Discurso durante a 108ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da aprovação do Requerimento nº 607, de 2017, da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, que requer a a constituição de Comissão Externa do Senado Federal com a finalidade de verificar "in loco" a situação na Venezuela e estabelecer diálogo com todas as forças políticas daquele país, na tentativa de contribuir para mediar o grave conflito que acomete aquela nação.

Críticas ao governo federal pelos cortes orçamentários realizados nas áreas de educação, ciência e tecnologia.

Críticas à Câmara dos Deputados por rejeitar a denúncia contra o presidente Michel Temer pelo crime de corrupção passiva.

Anúncio de visitas que serão realizadas no próximo final de semana às aldeias indígenas Mutum e do Caucho, no Acre.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL:
  • Defesa da aprovação do Requerimento nº 607, de 2017, da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, que requer a a constituição de Comissão Externa do Senado Federal com a finalidade de verificar "in loco" a situação na Venezuela e estabelecer diálogo com todas as forças políticas daquele país, na tentativa de contribuir para mediar o grave conflito que acomete aquela nação.
EDUCAÇÃO:
  • Críticas ao governo federal pelos cortes orçamentários realizados nas áreas de educação, ciência e tecnologia.
CONGRESSO NACIONAL:
  • Críticas à Câmara dos Deputados por rejeitar a denúncia contra o presidente Michel Temer pelo crime de corrupção passiva.
ATIVIDADE POLITICA:
  • Anúncio de visitas que serão realizadas no próximo final de semana às aldeias indígenas Mutum e do Caucho, no Acre.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2017 - Página 47
Assuntos
Outros > POLITICA INTERNACIONAL
Outros > EDUCAÇÃO
Outros > CONGRESSO NACIONAL
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • DEFESA, APROVAÇÃO, PROPOSIÇÃO LEGISLATIVA DE REQUERIMENTO NO PROCESSO LEGISLATIVO (RQS), AUTORIA, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, OBJETO, CRIAÇÃO, COMISSÃO EXTERNA, OBJETIVO, VISITA, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, MEDIAÇÃO, CONFLITO.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, CORTE, ORÇAMENTO, EDUCAÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA, CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTIFICO E TECNOLOGICO (CNPQ).
  • CRITICA, CAMARA DOS DEPUTADOS, REJEIÇÃO, DENUNCIA, AUTORIA, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, CRIME, CORRUPÇÃO PASSIVA, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OPERAÇÃO LAVA JATO, ENFASE, VOTAÇÃO, BANCADA, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DO ACRE (AC).
  • ANUNCIO, VISITA, GRUPO, COMUNIDADE INDIGENA, MUTUM (MG), ESTADO DO ACRE (AC).

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, colegas Senadoras e Senadores que estão aqui na Casa, hoje tivemos já uma manhã intensa de trabalho na Comissão de Relações Exteriores, onde, preocupado com a situação da Venezuela, fui autor de um requerimento, com o apoio do Senador Cristovam, que está aqui, e do Presidente Fernando Collor, Presidente da Comissão, que, por unanimidade, na Comissão de Relações Exteriores, foi aprovado.

    Refiro-me à situação de absoluto enfrentamento que aquele país vive. Acho que nós não podemos, num País como o Brasil, ficar indiferentes ao que está ocorrendo, mas também não podemos assumir uma posição de escolher um lado, ficar de um lado ou de outro, que isso não ajuda. Um País como o nosso tem que ser bombeiro e não incendiário nesse processo, tem que ser mediador.

    Eu ofereci esse requerimento, que foi aprovado e que vai vir para o Plenário da Casa, propondo que o próprio Presidente da Comissão de Relações Exteriores, Senador Fernando Collor, possa presidir uma comissão externa, formada por Senadores não que não tenham posição, mas que não tenham as posições mais extremadas e já preestabelecidas, para que numa comissão oficial do Senado se possa visitar a Venezuela, ter uma visão mais correta do que está ocorrendo ali, como foi feito hoje no relatório lido na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.

    E, a partir dessa ação nossa, nós nos preocuparmos também, porque a situação já chegou ao Brasil. Roraima já vive lá uma situação de receber venezuelanos buscando um ambiente de menos conflito vindo para o Brasil.

    Eu, particularmente, acho que a Venezuela vive um ambiente que, perigosamente, se aproxima, eu diria – e espero que esteja errado –, de uma guerra civil. Tomara que eu esteja errado. Tomara que isso não aconteça, porque um país irmão, uma nação vizinha nossa, tão importante, não pode ainda ter agravado uma situação que já é gravíssima. Eu não estou aqui para fazer juízo do que está ocorrendo lá, nem podemos interferir nas questões internas, mas ficar indiferente um país como o nosso é ceder espaço para outras nações, inclusive de outros continentes, como já estão vindo. Já está lá Rússia, de um lado; e Estados Unidos, de outro. Mas o Brasil tem um papel, sim, de ajudar pela importância que tem no continente e pela história que o Brasil tem na sua diplomacia.

    E a ideia é uma só: é uma espécie, como foi dito hoje pelo Presidente da Comissão de Relações Exteriores, Senador Fernando Collor, de uma diplomacia parlamentar, que vai não para ficar de um lado ou de outro, não para ser manipulada por um lado ou por outro, mas iria declarando a sua completa isenção e sua intenção de ouvir os dois lados, obviamente combinando com o Itamaraty, com o Chanceler brasileiro, porque é assim que eu estou propondo. Tomara que o Plenário possa votar, e o Presidente da Comissão de Relações Exteriores, Senador Fernando Collor, possa constituir essa comissão externa, porque o pior dos mundos é ficarmos indiferentes nesta hora.

    Mas, Sr. Presidente, eu estou vindo aqui para relatar, pelo menos, nesta quinta-feira, mais um aspecto. Ontem, o Presidente do CNPq, que tem ouvido reitores das universidades e dos institutos, Senador Cristovam – V. Exª, que tem na educação sua causa de vida –, declarou que o dinheiro acabou em julho. Nós fizemos uma audiência na Comissão de Ciência e Tecnologia de altíssimo nível com a comunidade científica. O Presidente da Academia Brasileira de Ciência estava aqui, o da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência também estava. E nós estamos vivendo, de fato, uma situação de quase calamidade na ciência, tecnologia e inovação no Brasil.

    Eu sei que o Brasil vive um desajuste fiscal. Acho que o Governo mesmo, a equipe econômica erraram a mão ou nos enganaram quando falaram de um déficit de 129 bilhões, que agora vai passar para 159 bilhões. Será que é esse o custo das votações de ontem? Certamente, a gastança está seguindo. Uma coisa deve estar conectada com a outra. Mas como ficam as universidades? Como fica a ciência e tecnologia? O número de pesquisadores saindo do Brasil, de laboratório parando pesquisa é assustador. Qual é o retardo que você vai ter na vida nacional quando para um conjunto de pesquisas no Brasil, que tem uma comunidade científica tão importante?

    Ontem, Senador Cristovam, eu estava trabalhando aqui até a noite e, depois, fui para a confraternização do ex-Senador Sibá Machado e da sua companheira Rosali Scalabrin. O seu filho ontem foi aprovado na banca da UnB com doutorado em Química Quântica.

    O Sibá Machado foi cobrador de ônibus, uma pessoa que passou por todas as dificuldades que alguém pode passar na vida. Entrou na militância sindical rural, virou Presidente de CUT, depois passou a ser uma liderança importante no Acre, virou Senador, como suplente que era aqui da Marina, e, depois, Deputado Federal. Hoje, é Secretário de Desenvolvimento do Estado.

    Era uma alegria a família dele. A Rose também é uma pessoa de família muito humilde. Ela é do Sul; e ele, do Norte. E o Daniel, filho deles, hoje é professor auxiliar da UnB, fez mestrado na UnB e é um dos grandes químicos do Brasil.

    Eu conversava com ele ontem à noite sobre isso.

    Agora, olhem a alegria para nós acrianos: um acriano, de uma família muito simples, venceu, estudou na Universidade Federal do Acre, veio para Brasília, fez o mestrado e ontem ganhou o título de Doutor em Química Quântica.

    É esse Brasil que eu quero que siga em frente. Não é o outro que nós estamos tendo agora, que para as pesquisas, que tira as bolsas dos estudantes, que tira dinheiro das universidades, dos institutos.

    Eu não posso deixar de fazer um paralelo. Até o Governo do Presidente Fernando Henrique, nós tínhamos estancado a criação de universidades. Com o Presidente Lula, foram mais de 18 campi novos, os institutos. Não se trata de Fernando Henrique nem de Lula. Trata-se de educação, de formação, de estratégia de país. Isso tem que seguir em frente. Na hora de cortar, não pode ser esse o corte. Não pode ser tirando dinheiro da Funai, que já tem tão pouco, para cuidar de 1 milhão de índios. Não pode ser tirando dinheiro da ciência e tecnologia, que tem tão pouco. Mas o orçamento parece que acabou.

    Eu faço aqui este registro em homenagem à família do Sibá e da Rose e do Daniel, que também já está construindo a sua família, falando que nós do Acre temos orgulho desses que vencem na vida com dificuldade e são exemplo para aqueles que estão na dúvida se dá para vencer. É possível, sim: estudando, fazendo da educação a maior prioridade na vida.

    Eu perguntei: "E agora, Daniel, o que você vai fazer nestes tempos?"

    Na tese dele, ele teve que fazer mais de 1 milhão de cálculos, Senador Cristovam, mais de 1 milhão de cálculos químicos, de fórmulas químicas, para poder chegar a um resultado. Dividiu em duas partes. E a banca falou: "Por que você não publicou a primeira parte também, que é tão importante, tão interessante sobre Química Quântica?" Neste mundo hoje novo, que está surgindo, tudo se soma, e a Química Quântica é fundamental para que possamos ter produtos que sejam sustentáveis, que não danifiquem a natureza.

    Ontem também se celebrava que, a partir de ontem, segundo a comunidade científica, nós começamos a entrar no cheque especial, Senador Cristovam. Até ontem, havia um certo equilíbrio entre o que nós estávamos usando da natureza e consumindo inadequadamente. Mas a comunidade científica disse que, a partir de ontem, nós começamos a entrar num déficit. E a natureza, eu falo sempre, não dá nada para nós. Ela empresta. Está tudo aí. Se vai retirar, se retirou água, tem que devolver. Mas não pode retirar limpa e devolver suja. Senão, você não está sendo um bom pegador de empréstimo. Tem que devolver igual ou melhor daquilo que se pega.

    Por isso, eu faço essa ressalva.

    Agora, eu queria aqui, por penúltimo, Sr. Presidente, já que hoje tenho um tempo um pouco maior, porque é uma sessão não deliberativa, me referir ao que ocorreu ontem na Câmara dos Deputados. Eu acho muito grave.

    Eu já conversei com o Senador Cristovam hoje, já foi feito um debate aqui ainda há pouco, mas, sinceramente, eu acho que o que nós tivemos ontem na Câmara dos Deputados não é para esquecer. É para discutir, pedir desculpas, nós todos, Parlamentares, que estamos na política, somos dirigentes, pedirmos desculpas por o Brasil estar vivendo situações como essa, sinceramente. Já fiz aqui da tribuna, não tenho nenhum problema, porque senão não há diálogo.

    O que está ocorrendo hoje? A população não se manifesta. Brasília viveu ontem um silêncio ensurdecedor. Não havia nenhuma viva alma aqui fora questionando os Parlamentares sobre uma votação daquela. E o que a Câmara Federal estava apreciando ontem? Um pedido do Procurador-Geral da República baseado numa ação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal, um pedido do Supremo Tribunal Federal para investigar o Presidente da República, para abrir um processo por corrupção, e a Câmara Federal negou.

    Alguns podem achar que foi uma vitória do Governo Temer. Eu acho que foi uma derrota, inclusive dele, mas foi, essencialmente, uma derrota da Lava Jato, dos que querem combater a corrupção, foi uma derrota da imprensa, que há tempos está trabalhando contra a corrupção, foi uma derrota da honestidade, foi uma derrota da ética, foi uma derrota ainda maior que se soma às outras da política. E qual é o caminho que nós vamos ter numa democracia se não for a política?

    Mas dessa ação política de ontem alguns podem dizer: "O Governo foi profissional, conseguiu. Eles são bons." Não, eles são profissionais dessa política que está destruindo o País, que está destruindo a autoestima do povo brasileiro, que está custando caro para a ciência e tecnologia, para a saúde, para a educação, para a segurança, está custando caro para a imagem do Brasil lá fora, está custando caro com 15 milhões de desempregados. Ontem, foi mais uma derrota do Governo que levou o Brasil junto.

    Eu vi a entrevista do Presidente da Câmara, um dos artífices dessa vitória, que não é de Pirro – o Senador Cristovam falou para mim e disse que vai até usar: foi uma espécie de um gol de duas mãos por um atacante, que pegasse na cara do juiz, da torcida e fizesse com as duas mãos, na frente de todos, e desse um jeito de validar o gol, assumidamente. Isso não é jogo. Nisso não há vitorioso e perdedor. Nós perdemos todos ontem.

    Eu associo essa votação de ontem na Câmara, com aquelas declarações de votos estapafúrdias, com aquela sessão de abril, em que se aprovou o afastamento da Presidente Dilma. Alguns ontem diziam que era pela economia, pela estabilidade. Não. Era pelo fisiologismo, pela política que envergonha todos nós, que deixa a sociedade indignada que eles votavam, que eles diziam "sim".

    Quero fazer um registro. Na Bancada do Acre, na Região Norte, independentemente das opções partidárias, foram seis votos para que a investigação seguisse. Não era condenar Presidente Temer, era investigar, o Supremo poder investigar. Era tão somente isso que estava sendo decidido ontem, atendendo ao Procurador-Geral da República, ao Ministério Público Federal.

    Usaram argumentos do Ministério Público e da Justiça para destituir a Presidente Dilma. Usam para destruir o Presidente Lula e sua família. E, quando você tem um pedido formal do Supremo Tribunal Federal, assinado pelo Ministro Fachin, para que a Câmara autorize, pela primeira vez na história, que um Presidente da República possa ser investigado por corrupção, a Câmara Federal nega. Não era um partido político que estava pedindo, não era a oposição que estava denunciando, era a mais Alta Corte de Justiça do País. Como se justifica isso?

    E o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quando termina, faz uma leitura dizendo que foi uma grande derrota para o Governo Temer. Ele diz que os votos alcançados para evitar o processo, esse primeiro, porque virá outro, ele citou, virá outro... Qual o custo para o Brasil? Quanto vai custar de mais mazelas, de mais desemprego, de mais corte de orçamento para áreas tão essenciais uma segunda denúncia contra o Governo Temer?

    Não há saída com este Governo. Não é uma revanche por conta do impeachment, do golpe que eu estou falando. Eu estou pensando no País. O País precisa se reencontrar, ter o mínimo de dignidade para voltar a ter o respeito da sociedade. Não há saída com esse caos político, com esse sistema, com esse modelo que apodreceu.

    Nós temos que trabalhar agora para repor a boa política e construir um outro caminho. E ninguém é dono da verdade nessa reconstrução. Todos nós temos culpas a serem assumidas.

    Ouvi, ontem, o Presidente da Câmara dizer que foi tratado... Ele assume que foi um artífice da vitória ou do resultado, que assim vou chamar, porque não foi vitória – para mim, para todos, foi uma derrota, especialmente para o País. Mas ele diz que foi tratado com truculência pelos assessores, pelos palacianos do Governo Temer. Imagine, o mais importante aliado se sentindo tratado dessa maneira. E ele desmontou o resultado da eleição quando fala que as tais reformas agora estão definitivamente comprometidas. E é isso que tem que se entender. Por quê? Pelo número de votos. Como é que se vai mudar a Constituição se a Câmara se mostrou dividida ontem entre os que cegamente apoiam qualquer coisa que venha do Governo Temer e aqueles que mostram dignidade, aqueles que mostram algum respeito pela opinião pública?

    Lá do Acre, seis Parlamentares. E eu queria cumprimentar todos eles, independentemente da motivação, e dizer que nessa hora temos que definitivamente fazer algo para que a boa política possa voltar ao Brasil.

    Preocupam-me muito as propostas de reforma política no País, porque alguns podem trabalhar em causa própria e agravar ainda mais a situação.

    É evidente que todos nós temos claro que o certo era termos eleições diretas, inclusive antecipadas, porque só através do empoderamento do voto numa democracia, com a decisão soberana do povo, como a Constituição estabelece, é que nós poderíamos ter condição de fazer essa travessia desafiadora que o Brasil vive.

    É triste vermos alguns justificando o tal do voto em favor do Temer dizendo que era pela economia, pelo mercado, pela estabilidade disso ou daquilo. Mas tiraram a Presidente Dilma e não tiveram o mínimo respeito pela democracia, pela soberania do voto. Tiraram simplesmente num golpe, num impeachment sem crime de responsabilidade.

    Então, veja essas contradições. Por isso que talvez a população ficou tão apática, tão silenciosa, incômoda. Qualquer votação que havia aqui, nos bons tempos, mobilizava a sociedade nas galerias ou na frente do Congresso. Agora, a gente tem, talvez, uma das votações mais importantes, pelo menos do ponto de vista da história, também para o combate à corrupção, e nenhuma viva alma veio aqui protestar ou veio aqui reivindicar.

    Isso agrava ainda mais a situação. Agrava! O silêncio, às vezes, é uma manifestação poderosa. O silêncio da população tem que nos alcançar a todos. Nós temos que entender que, quando a população está silenciosa, ela está mandando também um recado para todos nós aqui de que não está gostando.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Não é o "quem cala consente"; eu estou falando de silêncio.

    Então, Sr. Presidente, eu lamento.

    E vi ontem, nos grandes veículos de comunicação – eu, que cobro, às vezes, da imprensa, da grande imprensa –, uma manifestação muito correta dos articulistas, dos jornalistas todos, dos veículos de comunicação, registrando adequadamente a gravidade do que a Câmara dos Deputados foi palco ontem: algo terrível, que agrava ainda mais a situação! E acho que um Governo, que já estava na UTI, agora passou a ser entubado.

    Quanto vai custar a próxima votação? Qual é o custo para os brasileiros? Qual é o custo para este País, para este pobre Brasil, quando o Temer precisar de voto de novo? Mais de cem votos desapareceram. Partidos, como o PSDB, dividiram-se e fragilizaram-se ainda mais; um Partido importante na democracia brasileira. Não sei para onde vamos com essa marcha da insensatez.

    Concluo, Sr. Presidente, dizendo que, hoje ainda, vou embarcar para o Acre. Eu volto toda semana; foi a primeira semana depois do recesso. Não estou aqui me maldizendo, como se fala, nesta hora de dificuldade do País.

(Interrupção do som.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – O País está precisando de cada um de nós. Nós temos que trabalhar, temos que estar aqui, ajudando na solução; mas estou voltando para o Acre.

    E vou fazer algo que me alegra o coração. Vou ficar, neste final de semana, em duas aldeias indígenas, visitando amigos, conversando com o Brasil verdadeiro, o Brasil que tem alma, que tem sentimento, na cabeceira dos rios, como vou fazer no Rio Gregório, lá na Aldeia Mutum, do Joaquim de Yawanawá, onde mora próximo também o Bira. Já o visitei várias vezes.

    Nessa aldeia, Senador Cristovam, recentemente, estive lá com o Sebastião Salgado, que passou 20 dias fotografando esse povo yawanawá. Ele está compondo um livro sobre os povos originários, e eu saí daqui de Brasília e fui visitá-lo.

    Para o senhor ter uma ideia, tem-se que pegar um voo daqui, chegar a Rio Branco; pegar outro de mais uma hora e pouco, ir para Cruzeiro do Sul; de lá, pegar três horas de carro; depois pegar mais sete horas de uma canoa, em que mal cabe um passageiro, porque o rio é muito estreito, com um motor de rabeta; e, depois de sete horas de canoa, chega-se à aldeia.

    Eu saio daqui numa noite e, quando for de tardezinha, eu chego lá e termino a minha viagem. São quase 24 horas depois, para visitar o Sebastião Salgado, para me encontrar com os txai, com os amigos, como eles chamam – txai significa amigo –, e até para me descontaminar um pouco desse ambiente terrível em que a gente vive.

    Vou fazer isso este fim de semana.

    Irei à Aldeia do Caucho, com o Manoel Kaxinawá, perto de Tarauacá. Vou pela estrada, seguirei a Sena Madureira. Amanhã, 6h da manhã já estarei em Sena Madureira, chego lá de madrugada. São 140km depois de Rio Branco. Vou para Manoel Urbano, depois vou pernoitar em Feijó e, no sábado, vou dormir na aldeia do Manoel Kaxinawá, na Aldeia do Caucho, com o povo huni kuin. Vou participar da assembleia do povo Huni Kuin, uma assembleia.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Estou saindo da assembleia do Senado para ir a uma assembleia do povo indígena huni kuin lá no Acre. E depois, no domingo, já irei participar do festival junto ao povo yawanawá, lá na Aldeia Mutum. Vem gente de muitas partes do mundo participar desse festival, como é quando ele acontece lá na aldeia, onde o Bira é a liderança maior desse povo, mas eu vou ficar pelo menos duas noites lá com eles e só voltarei para cá na quarta-feira.

    Então, eu queria dizer que é buscando energia e força nesse povo simples que vive na Amazônia, mas cheio de sabedoria, que a gente se anima para lutar por um Brasil, para que o nosso País volte a dar certo – como já deu na época do Presidente Lula e no primeiro mandato da Presidente Dilma, Sr. Presidente.

    As minhas palavras aqui hoje são de profunda preocupação com o que houve na Câmara ontem, de muita preocupação. As eleições estão se aproximando. Nós precisamos, definitivamente, retomar um diálogo com a sociedade brasileira, encontrar uma maneira de voltar a ter algum respeito dela; mas, para termos algum respeito dos brasileiros, eu acho que nós temos que assumir nossas omissões, nossos erros, os apoiamentos que damos inadequadamente, as atitudes que adotamos.

    Agora saiu uma pesquisa lá no Acre feita em todo o Estado: me colocaram e colocaram o Governador Tião Viana numa posição boa diante dos demais governadores, com a aprovação do seu Governo – que é o nosso Governo. Ele será certamente um grande eleitor nas eleições do ano que vem, talvez o maior eleitor no Acre. E é muito difícil ser governador e gestor nessa época, mas o Governador Tião Viana foi um grande Senador, está...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ... sendo um grande Governador. Os nossos pré-candidatos estão muito destacados também: Nazaré, Nilson, o Daniel Zen, especialmente o atual Prefeito Marcus Alexandre, que passou dois dias comigo aqui numa maratona em Ministérios, lutando pela aprovação de projetos; e eu também apareço com destaque.

    Eu acho que aumenta muito a minha responsabilidade quando se faz uma pesquisa e me põem numa posição de destaque diante de colegas legítimos concorrentes ao Senado; e essa responsabilidade minha aumenta não pelo que eu já fiz como prefeito e governador, mas eu acho que pelo que o Brasil espera de cada um de nós, pelo que o povo do Acre espera.

    Eu, se vier a ser candidato – porque somos todos pré-candidatos ainda lá –, claro, vou falar do que fizemos para trás, mas espero apresentar plataforma, propostas que possam animar a juventude, animar aqueles mais velhos, animar a sociedade, para que a gente possa estar aqui, no Senado, lutando pelo Brasil e pelos interesses do Acre.

    Sinceramente, neste momento, o Brasil, os brasileiros estão precisando muito de todos nós, mas precisando do que temos de melhor. Eu não sei, se tivéssemos aqui um Pedro Simon, se ele não iria ali para aquela tribuna, de onde ele falava sempre – ganhou até o microfone –, e não pediria, depois de uma votação daquela, que o Presidente Temer pedisse desculpas ao Brasil e saísse, ajudasse na solução, porque a saída dele, eu acho, ajudaria na solução hoje.

    A permanência vai agravar a crise; a permanência vai custar caro; ele não vai aguentar... Ele não vai aguentar a pressão do que há de mais fisiológico, mais corrompido na política brasileira, que lidera aquele movimento que deu aquele resultado na votação de ontem na Câmara. Ele não vai aguentar. Duvido! Com a proximidade das eleições, ele não vai aguentar. E quem vai pagar a conta, seguir pagando, é o Brasil e os brasileiros.

    Então, vamos decretar que todos perderam! Todos nós perdemos, seja o meu Partido, sejam os partidos de oposição... Vamos assumir que não está bom, que está muito ruim, aliás, e vamos tentar encontrar um caminho daqui para frente, de pacificação do País, para que a gente possa trazer alguma esperança para este povo brasileiro, que é tão generoso; para este País, criado por Deus, mas que está sofrendo tanto.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância e a todos que me acompanharam pela Rádio e pela TV Senado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2017 - Página 47