Pela Liderança durante a 195ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Esperança de que na eleição presidencial de 2018 surjam candidatos com projetos para o Brasil nos quais não prevaleçam interesses corporativos.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Esperança de que na eleição presidencial de 2018 surjam candidatos com projetos para o Brasil nos quais não prevaleçam interesses corporativos.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 20/12/2017 - Página 63
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • DEFESA, ELEIÇÃO, CARGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CANDIDATURA, PESSOAS, AUSENCIA, INTERESSE PARTICULAR, GRUPO, POSSUIDOR, CARACTERISTICA, APREENSÃO, PROBLEMA, POPULAÇÃO, ENFASE, POBREZA, IDOSO, JUVENTUDE, MULHER, INDIO, NEGRO, CIENCIA E TECNOLOGIA, EDUCAÇÃO, APOIO, PLEBISCITO, PROPOSTA, CANDIDATO, DETALHAMENTO.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF. Como Líder. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, nós hoje ouvimos diversos discursos, Senador Raupp, de prestação de contas de 2017. Um deles, o que acabamos de ouvir, se concentrou em um item, mas esse item é fundamental, que é o item do documento sobre a situação da microeconomia no Brasil.

    Eu quero falar é do próximo. Quero falar do próximo em que o Brasil vai ter a chance de votar para escolher um Presidente, depois de tantas dificuldades, perplexidades, crises que temos atravessado.

    Mas eu quero dizer que, apesar do otimismo que traz uma eleição – e esta é a vantagem da democracia: nós, a cada quatro anos, fazemos um novo casamento de todos os habitantes do País –, há razões para não estarmos tão otimistas.

    E a razão para mim é o fato de que o Brasil não vota, são os brasileiros que votam. E há uma diferença entre a soma dos brasileiros e o Brasil. Em um país onde as coisas estão bem, os eleitores nacionais representam a totalidade, mas, em um momento em que a gente, como o Brasil, está paralisado pela vergonha da corrupção, da concentração de renda, da baixa produtividade e consequente pobreza, da violência sob todas as formas e está com dívidas fortes com os pobres, com os velhos, com os jovens, com as crianças, com as mulheres, com os índios, com os negros, temos um país sem instituições sólidas – apesar de tê-las, as instituições –, um sistema Judiciário que me parece bipolar, porque um dia diz uma coisa, outro dia diz outra, um Estado sem eficiência e privatizado, tanto política quanto sindicalmente, uma ciência e tecnologia deficiente e, sobretudo, um sistema educacional precário e desigual. Um país que está nessa situação não precisa nem lhe basta eleger um Presidente, ele tem que eleger um novo projeto de país. Ele tem que eleger um Brasil novo e não um Presidente novo apenas.

    E eu lamento que, ao olhar ao redor, percebemos que o presente não está bem; olhando para frente, percebemos que o futuro não vai bem; mas a sensação é de que caminhamos, sem coesão nem rumo, para uma desagregação social, para um atraso econômico, científico e tecnológico. Desculpem se pareço pessimista, mas é o que eu sinto hoje.

    E, mesmo assim, tudo indica que, no próximo ano, os brasileiros, nós, elegeremos um novo Presidente da República, mas não vamos eleger um novo Brasil. A sensação é de que os eleitores estão preocupados cada um com seu interesse pessoal e do seu grupo, da sua corporação, e não com um conjunto, que seria a soma dos brasileiros de hoje e dos de daqui a 10, 15, 20, 30, 50 anos.

    Não se vê isso, mas mais grave: não vemos candidatos pensando o Brasil. O que vemos são candidatos que fazem pesquisas de opinião, ouvem o que cada grupo quer dizer e dizem o que cada grupo quer ouvir em vez de dizer aquilo de que Brasil precisa. É muito diferente dizer aquilo de que o Brasil precisa e dizer o que o eleitor quer ouvir. Os marqueteiros, inclusive, inventaram a palavra – copiada dos americanos – nichos, que são os grupos que eu posso chamar de corporações, e trabalham na direção desses nichos. E os nichos não representam o Brasil.

    Nós, a meu ver, vamos entrar em um processo eleitoral sem candidatos pensando um projeto novo para o Brasil. Por exemplo, tivemos isso quando Juscelino Kubitschek trouxe uma proposta de Brasil industrializado, dinâmico pela indústria, não mais pela agricultura. Hoje, nós não temos um projeto desse tipo, e os eleitores não estão interessados.

    Vou dar um exemplo, mas poderia dar muitos. A classe média e alta brasileira gasta R$80 bilhões por ano com a educação de seus filhos, uma média de R$20 mil por família. Nós não vemos essa classe média alta dizendo: "Eu quero parar de gastar esse dinheiro, construindo uma boa escola pública, igual para todos." Não se vê isso. A sensação é de que não querem os seus filhos misturados com os filhos dos outros. Ou seja, não querem os seus filhos no Brasil, querem os seus filhos na sua família.

    Caramba, já pensou... Eu não falo dos muito ricos, que estão mandando os seus filhos para os Estados Unidos, para a Suíça. Eu falo da classe média, que faz um sacrifício enorme para pagar educação de seus filhos. Quanto poupariam se a educação de qualidade nas escolas públicas fosse suficiente para os seus filhos, filhos dessas classes médias? Por que não querem?

    A própria previdência. A reação à reforma da previdência, embora alguns pontos devam ser modificados, é mais por não quererem perder alguns direitos e privilégios do que por quererem uma previdência sustentável para os próximos 50 anos. Quem votará na reforma da previdência pensando na aposentadoria dos netos? Estamos pensando nas nossas, porque falta o sentimento de coletivo, de Brasil inteiro.

    Isso leva a uma preocupação grande com o futuro do Brasil: em 2018, o Brasil não votar; votarem os brasileiros – e os brasileiros divididos, sem coesão.

    Agora, some-se a isso não termos partidos que representem posições diferentes sobre o Brasil. Aí, como não há partido que represente posições diferentes sobre o Brasil, cada candidato é o seu próprio partido; e o eleitor é seu próprio partido, sem um projeto de Nação, porque o Brasil não vota; votam os eleitores. E os eleitores não representam o Brasil; eles representam a soma dos brasileiros. O Brasil é mais do que a soma dos brasileiros de hoje: é uma história dos brasileiros do passado e a tendência dos brasileiros do futuro.

    Se eu fosse escolher, Senador Sérgio, um voto para 2018, seria que, em 2018, nós votemos pelo Brasil. Não votemos por cada um de nós, nem votemos por cada candidato que está aí. Votemos por aquele que representa a melhor proposta para o Brasil, com uma grande plataforma. Isto é o que eu gostaria de ver em 2018 na campanha: cada candidato a Presidente chegar com uma plataforma! Mas a plataforma, Senadora Ana Amélia, dizendo que projetos de lei vai mandar para aqui, que decretos vai assinar no primeiro dia, e dizendo: "Se quiser votar em mim, vote. Se não quiser, não vote."

    Primeiro, esse candidato vai ter credibilidade. Mas se ele chegar aqui – com seus 50 milhões de votos no segundo turno – com um conjunto de leis, de decretos, começando pelos decretos que acabam com mordomias, com privilégios. Se ele chegar aqui e mandar isso para nós – para os que ainda estiverem aqui, de nós –, ele vai ter força; ele vai ter força mesmo que não tenha um partido grande com ele, porque ele vai dizer: "Eu não fui eleito; eu fiz um plebiscito."

    Em plebiscito, vota-se "sim" ou "não". Eu queria ver um plebiscito em que se votasse A, B, C, D – o nome do candidato –, o candidato ser plebiscitado pelo seu programa; não por sua cara, não por sua sigla partidária, nem mesmo por seu passado, mas pelo seu programa. Mas eu volto a insistir: um programa especificado, e não intenções genéricas, não blá-blá-blá; mas dizendo o que propõe, quanto custa, quem vai pagar, em quanto tempo vai fazer e como fará. Eu queria ver uma disputa eleitoral para Presidente dessa maneira. E que digam: "No final do meu mandato o Brasil será desse jeito, diferente do que é hoje. E eu vou criar as condições nesses quatro anos, para que, nos próximos 20, 30, o Brasil seja desta maneira aqui", porque não dá tempo em quatro anos. Mas gostaria, inclusive, que ele dissesse que, como é contra a reeleição, não será candidato a reeleição.

    Eu queria ver uma eleição plebiscitária, em torno de propostas, em que o candidato apenas encarnasse uma proposta, e não um partido ou, pior, um slogan, como a gente tem visto nas últimas eleições. Os candidatos de slogans eu queria ver substituídos por candidatos de propostas detalhadas, fazendo contas. Talvez, um dos grandes problemas é que, Senadora Ana Amélia, em vez de candidatos que fazem conta, nós tenhamos candidatos que fazem de conta, que é o que tem caracterizado a política brasileira dos últimos anos: fazer de conta, sem fazer as contas. Seria tão bom que 2018 nos trouxesse um processo eleitoral em que os candidatos tivessem ideias, propostas e fizessem as contas de quanto custa, de onde vem o dinheiro, de como vai fazer...

    Eu não ando tão otimista de que isso acontecerá, mas creio que é um bom voto deste final de ano desejar que, em 2018, votemos pelo Brasil. Vamos precisar de um nome, mas que esse nome traga um programa, e que, por trás desse programa, esteja o Brasil, o Brasil que queremos, o Brasil de que precisamos, que seja um programa que una os brasileiros, com coesão no presente e com rumo para o futuro. É isto que vale a pena desejar para 2018, até porque, sem isso, eu não sei como será 2019, como será 2020, nem como, em 2022, vamos comemorar o segundo centenário da nossa independência, a independência de um país que se fez independente, mas que não construiu uma nação. Tanto não construiu, que não temos coesão. E aí não temos democracia de fato, porque a democracia de fato disputa divergências, mas com um projeto comum de nação. Hoje a gente não tem isso. Eu espero que a eleição presidencial do próximo ano ajude a trazer essa coesão nacional e um rumo para o futuro.

    Este é o meu desejo para todos nós: que, em 2018, votemos pelo Brasil. Não pelo candidato A, B, C, D ou E, mas pelo Brasil. E temos a esperança de que isso possa acontecer, até porque o Brasil é muito maior do que nós. E, se a esperança não se realiza agora, ela se realiza daqui a 10, 15, 20, 30 anos, para a nossa geração ou para as gerações futuras.

    Era isso, Presidente Sérgio, mas a Senadora Ana Amélia pediu a palavra, e, com muito prazer, eu concedo a ela um aparte.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – É rapidamente, pois o Senador Valdir Raupp já está a caminho da tribuna. Senador Cristovam Buarque, caro Presidente, eu queria apenas dizer que seria muito bom que esses votos que o Senador Cristovam Buarque formula para 2018 fossem seguidos e compreendidos. Eu acho que é um choque de coerência, um choque de compromisso com o País. Eu acabei de vir de uma viagem ao Japão, a convite do governo japonês, e visitei uma escola municipal, Senador, no interior de Nagoia, num bairro de Nagoia, que não tem faxineiros, porque as crianças aprendem a respeitar o ambiente escolar. E a escola é um primor de cuidado. Brasileirinhos estudam japonês, com professores dedicadíssimos à missão de ensinar, e ali fazem os desenhos da forma de escrever japonesa, com muito cuidado e dedicação. Então, é um país organizado, em que as coisas funcionam, em que todos se respeitam e respeitam os mais velhos, onde o trânsito flui, ninguém buzina, todo sinal é respeitado... Sobretudo, isso vem também das lideranças políticas, que, em 2018, terão um grande desafio, e o eleitor tem na mão a arma mais poderosa, que é o título de eleitor. Então, devem escolher coerentemente os candidatos. Eu gostaria muito que acontecesse aquilo que o senhor defendeu agora. Que venha o candidato e diga com autenticidade: "Eu vou fazer isso, isso e isso; chegando lá, será esse o plano de governo", e que, no dia em que ele vencer a eleição, pratique aquilo que defendeu durante a campanha, e não seja apenas uma palavra de palanque. Então, eu acho que, nesse momento, nós vamos, sim, reconstruir o Brasil, o Brasil que queremos: mais eficiente, mais democrático, mais inclusivo também. Parabéns, Senador Cristovam. Também desejo a todos os colegas e a todos os nosso telespectadores um 2018 muito melhor do que foi 2017.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Obrigado, Senadora.

    Concluo dizendo: que, em 2018, votemos pelo Brasil. Se não fizermos isso, não vamos poder votar por cada um de nós isoladamente. Não há futuro, isoladamente, dentro de um mesmo País. O futuro de cada um depende do futuro de todos.

    Que, em 2018, votemos pelo Brasil!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/12/2017 - Página 63