Discurso durante a 173ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Explicações acerca de licença de S. Exa dos trabalhos da Casa para preparar sua candidatura à Presidência da República.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Explicações acerca de licença de S. Exa dos trabalhos da Casa para preparar sua candidatura à Presidência da República.
Aparteantes
Reguffe, Roberto Muniz.
Publicação
Publicação no DSF de 14/11/2017 - Página 9
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • REGISTRO, SOLICITAÇÃO, LICENÇA, MANDATO, SENADOR, OBJETIVO, PREPARAÇÃO, CANDIDATURA, ORADOR, CARGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO POPULAR SOCIALISTA (PPS).

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, nos últimos dias tem sido divulgado – e eu quero confirmar – que vou tirar uma licença, como o Regimento prevê, de 120 dias no meu mandato. É uma prerrogativa que eu tenho, obviamente, sem vencimentos, sem nenhum direito. Eu vou tirar essa licença e quero dar as explicações para isso.

    O Brasil está no processo de escolha de quais serão os candidatos à Presidência da República dentro de cada partido. E eu estou pleiteando, dentro do meu Partido, o PPS. Aliás, com incentivo aqui dentro, sobretudo, do Senador Reguffe, que há muito tempo insiste comigo nisso, eu estou pleiteando dentro do meu Partido, o PPS, ser o candidato do PPS.

    Estou fazendo isso por diversas razões. Uma é que eu creio que, no momento que o País vive, ninguém tem o direito de ficar fora desse processo, a não ser que o partido não queira – e aí é um direito, claro. Mas cada um de nós tem que dizer "Eu estou pronto, eu estou disposto". E, obviamente, sentindo-se dizer "eu estou preparado".

    Eu me sinto pronto e preparado, porque eu sinto que o Brasil está precisando, hoje, é de retomar uma coesão de seus 200 milhões de habitantes, sentindo-se, todos eles, parte de um mesmo País. Quebrar, Senador Muniz, a ruptura que este País hoje vive, que está levando a Nação brasileira a uma verdadeira desagregação social, em que cada corporação se sente dona do Brasil, e não importa o que vai acontecer com o resto. Cada juiz, hoje, se sente dono do País. Cada Deputado, Senador, se sente dono deste País.

    Está na hora de reagregar o País, de trazer coesão, com desigualdades ainda, com divergências, mas sentindo-se parte de um mesmo país. Hoje a gente não está se sentindo assim.

    Eu creio que o próximo candidato a Presidente, qualquer que seja ele, tem que trazer uma proposta de como retomar a coesão. Eu acho que não é difícil. A primeira coisa – o Senador Reguffe é um exemplo – para retomar a coesão é que nós possamos dar exemplo aos brasileiros de que nós somos capazes de sermos os líderes deste País sem mordomias, sem privilégios.

    Mas é também preciso pactos, acordos com os diversos grupos deste País – por exemplo, os servidores públicos –, dizendo: "O que é que vocês precisam, para estarem contentes?" Mas, olhem aqui, o que a gente precisa é de vocês. A gente precisa fazer isso com os professores. Tem que haver um salário digno para os professores, mas eles têm que entender o papel que eles têm na construção de uma Nação.

    A primeira coisa, então, é como trazer coesão; o que fazer, desde o primeiro dia do governo. Quais são as mordomias que serão extintas no primeiro dia do governo que o Poder Executivo pode? Ninguém pode ter dois salários apenas por ser ministro e aposentado. E, ao mesmo tempo, o que é que ele manda para o Congresso, para mudar os privilégios dos outros Poderes?

    Depois é preciso definir um rumo para o futuro. O próximo Presidente vai governar no primeiro ano do terceiro centenário de nossa independência. Vai ser o primeiro Presidente pós bicentenário. Não é possível que ele se sente na cadeira de Presidente do terceiro centenário pensando nos quinze dias seguintes, no mês seguinte ou no ano seguinte: ele tem que trazer uma proposta que defina um rumo para o Brasil.

    Hoje a economia está-se recuperando, o emprego está voltando, mas com a mesma economia do passado, uma economia sem produtividade, sem competitividade internacional, sem inovação, velha... A gente precisa fazer com que este País tenha uma economia não apenas que cresça, mas que seja diferente, que seja compatível com o século XXI e com o nosso terceiro centenário.

    Eu creio que eu tenho condições – e os outros candidatos também devem ter – de dizer como é que eu penso, se o meu Partido me escolher, que o Brasil pode fazer para retomar a coesão e definir um rumo para o seu futuro. Mas para isso eu vou precisar convencer os militantes do meu Partido e ouvir o povo. E, para fazer essa audição junto à população e convencimento dos militantes, eu vou precisar viajar. Para isso eu estou tirando licença. Escolhi quatro meses porque, em menos do que isso, não é possível, a não ser por razões de saúde – eu não estou com problema de saúde, felizmente. Além disso, eu não quero deixar o Distrito Federal sem os três Senadores a que têm direito, e se eu tirar uma licença qualquer, sem ser dentro dos 120 dias, ficará aqui sem Senador. De qualquer maneira, escolhi estes quatro meses que começam agora em dezembro: dois meses são quase sem atividade, o restinho de dezembro e janeiro; ainda há um pedaço de fevereiro até o Carnaval que não tem grandes atividades; março ainda tem a Semana Santa, mas de qualquer maneira eu coloquei até março porque aí é que haverá o Congresso do PPS, é aí que vai ser definido o candidato.

    Nesse dia 9 de dezembro já haverá uma reunião do diretório em que eu espero apresentar esta minha disposição: pedir que se defina um cronograma e um critério de escolha do candidato entre todos aqueles que acham que devem se candidatar e que podem representar o Partido e oferecer uma alternativa para o País.

    Então eu coloquei direito, para terminar em março, para pegar dois meses de férias. Vou tirar sem vencimento até as férias, o que significa que não trago prejuízo para o Senado e vou poder circular sem ficar olhando o relógio para voltar aqui na hora de uma votação ou outra, sem ser cobrado por não estar presente em algumas votações, porque tenho um suplente, um suplente com o qual eu tenho grande relação pessoal. Meu suplente não financiou campanha, meu suplente não é daqueles que chegam só para ajudar, é um velho militante do Partido dos Trabalhadores, que não é o meu Partido, mas é o suplente que eu tenho. E eu estou tranquilo de deixar nas mãos dele, Senadores.

    Creio que, já fui candidato uma vez em 2006. Levei uma bandeira naquela época pouco compreendida que é a ideia de que o Brasil precisa ser campeão mundial de educação como os melhores países do mundo e a ideia de que o filho do pobre neste País precisa estudar na mesma escola que o filho do rico. E sem a demagogia de dizer que isso vai ser feito de um dia para o outro, mas definindo o cronograma de como a gente vai fazer para chegar lá.

    Na Coreia, demorou 30 anos; na França, demorou ainda mais anos que isso. Nós temos que definir um cronograma e começar já. Eu tenho a proposta de como fazer, tenho o cronograma, porque acho que é possível a ideia de fazer isso por cidades, de tal maneira que, dentro de dois anos, já começamos a fazer, e, em quatro anos de um mandato, pode-se fazer em 500, 600 e até, talvez, mil cidades pequenas, e o resto continua num processo. Este País deve começar a entender que os governos terminam, mas que a Nação continua.

    Então, diante disso, creio que nem teria o direito de ficar fora desse processo, de me acomodar. Eu vou tentar ser o candidato a Presidente do meu Partido, mas, em 1º de abril, devo estar de volta aqui, para o convívio com os Senadores, como candidato ou não mais como pré-candidato.

    Até lá, vou estar no Brasil, Senador. Convide-me para a Bahia, porque quero estar na Bahia. Quero ouvir a população e levar o que penso, porque isto de só ficar ouvindo sem dizer o que pensa não é característica de líder, de quem quer ser Presidente da República.

    Quando olho ao redor, sinto-me preparado. Quando comparo com as outras alternativas que temos hoje, sinto-me preparado. Quando comparo com as propostas dos outros, creio que estou na linha correta, na linha certa de como trazer coesão e dar um rumo para o País.

    Então, vou cumprir minha obrigação, meu papel, com muito sentimento de responsabilidade, com respeito a todos os outros, dentro do PPS e fora do PPS, mas dizendo: no momento em que o País precisou, não fiquei fora do desafio. Vou enfrentar esse desafio. Não sei se o meu Partido vai me escolher ou não, mas ninguém vai poder dizer que eu fiquei acomodado.

    Era isso, Sr. Presidente, que queria falar hoje.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Eu desejo um aparte.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Ainda vou ter tempo de vir aqui antes do dia marcado, que é 1º, 2, 3 de dezembro, mas já queria anunciar isso, para não se ficar ouvindo pela mídia, pelo noticiário, sem que eu aqui viesse e dissesse com clareza a minha posição, a minha decisão e a minha candidatura interna no PPS.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – V. Exª me permite um aparte, Senador?

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Senador Reguffe, fico muito feliz em que estejamos coincidindo aqui, porque o senhor foi um dos grandes incentivadores sempre a isso. Além disso, somos do Distrito Federal.

    E aproveito para dizer: não vou ficar fora da tentativa de formular, no Distrito Federal, uma chapa que possa recuperar o que o Distrito Federal vem perdendo. Vou cumprir meu papel, minha responsabilidade também aqui, dentro da área, do Estado em que escolhi viver quase 40 anos atrás.

    Senador Reguffe.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Senador Cristovam, eu tenho convicção e certeza de que V. Exª vai abrilhantar muito, com sua candidatura a Presidente da República, o cenário eleitoral no ano que vem. Esse cenário, hoje, para mim é um cenário perturbador, porque não se faz debate em torno de ideias – ninguém debate ideias. O cenário desenhado é um cenário onde apenas se coloca contra o outro: "Ah! Mas quem é fulano? Fulano é contra isso, fulano é contra aquilo". E está na hora de a gente debater o futuro. Não quero debater o passado. Eu quero ver qual é o projeto de futuro, qual é o programa, qual é o projeto de país que vai ser discutido. Hoje eu vejo muitas discussões de projetos de poder, mas não vejo uma discussão séria de um projeto de país, com consistência, com solidez. Então, acho que V. Exª tem todas as condições de fazer uma discussão de um projeto de país e vai com certeza qualificar o debate no ano que vem se o seu partido, o PPS, lhe der essa oportunidade. Tenho essa convicção. Acho que nós precisamos neste Pais de uma reforma do Estado. Nós precisamos de um Estado mais enxuto, mais eficiente, com meritocracia no serviço público, com sistema de metas e resultados. Nós precisamos recuperar o Estado para o contribuinte, para o cidadão. Hoje o Estado serve muito mais às máquinas dos partidos políticos e à construção e à perpetuação de máquinas políticas do que ao cidadão, do que ao contribuinte, do que àquele que paga impostos. Então, nós precisamos, na minha visão, de um Estado mais enxuto, mais eficiente, mais moderno. Precisamos reduzir o número de ministérios, de secretarias, de cargos comissionados, precisamos conseguir que a gestão pública atenda o cidadão, que é o chefe dessa gestão. A pessoa ali está prestando um serviço para o chefe dela, então é preciso respeitar esse contribuinte, esse cidadão. Penso que na economia precisamos ter responsabilidade fiscal, sim. Um governo não pode gastar mais do que arrecada. Nós temos que ser rigorosos, na economia, com a responsabilidade fiscal. O País não pode ter aventura. Mas, por outro lado, na política nós precisamos, sim, de uma revolução. Se nós temos que ter estabilidade, ser estáveis na economia e ser responsáveis na economia, na política nós temos que revolucionar. Temos que mudar essa prática política, esse toma lá dá cá, essa relação do Executivo com o Legislativo hoje que é algo, para mim, inaceitável, algo com o qual ninguém de bem pode concordar, pois é cargo para cá, cargo para lá, benesse para cá, onde o voto depende muito mais do que o Executivo dá. Então, o papel do Executivo é formular políticas públicas e deixar o outro Poder exercer o seu papel com independência. Alguns falam assim: "Ah! Mas isso não vai dar certo". Vamos tentar fazer algo diferente. A sociedade quer isso. Então, por que a gente não pode tentar? Não pode haver corrupção, não pode haver corrupção, senão derruba o governo. Agora, é preciso ser inflexível: se há uma coisa errada, demite, pune. Aliás, corrupção existe em todos os países do mundo, mas o que não pode haver é impunidade. Ou seja, a pessoa cometeu um ato ilícito e não há uma punibilidade sobre ela num ponto futuro. Então, eu acho que V. Exª tem todas as condições de abrilhantar esse debate, de qualificar esse debate que, aliás, está muito pobre, pois não se debatem ideias, não se debate um projeto de país, não se debate um programa de governo: somente nomes são debatidos, e quase sempre os nomes crescem na opinião pública no ataque ao outro, na crítica ao outro. Está na hora de a gente discutir, em vez de só a crítica ou só o ataque ao outro ou só o que a pessoa não concorda; está na hora de ver com o que a pessoa concorda, qual é o projeto. E acho que um bom projeto seria uma grande reforma do Estado que introduzisse meritocracia, que introduzisse sistema de metas e resultados, que avaliasse desempenho, que enxugasse a máquina, que não tivesse essa quantidade de Ministérios. O governo do Juscelino Kubitschek, no século passado, tinha 11 Ministérios apenas. Hoje nós temos 28 Ministérios. Ou seja, são cargos comissionados a rodo. Enquanto a França possui 4,8 mil, os Estados Unidos inteiro, 8 mil, o Brasil hoje possui mais de 25 mil só na administração direta, sem contar a indireta. Então, nós precisamos ter uma grande mudança no modelo do Estado, ser responsável na economia – um governo não pode gastar mais do que arrecada –, fazer uma reforma do Estado e, principalmente, mudar esse tipo de relação política entre Executivo e Legislativo. Fazer um governo para a sociedade. Quem apoiar tem que apoiar as políticas públicas para a sociedade. Quer sugerir coisas para o Governo? Não é um cargo, não é uma pessoa para um cargo. Quer sugerir? O que você gostaria que fosse construído na sua cidade? Qual é a política pública para o cidadão? É fazer Política grande, com P maiúsculo. Acho que V. Exª tem todas as condições de protagonizar esse debate, de fazer uma bela campanha presidencial. Ganhar ou perder faz parte da democracia. Isso depende de n fatores. O importante é construir um caminho e fazer um bom debate. E acho que a população precisa, neste momento, de quem queira debater um verdadeiro programa de governo, um verdadeiro projeto de país, de quem queira debater ideias. Espero que o seu Partido, a que V. Exª escolheu se filiar, o PPS, tenha essa sensibilidade e entenda que V. Exª pode agigantar e abrilhantar muito o debate presidencial do ano que vem.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Muito obrigado, Senador Reguffe. Antes de passar a palavra ao Senador Roberto, eu quero dizer que o senhor traz três linhas que acho fundamentais para pensarmos o futuro e a aglutinação deste presente.

    Primeiro, é o Estado a serviço do público. É preciso publicizar o Estado brasileiro. O Estado brasileiro foi privatizado pelos políticos, pelas empreiteiras, pelos sindicatos dos servidores. Tem que colocar o Estado a serviço do público. E o servidor público ser servidor do público – para isso, ele tem que estar satisfeito, mas tem que servir ao público.

    Segundo, é que a economia seja eficiente, produtiva e competitiva, o que exige ser inovadora e exige ciência e tecnologia com todo apoio.

    Terceiro – que acho que é o eixo central, o vetor do progresso – é a educação do Brasil ser da máxima qualidade, como as melhores do mundo, e igual para todos. O filho do trabalhador na escola do filho do patrão; o filho do pobre na escola do filho do rico. Agora, sem demagogia, sem prometer que isso vai ser feito em um ano, dois anos, três anos. Isso é uma estratégia de longo prazo. Eu creio que – acertei e tentei, como Ministro, nos poucos meses em que fiquei – a gente pode fazer isso...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ...no longo prazo para o Brasil, mas em curto prazo em algumas cidades. E espalhando essas cidades com a educação da máxima qualidade. São três coisas fundamentais.

    E aí eu pergunto: e a saúde? E a segurança? Isso tem que ser cuidado para dar aglutinação de hoje. Isso é o trabalho no presente. Saúde é uma questão do presente. Educação é do presente e do futuro. O Estado eficiente a serviço do público é do presente e do futuro. A economia eficiente e competitiva é do presente e do futuro.

    Então, fico satisfeito. Ouvindo sua fala, sinto-me mais inspirado. E creio que, nessas caminhadas que vou fazer, vou ser bastante inspirado pela população com a qual eu vou conversar e com os militantes do PPS.

    Senador Roberto.

    O Sr. Roberto Muniz (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – Senador Cristovam, quero dizer ao senhor que, quando o senhor se coloca à disposição desse debate, o Brasil ganha enormemente com a sua presença. Quero aqui trazer um pouco do debate que houve numa das campanhas americanas. Alguns dizem que essa frase foi colocada anteriormente, mas, na verdade, surgiu no debate entre George Bush e Bill Clinton, quando um marqueteiro disse em alto e bom som: "É a economia, estúpido!" E eu tenho a convicção de que o Senador Cristovam vai poder dizer, em alto e bom som: "É a educação, estúpido!"

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Muito bom.

    O Sr. Roberto Muniz (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – Eu acho que esse mantra que arrasta a sua biografia, Senador Cristovam, deverá ser algo muito presente nesse debate. E acho que não será por acaso que V. Exª estará proclamando, nesses próximos quatro meses, a ampliação da qualificação desse debate. Independentemente do resultado, como disse o Senador Reguffe, o maior resultado que V. Exª vai fazer é trazer para o eixo a discussão do futuro do nosso País. Nós estamos beirando o populismo do mais baixo nível; talvez até aquela corrupção que V. Exª sempre coloca, que é a corrupção das prioridades. Há também uma corrupção mortal no Brasil, que é a corrupção ideológica, que estabelece a ideologia como um produto de compra e venda; as pessoas colocam a ideologia a serviço, simplesmente, de ocupar a mídia ou estabelecer uma maior quantidade de seguidores nos seus perfis em redes sociais. Eu tive a oportunidade, Senador, e quero aqui deixar público, de votar em V. Exª. Em 2006, o senhor teve lá aquele voto, um voto consciente, muito mais pela bandeira de V. Exª. Eu acho que, da mesma forma, voltando um pouco, quando – e aí estou me sentindo no Maracanã – o Pelé fez o milésimo gol... Para comemorar o milésimo gol, numa das grandes e célebres frases dele, ele disse: "Olhemos as criancinhas", o que, vindo de Pelé... Muitas vezes a gente quer, do maior do mundo, uma intelectualidade que não cabe a ele, mas aquele momento pode ser dito hoje da mesma forma: "Vamos olhar as nossas crianças". E eu...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Roberto Muniz (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – ... tenho a convicção de que eu estou, Senador Reguffe, Senador Wellington e todos os que estão aqui na Casa, nós estamos vivendo aquele momento que passa despercebido. Naquele milésimo gol, foi questionado por que Pelé, o homem que tinha feito gols mais brilhantes, faria o milésimo gol – não sei se o senhor sabe – de pênalti.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Foi.

    O Sr. Roberto Muniz (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – E um dos jornalistas, à época, disse que a melhor forma de todos que estão no estádio verem o lance é quando há um pênalti, porque todos correm para ver se aquele lance vai ser gol ou não. Eu tenho certeza de que V. Exª vai gerar um pênalti de quatro meses. O Brasil vai estar... E aí eu queria não só estar solidário com a sua caminhada, mas conclamar também a imprensa para que ela pudesse dar a V. Exª a mesma cobertura que dá a outras personalidades políticas que preenchem o noticiário do nosso País, sem uma palavra de ordem ou um ordenamento de palavras que possa nos levar a um futuro melhor. Eu queria conclamar a imprensa para que pudesse colaborar no acompanhamento do seu caminho, nos debates que V. Exª poderá produzir dentro de universidades, dentro de associações, de instituições. Eu tenho a convicção de que, quando V. Exª puder dizer, em alto e bom som, para os que lá presentes estão, não a palavra "estúpido", mas que o grande problema do Brasil continua sendo a educação – mesmo com tantos anos e tantas coisas que pudemos realizar e não realizamos –,...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Roberto Muniz (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - BA) – ... V. Exª trará para esse debate presidencial algo fundamental. Só queria deixar uma sugestão, uma sugestão de um amigo, de um admirador que teve a oportunidade de estreitar laços aqui durante esse pouco mais de um ano, na convivência com V. Exª. Eu disse aos meus amigos particulares que, se nada pudesse fazer no Senado, mas se pudesse algum dia tomar um café com V. Exª para mim já seria suficiente para o meu currículo. Então, eu quero dizer a V. Exª que, quando V. Exª fala de coesão, eu acho que o Brasil precisa da coesão pelo consenso. Eu acho que nós estamos olhando mais para aquilo em que divergimos do que para aquilo em que convergimos, porque o que diverge é que dá a manchete; o que converge fica em nota de rodapé. Então, eu queria que o Brasil pudesse trazer à tona o que converge para que nós possamos construir esse consenso e, quem sabe, uma coesão social que, com certeza, como foi alertado aqui por muitos e que também quero aqui alertar, nós estamos perdendo. Essa coesão nós estamos perdendo. E não sabemos onde isso vai parar. Mas, só finalizando, parabéns a V. Exª. Talvez, quando V. Exª retornar, eu já não estarei mais aqui, mas saiba que onde eu estiver V. Exª terá um amigo e um admirador – não só eu, mas já lhe disse que a minha mãe, que pode até estar nos ouvindo agora, pediu a V. Exª que saísse nessa sua caminhada. Então, pelo menos esse voto eu tenho certeza de que V. Exª terá, se assim quiser o seu Partido. Parabéns por essa coragem, por esse enfrentamento e principalmente pela sua história, que vai abrilhantar muito esse bom debate para um bom Brasil. Muito obrigado.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Muito obrigado, Senador. Eu quero dizer que também uma das boas coisas do Senado é conviver com pessoas como o senhor. E o senhor sabe que nós temos tido uma convivência aqui muito maior do que a maioria dos outros Senadores, as circunstâncias levaram a isso. Quero agradecer muito o incentivo.

    E, retomando o que disse o Senador Reguffe, uma candidatura não deve ser com a tarefa de ganhar. Claro que se deve querer ganhar – e eu acho que não é impossível –, mas a gente tem que ser candidato sem ficar olhando o que o eleitor quer ouvir para ganhar. Basta de marqueteiro dizendo o que você deve falar para que você ganhe voto. Vamos ter agora um marqueteiro para dizer como dizer o que você quer dizer ao candidato: qual é o seu sentimento de Nação, qual é o seu sentimento dos problemas.

    Ah, a palavra... Muito bem, que alguns ajudem, mas não a missão, a bandeira.

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Então, fico satisfeito.

    Sobre a sua fala, achei interessante sua lembrança dessa fala do marqueteiro do Clinton, quando ele disse que o importante é a educação, só que ele disse de uma maneira forte: "É a economia, estúpido!" Fica até mal. Ele poderia ter dito: "É a economia, gente!" Nesse caso, é a educação, gente – não tenham dúvida, porque o problema do emprego passa pela educação; o da violência passa pela educação; o da encomia inteira passa pela educação; o da saúde passa pela educação. É o eixo, o vetor. Não se pode esquecer o resto.

    Em 2006, eu fiz um programa de governo com 46 capítulos, em que todos os temas dos problemas brasileiros estavam sendo trabalhados com propostas. E o título que eu escolhi foi: "Como fazer", para ficar claro. Talvez uma mania de engenheiros, que nós dois somos: "Como fazer".

    Finalmente, eu quero dizer que naquela eleição eu tive 2,5% dos votos, disputando com Lula, no auge da sua carreira, querendo a reeleição de um bom governo, que foi o primeiro; com Alckmin no auge do PSDB, e ainda com a lembrança do governo Fernando Henrique Cardoso; e com Heloísa Helena, que se sentava ali com o charme da esquerda radical que ela tinha.

    Agora, eu acho que está muito mais vazio o cenário das candidaturas. Não quer dizer que se ganhe por causa disso, mas quer dizer que é uma obrigação ser candidato neste momento. Eu vou cumprir essa minha obrigação, pelo menos dentro do meu Partido.

    Senador Wellington, muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco Moderador/PR - MT) – Esta Presidência gostaria não só de parabenizá-lo, mas também de estimulá-lo. É disto que o Brasil precisa: de eleições em que o debate, principalmente através de pessoas com experiência e competência, como V. Exª, tenha como principal bandeira a questão da educação; isto é fundamental para o Brasil.

    Inclusive, agora estou relatando a questão da regulamentação da Lei Kandir, Senador Cristovam, e lá no meu relatório coloquei que 20% dos recursos iriam para o Fundeb. V. Exª defende muito a aplicação dos recursos no ensino médio, no ensino onde a criança está começando os seus aprendizados.

    V. Exª tem tantas boas propostas aqui! Claro, nesse debate será fundamental a participação de V. Exª exatamente para que a gente possa tirar dos candidatos não o produto do marketing, mas principalmente o produto da alma – a experiência da vida e o sentimento de quem quer fazer as transformações necessárias que este País precisa. Claro, com todas as nossas diferenças regionais, mas também com toda a riqueza que este País tem.

    Eu me lembro bem quando, no exterior, perguntaram a V. Exª sobre a internacionalização da Amazônia. A resposta de V. Exª foi brilhante.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco Moderador/PR - MT) – Então, eu gostaria de parabenizá-lo. Hoje, com certeza, quanto à Amazônia não se fala mais na tese da internacionalização, porque lá estão os brasileiros cumprindo o seu papel de fazer com que a Amazônia continue – e será sempre – brasileira.

    Por isso, também temos defendido muito aqui a regularização fundiária. Só no meu Estado, Senador Cristovam, são mais de 70 mil famílias que estão lá, foram chamadas pelo Governo Federal para cumprir o seu papel de integrar a Amazônia para não entregar a Amazônia, e essas pessoas não têm documentos. Portanto, não têm nem como exercer sua cidadania.

    Então, eu penso que, nas novas eleições, teremos de discutir temas como esses e tantos outros que possam verdadeiramente melhorar a qualidade de vida da população, investimentos que possam trazer principalmente agregação de valores, tecnologia.

    Hoje, temos discutido muito essa questão da Lei Kandir. O estímulo à exportação dos produtos das matérias-primas sem gerar emprego no Brasil, praticamente, é muito grande. Daí, temas como este e tantos outros em que V. Exª tem profundo conhecimento.

    Por isso, quero parabenizá-lo e estimulá-lo para que realmente siga em frente.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Muito obrigado, Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/11/2017 - Página 9