Discurso durante a 29ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apreensão com a condução das investigações e a propagação de notícias sobre a Operação Carne Fraca.

Autor
Simone Tebet (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Simone Nassar Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Apreensão com a condução das investigações e a propagação de notícias sobre a Operação Carne Fraca.
Aparteantes
Roberto Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2017 - Página 35
Assunto
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Indexação
  • APREENSÃO, ANDAMENTO, OPERAÇÃO, AUTORIA, POLICIA FEDERAL, OBJETO, INVESTIGAÇÃO, CRIME, AUTOR, FISCAL FEDERAL AGROPECUARIO, PARTICIPAÇÃO, EMPRESARIO, AGRONEGOCIO, REFERENCIA, AUTORIZAÇÃO, FUNCIONAMENTO, FRIGORIFICO, PRODUÇÃO, CARNE, ADULTERAÇÃO, ALIMENTOS, DESRESPEITO, LEGISLAÇÃO SANITARIA, IRREGULARIDADE, CONSUMO, CRITICA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, AUSENCIA, RESPONSABILIDADE, DIVULGAÇÃO, INFORMAÇÕES, IMPORTANCIA, PECUARIA, AGRICULTURA, ECONOMIA NACIONAL, INSPEÇÃO SANITARIA, AMBITO INTERNACIONAL.

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Muito obrigada, Sr. Presidente.

    Abro aspas: "Se as cidades forem destruídas e os campos forem conservados, as cidades ressurgirão, mas, se queimarem os campos e conservarem as cidades, essas não sobreviverão", Benjamin Franklin, pensador norte-americano, Século XVIII.

    Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, todos aqueles que nos assistem pela TV Senado e nos ouvem pela Rádio Senado, esse pensamento do Século XVIII, de Benjamin Franklin, não só escritor, político e pensador, mas também um dos responsáveis pela Declaração da Independência e pela Constituição dos Estados Unidos, é autoexplicativo. Na realidade, ele quer dizer que a humanidade não sobreviveria sem o campo, sem o rural, sem o agronegócio, sem a pecuária, sem a agricultura.

    Por isso, neste dia em que comemoramos o Dia Mundial da Água, eu quero falar do agronegócio brasileiro, que tem uma relação visceral com a água, que não existiria sem esse bem mais precioso que é a nossa água. E começo deixando aqui, mais uma vez, a minha preocupação com a forma irresponsável como foi conduzida a Operação Carne Fraca pela Polícia Federal e também com a forma irresponsável com que os meios de comunicação passaram para a população brasileira essa questão.

    Num grande estardalhaço midiático, tentaram generalizar. O que pode ser 0,5% ou 1% de irregularidades, de falcatruas, de corrupção, tentaram generalizar, colocando todo o agronegócio brasileiro como responsável pela venda fraudulenta da carne com prazos de validade vencidos, com mercadoria estragada, como se tivessem querendo, de alguma forma, contaminar os nossos alimentos.

    Colocaram-se, em menos de alguns minutos, por terra anos e anos de trabalho a favor do agronegócio no Brasil. Só quem conhece o setor – e eu venho do agronegócio desde o meu avô, pequenininha, vendo o meu avô produzir grãos e carne – neste País sabe o quanto custou chegarmos a ser referência mundial em matéria de qualidade, de sanidade animal e também dos grãos.

    Quero deixar claro que sou a favor da Operação Lava Jato, deixar claro que sou a favor do trabalho da Polícia Federal. Ninguém discute os altos e relevantes serviços que prestam para o combate à corrupção neste País. Jamais defenderia o indefensável, que é a corrupção. Agora, precisamos todos, políticos e autoridades públicas, neste momento delicado em que vive o País, nós precisamos todos ter responsabilidade. E é por isso que, neste momento, eu falo do agronegócio, a começar por dizer que não podemos aceitar fraude econômica, seja ela qual for, principalmente num setor tão delicado como é o do alimento. Com isso, quero dizer: Polícia Federal, cumpra o seu trabalho. Realmente, vá a fundo e investigue. Puna, multe, interdite, feche estabelecimentos comerciais ou frigoríficos. Coloque na cadeia grandes ou pequenos, servidores públicos, iniciativa privada e políticos do Brasil, mas cuidado, porque nós estamos tratando de um dos carros-chefes da economia do Brasil.

    O agronegócio brasileiro é o responsável por esse PIB, por mais modesto que seja, este ano poder sair do negativo e ir para o positivo. Não podemos nos esquecer da disputa econômica mundial em matéria de liderança nos alimentos e nas commodities. Não vai faltar gente, oportunistas, países querendo nos derrubar. Não podemos esquecer que neste jogo não há pudor; o que há é poder. Não podemos ser nós a dar um tiro no pé e nos fragilizar.

    Não há solução, senhoras e senhores, para os grandes problemas brasileiros que não passe pelo agronegócio, dos inchaços das cidades, do aumento da violência, do problema com segurança pública, da recessão, da inflação, do desemprego, do preço alto dos alimentos que não passe pelo homem do campo.

    O que seria da nossa balança comercial nesses últimos três anos? O único dado positivo, Senador Wilder: a nossa balança comercial, nos últimos três anos, teve um superávit de US$64 bilhões, não em função dos outros setores secundários e terciários, que foram deficitários na ordem de mais de 160 bilhões; foram os 220 bilhões de superávit do agronegócio que deram o superávit na balança comercial de 64 bilhões. Em 2016 a nossa safra contribuiu em 46% das exportações dos nossos produtos.

    Voltando e repetindo, não há como solucionar os problemas econômicos ou sociais do País sem passar pelo homem do campo, pelo agricultor, pelo pecuarista. Esses números do agronegócio são tão importantes e vitais que representam 30% dos empregos diretos da população brasileira.

    O que seria da cidade sem os números que temos em mãos? Não podemos esquecer – e o tempo é curto, já indo, portanto, para o final desta parte –, não podemos esquecer que são 200 milhões de brasileiros que dependem do agronegócio para ter comida à mesa. Nós estamos falando aqui de 20 vezes a população de Portugal, 70 vezes a população do Uruguai, toda ela alimentada pela parcela da população rural ocupada em atividades agropecuárias. Daí a necessidade de se investir, de financiamento, de se falar, sim, da importância do agronegócio quando o agronegócio está na berlinda, em especial, no caso aqui, a carne não só bovina, mas de frango e a carne suína.

    Eu gostaria, já na parte final, de dizer não só da importância, mas também de repetir: que nós tenhamos mais responsabilidade quando tratarmos de um tema tão complexo e importante para a população brasileira. Há tempo de plantar e há tempo de semear. A falta de semeaduras, a falta de semente no campo, a falta de colheita, o que se implanta é o desemprego, é a miséria, é o inchaço nas grandes cidades, é a inflação, é a recessão, é a falta de alimento, é a ausência da cidadania. Não se queimam as etapas de produção. Não é possível e não se colhe sem se frutificar. Não se frutifica sem florescer. Não floresce sem brotar, não brota sem semear.

    O que eu quero dizer, Senador Roberto Rocha, ao dar o aparte a V. Exª é que sem a semeadura não há flor, a semente não brota, não há fruto, não há alimento.

    Com o maior prazer, eu lhe concedo o aparte, apesar de já estar nos dois minutos finais da minha fala, com a aquiescência do nosso Presidente.

    O Sr. Roberto Rocha (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - MA) – Senadora Simone Tebet, quero cumprimentar V. Exª e dizer da importância desse pronunciamento que V. Exª faz no Dia Internacional da Água, homenageando esse recurso hídrico precioso nas nossas vidas, mas também fazendo um reconhecimento do poder, da pujança, da força do agronegócio na vida de todos nós, na vida do nosso País. E quero aqui me associar a essa indignação em relação a algo que eu diria que estamos vivendo hoje, que é esse ativismo judicial, policial e, às vezes, até midiático. Eu quero louvar, cumprimentar as pessoas da imprensa que...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Roberto Rocha (Bloco Socialismo e Democracia/PSB - MA) – ... publicaram corretamente as notícias, portanto, publicando o trigo, e repudiar completamente aqueles que só publicam o joio. Para estes, o papel da imprensa é separar o joio do trigo e publicar o joio. E concluo: para dizer da confiança que tenho na economia do meu País, na força do agronegócio, e compreendendo que o trigo tem muito mais força que aquilo que foi colocado como regra, eu mesmo coloquei em minhas redes sociais, para revelar, como agente público, a confiança no meu País, nos órgãos de controle dele, o mapa do Brasil no formato de uma carne escrito "eu confio". De modo que quero, então, cumprimentar V. Exª pela oportunidade do seu discurso.

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – Eu agradeço-lhe, Senador Roberto Rocha, e até me permito abrir aqui um parêntese, porque eu fui, através das redes sociais, justamente falar exatamente disto: do apoio que dou à Operação Lava Jato e à Polícia Federal, mas também de que, em determinados momentos, não pode haver excesso, excesso que pode fazer com que a economia brasileira, já tão combalida, seja atingida. Infelizmente, alguns não entenderam exatamente aquilo que quisemos colocar.

    Nós queremos dizer aqui, neste momento, para a população brasileira que está nos vendo, que nós somos um dos maiores players mundiais no que se refere a carne. Nós temos uma vigilância sanitária que é referência mundial.

    Só para se ter uma ideia... Eu conheço bem como funciona o frigorífico. Acho que o assunto é relevante, Sr. Presidente, e por isso vou me alongar um pouquinho, e só temos mais um orador para se pronunciar. Quando pequena, eu era conduzida pelas mãos do meu avô e, depois, pelas do meu pai nos antigos abatedouros. Há 35 anos, nós tínhamos, sim, abatedouros clandestinos.

(Soa a campainha.)

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – Hoje nós não temos mais. Hoje nós temos um certificado que é referência. Nós somos o maior exportador de carne bovina do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Nós somos o primeiro em frangos, o quarto em suínos. Nós somos uma referência tão grande que nós somos aquele que mais exporta para os países no mundo em alguns setores, em alguns produtos. Mais de cem países comem a nossa carne.

    E vou mais longe: será que, se a carne brasileira toda fosse estragada, nós, donas de casa, não iríamos sentir o cheiro, não iríamos ver o gosto diferente? A União Europeia só compra carne brasileira dos frigoríficos em que ela tem o seu fiscal, um fiscal estrangeiro, lá dentro do frigorífico, olhando como a carne é processada. Se o frango que vai para alguns países de origem muçulmana, por exemplo, não for cortado da forma certa e na hora certa, com a presença...

(Soa a campainha.)

    A SRª SIMONE TEBET (PMDB - MS) – ...do fiscal desses países, essa carne não é comercializada.

    Eu quero, aqui, dar mais um dado importante: a safra deste ano vai ser recorde. Serão mais de 40 milhões de toneladas a mais nos pratos dos brasileiros. É essa safra desse agronegócio que vai ser responsável pelo PIB positivo deste ano a que estou me referindo.

    Já agora nos últimos dois minutos da minha fala, Sr. Presidente, eu gostaria de dizer que a carne é responsável, na sua cadeia produtiva, por 7 milhões de empregos. Nós estamos falando de um setor que tem uma estrutura ímpar e exemplar.

    E, aí sim, finalizando e voltando ao pensamento de Benjamin Franklin: sim, nós estamos plantando; não, nós não queimamos os nossos campos. Os nossos campos foram conservados e hoje são semeados. O brasileiro dos campos saiu para plantar, deitou sua semente em solo fértil, e é esse solo fértil, junto com esse trabalhador habilitado, hábil e trabalhador, que coloca o nosso alimento à mesa.

    O que não pode acontecer – eu repito – é irresponsabilidade de quem quer que seja; omissões indevidas; ações levianas, de políticos, de servidores públicos, de autoridades públicas ou policiais, a denegrir a nossa imagem e a impedir a colheita no futuro. O cultivo do presente vai ser responsável pelo nosso futuro.

    Caso se queimem hoje os campos brasileiros, Sr. Presidente, não haverá futuro algum, e toda carne será fraca.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2017 - Página 35