Pronunciamento de Paulo Paim em 15/08/2017
Discurso durante a 115ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Pesar pelo falecimento de Carlos Fanklin Paixão de Araújo, ex-Deputado Estadual e ex-marido da ex-Presidente da República, Dilma Rousseff.
Repúdio às manifestações racistas que tiveram lugar nos Estados Unidos da América.
Registro da criação de frente parlamentar em defesa de universidades.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM:
- Pesar pelo falecimento de Carlos Fanklin Paixão de Araújo, ex-Deputado Estadual e ex-marido da ex-Presidente da República, Dilma Rousseff.
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POLITICA INTERNACIONAL:
- Repúdio às manifestações racistas que tiveram lugar nos Estados Unidos da América.
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EDUCAÇÃO:
- Registro da criação de frente parlamentar em defesa de universidades.
- Aparteantes
- Acir Gurgacz, Roberto Requião, Vanessa Grazziotin.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/08/2017 - Página 36
- Assuntos
- Outros > HOMENAGEM
- Outros > POLITICA INTERNACIONAL
- Outros > EDUCAÇÃO
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, ENCAMINHAMENTO, VOTO DE PESAR, APRESENTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, PERSONAGEM ILUSTRE, FUNDAÇÃO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT).
- REPUDIO, MOVIMENTO SOCIAL, OBJETO, RACISMO, NAZISMO, LOCAL, VIRGINIA (MG), ENTE FEDERADO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
- REGISTRO, CRIAÇÃO, FRENTE PARLAMENTAR, OBJETO, DEFESA, UNIVERSIDADE FEDERAL, NECESSIDADE, MANUTENÇÃO, INVESTIMENTO, RECURSOS.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Presidenta Regina Sousa, eu li hoje pela manhã um voto de pesar pelo falecimento de Carlos Araújo, mas havia escrito também um pequeno pronunciamento em homenagem a esse lutador, a esse homem que deu grande parte da sua vida a defender a democracia, as causas populares, os que mais precisam, os mais pobres.
Lembro-me dele numa situação em uma greve em Candiota, lá no interior de Bagé, aonde ele foi comigo – eu, como sindicalista, e ele, como advogado – para salvar trabalhadores que estavam morrendo. Morria praticamente um por semana lá dentro daquelas obras de Candiota, e Carlos Araújo esteve lá comigo. Esteve em outros momentos, em Canoas, no Vale dos Sinos, e é mais do que justo que eu faça a homenagem que fiz a ele hoje pela manhã, na Comissão de Direitos Humanos. Li o voto de pesar aqui no plenário, e agora faço, Presidenta, um breve pronunciamento também homenageando Carlos Araújo.
Na madrugada do último sábado, faleceu em Porto Alegre um dos mais aguerridos políticos da sua geração, um cidadão brasileiro exemplar, que eu tive o privilégio de conhecer e com quem pude conviver. Carlos Franklin Paixão de Araújo tinha 79 anos. Foi companheiro de lutas, devaneios e amores da ex-Presidenta Dilma Rousseff. Foram casados por mais de 30 anos.
Advogado trabalhista, militante social no mundo do trabalho, ex-Deputado Estadual no Rio Grande do Sul, na década de 80, foi uma figura marcante na luta contra a ditadura militar. Foi também um dos fundadores do Partido Democrático Trabalhista (PDT), parceiro sempre de Leonel Brizola.
Aliás, quero registrar que, em 1985, fui convidado por Carlos Araújo a ingressar nas fileiras do PDT. Estava ele junto com Dilma Rousseff, lá na porta da empresa em que eu trabalhava, a Forjasul, do grupo Tramontina. Convidou-me também para que eu participasse da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas – acabei concordando. Estava também junto um professor, Adair, ele do PT e o Araújo do PDT, e acabei presidindo, com o apoio de ambos, o Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas.
Carlos Araújo era natural de São Francisco de Paula, Serra Gaúcha. Nasceu em 1938, era filho do também advogado trabalhista, Afrânio Araújo. Na década de 90, concorreu à Prefeitura de Porto Alegre. Depois de muitas peleias pelo Rio Grande, ele se afasta um pouco da política para dedicar-se ao seu escritório de advocacia, mas nunca deixou de fazer análises, fazer palestras, participar da vida política do povo brasileiro. Em suas últimas entrevistas, no ano passado, disse considerar o impeachment da Presidenta Dilma um golpe e um processo de degradação irreversível para a democracia brasileira. Além da ex-mulher, Araújo deixa a filha, Paula Rousseff Araújo, filha única do casal, que por sua vez deu a eles dois netos. Ele deixou também mais dois filhos, Leandro e Rodrigo.
Quando soube – confesso a todos aqui no plenário – do falecimento de Carlos Araújo meu coração bateu, aquela batida da emoção, e confesso que algumas lágrimas caíram, porque eu viajei no tempo. Ele foi um extraordinário amigo e companheiro de longas jornadas por um mundo mais humano e solidário. Uns nascem, outros partem, esse é o ciclo da vida, mas o legado permanece e nos cantares do povo a história se eterniza. Os guerreiros são assim: escrevem o tempo, as horas, os minutos, o dia e a noite, no calor dos gestos e abraços no punho sempre bradando por liberdade, liberdade, democracia e justiça social. E quando se vão, não deixam saudades, apenas a certeza de que não existe o impossível, porque as suas ideias permanecem semeadas, eu diria, pelo Rio Grande e pelo Brasil. E ele era daqueles que dizia: todos os rios são navegáveis, porque nada é impossível.
Carlos Araújo – digo aqui no plenário do Senado –, presente! Carlos Araújo, presente!
Tenho certeza de que ele, lá em cima, sabe que é justa a homenagem que eu estou lhe fazendo neste momento.
Srª Presidente, aproveito meus minutos....
A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Senador Paim.
O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RO) – Senador Paim, só para cumprimentá-lo. Desculpe-me, Senadora Vanessa. Por favor.
A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Senador Acir, pode continuar. Depois eu faço. O objetivo é o mesmo. Eu aguardo.
O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RO) – Muito bem. É só para cumprimentar o Senador Paim pela lembrança com relação ao Carlos Araújo, um grande pedetista.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Um grande líder, eu diria, do PDT.
O Sr. Acir Gurgacz (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - RO) – Sem dúvida. Um grande líder do PDT, histórico, parceiro do também histórico Leonel Brizola. Tem uma história fortíssima, importantíssima dentro do PDT para o Rio Grande e para o nosso País. Então, solidarizo-me com V. Exª em relação essa perda do Rio Grande do Sul, do PDT e do nosso Brasil. Meus cumprimentos, Senador Paim.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Obrigado, Senador Acir. V. Exª tenha a certeza de que me antecipei a V. Exª, porque V. Exª, se eu não tivesse me antecipado, faria homenagem a ele. Eu me sinto contemplado com o aparte que V. Exª me faz.
Senadora Vanessa.
A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Eu também, Senador Paim, quero abraçar V. Exª e, através da sua figura, homenagear todos aqueles e aquelas que tiveram oportunidade de conviver com o ex-Deputado Carlos Araújo – muito mais que um ex-Deputado, um grande militante, um militante em favor das causas populares, como dizia agora o Senador Requião, um grande amigo seu, porque, juntos, lutaram muito pela redemocratização e pela inclusão social. Eu não tive a felicidade de conhecê-lo pessoalmente nem pude conviver com ele. Mas, pelo que ouço, pelo que vejo... Li a belíssima carta escrita pela ex-Presidenta Dilma Rousseff. Antes de ser ex-companheira... Ele é o pai da filha dela, e, antes disso, eram companheiros de militância. Então, eu quero, através – repito – da figura de V. Exª, do Senador Paim, assim como da Presidenta Dilma, abraçar todos aqueles que perderam, sem dúvida nenhuma, um grande amigo, um grande companheiro, um grande militante. Mas seu exemplo ficará para a história e ficará incentivando essa juventude que, também com muita dificuldade, segue os seus passos na luta por um País melhor, o nosso País. Parabéns, Senador.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Obrigado, Senadora Vanessa, V. Exª, que é uma lutadora, claro que, se o conhecesse, iria se identificar com ele.
Senador Requião.
O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Na mesma linha. Eu conheci o Carlos, advogado trabalhista do Rio Grande do Sul. E marcou a sua vida, deu um testemunho. Ele não foi um turista da existência. Foi um militante dos direitos sociais, um resistente do direito do trabalho, da evolução do direito do trabalho no Brasil. Eu, na linha do que disse a Vanessa, subscreveria a carta que a Dilma escreveu para o Carlos Araújo. Nós temos que honrar a história e o testemunho desses companheiros. Nós não podemos ser diferentes do que ele foi.
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Muito obrigado, Senador Requião.
(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Agradeço a todos.
Permita-me ainda, Srª Presidenta, porque eu não poderia deixar de falar que todos nós ficamos entristecidos com os atos racistas e de intolerância ocorridos semana passada na Virgínia, nos Estados Unidos da América. Essa ferida exposta parece que não tem fim.
Tudo se iniciou com a decisão do governo local de retirar de uma praça pública a estátua de Robert Lee, o general que liderou as forças do sul que se opunham ao fim da escravidão, da guerra civil de 1861 a 1865.
Logo em seguida, um grupo de supremacistas neonazistas realizou uma marcha para protestar. Aí, aos fatos que se seguiram o mundo todo assistiu: confronto, confronto e muita violência. No sábado, um automóvel em alta velocidade atingiu uma multidão que protestava a uma quadra de distância contra a supremacia chamada nazista. Houve uma morte e 19 feridos. Eu vi as imagens. Elas são chocantes. Faixas e cartazes estão no local. Entre elas, uma diz: "Nossos filhos choram. O amor vencerá". Há um coração desenhado com flores e mensagens contra o ódio. Outra diz: "É uma vergonha que, mesmo em 2017, o ódio volte. Martin Luther King teve um sonho de que tudo isto não aconteceria mais". Foi assassinado, e continua acontecendo.
Eu estive no meu Rio Grande nesse fim de semana e percebi que as pessoas, indignadas, protestavam, aí sim, contra isso que estava acontecendo, solidárias aos que estavam sendo agredidos, não concordando com essa visão, infelizmente, racista, preconceituosa e nazista. Diziam: "É uma vergonha o que está acontecendo lá."
Esses atos repugnantes devem ser criticados fortemente em todo o mundo. Nós sabemos que isso não é exclusividade daquele país. A discriminação e o racismo são fortes nos cinco continentes – no Brasil também existe –, mas esperamos que o mundo e os governos tenham consciência de que a intolerância, o ódio, a violência, as guerras, a fome não levam a nada. A humanidade regride e não avança. Preconceito, racismo, assassinatos.
Por isso, Srª Presidenta, deixo aqui a minha inconformidade com o que aconteceu e ainda continua a acontecer nos Estados Unidos. Queremos um planeta onde reine a paz. Queremos o planeta Terra em harmonia e solidariedade. Não ao racismo!
Por fim, Srª Presidenta, a reunião que terminamos hoje, que discutiu a questão dos institutos, que discutiu a Unila, a Unilab, decidiu criar: uma frente parlamentar mista em defesa das universidades em implantação; e moção dessa comissão também em defesa da Unila, da Unilab, das universidades em implantação e dos institutos federais, pela sua preservação, para que haja mais investimento e se mantenha a identidade.
Lá fizemos também homenagem a Carlos Araújo. E aquela juventude que estava lá, representando 18 países, concordou que a fala que fizemos lá em homenagem a Carlos Araújo seja mandada em vídeo para os familiares. Decidiu-se ainda: convidar o Ministro da Educação e a Secretaria Executiva Nacional de Ensino Superior para participar de nova audiência pública para ampliar o debate; realizar audiência pública, com a participação do Conif e dos reitores dos institutos federais, sobre os processos administrativos dos institutos federais; e discutir, inclusive, uma proposta, que está aqui na Casa, que quer o fim da garantia do emprego para o servidor.
Por isso tudo, Srª Presidente, eu cumprimento V. Exª, que também esteve lá, a Senadora Fátima Bezerra, o Senador Paulo Rocha e outros Senadores e Senadoras que demonstraram toda a sua preocupação. A Senadora Fátima Bezerra teve uma atuação lá marcante – participou ativamente.
A moçada queria tanto falar, Senadora – V. Exª também fez um belo pronunciamento –, que nós acabamos encerrando os trabalhos e voltando às 14h30, porque eles queriam dar outros depoimentos. E aquela juventude toda só queria falar, não era nem protestar. Queriam...
(Soa a campainha.)
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... dizer que não abrem mão das universidades públicas federais, não abrem mão dos institutos, não abrem mão da Unila nem da Unilab, porque essas universidades, como disseram lá os jovens, não têm fronteira. Não existe essa de achar que estão tirando vagas de brasileiros, porque os brasileiros também vão para esses 18 países, como citei, de origem desses jovens que estão estudando aqui. É uma troca muito positiva entre o Brasil e outros países.
Enfim, vida longa à Unila! Vida longa à Unilab! Vida longa aos institutos federais!
Muito obrigado, Presidenta. Considere, na íntegra, os meus pronunciamentos.
DISCURSOS NA ÍNTEGRA ENCAMINHADOS PELO SR. SENADOR PAULO PAIM.
(Inseridos nos termos do art. 203 do Regimento Interno.)