Discurso durante a 122ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o transcurso de um ano da aprovação do impeachment da ex-Presidente Dilma Rousseff.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações sobre o transcurso de um ano da aprovação do impeachment da ex-Presidente Dilma Rousseff.
Publicação
Publicação no DSF de 01/09/2017 - Página 18
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, EFETIVAÇÃO, ANO, IMPEACHMENT, DILMA ROUSSEFF, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, CRIME, OBJETO, ACUSAÇÃO, EDUARDO CUNHA, EX-DEPUTADO, PRESO, MOTIVO, CORRUPÇÃO, CRITICA, RECESSÃO, ECONOMIA NACIONAL, VINCULAÇÃO, DESEMPREGO, PREJUIZO, PESSOAS, ENFASE, SITUAÇÃO, POBREZA, DESAPROVAÇÃO, MICHEL TEMER, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VENDA, PAIS, RESERVA BIOLOGICA, REGISTRO, DENUNCIA, PRESIDENTE.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, eu inicio minha breve fala agradecendo ao Senador Dário Berger pela permuta que me possibilita falar neste momento.

    Quero dizer, como já o fez a Senadora Fátima, que hoje é um dia especial para a Nação brasileira, para a nossa jovem democracia. Infelizmente, um dia muito ruim, um dia muito triste, porque hoje está completando exatamente um ano da decisão final, derradeira, deste Senado Federal que decidiu impedir uma Presidente da República que nenhum crime cometeu. Nenhum!

    Aliás, ela foi acusada – por isso, a Câmara aceitou o impeachment – sob a batuta do ex-Presidente e ex-Deputado Eduardo Cunha, que hoje não só perdeu seu mandato parlamentar, como está preso, como está preso já há bastante tempo.

    Por nenhuma razão, por razões que eles inventaram, aliás, lamentavelmente. O partido político de oposição, até então o maior partido, hoje também definha, porque tem exatamente, na figura de seu Presidente, o maior questionamento sobre corrupção. Vejam quanta ironia, quanta ironia da vida! Aquele que subia à tribuna, aquele que falava mais grosso no combate à corrupção, na irresponsabilidade da Presidenta Dilma, na gastança que o País vivia, é que foi pego agora, recentemente, não a partir de denúncias vazias não, mas a partir de investigações levadas a cabo e recheadas de prova, pegando dinheiro, dinheiro, de uma pessoa que hoje eles dizem "um grande marginal", mas que, à época, era o amigo predileto tanto do Presidente afastado do PSDB quanto do Presidente ilegítimo.

    Pois bem, olhem quanta ironia do destino! Pessoas que até ontem vociferavam contra a corrupção estão aí e hoje não conseguem explicar por que recebem R$500 mil, R$1 milhão, em malas, em malas que percorrem o Brasil inteiro, de carro, de avião e, depois, dão uma passeada em várias contas bancárias até chegar ao destino final, tudo isso com o objetivo de despistar.

    Olhe, e a Presidente que tiraram, tiraram-na alegando que havia cometido pedaladas fiscais. Tiraram uma Presidente alegando que ela havia ilegalmente cumprido uma lei que era a lei do Plano Safra. Vejam quanta ironia!

    Mas, àquela época, nós já dizíamos. O Senador Anastasia está aqui e nos ouviu com todo o equilíbrio que se requer ao exercício de um cargo parlamentar. Essas críticas para ele não são novas, porque eu as fiz todos os dias durante a Comissão de Impeachment. Certamente, ele, como eu, ou ele, não como eu... Eu já sabia que isso aconteceria no Brasil, porque nós dizíamos que, de fato, havia uma crise à nossa frente, uma crise econômica. Se essa crise econômica tem razões que a gente deva buscar nas ações do Governo central, obviamente tem, mas é uma crise econômica que está acometendo o mundo inteiro, é uma crise cíclica do sistema capitalista. E naquela hora nós deveríamos nos unir para tentar resolver os problemas, como fizeram várias nações do mundo: Rússia; China, inclusive, que viu o seu PIB cair da casa dos dois dígitos, de 10%, 12%, para menos de 6% ou um pouquinho mais de 6%. Ou seja, uma crise profunda.

    Então, era hora de o Brasil se unir, mas eles não. Eles preferiram o caminho da oposição irresponsável. Disseram: "Ela venceu as eleições de 2014, mas não vai governar". Entraram com ações na Justiça. Depois esse Presidente afastado do PSDB disse: "Entrei na Justiça contra ela apenas para encher o saco". Ele não encheu o saco da Presidenta Dilma, ele não incomodou a Presidenta Dilma, tampouco atentou somente contra o Partido da Presidente ou contra todo o grupo que defendia aquele projeto político, não! Ele encheu o saco da população brasileira. Ele prejudicou milhares e milhares de famílias, que, se já viviam um problema grave de desemprego, passaram a viver um problema mais grave ainda, porque aqueles poucos que se seguravam no emprego foram perdendo, um a um, os seus postos de trabalho.

    Estão aí os jornais mostrando que, em 20% das famílias, todos estão desempregados. Mas eles cantaram o canto da sereia. Bastava tirar Dilma e colocar Temer que tudo melhoraria! A crise seria extinta. A responsabilidade fiscal viria. Tudo melhoraria, porque todos os problemas eram da Dilma, que não tinha coragem de tomar as medidas radicais que tinham que ser tomadas.

    Assumiram o poder, definitivamente, há exatamente um ano. Provisoriamente, desde o mês de abril. E, agora, qual o balanço que nós fazemos? Eu estou com o balanço aqui escrito e voltarei à tribuna para ler esse balanço escrito e deixar registrado nos anais da história. Voltarei para fazer esse balanço por escrito. Mas agora eu faço apenas um resumo.

    Qual o Brasil que a gente tem hoje? Primeiro, o plano que eles apresentaram era exatamente aquele que eles escreveram em Uma Ponte para o Futuro. Achavam que, diminuindo a presença e o incentivo do Estado no desenvolvimento econômico, eles iriam resolver o problema, porque economizariam dinheiro. Eles alcançaram um feito, um único feito, que foi a queda da inflação.

    Agora, a queda da inflação, diferentemente do que eles falam, não é fruto da aplicação de uma política econômica acertada, não! A queda da inflação é fruto da recessão! É fruto da depressão! É fruto dos trabalhadores desempregados, porque quem não tem emprego não tem salário, porque quem não tem salário não compra. Se não compra, a loja não vende; e, se a loja não vende, a fábrica não produz!

    Nessa hora o Estado brasileiro deveria entrar! O Estado brasileiro deveria incentivar a economia, incentivar as indústrias, mas não fez isso! Pelo contrário, tirou dinheiro da economia. Agora, tirou dinheiro de quem? Do mais pobre. Tirou dinheiro do trabalhador.

    Vejam, semana passada, a gente viu aqui, inclusive, um Senador para o qual eu disse: "Senador, seja honesto com o seu Estado. Seja honesto. Volte a usar o microfone e diga que o senhor foi enganado, como todo o Brasil foi enganado." Semana passada, ele usou de um dos microfones do Senado para comemorar uma decisão adotada por Michel Temer, uma decisão em que o Michel Temer fez uma grande ação, liberou, antecipou a liberação do PIS/Pasep para homens e mulheres – para homens, a partir de 65 anos e, para mulheres, a partir de 62, o que, na lei, era a partir de 70. "Isso é uma maravilha! Milhares de pessoas, velhos, idosos, serão beneficiados". Pois bem, dias depois, foi exatamente o jornal O Globo que publicou o seguinte: "Medida Provisória atrasa o pagamento do PIS/Pasep para idosos com 70 anos ou mais".

    Segundo o levantamento que o jornal fez, o Presidente Temer anunciou a Medida Provisória 797, que beneficiaria 7,8 milhões de trabalhadores – é aquela que foi comemorada aqui, 7,8 milhões –, mas, na verdade, a metade dessas pessoas já tinha esse direito adquirido por ter mais de 70 anos e já poder sacar o PIS/Pasep.

    Entretanto, além de inflar os números, ele deu uma carência de sete meses àqueles que tinham o direito, pela lei, de retirar.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Ele mudou a lei, dando uma carência de sete meses. E o contingente de pessoas atingidas é muito maior. Ou seja, não é nem aquela história de dar com uma mão e retirar com a outra, nem isso foi feito. Ele tirou com as duas mãos e ainda mentiu. Ainda mentiu, como fez agora com o decreto da Renca. Aliás, é o seu Ministro do Meio Ambiente que está em todos os jornais criticando, dizendo que o Governo errou.

    Olhe que Governo é este! O Presidente está lá na China tentando não digo vender, mas liquidar o Brasil, as nossas empresas. Ele está lá defendendo o decreto da Renca, que é aquele fim que ele deu a uma área de preservação na Amazônia de mais de 4 milhões de hectares. Ele está lá justificando que é correta a medida – na China! –, e o seu Ministro aqui, no Brasil, criticando, dizendo que o Governo errou. Pois bem, também ele agiu...

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – ... em desrespeito à Nação brasileira e à inteligência do nosso povo e da nossa gente, porque ele diz que revogou um decreto e fez outro. Ora, fez outro mudando a forma, mantendo exatamente o mesmo conteúdo.

    Então, é lamentável. Para aqueles que diziam que pedalada era crime, está aí o que aconteceu ontem no Congresso. Não conseguiram aprovar a mudança de meta ontem – não por causa da oposição, que sofreu, que foi desrespeitada não só como Parlamentares, mas como mulheres, como fomos no dia de ontem, desde anteontem, em dois dias seguidos, mas não há problema –, porque eles não conseguiram reunir a sua Base para aprovar o projeto que queriam. Não conseguiram.

    Veja, Presidente, se V. Exª me der mais um minutinho somente – mais um, claro –, eu só gostaria de dizer o seguinte. Para muitos foi estranho o fato de a "tropa de choque" – entre aspas – dos Deputados não estar presente. Foram para a China com o Presidente. Mas por que, se eram tão importantes esses dois projetos, TLP e meta fiscal? Porque mais importante...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Socialismo e Democracia/PCdoB - AM) – Obrigada, Senador.

    Porque mais importante do que esses dois projetos, sabe o que é? Preparar a Base para enfrentar a segunda denúncia que Temer vai sofrer. E, aí, virá nova gastança novamente? Serão mais R$14 bilhões, para um país, um Estado que não tem dinheiro, para benesses a Parlamentares? Ora, minha gente! Ora, minha gente!

    Hoje é um dia de muita reflexão, mas de muita luta, porque não temos tempo só para refletir. Nós que refletir e lutar ao mesmo tempo.

    Antes de sair da tribuna, quero mostrar aqui, Presidente: hoje faz 49 dias que Michel Temer descumpre a sua palavra com a sua Base aliada e não edita, não manda para o Parlamento a medida provisória mudando a reforma trabalhista. Lamento que isto esteja acontecendo.

    Muito obrigada, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/09/2017 - Página 18