Discurso durante a 51ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 55 anos de fundação da Universidade de Brasília - UnB.

Autor
MÁRCIA ABRAHÃO MOURA
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 55 anos de fundação da Universidade de Brasília - UnB.
Publicação
Publicação no DSF de 28/04/2017 - Página 27
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • PRONUNCIAMENTO, SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, MOTIVO, ANIVERSARIO, FUNDAÇÃO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), COMENTARIO, HISTORIA, ELOGIO, AÇÃO AFIRMATIVA, RESULTADO, INCLUSÃO SOCIAL, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO.

    A SRª MÁRCIA ABRAHÃO MOURA – Obrigada, Senador Cristovam – e falar depois do Senador Cristovam realmente é um desafio enorme, mas me coube essa tarefa.

    Senador Cristovam, muito obrigada por ter solicitado a sessão solene, juntamente com o Senador Hélio José. Agradeço também ao Senador Reguffe, com quem tive também a oportunidade de conversar e que também já se colocou à disposição para colaborar com a UnB.

    Cumprimento também meu querido Prof. Enrique Huelva, meu colega de batalha diária; meu querido ex-Reitor Prof. José Geraldo; e Prof. Isaac. Eu tenho orgulho de estar aqui ao lado de dois ex-reitores e eu votei nos dois. O Prof. Cristovam lembrou aqui que ele foi o primeiro reitor eleito. Naquela época, eu era estudante de graduação, e nós votamos na lista sêxtupla. A Profª Cláudia também era aluna na época, juntamente com a Profª Lia Zanotta, que estava ontem na homenagem dos 55 anos.

    Cumprimento as demais autoridades presentes.

    Um cumprimento especial ao Maestro David Junker. Muito obrigada, Maestro, pela belíssima apresentação e por todo o seu trabalho na UnB.

    Também cumprimento o querido Chiquinho, com quem convivo há muitos anos – nenhum de nós dois pode contar quantos anos, não é, Chiquinho?

    E cumprimento todos os presentes.

    Na nossa administração, além da Reitora, nós temos a alta administração com muitas mulheres. Estão aqui a Profª Cláudia, a Profª Helena, a Profª Maria Emília. Está também o nosso querido Decano de Assuntos Comunitários, Prof. André. É uma administração feminina.

    Vou falar algumas rápidas palavras.

    Eu quero ressaltar que o Prof. Cristovam Buarque não é geólogo, mas até geologicamente está à frente do tempo, discutindo o antropoceno, que ainda é uma discussão acadêmica. Realmente, todas as evidências mostram que nós, provavelmente, estamos mesmo em um antropoceno, o que não é mais discutido, mas o cientista fica discutindo tudo a vida inteira.

    O Prof. Cristovam citou Honestino Guimarães, que iria ser geólogo, pois estava perto de se formar. Ele foi o primeiro colocado no vestibular de geologia no primeiro ano do curso de geologia, o primeiro vestibular do curso de geologia da UnB. Ele seria meu colega geólogo hoje em dia. Nos 50 anos do curso de geologia, nós homenageamos Honestino Guimarães

    Senador Cristovam, é muito simbólico para a Universidade de Brasília estar aqui hoje com o Senado se abrindo para comemorar os 55 anos da UnB. E nós estamos comemorando com o tema "Ciência e Ousadia" para mostrar que é uma universidade que tem, sim, que ser de vanguarda; ela foi criada para ser de vanguarda e ela não pode se furtar a continuar sendo vanguarda. E o Senado Federal, ao longo desses anos, tem atuado em parceria com a Universidade de Brasília. Desde que eu assumi, desde que fui eleita, eu já estive aqui. O Senador Cristovam foi o primeiro Parlamentar que eu visitei, prontamente recebeu-me e tem atuado assim desde que assumimos.

    A universidade nasceu – já foi relatada a sua história – também por uma inquietação do Darcy Ribeiro que conseguiu convencer o Parlamento, o Presidente a assinar o ato de criação da Universidade de Brasília, a lei de criação da Universidade de Brasília.

    A universidade começou no Campus Darcy Ribeiro, que virou Campus Darcy Ribeiro recentemente – recentemente para nós, nós que já estamos ficando velhos –, e hoje já está em quatro campi. A universidade hoje também está na Ceilândia, no Gama e em Planaltina. Tive orgulho de participar e de coordenar esse processo de expansão com o Prof. José Geraldo, que, apesar de ser humanista também, saiu com um grande patrimônio e foi o que mais expandiu a universidade fisicamente, numa atitude corajosa. Eu tive oportunidade de ser, então, Decana de Graduação.

    Nós também somos uma universidade que, ao longo desses anos, foi pioneira em vários temas. Ela foi pioneira nas cotas para negros e foi uma universidade que trouxe os indígenas para dentro, por meio do vestibular e convênio com a Funai. E nós, agora, estamos retomando o vestibular para indígenas, que ficou três anos sem acontecer. Também recebemos os índios, mas nós nos abrimos para eles e nós nos comprometemos a já, agora, fazer o vestibular para indígenas, porque é inadmissível nós ficarmos com a redução da comunidade indígena na Universidade de Brasília.

    É uma universidade que tem sido protagonista dos grandes debates nacionais e internacionais em termos de qualidade acadêmica, na graduação, na pós-graduação, na ciência, mas é uma universidade que forma e formou pessoas para atuar no Brasil e no mundo. Ainda agora, vindo para cá, recebi um WhatsApp de uma colega, ex-aluna de geologia, que é professora no Canadá, chamando-me para uma pesquisa conjunta. Infelizmente, estou agora mais voltada para a burocracia.

    É uma universidade que sempre quis ser vanguarda na ciência, mas também que jamais se furtou a participar dos grandes debates de Brasília e do Brasil.

    É uma universidade que enfrentou bravamente a ditadura, custando a vida de muitos colegas, estudantes, docentes e técnicos; uma universidade que ainda hoje é uma universidade de resistência para que nós não percamos as nossas conquistas e continuará sendo uma universidade de resistência.

    É uma universidade que também tem a editora que completa 55 anos, uma editora muito importante. Ontem, o Prof. Aldo Paviani reafirmou a importância da editora.

    O Hospital Universitário é um hospital que trabalha com altíssima complexidade e que obviamente ainda tem muitos desafios pela frente. Somos parceiros do GDF também na melhoria da qualidade de vida da população do DF.

    É uma universidade que, com toda a importância que dá para a ciência, para a publicação de papers – hoje em dia, muitos colegas ficam escravos até mesmo, podemos dizer, da publicação de papers –, também tem a ousadia de criar e recriar a revista Darcy, uma revista para a divulgação científica e cultural da nossa comunidade, de modo muito mais palatável para a sociedade. Nós falamos muitas vezes para nós mesmos e achamos que todos têm que entender. Então, a universidade tem que se abrir, e a revista Darcy, que nós estamos relançando – relançamos ontem e hoje estamos reafirmando o relançamento, distribuímos aí para todos –, é uma revista que agora voltará a ser uma revista periódica da Universidade de Brasília. O Prof. Sérgio de Sá, que é o coordenador, o Secretário de Comunicação, teve a ousadia de relançar a Darcy, aceitando o desafio em poucos meses, não é, Prof. Sérgio de Sá?

    Agora, é uma universidade que precisa de investimentos. É uma universidade que precisa de investimentos para continuar existindo, investimentos de todos os tipos, investimento do Governo, investimento da sociedade. E ainda agora eu estava aqui conversando com o Prof. Cristovam – desculpe-me, Senador Cristovam, mas sempre professor – da nossa necessidade de ampliar esse investimento, de ampliar, inclusive, a capacidade de recebermos os recursos próprios que nós mesmos temos a capacidade de gerar, mas que não podemos incorporar ao nosso orçamento por limitações orçamentárias. Eu costumo dizer que nós temos, muitas vezes – neste momento, particularmente, temos isto –, o dinheiro no banco, mas não temos nem o cheque, nem o cartão de crédito para usar. Então, ele mais uma vez se colocou à disposição para nos ajudar.

    Já na nossa gestão, com esse olhar para o futuro, nós criamos o Decanato de Pesquisa e Inovação, porque a universidade tem, sim, que fazer pesquisa, mas ela tem que saber aplicar pesquisa. Ela tem que não só produzir papers, artigos, indicadores acadêmicos, mas também patentes, sabendo se colocar para a sociedade. O Decanato de Pesquisa e Inovação, então, vem nesse intuito. Ele incorporou o CDT, que passa a ter uma função muito maior de fazer com que as nossas pesquisas acadêmicas se transformem em patentes, em inovação. E o nosso parque científico e tecnológico passa a ter um papel muito mais preponderante dentro da cidade e dentro do País. Então, é um desafio enorme que nós temos, mas nós estamos nos propondo. A Profª Maria Emília é Decana de Pesquisa e Inovação; até então, ela era Diretora do Instituto de Ciências Exatas e veio para essa aventura de criar o Decanato de Pesquisa e Inovação. E o Decanato de Pós-graduação, que a Profª Helena dirige, passa a se voltar prioritariamente para a pós-graduação e para a iniciação científica.

    Como disse o Prof. Cristovam, uma universidade tem que se pensar para os próximos 45 anos. Uma universidade de vanguarda tem que sair das suas caixinhas. Na época em que eu era decana de graduação, nós criamos os cursos interdisciplinares. Infelizmente, até hoje, algumas unidades, alguns colegas não entenderam esses cursos, porque eles não são cursos de um departamento. "Mas eu quero participar do colegiado do departamento." Não. É um curso que é realmente interdisciplinar. Falamos muito em interdisciplinaridade, mas, na hora de praticar, nós temos dificuldade. Infelizmente, alguns desses cursos retrocederam e já entraram nas caixinhas. Nós temos que saber sair das caixinhas e pensar à frente. Não podemos mais ficar falando em ensino. Temos que falar em aprendizagem.

    Estamos, exatamente neste momento, refazendo o Centro de Ensino a Distância da UnB para que ele se volte para a aprendizagem. Nós somos muito arrogantes, nós, professores. Achamos que somos nós que detemos todo o conhecimento e que o estudante vai ficar ali sentado, ouvindo o professor falar por horas – no nosso caso, duas horas. A geração de hoje é uma geração do século XXI, e nós continuamos dando aula no século XIX. Esse é um desafio para o decanato de graduação – está aqui a Profª Cláudia –, uma universidade que tem uma evasão enorme, uma universidade que se abriu para a sociedade, mas que continua não olhando adequadamente para a permanência dos estudantes, não aquela permanência paternalista, mas a permanência qualificada. Nós temos que dar qualidade para a formação dos nossos estudantes. Esse também é o desafio do Prof. André.

    Nós continuamos e continuaremos cada vez mais abertos para a sociedade. Já começamos a fazer os grandes debates. Estamos trabalhando na construção do Fórum Internacional da Água, que será aqui no Distrito Federal, no ano que vem. Queremos contribuir para as soluções vindouras, para acabar com essa vertigem que nós temos, certo, Prof. Cristovam, Senador Cristovam?

    Lembrando o que o senhor falou no seu discurso, não será de vanguarda a universidade que não for capaz de saltar da direita para a esquerda nesse quadro. Uma universidade tem que saber dar os saltos e tem que se comprometer. Uma universidade que tem na sua história tantas pessoas que foram retiradas brutalmente da nossa convivência não pode se fechar para os grandes dilemas da sociedade, para os grandes dilemas da humanidade. Esse é o compromisso que nós temos para os próximos 45 anos. Senão, não valeu a pena chegar aqui.

    Vida longa à nossa UnB.

    Muito obrigada pela oportunidade. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/04/2017 - Página 27