Pela Liderança durante a 20ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Repúdio ao discurso do Presidente da República sobre o Dia Internacional da Mulher.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Repúdio ao discurso do Presidente da República sobre o Dia Internacional da Mulher.
Aparteantes
Dalirio Beber, Dário Berger.
Publicação
Publicação no DSF de 10/03/2017 - Página 61
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • REPUDIO, DISCURSO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DIA INTERNACIONAL, MULHER, ASSUNTO, CONTROLE, CUSTO, MERCADORIA, SUPERMERCADO, IMPORTANCIA, REDUÇÃO, DISCRIMINAÇÃO, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, AUMENTO, OPORTUNIDADE, IGUALDADE, MERCADO DE TRABALHO, CRITICA, POSSIBILIDADE, ALTERAÇÃO, APOSENTADORIA, CORTE, RECURSOS, PROGRAMA ASSISTENCIAL.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Como Líder. Sem revisão da oradora.) – Obrigada, Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras...

    O Sr. Dalirio Beber (Bloco Social Democrata/PSDB - SC) – Senadora...

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Pois não.

    O Sr. Dalirio Beber (Bloco Social Democrata/PSDB - SC) – Se permitir, apenas queria registrar a presença da rainha e das princesas da nossa Oktoberfest de Blumenau, que hoje estão aqui no Distrito Federal, em Brasília, para participar do ato que culminou com a assinatura da declaração da outorga do título de Capital Nacional da Cerveja, de autoria do Deputado Décio Lima, na Câmara Federal – ele que foi prefeito da cidade de Blumenau durante dois mandatos. Tivemos o privilégio, até com a sua contribuição, Senadora Gleisi, de aprovar, no dia 16 de fevereiro, aqui no Senado, esse projeto de lei que hoje foi sancionado pelo Presidente da República. Por isso, contamos com a presença da rainha e das princesas aqui na cidade de Brasília, visitando o nosso Senado Federal. Obrigado pela oportunidade.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Pois não.

    O Sr. Dário Berger (PMDB - SC) – Senadora Gleisi.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – É claro.

    O Sr. Dário Berger (PMDB - SC) – Por gentileza, peço um minuto de atenção, com a aquiescência do Presidente, porque se trata de um momento diferente, vamos dizer assim, uma vez que Santa Catarina e Blumenau expressam a sua beleza com a nossa rainha e com as nossas princesas que representam uma das colônias alemãs mais consagradas de Santa Catarina. Eu sou oriundo, as minhas origens são da primeira colonização alemã de Santa Catarina, que se instalou em São Pedro de Alcântara. Posteriormente, veio mais uma leva de alemães, dentro os quais estava o Dr. Blumenau, que se instalou em Blumenau, cidade que recebe o seu nome em homenagem a ele. E Blumenau é um dos centros econômicos e sociais destacados de Santa Catarina. Além disso, evidentemente, honra-nos a presença aqui de sua rainha e de suas princesas e, sobretudo, do nosso Senador Dalirio Beber, que é de Blumenau. Esteve também aqui hoje o seu prefeito em evento do qual participamos: a sanção da lei que estabelece Blumenau como a Capital Nacional da Cerveja. Isso é muito importante, porque uma das maiores festas brasileiras acontece hoje exatamente em Blumenau, a Oktoberfest. Ela surgiu para unir a sociedade após uma grande tragédia que aconteceu – não me recordo da data – em função das enchentes, que, diga-se de passagem, são constantes naquela região. Isso uniu toda a sociedade e se transformou nesse momento que permitiu – através de um projeto do Deputado Federal Décio Lima, um dos Deputados mais atuantes que temos em Santa Catarina, inclusive do seu Partido, Senadora Gleisi, e que teve como Relator no Senado o Senador Dalirio Beber – que nós pudéssemos hoje estar comemorando um ato simples e singelo, mas de repercussão social, política e turística muito importante para Santa Catarina, especialmente para Blumenau. Então, eu quero me congratular com o Senador Dalirio, com o Prefeito Napoleão Bernardes e com todo o povo de Blumenau por essa conquista, na certeza de que esse será um marco importante do desenvolvimento turístico daquela região. Muito obrigado a V. Exª.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Queria parabenizar o Senador Dário e o Senador Dalirio por Blumenau ter se tornado a Capital Nacional da Cerveja. Eu estava de manhã com o Deputado Décio num evento do nosso Partido, e ele saiu de lá rapidamente exatamente porque ia para a sanção desse projeto. Lembro-me de quando o Senador Dalirio nos pediu para colocar em votação na Ordem do Dia, extrapauta, esse projeto de lei. Então, parabéns! Eu os acompanho muito, nós do Paraná somos vizinhos de Santa Catarina. Já estive na Oktoberfest. Quero cumprimentar também as meninas que representam aqui a festa, desejando muito sucesso e que esse título realmente possa trazer muitas alegrias e benefícios para a cidade.

    O Sr. Dalirio Beber (Bloco Social Democrata/PSDB - SC) – Com certeza. Gostaria de agradecer as palavras do nosso colega Senador Dário Berger e, sobretudo, também agradecer ao Presidente do momento aqui no Senado e à nossa Senadora Gleisi, que contribuiu, ela e o Senador Cássio, naquela oportunidade, para permitir que nós pudéssemos ter a aprovação do projeto no Senado, exatamente num período em que se realizava, lá na cidade de Blumenau, o Festival Brasileiro da Cerveja. Nós tivemos um concurso para eleger a melhor cerveja que reuniu mais de dois mil rótulos. Eram 61 jurados representando 20 países. Ou seja, foi um evento de qualidade, algo que é realmente a praxe do trabalho dos blumenauenses e de todos os catarinenses, especialmente em função de suas origens, lá em 1850, quando o Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau chefiou uma delegação de alemães que veio ajudar, a convite do governo brasileiro, no processo de colonização do nosso País. Fincaram as raízes, apesar das adversidades, das inúmeras enchentes que o Vale do Itajaí, sobretudo Blumenau, enfrentou; foram teimosos no sentido de permanecer e de construir alternativas para ser a cidade de Blumenau que todos nós amamos.

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Retomo aqui, então, Sr. Presidente, Srs. Senadores, quem nos ouve pela Rádio Senado, quem nos assiste pela TV Senado, o nosso pronunciamento na data de hoje, no dia 9 de março.

    Subo a esta tribuna, Sr. Presidente, para anunciar que, na semana que vem, vou protocolar um requerimento a essa Mesa com base no art. 222 do Regimento Interno do Senado da República, que diz o seguinte:

Art. 222. O Senador poderá apresentar requerimento de voto de aplauso, congratulações, louvor, solidariedade ou censura [...].

§ 1º Se disser respeito a ato público ou a acontecimento de alta significação nacional ou internacional, o voto de aplauso, congratulações, louvor, solidariedade ou censura poderá, mediante requerimento subscrito por um terço da composição da Casa, ser encaminhado em nome do Senado Federal, após sua aprovação pelo Plenário.

    O requerimento que eu gostaria de apresentar na data de hoje é um requerimento de repúdio, mas, como me falta esse instrumento no Regimento Interno do Senado, vamos apresentar aqui um voto de censura, com base no art. 222, ao discurso do Presidente Michel Temer no dia de ontem, 8 de março de 2017, em pretensa homenagem ao Dia Internacional da Mulher, solenidade que era para fazer exatamente a homenagem, em que expôs o conceito machista, enaltecendo apenas o papel doméstico das mulheres.

    Houve Senadores aqui que falaram em defesa do Presidente, dizendo que as críticas que ele está recebendo nas redes sociais, que nós estamos fazendo são de uma patrulha feminista.

    Não é verdade, se pegarmos os jornais hoje, articulistas homens estão criticando o Presidente. Aliás, um articulista que é muito conhecido, Josias de Souza, jornalista, no seu blogue, fala exatamente que o Presidente Temer fez uma anti-homenagem às mulheres. Não me parece que o jornalista Josias de Souza pertença a alguma patrulha feminista.

    O que o Presidente Michel Temer fez é indefensável. Ele tenta se retratar hoje nos jornais, aliás, não é nem nos jornais, mas nas redes sociais, colocando no Twitter, nas redes sociais que vai sempre lutar pelos interesses, pela defesa das mulheres, pela igualdade de condições no trabalho doméstico e no trabalho fora de casa, mas acho que a situação já demonstrou bem o conceito que ele tem em relação à mulher e ao conceito que ele tem em relação à família e à responsabilidade de homens e mulheres nos cuidados da casa e nos cuidados dos filhos.

    Nós estamos, Sr. Presidente, na segunda década do século XXI. Nós mulheres persistimos na luta pela conquista do direito de igualdade em todas as frentes, contra o machismo, a misoginia e todos os retrocessos que tentam nos impor no Brasil e no mundo, Senadora Lúcia Vânia. No processo histórico, o avançar não prescinde do reconhecimento das conquistas já efetivadas pelas que nos antecederam, e foram muitas.

    Hoje, o lugar da mulher é onde ela quiser, exercendo a profissão que desejar, definindo os rumos da sua vida em todos os aspectos se assim quiser, sem qualquer tipo de dependência ou interferência do homem. A busca pela ocupação dos espaços é tarefa cotidiana. Pensar em uma mulher vinculada apenas ao papel do lar é retroceder a história em pelo menos 70 anos.

    Por isso, o discurso proferido ontem pelo Presidente Michel Temer no evento que convocou no Palácio do Planalto, supostamente para homenagear o Dia Internacional da Mulher, foi um insulto. Um insulto para nós, mulheres, e um insulto para a sociedade; um insulto contra a história, um insulto contra as nossas conquistas, um insulto contra a nossa inteligência e a nossa participação social.

    Do discurso, que foi uma agressão a nós, mulheres, às nossas lutas e nossas conquistas, é importante destacar os seguintes trechos que disse o Senhor Presidente. Vamos lá. Diz ele:

Eu digo isso com a maior tranquilidade, porque eu tenho absoluta convicção, até por formação familiar e por estar ao lado da Marcela, o quanto a mulher faz pela casa, o quanto faz pelo lar, o que faz pelos filhos. E, portanto, se a sociedade de alguma maneira vai bem, quando os filhos crescem, é porque tiveram uma adequada educação e formação em suas casas. E seguramente isso quem faz não é o homem, isso quem faz é a mulher.

[...]

A queda da inflação que nós estamos assistindo, a queda dos juros, o superávit recorde da nossa balança comercial, o crescimento do investimento externo, tudo isso significa empregos. E significa também que a mulher, além de cuidar dos afazeres domésticos, vai vendo um campo cada vez mais largo para o emprego.

    Temer reduziu as mulheres ao único papel de desempenho no lar, mostrando ignorância e desconhecimento do dado de mulheres no mercado de trabalho e mostrando uma postura sexista de que os cuidados com os filhos e com os afazeres domésticos não cabem também aos homens.

    E eu quero aqui fazer um registro: não é demérito nenhum o trabalho de dona de casa e o trabalho do lar, como é chamado vulgarmente na nossa sociedade. O que é demérito é a sociedade não reconhecer esse trabalho como essencial ao desenvolvimento humano, aliás, à organização da própria sociedade, não reconhecer esse trabalho financeiramente, economicamente.

    Tanto eu acho relevante, que fui autora aqui de emendas em medidas provisórias para regulamentar o que nós conseguimos colocar na nossa Constituição em 2005, que foi a aposentadoria das donas de casa, o primeiro reconhecimento econômico-financeiro de um trabalho que dá sustentação à sociedade como nós a conhecemos, porque as mulheres lavam, passam, cozinham, cuidam dos filhos, e nem sequer recebem "muito obrigado". Aí vão ser valorizadas porque fazem isso no Dia Internacional da Mulher? É de uma pobreza de espírito imensa!

    Eu duvido que ele diga alguma vez – a mulher dele eu não sei se faz os trabalhos domésticos – à empregada, à pessoa que cuida ou ajuda a cuidar do filho "muito obrigado", porque geralmente isso não acontece. Nem marido, nem filho, ninguém reconhece o trabalho doméstico, porque ele não tem valor econômico.

    Eu quero aqui relembrar uma pesquisa feita pela Universidade Federal Fluminense, por três professores – dois professores e uma professora –, que disseram, Sr. Presidente, que, se nós contássemos esse trabalho para o PIB brasileiro, nosso PIB seria incrementado em 12,5%, ou seja, é um trabalho que não é computado, mas tem valor econômico.

    Se as mulheres tivessem que ser remuneradas por fazer o trabalho doméstico, teriam que ganhar, no mínimo, R$1.500 por mês, mas não ganham, nem à aposentadoria tinham direito. Nós conseguimos colocar na Constituição o direito à aposentadoria, regulamentamos. Hoje, a mulher tem que trabalhar 15 anos, ter 65 para se aposentar, sendo dona de casa, mulher de baixa renda, e paga apenas 5% por mês em relação ao salário mínimo de contribuição do INSS.

    Mas esse Presidente, que deu essa declaração aqui, vangloriando as mulheres porque trabalham em casa, está acabando com a aposentadoria especial das donas de casa. Poderia, pelo menos, deixar a aposentadoria especial das donas de casa, já que V. Exª reconhece que esse é o papel fundamental da mulher – e é um papel fundamental para o desenvolvimento da sociedade, porque, sem esse trabalho, nós não teríamos a sociedade edificada como está.

    Só que agora nós temos outro momento histórico, agora os homens têm que dividir com as mulheres o trabalho de casa, têm que dividir o cuidado dos filhos. Ora, sobrava às mulheres cuidar dos filhos e da casa, porque elas não tinham outra opção, Senador Dário; se lhes dessem outra opção antes, se as mulheres pudessem, no século passado, no início do século passado, ir para as universidades, ser alfabetizadas... Porque as mulheres nem sequer eram alfabetizadas, Senador Dário! O papel da mulher era sair da mão do pai para ir para mão do marido, e chamava o marido de senhor. Era assim que acontecia. Eu me lembro da minha vó, que não é tão tarde assim na história, que chamava de senhor, porque a mulher era quase uma extensão da propriedade privada do homem. Aí querem dizer que a mulher não pode desempenhar outro papel. Não pode, porque não teve oportunidade.

    Veja agora, Presidente, que nós temos oportunidade de ir para as universidades, temos oportunidade de ir para o mercado de trabalho, temos oportunidade de fazer um curso profissionalizante, temos oportunidade de estudar. Onde as mulheres estão? São a maioria nas universidades. As mulheres dão resposta a muitas áreas no mercado de trabalho como maioria. Vamos ver nos cursos de Engenharia, Medicina. Eram proibidas as mulheres na ciência. Aliás, nós somos homenageadas, as mulheres estão ganhando prêmios nas ciências. E essas mulheres que fazem esse trabalho fora de casa fazem também o de dentro de casa. Estou acostumada a ver mulheres que exercem funções de comando, de direção, ou essas profissões, que cuidam dos filhos, sim, que lavam louça, sim. Eu faço isso na minha casa nos finais de semana, à noite; agora, meu marido também faz, o Paulo também cuida das crianças, também lava a louça, também divide comigo. É sobre isso que estamos falando, está mudando a relação da sociedade.

    Então, não pode um Presidente do século passado – que, aliás, foi responsável por tirar a primeira mulher da Presidência da República – cometer esse absurdo no Dia Internacional da Mulher e achar que está tudo bem. Não está tudo bem! Sabe por que não está tudo bem? Porque essa visão, que é a visão dele, a visão real dele, é a visão que está dirigindo as políticas públicas deste País, Senador Dário, e essas políticas públicas para as mulheres são destruídas.

    O que ele fez quando entrou na Presidência? Desestruturou a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, tirou do status de ministério. Isso, por acaso, resultou num valor menor para o Orçamento da União? Não, porque ele manteve a Secretaria lá, só que num papel reduzido. Cortou os seus custeios, que não significam absolutamente nada para o Orçamento. São pequenininhos, mas eram custeios essenciais, que serviam, por exemplo, para fazer o funcionamento da Casa da Mulher Brasileira, que nós, com a Presidenta Dilma – eu era Ministra-Chefe da Casa Civil –, lançamos com o Programa Mulher, Viver Sem Violência. Nós temos hoje Casa da Mulher Brasileira em Curitiba, Brasília, São Luís, Campo Grande. A de Brasília está fechada por falta de recursos. E não foram inauguradas ainda as de Fortaleza, São Paulo e Boa Vista, porque ele não está colocando custeio.

    Nós fizemos, Senador Dário, os ônibus e também os barcos para levar aos lugares com mais dificuldades serviços básicos para as mulheres na questão da Previdência Social, de retirada de documentação, de orientação de trabalho, emprego e renda. Eles estão parados. Estão parados. Por quê? Porque não há custeio. O Governo Federal cortou, os Municípios não têm condição, e os Estados também não. Quanto custa isso? É um mínimo em termos de orçamento, mas dava às mulheres condições dignas para elas pudessem ter acesso à cidadania.

    Olhe, Sr. Presidente, é com muita tristeza que eu vejo o desmonte que ocorre neste Governo, que tem essa concepção aqui, que faz uma homenagem ao Dia da Mulher dizendo que cabe a elas, tão somente a elas cuidar da casa e criar os filhos. É com imensa tristeza que eu vejo o desmonte das nossas políticas públicas.

    Nós conseguimos retirar, Sr. Presidente, 36 milhões de pessoas da miséria neste País com programas de distribuição de renda, com salário mínimo, que foi valorizado, e com o Bolsa Família, que era um complemento de renda. Noventa e dois por cento dos beneficiários do Bolsa Família, Senador Cidinho, são mulheres, porque, se tinha face a pobreza neste País, a face era feminina, feminina e infantil. Quando você olha, são as pessoas que mais sofrem, mulheres e crianças, porque nunca tiveram lugar na sociedade, nunca tiveram destaque para políticas públicas. É recente a nossa participação no público, muito recente. As mulheres entraram no mercado de trabalho em massa depois da Segunda Guerra Mundial. Aliás, durante a Segunda Guerra Mundial, porque não havia homens para trabalhar nas fábricas. É isso que aconteceu. Ou seja, a necessidade masculina nos colocou no mercado de trabalho, que sempre foi de muita luta para nós.

    E, aí, agora que conquistamos esses programas, vemos isso sendo desmanchado e este Presidente cortar agora 450 mil Bolsas Famílias, exatamente num momento em que nós estamos com recessão e com desemprego.

    Nós tivemos 11 milhões de pessoas beneficiadas pelo Minha Casa, Minha Vida. Noventa por cento desses beneficiários da menor faixa de renda, o Minha Casa, Minha Vida 1, são mulheres. E nós fizemos questão de criar uma lei, com a Presidenta Dilma, que exigisse que o título da casa ficasse no nome das mulheres. Sabe por quê, Presidente? Porque, às vezes, quando ficava no nome dos homens, geralmente ele vendia e deixava as mulheres com os filhos na mão, se separava, ia embora e largava. Parou esse problema. Hoje temos uma garantia para que as mulheres tenham casa. Eu espero que ele não revogue essa lei por achar que o marido é o chefe da família única e exclusivamente, porque é bem capaz de fazer isso.

    Nos governos Lula e Dilma, 9,5 milhões de pessoas cursaram o Pronatec, e 59% são mulheres. E 4 milhões de pessoas chegaram à universidade apenas por dois programas, Prouni e Fies, e de 53% a 59%, entre esses dois programas, são mulheres.

    De 1,2 milhão de cisternas instaladas no Semiárido brasileiro, 94% foram em nome de mulheres.

    Assim, as políticas que nós fizemos nos governos do Lula e da Dilma foram políticas direcionadas às mulheres. Para quê? Para melhorar as condições de vida, já que eram elas as mais afetadas com a pobreza; para poder dar condições de que a mulher também tivesse influência na sociedade, fosse dona do seu nariz, tivesse o seu dinheirinho, conseguisse ter uma segurança familiar. Foi isso que nós fizemos, porque nós nunca achamos que lugar de mulher é só em casa e cuidando dos filhos. Nós sempre achamos que cuidar da casa e cuidar dos filhos é uma responsabilidade da família, de homens e mulheres. E a mulher tem, sim, o seu espaço na sociedade, para participar – tem que ter – em condições de igualdade com os homens.

    Para atender a Lei Maria da Penha, no Pacto pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, que foi assinado com os Estados, nós construímos uma rede de serviços. E o Ligue 180, que antes era restrito ao Governo Federal, passou a atuar em toda essa rede e realizou, em dez anos, de 2006 a 2016, 4,7 milhões de atendimentos. O Ligue 180 é diretamente direcionado para a questão da violência contra a mulher. Isso é para ver o nível de violência que nós temos ainda. E a maioria dessa violência é doméstica, por essa concepção de que há uma hierarquia entre homens e mulheres, de que o homem é o chefe da casa, o provedor da família, de que à mulher cabe cuidar dos filhos e da casa e de que ela depende financeiramente dele e, então, é logo quase que uma extensão da sua propriedade. É por essa visão que nós temos esses níveis absurdos de violência, porque o que você faz com a propriedade? Você a usa como melhor lhe convier. Então, bater, agredir, jogar fazem parte do uso que você tem com um objeto.

    É muito triste isso que nós tivemos. O que reflete essa fala do Presidente da República é exatamente o machismo impregnado na nossa sociedade. Por isso, não podemos deixar passar em branco e achar que ele, com desculpas, vai corrigir isso. Esta Casa aqui tem a obrigação de se manifestar em relação a essa fala, principalmente depois do que fizemos ontem, do que realizamos ontem no Senado da República, onde diversos Senadores subiram a esta tribuna – eu diria quase que a totalidade dos Senadores subiu a esta tribuna – para fazer homenagem às mulheres, para falar da importância da participação das mulheres, para fazer uma homenagem às Senadoras. Esta Casa parou ontem. A Mesa ficou composta de mulheres. Falamos sobre os nossos temas, mas sobre os temas do Brasil, sobre os temas que envolvem a vida das pessoas, porque, quando falamos sobre o interesse das mulheres, nós estamos falando sobre o interesse de todos. Quando falamos da saúde, da luta que nós temos, é a saúde dos nossos filhos, é a saúde dos nossos companheiros.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Quando brigamos pela educação, é a educação dos nossos filhos, é a educação da nossa família, é a educação das nossas filhas. Quando viemos aqui e dizemos que um governo não pode fazer a reforma da previdência, nós estamos lutando por nós, sim, Sr. Presidente, estamos lutando para que não percamos o nosso direito com tanta luta conquistado durante todos esses anos, mas também pelos nossos companheiros, que também vão perder direitos. Quando uma mulher entra na luta, ela entra na luta para melhorar a vida da sociedade.

    Eu quero fazer um pedido aos meus pares aqui – nós já temos 15 assinaturas nesse requerimento de voto de censura –, a todos os Senadores que, ontem, com tanto brilho, com tanta efetividade, homenagearam as mulheres e aqui estiveram neste plenário, se revezando nesta tribuna, para dizer da importância que tem a mulher participar socialmente, seja no mercado de trabalho, seja na...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... política, seja nas lutas sociais. Eu quero que esses Senadores assinem o voto de censura, porque nós vamos precisar de 27 assinaturas. Eu pretendo que, com isso, possamos protocolar na terça-feira e trazer para o centro do debate o machismo e a misoginia que ainda impregna a sociedade brasileira.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/03/2017 - Página 61