Pela Liderança durante a 92ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento da Sr. Wilma Maria de Faria.

Registro da participação de S.Exª em um fórum sobre o desenvolvimento da indústria gesseira, na cidade de Araripina-PE.

Considerações sobre a crise da indústria naval brasileira.

Autor
Armando Monteiro (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/PE)
Nome completo: Armando de Queiroz Monteiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento da Sr. Wilma Maria de Faria.
MINAS E ENERGIA:
  • Registro da participação de S.Exª em um fórum sobre o desenvolvimento da indústria gesseira, na cidade de Araripina-PE.
INDUSTRIA E COMERCIO:
  • Considerações sobre a crise da indústria naval brasileira.
Aparteantes
Ana Amélia, Cristovam Buarque, Elmano Férrer, Jorge Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2017 - Página 79
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > MINAS E ENERGIA
Outros > INDUSTRIA E COMERCIO
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, VEREADOR, PROFESSOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, SEMINARIO, MUNICIPIO, ARARIPINA (PE), ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ASSUNTO, DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA, MINERAL, CRESCIMENTO, SETOR, EXTRAÇÃO, MINERIO, CRIAÇÃO, EMPREGO, MELHORIA, ECONOMIA, IMPORTANCIA, INCENTIVO, REFLORESTAMENTO, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE.
  • COMENTARIO, CRISE, INDUSTRIA NAVAL, AUMENTO, DESEMPREGO, FECHAMENTO, ESTALEIRO, PARALISAÇÃO, PRODUÇÃO, EMBARCAÇÃO, PAIS, MOTIVO, DESEQUILIBRIO, ECONOMIA NACIONAL, REDUÇÃO, PREÇO, PETROLEO.

    O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco Moderador/PTB - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de mais nada, eu quero também me associar a esse registro de pesar que a nossa Senadora Fátima Bezerra faz pelo passamento da nossa ex-Governadora Wilma Faria, que eu tive o privilégio de conhecer. Ela sempre foi uma mulher guerreira, uma mulher de fibra, uma mulher que, ao longo da sua vida pública, pôde marcar uma liderança no seu Estado sempre muito afirmativa, ao mesmo tempo em que, nas funções que desempenhou, sempre revelou também uma grande sensibilidade social. Portanto, eu faço esse registro e me associo à manifestação da nobre Senadora Fátima Bezerra.

    Meu caro Presidente desta sessão, agora o nosso Senador Raimundo Lira, eu queria, antes de falar do tema que me traz hoje aqui à tribuna, que é uma avaliação da imensa crise que envolve hoje a indústria naval no Brasil, fazer o registro de uma passagem que pude fazer lá no Sertão do Araripe. No último dia 19, eu estive na cidade de Araripina. Tive a satisfação de participar de um seminário, de um fórum sobre o desenvolvimento da indústria gesseira. Essa iniciativa foi promovida pelo Ministério de Minas e Energia em articulação com a Prefeitura Municipal de Araripina, que hoje tem à sua frente um político que tem dimensão no nosso Estado, larga experiência, que é o ex-Deputado Raimundo Pimentel. Ele vem, nesse curto período em que assumiu a prefeitura, imprimindo o seu estilo, a sua marca, já podendo fazer aí uma gestão dinâmica, uma gestão que vem já revelando frutos muito importantes.

    Sobre esse fórum de desenvolvimento da indústria gesseira, é muito importante dizer aqui desta tribuna que o polo gesseiro do Araripe representa 95% da produção de gesso do Brasil, em que pese que as reservas do Araripe representam menos de 20% das reservas nacionais. Isso significa que há uma marca, que é muito própria no pernambucano, do empreendedorismo. Lá se criou um arranjo produtivo muito importante, que responde hoje por milhares de empregos na região e que se constitui no sustentáculo da economia daquela região. Nós temos mais de 500 empresas entre as empresas mineradoras, que fazem a extração do minério, as empresas calcinadoras e as empresas de pré-moldados.

    Saiba, meu caro Senador Raimundo Lira, que preside esta sessão, que a indústria gesseira se ressente no momento dessa crise que se abateu sobre a economia brasileira, particularmente sobre o setor da construção civil, que é o setor que consome basicamente os produtos da chamada cadeia produtiva do gesso.

    Eu quero destacar que, nesse fórum, com a presença do Presidente da companhia de produção mineral, da CPRM, foi anunciado um mapeamento geológico. Vejo aqui o Senador Elmano Férrer. E essa região do Araripe se espraia por Pernambuco, Ceará e Piauí. O Piauí também tem parte dessa região do Araripe. E esse mapeamento geológico, meu caro Senador Elmano, é importante ser atualizado, porque essa região dispõe não apenas de reservas de gesso, reservas de gesso puro, da gipsita pura, como também – já há indicações concretas – de reservas de ferro, de fósforo, que podem ser potencializadas no futuro, produzindo, portanto, um impulso extraordinário na economia regional.

    Temos agora também, no presente, desafios, como, por exemplo, a matriz energética do polo gesseiro. Sabe V. Exª que hoje se consome muita lenha, lenha nativa. É preciso estimular um processo de reflorestamento. E hoje já existe a chamada lenha de manejo. Por exemplo, nós hoje já consumimos, no polo, a lenha que vem do Piauí, por exemplo, da plantação de eucaliptos. Portanto, há de se buscar essa renovação da cobertura através de florestas energéticas, para evitar que se continue consumindo lenha do nosso bioma, a Caatinga, que é algo que está em extinção.

    Eu quero registrar minha satisfação...

    O Sr. Elmano Férrer (PMDB - PI) – O nobre Senador me concede um aparte?

    O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco Moderador/PTB - PE) – Muito bem. Com muito prazer, meu caro Senador Elmano.

    O Sr. Elmano Férrer (PMDB - PI) – Eu queria cumprimentar V. Exª pelo pronunciamento, mas gostaria que V. Exª me desse uma informação. Além da gipsita, que há naquela região de Marcolândia, Araripina, Simões, no Piauí, há também, em Fronteiras, o calcário e o mármore em Pio IX, mas hoje aquela região se destaca pela geração de energia eólica. Então, no momento em que V. Exª se refere à questão da madeira na utilização da indústria gesseira, eu perguntaria a V. Exª sobre aqueles parques eólicos que há tanto ali na região de Araripina, em Marcolândia, no Piauí, em Simões e em outras regiões, sobre a contribuição que esses parques eólicos trarão para a indústria de gesso naquelas nossas regiões.

    O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco Moderador/PTB - PE) – Eu quero agradecer a V. Exª, porque lembra bem: aquela região tem hoje investimentos importantes na geração de energia eólica. Há pouco, Pernambuco inaugurou um parque eólico muito importante. Há hoje, mais ou menos, 60 aerogeradores instalados lá na região. E toda essa região já produz quase 400MW de energia – ou quando esses projetos forem concluídos.

    E é claro, Senador, V. Exª lembra muito bem que essa energia elétrica pode também se incorporar, numa certa medida, à matriz, mas só levando em conta que, pelas características dos fornos e do processo de calcinação, nem sempre se pode utilizar a energia elétrica. Portanto, nós teremos sempre a dependência de outras fontes, que poderia ser o gás, se pudéssemos já ter, por exemplo, no caso de Pernambuco, uma extensão daquele gasoduto que chega hoje a Caruaru e que chegará a Belo Jardim. Olhando no horizonte de curto e médio prazos, tenho a impressão de que ainda teremos uma dependência da fonte mais tradicional, neste caso, buscando cada vez mais a lenha de manejo e não a utilização da cobertura nativa do nosso bioma da Caatinga.

    Meus caros Senadores, eu vim à tribuna também para falar sobre um tema que, eu creio, é de interesse de vários Estados da Federação, que é a crise que envolve hoje a indústria naval no Brasil. Sabe-se que, durante um período, nós tivemos até 2014 uma política que se mostrou positiva, apesar de atrasos nas entregas das encomendas, e que foi muito estimulada, evidentemente, por um momento que a Petrobras viveu. Houve um relançamento da indústria naval no Brasil. Esse setor chegou a gerar 80 mil empregos diretos, estimulando e desenvolvendo uma enorme cadeia produtiva. Infelizmente, a queda do preço do petróleo e os efeitos da Operação Lava Jato sobre a Petrobras geraram uma espécie de tempestade perfeita, que resultou em uma sequência de cancelamentos das encomendas, justamente no período em que se observavam uma curva de aprendizado e ganhos de produtividade que foram muito significativos, decorrentes dos investimentos, sobretudo em capacitação e treinamento de pessoal. Mais recentemente, para complicar esse cenário, a Petrobras fez um pedido à agência reguladora do setor, a ANP, para reduzir os percentuais de conteúdo local na construção de uma plataforma, por exemplo, para o Campo de Libra, alegando que a produção no Brasil encarece em 40% o produto, o que é questionado pelos representantes da indústria naval, sejam os produtores, sejam mesmo os trabalhadores.

    Sr. Presidente, desde o início da crise, já registramos quase 50 mil desempregados – imagine V. Exª: de 80 mil, nós estamos reduzidos a 30 mil empregos diretos –, com doze estaleiros que foram totalmente paralisados. Cinco encontram-se em recuperação judicial ou extrajudicial e os demais, com enorme capacidade ociosa. Entre os estaleiros que estão em operação, uma parte é voltada – sabe-se que há muito tempo – para a construção de embarcações fluviais ou de transporte de passageiros.

    Já a indústria voltada para a construção de plataformas, navios offshore e grandes petroleiros, que nasceu para atender às demandas da Petrobras, essa está em contagem regressiva, com os últimos projetos em fase final de construção. Assim, alguns grandes estaleiros têm pouco mais de dois meses de trabalho e, depois, podem engrossar a lista de estabelecimentos que estão paralisados.

    Em Pernambuco, o Estaleiro Atlântico Sul, talvez a mais moderna planta de todas essas que se instalaram no País, convive com o sério risco de encerrar suas operações no início de 2019, quando finalizará a entrega de cinco navios que foram encomendados pela Transpetro. Caso esse cenário venha a se confirmar, nós perderemos mais de 4 mil empregos diretos nessa unidade.

    Para evitar o fechamento, os sócios do empreendimento trabalham hoje em duas frentes. A primeira é garantir a renovação da carteira em parceria com uma empresa brasileira de navegação, a SATCO. Seriam 13 embarcações envolvendo um volume de negócios de quase US$2 bilhões. A encomenda englobaria oito navios para transporte de petróleo e derivados e cinco navios petroleiros do tipo Suezmax, dimensionados para atender os limites impostos pela travessia do Canal de Suez.

    No entanto, essa solução, em última instância, dependeria do afretamento das embarcações pela Petrobras e do seu novo plano de negócios, que ainda será divulgado. Já a outra frente envolve negociações das dívidas com os bancos. Objetiva-se a extensão do prazo de carência e o alongamento do período para amortização dos empréstimos contratados.

    Vale destacar que o cancelamento da encomenda de sete navios ao Estaleiro Atlântico Sul, anteriormente previsto pelo Promef (Programa de Modernização e Expansão da Frota), desestabilizou o planejamento inicial da empresa.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero ressaltar que os investimentos já realizados no Estaleiro Atlântico Sul alcançam o montante, em valores atualizados, de R$3 bilhões, além de aportes adicionais que foram realizados pelos acionistas para garantir a continuidade da operação, em meio a esta crise.

    Adimplente com o BNDES, o estaleiro teve ganhos de produtividade nos últimos dez meses, quando inclusive chegou a contratar e a ampliar o seu quadro de funcionários, para garantir a construção de cinco navios da categoria Aframax para a Transpetro, os quais, como já assinalei, serão entregues até o início de 2019.

    Já o outro estaleiro de Pernambuco, que é o Vard Promar, está operando na produção de quatro navios, sendo que dois estão em fase de conclusão. Caso não haja perspectiva de novas encomendas, a desmobilização do pessoal dessa unidade produtiva poderá também ocorrer ainda este ano. Como no caso do Atlântico Sul, o cancelamento de encomendas contribuiu para o agravamento desse quadro.

    Portanto, somente com o risco de fechamento desses dois estaleiros em meu Estado, mais de vinte mil empregos diretos e indiretos estarão comprometidos.

    Diante desse cenário, perguntamo-nos: o que fazer? Como podemos aproveitar a capacidade instalada, o aprendizado e, sobretudo, a manutenção dos empregos hoje existentes? Como não inviabilizar completamente os investimentos já realizados, que montam no nosso País inteiro a mais de R$40 bilhões em uma década? Como podemos redimensionar e reorientar a indústria naval no País diante de um novo plano de negócios da Petrobras e das mudanças que ocorreram no mercado de petróleo?

    Sem prejuízo de medidas urgentes, sobretudo na área de financiamento e na viabilização de uma carteira mínima de encomendas, defendo a adoção de um plano estrutural para o futuro dessa indústria que envolva uma política realista de conteúdo local que deve se assentar em bases equilibradas e que tenha foco, metas de produtividade e o caráter temporário para a obtenção de resultados.

    Além disso, é preciso fomentar a competitividade desse setor, inclusive para permitir que ele aumente as exportações, buscando novas áreas de atuação, com o aumento de participação e parcerias com investidores internacionais, que já demonstraram interesse em atuar no Brasil. Se não ocorrer a adoção dessas medidas, teremos um sucateamento estrutural e – por que não dizer? – o risco de extinção dessa indústria, que foi tão duramente relançada no Brasil nos últimos anos?

    Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu quero conceder, com muita satisfação um aparte à nossa Senadora Ana Amélia, que conhece bem essa realidade de crise da indústria naval e tem hoje uma presença expressiva no seu Estado.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Precisamente, Senador Armando Monteiro. Eu começo pelo final, neste aparte, sobre o tema da indústria naval, dessa abertura que teve em uma política acertada. Eu sou uma Senadora independente, que costumo reconhecer o que foi feito de bom e o que não foi feito de bom, seja quem for o governo, mesmo que seja aqui, nesse aspecto. V. Exª aborda um tema que, para o Rio Grande do Sul, que teve, no Polo Naval de Rio Grande, na construção das plataformas marítimas, uma nova realidade na mudança do perfil econômico de uma região que tinha no Porto de Rio Grande, que é o terceiro porto marítimo mais importante do País, a grande referência. Mas o polo naval veio mudar nas relações, porque é uma indústria inovadora, é uma indústria relevante de infraestrutura, uma indústria com repercussão em várias cadeias produtivas do meu Estado, inclusive metal-mecânica, de uma região que V. Exª conhece bem, que é Caxias do Sul. Há pouco V. Exª mencionou o apelo do Paulo Bellini, da Marcopolo, que o polo metal-mecânico tem a ver sempre com essa região. E também houve, e eu recebi demandas da comunidade de Rio Grande, alarmadas e preocupadas com a suspensão das compras. A Petrobras tem as suas razões empresariais nas encomendas, mas eu, sempre que fiz o meu posicionamento aqui no plenário, foi de que a Petrobras desse um olhar diferente para esses aspectos do ponto de vista do emprego, porque, cada vez que você compra uma plataforma lá fora, você está importando empregos, e nós temos que trazer empregos para o Brasil. E é exatamente nessa medida que eu queria me associar a essa manifestação de V. Exª, mas também sobre o tema inicial do seu pronunciamento, que, mesmo eu não estando presente fisicamente aqui, eu estava ouvindo o pronunciamento do Senador Cristovam, do Senador Jorge Viana. E a propósito, eu li hoje um artigo brilhante, como sempre, de uma figura muito conhecida, que eu prezo como meu amigo, o ex-Ministro Delfim Neto. O título do artigo dele, publicado na Folha de S.Paulo, é muito sugestivo: "A paixão política costuma cobrar caro". E me permito, Senador Armando, pela oportunidade do tema que abordava V. Exª: "A sociedade brasileira está em estado de choque." Foi o que nós falamos aqui, a frase até parece muito apropriada à nossa tarde. "Apoiou fortemente o afastamento de Dilma, pelo 'péssimo estado geral da sua obra', reconhecido, aliás, por ela mesma quando, depois de sua reeleição, adotou o programa econômico do candidato vencido! O seu impedimento está longe de ter sido um 'golpe'. Fez-se dentro da Constituição (que acabou violada em seu benefício) e sob o 'controle' do STF." Esse é o preâmbulo, e ele prossegue: "A posse de Temer, em maio de 2016, mudou a perspectiva. Ele conseguiu aprovar no Congresso em um ano o que não se fez nos cinco anos do governo anterior. O problema é que os efeitos levam tempo para se materializar e não apagam o desastre fiscal em que fomos metidos no processo eleitoral. Em maio de 2017, a situação era ainda muito complicada, mas já apareciam tênues sinais de uma recuperação modesta do crescimento econômico, único remédio para nossas angústias. Tragicamente, uma 'delação premiada', derivada de uma 'armadilha' bem urdida somada à falta de desconfiômetro de Temer [vou repetir: desconfiômetro de Temer], produziu o tumulto que o País vive. Tal confusão é hoje o mais poderoso instrumento da oposição às 'reformas', que se localiza na alta burocracia federal." E termino com a última parte do texto dele: "Como nos ensinou Max Weber (e lembrou o ilustre professor Kujawski) [a pronúncia me é complicada: Kujawski], estamos diante do dilema: usar a ética da 'convicção' (faça-se justiça e pereça a sociedade) ou a ética da 'responsabilidade' (avaliar cuidadosamente as prováveis consequências de cada solução e escolher a 'menos pior' para a sociedade a curto e longo prazo). É essa escolha que está sob os ombros do STF, sacralizado como Poder moderador na Constituição de 1988. Que a razão e a precaução o iluminem. A paixão política costuma cobrar caro a sua imprevidência." Penso que ele conseguiu descrever aqui, como foi acho que seu colega na Câmara Federal, com um primor de avaliação política e a sensibilidade que a sua inteligência brilhante, Delfim Neto conseguiu resumir nesse artigo da Folha de S.Paulo de hoje: "A paixão política costuma cobrar caro". E renovo os cumprimentos pelo seu pronunciamento nas duas partes. Na primeira, da avaliação da crise e, agora, da abordagem dessa questão da indústria naval brasileira.

    O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco Moderador/PTB - PE) – Senadora, agradeço muito seu aparte. E quero dizer que o Professor Delfim é uma das figuras de referência no País. E me lembro do tempo em que convivemos na Câmara. E era curioso, porque ele não tinha nenhuma afeição à tribuna.

    Mas, no entanto, ele era o interlocutor obrigatório. Era uma espécie de guardião da racionalidade. Quando o debate se desviava de um eixo, quando as paixões se exacerbavam ele era sempre aquela figura capaz de devolver-nos ao chamado "leito da racionalidade".

    Então, é uma figura por quem eu tenho o maior respeito. Mas me permita só dizer que quando falece a autoridade, sobretudo de quem representa – é o primeiro dignatário do País –, quando a sua autoridade é arranhada, aí eu adicionaria, por exemplo, a visão da chamada ética consequencialista. Ou seja, não cabe ficar agora discutindo as consequências de alguma...

    É que quando falece a autoridade, há de se reconstituir, porque há, por assim dizer, um crescente déficit de legitimidade também e, portanto...

(Soa a campainha.)

    O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco Moderador/PTB - PE) – ...nós precisamos operar essa saída da crise que foi aqui, a meu ver, tão bem discutida hoje. Eu não sei se o Senador Raimundo Lira estava naquele momento aqui presente, e contamos aqui com participações muito lúcidas no debate do Senador Jorge Viana, da Senadora Ana Amélia, que fez uma fala inaugural – e eu me congratulo – e do nosso professor, o Senador Cristovam, que sempre nos ilumina aqui com o seu espírito público e com a sua capacidade de análise. O nosso Senador Acir Gurgacz, que esteve também presente com o Senador Roberto Muniz nesse debate.

    Eu passaria, então, ao nobre Senador Cristovam Buarque.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Senador Armando, eu fico satisfeito sempre que ouço as suas falas, com a lucidez, analisando a economia. Vou tomar menos tempo no aspecto específico da indústria naval e me preocupar com a sua fala inicial sobre a economia em geral. Quando eu comecei a estudar economia – e faz muitos anos –, eu via, Senador Raimundo, e aprendi que eram três os fatores de produção: capital, os recursos naturais e a mão de obra. Pouco depois, já se começou a falar que esses três não iam muito para frente se não fosse a tecnologia. Hoje, há uma outra no mundo da globalização, que é a credibilidade, a confiança. Sem confiança, você pode ter muito recurso natural, muita mão de obra, que fica desempregada, e o capital não vem, não funciona. Então, não tem capital. Sem confiança não há capital...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – Por isso é que é assustadora a situação atual, porque tudo que nós fizemos de errado – e o Senador Jorge Viana lembrou bem que nós erramos –, tudo que nós fizemos de errado, e não adianta botar a culpa em A, B ou C, tirou credibilidade e levou para uma situação em que a falta de credibilidade gera mais problemas ainda e, a cada dia, nós sentimos que a credibilidade se esvai na política, no Presidente, sobretudo, mas em todos nós. É como se o Presidente não presidisse; o Parlamento não parlamentasse; os juízes ficassem fazendo política; os trabalhadores, desempregados; os empresários sem investir nem produzir. Precisamos retomar a credibilidade. E a outra coisa: não vamos funcionar bem a economia com amarras. O Brasil está amarrado. O Hino Nacional diz que o Brasil é um gigante deitado...

(Interrupção do som.)

(Intervenção fora do microfone.)

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Socialismo e Democracia/PPS - DF) – O Hino Nacional diz que nós somos um gigante em berço esplêndido. Eu acho que, na verdade, nós somos um gigante amarrado em um leito esplêndido. Precisamos nos desamarrar. E o desamarrar vai exigir reformas. Não faz sentido continuarmos com regras que nos amarram com base em uma realidade de 30 anos atrás. Mudou tudo! Isso aqui forçou a mudança na economia, completa. Aliás, até na política. Um dos problemas que nós enfrentamos é que não entendemos ainda o papel disso na relação do eleitor com o eleito. Antigamente, a gente se relacionava com nossos eleitores a cada quatro ou oito anos, Senadores; agora é a cada quatro segundos que chegam aqui reclamações, críticas, propostas, sugestões. Nós ainda não entendemos como governar on-line, como fazer política ligado, interconectado. Então, nós precisamos romper as amarras. E aí – a Senadora Ana Amélia e o senhor são uns dos que mais têm falado nisto – nós precisamos fazer as reformas necessárias, seja qual for, até, o Governo. O problema é que um governo sem credibilidade dificulta a aprovação de reformas, como nós vimos ontem na CAS. Foi a falta de credibilidade, não foi a falta de vontade, não foram votos ideológicos. Foram votos de contestação, foram votos até mesmo do quanto pior, melhor, foram votos de desconfiança em relação ao Governo, foram votos que diziam "como é que eu vou aprovar uma proposta que veio deste Governo?" Então, nós precisamos resolver a confusão política antes que seja tarde demais. Ontem, reunido com algumas pessoas, inclusive economistas, comecei a ouvir pela primeira vez que, além dos nossos jovens querendo ir embora, também há capitalistas querendo mandar o dinheiro embora. Ainda estamos recebendo, da China, da Coreia... Mas, de repente, esses que estão vindo param de vir e o capital daqui vai em busca de outro território mais calmo, mais pacífico, com mais segurança jurídica. Então, seu discurso vem nessa linha de alertar que nós estamos na véspera – em política e em história, véspera não é amanhã, mas daqui a algum tempo – de tragédias muito grandes. E, finalmente, Senadora Ana Amélia, longe de mim querer corrigir o Ministro Delfim, mas eu queria acrescentar um pouquinho, Senador Randolfe: a paixão, como ele diz, gera problemas, cega, gera problemas e tristezas, custa caro. A paixão custa caro na política. Na verdade, a paixão custa caro em tudo, mas há uma diferença em relação à política. É que, na política, a paixão de quem faz a política custa caro para milhões de pessoas, não só para o apaixonado ou para o sectário. O sectarismo é uma forma de paixão, uma forma má, perversa de paixão. E a paixão na política gera sofrimento em milhões, como o desemprego, como a inflação, como todas as perdas que vêm da recessão. Então, seu discurso nos alerta. O caso de que o senhor fala, da indústria naval lá em Pernambuco, se espalha para a indústria naval do Brasil, se espalha para a indústria ou para o setor industrial em geral no Brasil e até para os outros setores, embora o agronegócio ainda esteja meio protegido graças ao exterior e à eficiência tecnológica dos nossos produtores. Era isso, Senador. E este debate que a gente está fazendo hoje deveria ser mais comum, mais intenso. E quem sabe o Senador Eunício não desperta para perceber que a Casa precisa dar um recado ao País como instituição?

(Soa a campainha.)

    O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco Moderador/PTB - PE) – Agradeço muito.

    E para finalizar mesmo eu queria só, sobre ainda a crise da indústria naval, dizer no final: nós não podemos sair desta crise simplesmente deixando que ocorra um fechamento das unidades produtivas, assistindo a perda de empregos e da densidade produtiva. É preciso construir uma solução equilibrada e justa. Por isso, todos os setores interessados, produtores, trabalhadores, representantes da classe política, governadores precisamos encontrar um caminho que nos possibilite evitar a perda desse capital que construímos que é exatamente a indústria naval que foi relançada nesse País.

    Mas antes de finalizar e, sabendo que o tema da discussão mais ampla da crise foi dominante nessa parte da tarde aqui, eu quero ouvir com muita satisfação o Senador Jorge Viana.

    O Sr. Jorge Viana (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – É bem rápido, Sr. Presidente, agradeço ao Senador Armando Monteiro, mas era para parabenizar porque eu acho que a leitura que V. Exª faz mergulhando num tema muito importante traz os elementos para nos dar a dimensão do desafio que estamos vivendo, do que tínhamos, do temos agora e do que podemos ter no futuro. É muito grave, sim. Nosso País é um país fantástico. Eu lembro sempre que, talvez, o que mais caracteriza o Brasil é um país abençoado por Deus, bonito por natureza, e nós temos um povo também que é invejado mundo afora. Todo mundo quer ser um pouco do brasileiro, mas o momento que estamos vivendo agora... Parece que nós deixamos...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jorge Viana (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ...de ser aquele brasileiro que encantava os outros, passamos a ser intolerantes, a ser arrogantes, a ter ódio, a ser pessoas que não aceitam a convivência com os outros. Esse é um ambiente terrível. Eu li outro dia uma matéria escrita pelo ex-Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e ele falava, Senador Cristovam, que naquele período de inclusão social do Governo Lula parece que aconteceu algo estranho –talvez as manifestações de 2013 –: quem era muito rico foi ficando mais rico ainda, quem era classe média foi melhorando um pouco e quem era pobre foi se aproximando da classe média. Então, os mais ricos foram ficando longe da classe média e os mais pobres se aproximando da classe média, e parece que isso deu um problema. A nossa pirâmide ficou invertida quando isso podia ser a solução. O que é que nós queremos? Mas eu vi muita gente reclamando porque pobre agora tinha o dinheiro para tomar café da manhã como se aquilo fosse... Mas a gente livrar as pessoas de pelo menos ter que sair de manhã atrás apenas do de comer.... Você está pondo essas pessoas no mercado de trabalho ou com alguma chance de produzir algo ou mesmo viver com alguma dignidade. Então, eu só queria me associar ao pronunciamento de V. Exª, dizer que eu lamento, pois havia muitas coisas boas que estavam acontecendo no Brasil e que foram desmontadas, foram destruídas por essa insensatez que nós nos metemos. Eu falo nós porque é sempre bom nós também...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jorge Viana (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ...assumirmos que temos um pouco de culpa nesse cartório. Obrigado, Sr. Senador. Parabéns pelo pronunciamento.

    O SR. ARMANDO MONTEIRO (Bloco Moderador/PTB - PE) – Muito obrigado, Senador.

    Agradeço ao Presidente a tolerância da Mesa.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2017 - Página 79