, abrir um negócio, gerar emprego. A pessoa teria alguma coisa para o início da vida dela e teria um estímulo para ficar na escola durante todo o período letivo e se formar; e, ao se formar, ter alguma coisa para um começa de vida. Então, eram projetos extremamente criativos, são extremamente criativos, e considero importantes para investirmos neste País. Esse é um País que discute educação em tempo integral há muito tempo e vemos ainda as coisas engatinhando. Eu, como V. Exª, concentro as minhas emendas ao Orçamento onde a população mais precisa, coloco na educação e coloco na saúde. Eu acho que aí damos uma contribuição, como legislador, para aumentar os recursos nas áreas precípuas da atuação do Estado. Agora, cabe ao Poder Público, cabe àqueles que têm responsabilidade pública no Poder Executivo formular e executar políticas públicas que reduzam a enorme diferença social que há neste País.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) - E não vai se reduzir apenas na economia. Vai se reduzir investindo em educação, porque aí é que construímos o nosso futuro.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Antes de passar a palavra ao Senador Petecão, Senador Telmário, eu queria agradecer ao Senador Reguffe e lembrar esse belo projeto do meu tempo de Governador no Distrito Federal.

    Nós erramos quando a gente colocou Bolsa Escola e Poupança Escola. Deveria ser uma coisa só. A Bolsa Escola deveria ser um salário mensal para a criança estudar - faltou à aula não recebe - e mais a Poupança Escola, que seria colocar um dinheiro na caderneta de poupança se ela passar de ano, mas ela não leva o dinheiro, fica guardado até ela terminar o ensino médio. Esses dois deveriam ser Bolsa Escola, mas nós fizermos os dois separados. Um ficou muito conhecido, transformou-se no Bolsa Família de uma maneira equivocada, porque tirou do Ministério da Educação e levou para a Assistência Social, que misturou a parte das mães com filhos, com velhos e com pessoas deficientes que precisam de bolsa, mas não deveria ser a mesma. E, além disso, houve a grande falha de perder a característica educacional que estava no nome, Bolsa Escola e não Bolsa Família, Senador Petecão.

    Os neurolinguísticas dizem que, quando você recebe uma coisa que se chama Bolsa Escola você pensa: eu recebo porque a minha criança vai à escola. Quando recebe um chamado Família, você pensa: eu recebo porque a minha família é pobre. No primeiro, você pensa que pela escola a gente sai da pobreza; e, no segundo, pensa que, se sair da pobreza, perde. Então, esse lado eu agradeço.

    Quero dizer que é nessa luta que eu dei entrada aqui em um projeto que tenta federalizar a educação. Na verdade, o título é: “Dispõe sobre instrumento de cooperação federativa para transferência à União de competência educacional dos Estados e Municípios”. Os Estados e Municípios não têm como dar educação boa, e a melhor prova, Senador Petecão, é o Ideb das federais. Nós temos 440 escolas federais. Dessas 440, o Ideb delas é 6,6, ainda não é o que a gente quer. Com um pouco de esforço, chega a 7,5...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - .... mas já é um Ideb melhor ainda do que as particulares, porque federalizamos. Por que não fazemos isso para todas as crianças no Brasil?

    São 250 mil crianças que estudam de graça em escolas federais de qualidade. Por que não fazemos para as 50 milhões de crianças? Não dá para fazer de repente, mas dá para fazer em um processo ao longo de anos. E eu defendo que isso seja feito por cidades. Chega a uma cidade, a União assume. Vai para outra cidade. Ao longo de alguns anos, nós teríamos um sistema que poderia oferecer o que hoje a gente oferece no Colégio Pedro II, nas escolas técnicas, nos colégios de aplicação, que é uma educação de qualidade, embora ainda não no nível que a gente quer um dia chegar.

    Senador Telmário, eu peço, para o último que pediu aparte, que é o Senador Petecão.

    O Sr. Sérgio Petecão (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - AC) - Presidente, 30 segundos. Senador Cristovam, na verdade, o tempo já está estourado, ouvi atentamente ao seu pronunciamento e queria parabenizá-lo por mais uma vez subir à tribuna do Senado e falar de educação. V. Exª é como se fosse uma espécie de nosso guru, o guia. E, antes da sua fala, usou a tribuna o Senador Jorge Viana, do meu Estado, e ele falava exatamente de educação no nosso Estado. E, depois que ele falou, recebi várias ligações de algumas professoras. E eu vi a forma como o senhor recebeu o pronunciamento do Senador Jorge Viana. Os seus olhos brilhavam de felicidade e de satisfação. E é o meu sonho também que a educação do meu Estado fosse naquele padrão e naquele nível que foi colocado pelo colega Senador Jorge Viana. Esse é o nosso sonho, esse é o seu sonho e é o sonho de todos os brasileiros. Mostrou o Acre aqui como se nós...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Sérgio Petecão (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - AC) - ... fôssemos referência na educação no nosso Brasil. E aí várias professoras me ligaram e se comprometeram a me passar um diagnóstico completo da verdadeira situação em que está a educação no nosso Estado - a verdadeira -, porque é complicado. Quando um colega vem e coloca isso, é como se nós estivéssemos aí num céu de brigadeiro, como se estivesse tudo 100%, tudo tranquilo. E esse é o meu sonho. Não estou aqui... E tenho muita humildade. Se os números que forem colocados aqui pelos colegas que se comprometeram a passar realmente expressarem essa realidade colocada pelo Senador Jorge Viana, eu não tenho nenhum problema em vir aqui, ratificar e concordar 100% com o que ele disse. Quando se trata de violência, aí não. Aí ele não pode falar, porque eu conheço um pouco, e hoje o Acre é o que nós temos de pior. Os índices de violência hoje...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Sérgio Petecão (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PSD - AC) - ... de um Estado pequeno como o nosso, um Estado pobre como o nosso, são altíssimos. Nós perdemos o controle, nós estamos perdendo a guerra para os bandidos. Sobre violência não dá para falar. Agora, da educação, eu me comprometo com V. Exª a trazer a verdadeira situação que é a educação no nosso Estado. E aqui, para finalizar - e queria até contar com seu apoio -, o Senador dizia que iria ao Acre fazer campanha, que ele converse com os petistas. Nessa semana, nós tivemos uma agressão à nossa candidata a prefeita da capital, Eliane Sinhasique, que é uma mulher, candidata do PMDB e que tem o nosso apoio, que foi agredida de uma forma covarde, pelas redes sociais, por alguns membros do PT. Então, eu queria aqui prestar a minha solidariedade à companheira Eliane Sinhasique, que é a nossa candidata a prefeita da nossa capital Rio Branco, que, de uma forma covarde, foi atacada por alguns membros do PT. E estou devendo-lhe essa prestação de contas da educação no meu Estado, querido Senador.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Senador Petecão, só para terminar dentro do tempo, eu gostaria muito de ter esses dados, porque, de fato, meus olhos brilharam quando eu vi a indicação de que o Acre, embora o próprio Senador Jorge Viana reconheceu que ainda é pouco, teria saltado para os melhores. Esse debate seria muito bom. O que é que foi feito, o que é que não foi feito, para ver o que é que falta fazer. Então, conte comigo nesse debate. E eu gostaria muito de ter essas informações.

    Muito obrigado, Senador Petecão, Senador Reguffe, Senador Medeiros, que fizeram apartes, e, sobretudo, meu amigo, Senador Telmário, pelo tempo que me deu.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR) - Senador Cristovam, eu queria que V. Exª ainda ficasse um pouco na tribuna, porque, sem nenhuma dúvida, foi bem colocado pelos companheiros, pelos nossos pares, que V. Exª é a referência da educação. E como é bonito podermos assistir a uma situação dessas numa hora em que o Brasil passa por uma crise enorme em todos os sentidos: crise de governabilidade, crise de moralidade, crise de credibilidade, crise política, crise econômica.

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR) - Hoje mesmo pode-se manter um dos maiores ladrões aí, protegido, que é o Cunha.

    Então, Senador Roberto Muniz, da minha Bahia, onde me formei, o Senador Cristovam traz a esta Casa, a esta tribuna aquele que é o caminho para tirar este País dessa situação.

    Alguém falou nessa reforma, na reforma educacional. E V. Exª sempre com uma marca. Acho que era importante que amanhecesse nas principais páginas dos grandes jornais amanhã: "Senador Cristovam sobe à tribuna do Senado e diz que não avaliar um aluno na escola é a mesma coisa que não vacinar." Amanhã, os jornais deveriam amanhecer com essa manchete, em qualquer parte, por mais tímida que fosse, porque ela é muito bem colocada, muito própria, muito oportuna, porque, quando V. Exª diz que não avaliar um aluno é não vacinar uma criança, se a criança não vacinar, você coloca a vida dela em risco.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Isso. Exatamente.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR) - E, na escola, se não avaliar, você coloca o ensino em risco, o conhecimento dessa pessoa em risco. Então, V. Exª traz isso para um momento que é oportuno, porque hoje já quase não se discute isso. Querem passar a qualquer custo. Há um formato que é preciso mudar, mudar muito, porque, sem uma educação de qualidade, rigorosa, precisa, não teríamos hoje um Senador Waldemir Moka médico e tantos outros bons Senadores aqui.

    Eu sempre disse que, quando V. Exª usa a tribuna desta Casa, V. Exª contribui, contribui muito.

    Eu me lembro de quando morava, Roberto Muniz, na sua querida Bahia. O Waldir Pires tinha ganhado o Governo, e o Senador Cristovam era o grande escritor Cristovam. Ele estava lá publicando dois livros. E Waldir Pires, com sua humildade, tinha acabado de ter aquela vitória fantástica na Bahia. Nós entramos na fila. Waldir Pires entrou na fila. Aí, todo mundo, não muito acostumado com aquele outro estilo de Governo, disse: "Mas, Waldir, você na fila?" Ele disse: "Aqui não é o Governador Waldir Pires. Aqui é o cidadão Waldir Pires, que vem homenagear este grande homem que é Cristovam Buarque."

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR) - Então, é uma honra poder ser Senador da República ao lado de V. Exª e hoje estar aqui presidindo, mais uma vez, com V. Exª trazendo, depois dessa enxurrada de tantas dificuldades, essa reflexão, quando V. Exª diz: não está na hora de decretar estado de emergência para a educação brasileira?

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Isso.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RR) - Então, só hoje, na sua fala, V. Exª colocou duas frases de reflexão.

    Eu queria que a grande mídia colocasse amanhã: "Cristovam pede emergência na educação brasileira e Cristovam diz que não avaliar é como não vacinar."

    Parabéns, Senador Cristovam!

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) - Obrigado, Senador Telmário.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2016 - Página 20