Discurso durante a 14ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque à importância do papel das famílias e das igrejas para a consolidação de um País mais pacífico e democrático.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO:
  • Destaque à importância do papel das famílias e das igrejas para a consolidação de um País mais pacífico e democrático.
Aparteantes
Gleisi Hoffmann, Roberto Requião.
Publicação
Publicação no DSF de 27/02/2018 - Página 6
Assunto
Outros > RELIGIÃO
Indexação
  • COMENTARIO, ASSUNTO, IMPORTANCIA, FORTIFICAÇÃO, FAMILIA, IGREJA, OBJETIVO, FORMAÇÃO, PESSOAS, POPULAÇÃO, SOCIEDADE, JUSTIÇA SOCIAL, RESPONSABILIDADE, DESENVOLVIMENTO, DEMOCRACIA, LOCAL, BRASIL.

    O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, aqueles que nos acompanham pelas redes sociais, pela internet, minhas senhoras e meus senhores, meu último pronunciamento de 2017 neste plenário foi uma defesa intransigente da família, do conceito de família, da ideia de família, da importância da família para a construção de uma sociedade verdadeira, eis que a família é uma instituição sagrada criada por Deus.

    Eu gostaria, neste início de ano legislativo, que iniciamos há poucos dias, retomar o mesmo tema – neste ano em que o Estado do Rio de Janeiro sofre, logo em seguida a uma de suas festas mais populares, uma intervenção federal, motivada pelos níveis absurdos de violência e criminalidade registrados atualmente na nossa ex-capital da República.

    Retomo o tema da família neste início de ano, em que os Estados Unidos da América também choram, choram a morte de mais inocentes, vítimas de um ataque covarde em uma das cidades mais pacíficas da Flórida.

    Quero enviar os meus mais profundos sentimentos às famílias dos adultos e das crianças feridas ou mortas naquele massacre. Que os nossos irmãos da América do Norte tenham a tranquilidade e a sabedoria necessárias para saírem dessa tragédia mais próximos de uma solução definitiva sobre a complexa questão do porte de armas de fogo por civis naquele País. Tema este, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tão debatido também aqui no nosso País. O que é melhor para a sociedade? É armar a população ou é a Lei do Desarmamento, tema ainda que causa muitos debates, muitas discussões, no seio da nossa sociedade?

    Não sabemos ainda as causas do massacre da Flórida, mas, às vezes, me pergunto quantas tragédias semelhantes têm sua origem em estruturas familiares dilaceradas. Pergunto-me quantos problemas sociais não são, no fundo, amplificações de problemas na célula familiar.

    Isso também acontece aqui no Brasil. Assim como a corrente não pode ser mais forte do que o seu elo mais fraco, uma sociedade depende da força estrutural de suas famílias para evoluir e prosperar. Toda e qualquer sociedade, toda e qualquer nação, todo e qualquer país só existe, ou só deveria existir, em função dos seus indivíduos; e os indivíduos nascem e dão os seus primeiros passos, em sentido real e figurado, no seio familiar, no seio da família.

    A família é o grupo íntimo, em que a maioria de nós adquire os valores que levará pela vida afora. É na família que, em nossos anos mais vulneráveis, recebemos a proteção, o apoio e os ensinamentos que garantem a nossa sobrevivência, o nosso bem-estar e nosso desenvolvimento. É na família que se inicia a nossa preparação para a vida em sociedade. Não é à toa que, como afirmei anteriormente, uma estrutura familiar frágil, dilacerada ou inexistente deve estar na raiz de inúmeros problemas de fundo social, seja aqui no Brasil, ou em qualquer país do mundo.

    Da mesma forma, uma família forte, estruturada e estável é um dos principais esteios das grandes nações democráticas. Eis a importância da família na construção dos destinos de um povo. A ideia de família, como célula mater da sociedade, como definiu Rui Barbosa, deve inspirar a fundação de nações verdadeiramente democráticas, seguras e sedimentadas nos mais sólidos princípios civilizatórios.

    A família, por esse raciocínio, é a primeira sociedade, nosso primeiro contato com o outro, inicialmente numa situação passível e vulnerável, quando dependemos de nossos pais e familiares, e, posteriormente, numa posição ativa e construtiva, quando decidimos formar as nossas próprias famílias, ter nossos próprios filhos e legar às gerações seguintes o que temos de melhor.

    Dessa primeira sociedade, do conjunto dessas primeiras sociedades, surge a sociedade maior, mais ampla, composta por indivíduos profundamente marcados pela criação, pela influência, pelos ensinamentos a que foram expostos no seio familiar. Se essa exposição se deu em um ambiente de respeito, amor e compreensão, esse indivíduo, muito provavelmente, irá irradiar os mesmos sentimentos; se veio, porém, de um tecido familiar esgarçado, aumentam as chances de que surja, do processo, uma sociedade dilacerada e dividida.

    Para citar outra máxima de Rui Barbosa: "a pátria é a família amplificada". E completamos: seja para o bem, seja para o mal.

    Desse raciocínio surge a importância de, em primeiro lugar, proporcionarmos a nossos filhos, a nossos parentes e a nós mesmos um ambiente familiar em que princípios positivos e cristãos sejam exercidos e respeitados.

    É comum dizermos que criamos nossos filhos para o mundo. Entendo, daí, que os educamos para reproduzir, nas famílias que vierem a criar e na própria sociedade, os valores positivos que lhes transmitimos quando eram crianças. E muitos desses valores vieram de nossos pais, de nossos avós, que os receberam de seus pais, e assim sucessivamente, numa tradição que tende a preservar o que é bom, o que funciona e a depurar o que é ruim e prejudicial.

    Em segundo lugar, além da importância de se criarem os filhos segundo valores que julgamos sólidos e benéficos, fica também claríssima a importância de preservar a própria instituição familiar – o microcosmo na qual se forjam os próprios destinos de um povo, pois é nele que se forjam os cidadãos.

    A família é, assim, não apenas a bússola e o farol de uma pessoa; é bússola e farol de uma sociedade. Não é apenas o cais de partida e o porto seguro de um indivíduo; é cais e porto de toda uma nação. E é nesse ancoradouro que confiamos e atracamos nos momentos mais difíceis, seja como cidadãos, seja como sociedade.

    Vivemos um período conturbado, no qual a família enfrenta turbulências de vários tipos e espécies. Como eu disse no meu discurso, no ano passado, defender a família vem, inclusive, sendo considerado algo atrasado, reacionário e retrógrado.

    Além desse menosprezo que a família vem sofrendo como instituição, somam-se a violência contra a mulher, a violência contra crianças e adolescentes, os maus-tratos e o desrespeito aos idosos, crises conjugais em casamentos que duram cada vez menos, entre outros desafios que a família enfrenta dia a dia, ano após ano, geração após geração.

    Uma sociedade forte, coesa e justa só conservará essas qualidades se todas as suas instâncias também forem fortes, coesas e justas. E a instância mais básica, mais fundamental, mais crucial de uma sociedade é a família. A preservação, a proteção e o fortalecimento da família constituem alguns dos passos fundamentais e imprescindíveis para a consolidação de qualquer democracia.

    Façamos o necessário para que o Brasil encontre esse destino, pois, como disse o Papa Francisco, " a família é um tesouro precioso".

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu voltarei, na próxima semana, a falar sobre a família, mas voltarei a falar também sobre as igrejas, sobre o papel das igrejas, sejam elas igrejas evangélicas – sou evangélico, da Igreja Presbiteriana –, e todas as igrejas; todas, sem distinção. As igrejas evangélicas e a igreja católica cumprem um papel fundamental na nossa sociedade. Se todo cidadão estivesse frequentando assiduamente uma igreja, assim como os cidadãos americanos, os cidadãos brasileiros do Rio de Janeiro, de São Paulo, de qualquer Estado do Brasil, com certeza absoluta a nossa sociedade seria diferente. Os traficantes não teriam o mesmo sucesso que estão tendo.

    E eu, para encerrar aqui, Sr. Presidente, já dizendo que voltarei na próxima semana falando sobre o papel das igrejas na sociedade, na família brasileira, também gostaria muito que essa intervenção do Rio de Janeiro pudesse estender-se fortemente para as nossas fronteiras, para guarnecer as nossas fronteiras; proteger as nossas fronteiras dos traficantes; proteger as nossas fronteiras do tráfico de armas, que entram no Brasil em grande quantidade; das drogas que entram no Brasil em grande quantidade. Nós sabemos que 80% dos problemas de violência no Brasil, no Rio de Janeiro, em qualquer centro urbano, são fruto da entrada de drogas no nosso País, é fruto do armamento que entra clandestinamente no nosso País. Então, com a mesma força que o Governo hoje está aplicando essa intervenção do Rio de Janeiro, eu gostaria também que se estendesse para as fronteiras do Rio Grande do Sul, do Paraná, de Roraima, fronteiras do Peru, da Venezuela, da Colômbia, da Bolívia, do Paraguai. Enfim, que as nossas fronteiras fossem realmente protegidas, fossem fiscalizadas.

    Concedo um aparte à nobre Senadora Gleisi.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Obrigada, Senador Raupp. Eu queria um aparte apenas para concordar com essa solicitação de V. Exª em incluir o meu Estado, o Estado do Paraná, porque, se há algum lugar onde as Forças Armadas precisam estar, junto com a Polícia Federal, é exatamente nas fronteiras brasileiras. Nós temos uma extensão imensa de fronteiras, algumas povoadas, outras não. No caso do Paraná, temos uma das fronteiras mais populosas do Brasil e onde passa um armamento muito pesado. E nós sabemos que o problema hoje da segurança, que é a guerra entre traficantes, dá-se exatamente porque essa gente tem acesso a armas pesadas, e essas armas não caem do céu diretamente no Rio de Janeiro. Se o Rio de Janeiro, São Paulo e Estados do Nordeste passam por uma situação de guerra entre facções, é exatamente porque nós não estamos resguardando as nossas fronteiras. Então, ao invés de estarmos combatendo a causa do problema, nós estamos lá querendo combater a consequência, colocando as Forças Armadas para fazerem a guerra contra o tráfico dentro da área urbana, o que é temerário. Primeiro, já dissemos dessa tribuna quando falamos sobre o decreto que autorizou a ida das Forças Armadas. As Forças Armadas não são preparadas para isso; são preparadas para a guerra. Você identificar um inimigo no meio do povo é muito difícil. Vai acabar o povo pagando o pato junto. Aliás, o que nós estamos vendo de revista de crianças, de fotografar as pessoas que moram nas favelas, isso acaba só intensificando o preconceito contra os pobres. O que nós tínhamos de estar fazendo é estar nas fronteiras brasileiras, aí, sim, revistando qualquer barco que entre em nossas águas, qualquer avião que entre em nosso espaço, qualquer um que adentre o nosso Território. Era isso que tínhamos de fazer. E de maneira veemente. Então, eu quero apenas concordar com V. Exª e acho que uma das soluções para enfrentar a violência no Brasil é exatamente guarnecer as nossas fronteiras, com as Forças Armadas e com a Polícia Federal. E vou repetir aqui: isso faz parte da Carta do Acre, assinada em outubro de 2017, por 23 governadores e 4 ministros. Então, o Governo sabia que precisava fazer esse tipo de intervenção e deixou para fazer apenas a intervenção no Rio de Janeiro. Eu lamento isso. Ontem, inclusive, coloquei, na minha conta de Twitter, uma matéria de um jornal espanhol, o El País, que fala sobre a utilização das Forças Armadas do México no enfrentamento ao narcotráfico em espaços urbanos. E deu no que deu: as Forças Armadas lá estão sendo desmontadas. Isso me preocupa muito. Então, eu quero reforçar aqui: nós queremos as Forças Armadas atuantes, sim, nas nossas fronteiras, em conjunto com a Polícia Federal.

    O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) – Obrigado pelo aparte de V. Exª. Com certeza, está contribuindo muito para o nosso pronunciamento e para a nossa posição. E que bom que esse pensamento esteja com praticamente todos os Senadores, principalmente quanto às fronteiras.

    Aqui, neste plenário, hoje, todos nós somos de Estados de fronteira; desde o Presidente Paulo Paim, do Rio Grande do Sul, a Senadora Ângela Portela, lá de Roraima, o Senador Telmário Mota, também de Roraima – e, mais do que nunca, lá hoje vivendo o problema sério da Venezuela, um outro problema também –, a Senadora Gleisi Hoffmann, que fez esse aparte agora, do Paraná, e o Requião, também do Paraná, que pede um aparte, o qual concedo, com muito prazer.

    O Sr. Roberto Requião (PMDB - PR) – Senador Valdir, as tropas das nossas Forças Armadas estão no Rio de Janeiro. Enquanto isso, a maior multinacional brasileira – porque já acabaram com a Petrobras e venderam a Embraer –, a maior multinacional brasileira, que é o PCC, que é uma multinacional do crime, organiza-se para restabelecer a unidade do seu comando. No Ceará, morreu um dos líderes. Os que o mataram – queima de arquivo, provavelmente – foram assassinados no Rio de Janeiro. Comanda as penitenciárias, e o crime organizado, que não é o crime do arrastão dos pobres, dos miseráveis, que tem que ser reprimido, mas que, para isso, não precisávamos das Forças Armadas, nessa loucura toda. No dia seguinte ao Carnaval, o Governo Federal cortou R$240 milhões do orçamento da segurança pública, e, logo depois, manda o Exército fazer a ocupação, uma intervenção pela metade – uma intervenção capenga, porque intervenção real deveria ser, no Rio de Janeiro, uma intervenção que abrangesse a estrutura toda do Estado. A metade dos dirigentes do Rio está na cadeia, e a outra metade denunciada da mesma forma que os que estão presos pelos mesmos crimes. Então, nós estamos é perdendo o sentido disso tudo. É claro que a população fica esperançosa – intervenção militar vai acabar o crime no Rio; o crime do tráfico nos bairros ricos, o assassinato de dirigentes do PCC no Brasil inteiro, as penitenciárias sem ter mais o comando do Estado nacional. Que conversa mole de combate ao crime no Rio de Janeiro! Estamos levando a população de uma forma enganosa. Senador Raupp, eu pretendo falar sobre isso, sobre este grande projeto de criar um País para poucos que está sendo levado para o nosso Brasil.

    O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) – Muito obrigado, Sr. Presidente.

    Muito obrigado, Senador Requião.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu queria só cumprimentar V. Exª pelo...

    O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO) – Claro. Pois não, Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... só o cumprimentar pelo pronunciamento.

    V. Exª pegou e focou três áreas que vão, no meu entendimento, na raiz. A importância da família, do convívio das famílias, claro que é importante. V. Exª pegou a questão das igrejas, mas de forma universal. V. Exª falou de todas as igrejas e o papel que cumprem no sentido da paz e até na educação de grande parte da nossa juventude, que tem, naquele espaço da igreja, um espaço para poder dialogar, conversar e ter caminhos. E por fim, o que pega efetivamente o meu Estado, nós queremos mesmo é ver as Forças Armadas nas fronteiras. É claro que cumprem um papel fundamental.

    É só para cumprimentar V. Exª. Os três assuntos em que V. Exª tocou, eu quero reforçá-los, se me permitir, com esta pequena fala.

    O SR. VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Fora do microfone.) – Muito obrigado. Eu agradeço.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/02/2018 - Página 6