Discurso durante a 38ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Celebração do Dia Mundial do Autismo, comemorado em 2 de abril.

Registro da visita ao município de São Lourenço para conversa com os agricultores, trabalhadores e servidores públicos do Estado do Rio Grande do Sul.

Críticas ao Governo Federal por não vetar os piores artigos da medida provisóira que altera a legislação trabalhista.

Solidariedade à Miss Tramandaí (RS), Samen dos Santos, corvademente atacada nas redes sociais por ser negra.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Celebração do Dia Mundial do Autismo, comemorado em 2 de abril.
ATIVIDADE POLITICA:
  • Registro da visita ao município de São Lourenço para conversa com os agricultores, trabalhadores e servidores públicos do Estado do Rio Grande do Sul.
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao Governo Federal por não vetar os piores artigos da medida provisóira que altera a legislação trabalhista.
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Solidariedade à Miss Tramandaí (RS), Samen dos Santos, corvademente atacada nas redes sociais por ser negra.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 03/04/2018 - Página 41
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, DIA INTERNACIONAL, DOENÇA, AUTISMO.
  • REGISTRO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, VISITA, MUNICIPIO, SÃO LOURENÇO DO SUL (RS), DISCUSSÃO, SECA, SITUAÇÃO, AGRICULTOR, PRODUTOR RURAL, REGIÃO.
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, AUSENCIA, COMPROMISSO, VETO (VET), ARTIGO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), ALTERAÇÃO, REFORMA, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA, PREJUIZO, TRABALHADOR.
  • SOLIDARIEDADE, CIDADÃO, MULHER, MUNICIPIO, TRAMANDAI (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DENUNCIA, FATO, DISCRIMINAÇÃO, NEGRO, OFENSA, INTERNET.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Senador Telmário Mota, como na semana passada fui ao meu Estado, fiz uma série de atividades de que quero aqui fazer registro.

    Mas o primeiro de todos é o dia de hoje, 2 de abril, dia mundial da tomada de consciência de toda a humanidade sobre o Transtorno do Espectro Autista.

    A Comissão de Direitos Humanos realizou nesta manhã uma audiência pública sobre o tema.

    O mundo para celebrar essa data. Ela está iluminada de azul. Minha alma, minha camisa, minha gravata também estão com o brilho do azul que representa essa luta dos autistas.

    Sr. Presidente, eu queria, neste momento – em que realizei uma grande audiência pública, em que fizemos um bom debate –, se V. Exª, naturalmente, me permitir, ler a carta que recebi da líder dos autistas, eu diria, no Brasil.

    Sr. Presidente Telmário Mota, em dezembro de 2012, assim que a lei dos autistas foi sancionada, Lei nº 12.764, conversei longamente com a minha amiga Berenice Piana, coordenadora do movimento dos autistas, e pedi para que ela fizesse uma pequena análise da importância dessa lei que tive o orgulho de ajudar a construir. E a lei se tornou... Aqui desta mesma tribuna, eu dei o nome de Lei Berenice Piana.

    Senador Telmário Mota, esta é a carta que ela me mandou:

Exmo Senador Paulo Paim, esta é uma carta diferente das demais, das muitas que já lhe escrevi, quando o autismo ainda, no Brasil, era pouco divulgado ou falado.

Eu me refiro a tantas cartas que lhe enviei, que foram para relatar a situação do autista no Brasil, a ausência de políticas públicas para essas pessoas. Quis o destino que essa história terminasse com as mesmas pessoas que começou, ou seja, eu e V. Exª, depois de três anos.

Eu me lembro de cada detalhe, cada palavra [principalmente] sua, e faço aqui um breve histórico para que, neste momento tão feliz, [...] [em que o] nosso PL [...] [já é realidade].

    Falando desse tema, aí ela diz:

Era uma tarde de agosto, eu assistia à TV Senado na esperança de sentir vontade política [...] [de que algum Parlamentar], em um discurso, me convencesse.

Surgiu, então, na tela da TV, V. Exª, falando de César Passarinho, um cantor nativista [negro] que já partiu "a trotezito no mais" para a querência eterna (palavras suas) [diz ela] [...] [para as pradarias do céu].

    Admirei sempre César Passarinho.

    E diz ela:

[...] fiquei comovida com essa homenagem. Percebi, mais adiante, que a fala de "um guri de calças curtas" que começou [...] [vendendo frutas na feira e depois tirou o Senai], em Porto Alegre, [...] alguém que nunca renega suas origens e tem um olhar franco e direto [Diz a carta dela: tirou o Senai em Caxias, vendeu na feira livre em Porto Alegre].

E me decidi então a procurá-lo, Senador, em mais uma tentativa de convencer um Parlamentar a olhar para a nossa causa, a causa dos nossos filhos, o autismo!

A situação dos autistas sem tratamento me partia o coração, e a cada dia eu conhecia mais casos onde a dor era extrema e os casos se agravavam.

Era preciso fazer algo urgente por todos e pelo Brasil inteiro.

Para minha surpresa, obtive resposta imediata, propondo-me logo uma audiência pública, colocando à minha disposição toda a sua equipe.

As palavras que jamais esquecerei [...]: "Srª Berenice, o que eu posso fazer [...] [pelos autistas]?"

Foram as mais lindas palavras que ouvi, pois elas selaram o destino do autista brasileiro.

No dia 24 de novembro de 2009, acontece [...] [a famosa] audiência pública [...] [presidida por V. Exª] na Comissão de Direitos Humanos.

Conheci nesse tempo o companheiro Ulisses da Costa Baptista, pai de Rafael, que veio fazer parte dessa luta junto comigo, todo o tempo daqui para a frente.

Esse pai incrível já tinha uma história de luta no Rio de Janeiro. E, depois que unimos forças, [...] [nos mobilizamos em todo o País] em prol dessa causa maior.

Aquela audiência, Senador, [...] [ficou para a história].

Saímos com sua promessa de levar adiante um projeto de lei federal, meu sonho maior, nosso sonho!

Imediatamente reunimos companheiros e começamos a escrever a lei, aqui mesmo, em minha casa, em Itaboraí, RJ.

Várias outras reuniões foram feitas, e o projeto foi [...] [avançando, avançando] passo a passo [...].

Perdi a conta de quantas vezes liguei para [...] [você] pedindo orientação... Fui sempre tratada com respeito e cordialidade, lisura, paciência e amizade.

Em março de 2010 partimos para Brasília para protocolar o PL 168/11! Foi um dia em que me senti útil, cidadã brasileira, exercendo seus direitos e viva, não apenas de passagem por esse mundo.

Recordo nossa esperança, temores e lembro que muitas vezes fiquei "surda" para os que tentavam me desanimar, ["não, não vai dar em nada; é mais uma coisa de político"] [...].

[Enfim, continuei firme.]

Nosso projeto começou [então] a tramitar e a primeira votação na CDH se deu exatamente no dia do falecimento do nosso saudoso José Alencar, Vice-Presidente da República [seu amigo].

[Ele faleceu. Estava sendo enterrado no seu Estado. Você estava sendo chamado para ir para lá, como tantos Senadores foram.]

Outra vez, caro Senador, [você me surpreende, e] me vêm a memória palavras que ficarão para sempre registradas na história dessa lei.

Lembro-me que não havia quórum, pois [...] [a maioria dos] Senadores estavam no funeral do Vice-Presidente [...] [e estávamos temerosos, pois não seria votado], às vésperas do dia 02 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo.

[Aí, Senador, as suas palavras comoveram a todos:] "Eu aqui permanecerei até que o último Senador apareça para votar! Estou preparado para passar a noite se preciso for! Daqui não sairei até que todos compareçam para votar pois as famílias das pessoas com autismo [que acompanhavam pela TV Senado, e outros que estavam ali ficaram a ouvir o seu respeito pelos familiares de autistas e pessoas autistas] merecem esse respeito"... Essas foram suas palavras que nos comoveram até as lágrimas... E assim foi feito.

[...] [Os Senadores que estava voltando do funeral atenderam o seu chamado] e a votação aconteceu! [...] [Tarde da noite, mas lembro que muitos lá chegaram, e votamos.]

Logo na semana seguinte passou [...] [por outra Comissão] [...].

    E assim foi.

[...]

Fernando Cotta, do Movimento Orgulho Autista em Brasília, se aliou a todos nós e começou a zelar pelo projeto, indo a lugares que muitas vezes eu e Ulisses não podíamos estar.

Percorreu gabinetes, argumentou [...].

    Enfim, aprovamos.

    Foi para a Câmara. O Deputado Hugo Leal, a Deputada Mara Gabrilli e Rosinha da Adefal, todos trabalharam muito para o projeto ser aprovado.

    Depois voltou para o Senado. O Senador Lindbergh foi o Relator. Na outra Comissão, o Senador Wellington Dias, ambos com filhos autistas. E a lei é aprovada.

Segue para o plenário, em suas mãos [diz ela] abençoadas, caro Senador Paim, onde nasceu junto conosco esse projeto que vem beneficiar dois milhões de famílias, dois milhões de corações!!!

Alguns podem [...] apenas [lembrar] o projeto [...]. [Mas aqui é bom saber da história.]

Eu, porém, posso ver muito além. Eu e o companheiro Ulisses, o Fernando Cotta, e tantos outros, estamos vendo o Brasil conhecer o autismo e nunca se falou tanto de autismo [...] [como se fala hoje].

Sua atitude inspirou outras atitudes, caro Senador!

Itaboraí, RJ, foi a primeira cidade brasileira a ter uma lei específica para o autista [...].

[Depois foi] Volta Redonda, RJ, [...], Ponta Grossa, no Paraná [...], Rio Bonito, RJ [...], e Fraiburgo, SC [...].

Como vê, os frutos não param de nascer.

É com grande respeito que lhe presto hoje uma homenagem sincera em nome de dois milhões de brasileiros que não cansam de [...] [lembrar] a vitória [da aprovação dessa lei] em plenário!

Quando um homem justo e bom decide fazer algo por seu semelhante, acredita nisso, e conduz seu intento com honestidade e firmeza, garra e determinação, esse homem [e o país vencem] [...], levando assim a vencer todos os que o seguem! Esse homem, Senador Paulo Paim [diz ela], é V. Exª, a quem tenho o orgulho de chamar de amigo, depois de tanto tempo em contato lutando por um ideal!

Dediquei grande parte de minha vida aos autistas brasileiros e dedicarei todo o resto dela, enquanto Deus me der vida e saúde. [Palavras delas].

Quero completar apenas com uma frase, caro Senador [que tirei do Hino do seu Rio Grande, Rio Grande que o conduziu para cá inúmeras vezes]: "Que sirvam vossas façanhas de exemplo a toda Terra".

Essa é a história de uma lei!

Abraços fraternos,

Berenice Piana de Piana

Mãe de Dayan, 18 anos, autista.

    A lei levou o nome dela: Lei Berenice Piana de Piana

    Meu amigo, Senador Telmário, li essa carta e deixo registrada aqui a agenda intensa que fiz pelo Rio Grande, conversando com todos – agricultores, trabalhadores da área privada, servidores públicos.

    Estive na região da seca, na região sul do nosso Estado, na região de São Lourenço, onde me relataram a situação em que se encontram. Segundo eles, após essa estiagem, os números chegam a R$70 milhões de prejuízo, ou seja, 50% do PIB agrícola daquela região.

    Eles também falaram sobre a situação total de famílias atingidas, quase 27 mil; famílias sem água, 1.355; produtores rurais de grãos atingidos, 14.500; produtores de tabaco atingidos, 9.950; produtores de leite atingidos, 2.927; produtores fruticultores atingidos, 604; produtores olericultores, 1.464.

    Lá foram colocadas diversas soluções. Eu confesso, Sr. Presidente, que na minha fala me somo, claro, a toda a Bancada gaúcha, Deputados Federais e Senadores, que estão também nessa caminhada; mas levantei a possibilidade de uma emenda de Bancada no sentido de atender a essa região, que todos os anos é assolada pela seca, pelo granizo e pelas tempestades, mas principalmente pelo granizo e pela seca.

    Fica aqui esse registro.

    E registro também que recebi a líder dos agricultores do meu Estado, ligada à Fetraf Sul (Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar da Região Sul), Cleonice Back, que também me atualizou sobre a situação da bacia leiteira e a dificuldade por que eles estão passando.

    Sr. Presidente, nestes minutos que me restam, ainda quero falar do desemprego no País.

    O desemprego aumenta, Sr. Presidente, de forma assustadora. O índice atingiu 12,6 no trimestre, 13,8 milhões de pessoas desempregadas. Os dados são do próprio IBGE. Os números, Sr. Presidente, conforme o IBGE, são alarmantes, da quantidade de desempregados no setor privado com carteira assinada. Esses, devido à própria reforma trabalhista, são os que mais estão sofrendo, porque pessoas estão sendo demitidas, e outras estão sendo admitidas via terceirização, trabalho intermitente, contrato autônomo exclusivo e o tal de negociado sobre o legislado. Com isso, os dados mostram que a massa salarial cai, o desemprego aumenta; porque, se as pessoas não têm emprego, não têm dinheiro para comprar, o comércio não tem como vender, e as empresas não têm como produzir, porque, se produzirem, não têm onde colocar.

    A manchete do jornal Folha de S.Paulo da semana passada é a seguinte: "Informalidade ameaça alta do PIB neste ano". E completa: "Renda dos sem carteira assinada é menor e já afeta consumo das famílias". Essa chamada revela que a informalidade está reduzindo a renda das famílias e tem, por consequência, salários mais baixos, com menos direitos, pois é justamente isso que a reforma trabalhista gerou.

    Além disso tudo, Sr. Presidente, eu quero aqui lembrar que, na hora de aprovar essa reforma trabalhista, o Governo Temer se comprometeu em vetar os piores artigos, como esse que eu citei e aquele outro que permite, infelizmente, que a mulher trabalhe em área insalubre, penosa e periculosa. Ora, isso prejudica a criança e também a mãe. Por isso, Sr. Presidente, eu estou muito chateado.

    O Governo baixou uma medida provisória, que ficou muito longe daquilo em que eles haviam se comprometido, mas até hoje não sabemos sequer quem vai ser o Presidente e quem vai ser o Relator da medida provisória, que vence amanhã. Amanhã encerra o prazo.

    Então, não houve veto; não haverá medida provisória. Aqueles sete, oito artigos piores vão ficar exatamente como estão. E quem vai pagar a conta disso vai ser o assalariado brasileiro, porque vai continuar o negociado sobre o legislado, rescisão de contrato feita até por correspondência – não precisa mais sindicato nem advogado acompanhar –, trabalho intermitente, contrato autônomo e mulher trabalhar em área insalubre, para citar alguns exemplos que lembro.

    Eu lamento muito porque o Governo deu mais uma vez um calote no povo brasileiro, porque a Medida Provisória 808, de 2017, foi para inglês ver. Fez que apresentou e, ao mesmo tempo, não deixou instalar a comissão, porque até hoje não sabemos quem é o Presidente nem o Relator, e o prazo vai encerrar amanhã. É lamentável que isto venha mais uma vez a acontecer: um calote na sociedade e na sua própria Base, porque ela, quando votou, acreditou que o Governo iria vetar os piores artigos.

    Lembro-me do Senador Romero Jucá na tribuna – acho que até ele foi enganado, porque eu vi que ele falava com tanta convicção. Eu vi o seu sorriso aí, que diz: "Não, não, essa não, Senador." Mas, enfim, eu vi o Senador Romero Jucá, da tribuna, ler um documento com a assinatura, inclusive, dos Presidentes das comissões dizendo que aqueles sete artigos seriam vetados. Não foi vetado nenhum. Não foi vetado nenhum!

    Presidente, eu quero aqui, ao concluir este trabalho – e dando para o registro todos os meus documentos –, dizer que fiquei muito chateado com um dos documentos.

    Olhem aqui: uma moça linda foi eleita na minha querida cidade – é querida a cidade, porque passo muito das minhas férias lá – de Tramandaí. A cidade, num gesto grande, bonito, escolheu para ser a representante da cidade de Tramandaí esta moça linda, Samen dos Santos, para disputar o Miss Rio Grande do Sul; para disputar com todas, democraticamente. Pois ela está sendo covardemente atacada nas redes sociais porque é negra.

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – E chegam a dizer: "Nunca vi afrodescendente bonita". Chegam a dizer: "Nunca vi uma negra querer ser rainha". A que ponto nós chegamos?

    E essas fake news, como falamos, são dos covardes que se escondem atrás daquele papel, porque não se fica sabendo quem é; mas a polícia está investigando.

    Então, eu quero aqui dar a minha total solidariedade. Não vou repetir tudo aqui com que eles a ofenderam pela internet.

    O que é isso? Onde estão as políticas humanitárias?

    É aquela pergunta que já alguém fez: que País é este onde querem medir a capacidade de um homem e de uma mulher e a sua própria beleza pela cor da pele? Que País é este?

    Na África do Sul, morreu hoje a Winnie Mandela, que foi perseguida quando o Mandela estava no cárcere, porque ela viajou o mundo todo defendendo a liberdade do Mandela. Eu estive na África do Sul, eu conversei com a Winnie Mandela, levei uma carta do povo brasileiro exigindo – foi aprovada no Congresso Constituinte – a libertação de Nelson Mandela. E foi ela quem nos conduziu.

    Então, no dia em que poderíamos lembrar aqui Nelson Mandela, poderíamos lembrar Winnie Mandela – Nelson Mandela já morreu, e hoje morreu a Winnie Mandela –; poderíamos lembrar Martin Luther King, um grande religioso, negro, que foi assassinado nos Estados Unidos; poderíamos lembrar aqui Zumbi dos Palmares, um líder que deu a sua vida e criou os quilombos onde eram bem-vindos negros e brancos, mas foi também assassinado; eu ter que vir a tribuna falar desses ataques? E não sabemos de onde vêm essas fake news, se são de outros Estados, enfim...

    Eu quero aqui deixar toda a minha solidariedade a ela, toda a minha solidariedade à Miss, toda a minha solidariedade a Tramandaí, na certeza de que ela denunciou, e o inquérito policial está acontecendo.

    E nós temos de acabar com essa covardia. Chega e fala com as pessoas. Agora, se esconder atrás de fake news? Presidente, eu já vi fake news sobre V. Exª, inclusive, como já existem sobre mim também, o que é um absurdo – um absurdo! Eles não respeitam a história dos homens e das mulheres. Eles discriminam. Eles ofendem. Eles mentem. E, depois, se escondem, se escondem...

    É sobre essa covardia que fizeram com essa menina que eu venho à tribuna do Senado falar neste momento. Podem crer que eu sou daqueles que vão durante toda vida combater qualquer tipo de discriminação, combater os preconceitos e vou pregar a liberdade, a democracia, direitos iguais e até o direito de divergir, sim, de opinião, pois isso é natural, não é, meu querido Senador?

    Agora, jamais vou concordar que alguém se esconda atrás do instrumento da tal fake news para ofender pessoas. Vou te dar um exemplo, Senador, e me permita aqui não concluir.

    Na história do Parlamento brasileiro, pode haver muitos Senadores que defenderam os idosos, mas eu tenho tudo documentado. Além, dos 147%, a primeira vez que houve alguém que tivesse aprovado uma lei que garantisse ao servidor... Casualmente é de minha autoria. A lei que substituiu o fator previdenciário 85/95 eu construí com o Tião Viana naquela cadeira ali. Primeiro, para os servidores públicos; depois, ampliamos para os trabalhadores do Regime Geral, garantindo que o trabalhador pudesse se aposentar com 30 anos de contribuição, a mulher, e 35, o homem; com 55 de idade, a mulher e 60, o homem. É lei, é lei.

    O Estatuto do Idoso, que V. Exª até comentou algumas vezes, é de nossa autoria. A única vez que o idoso ganhou 80% sobre o PIB, fomos nós que construímos aqui na Casa. Esses fakes covardes às vezes fazem provocação. Se querem fazer provocação, façam. Eu vou, durante a campanha, mostrar tudo que aprovei. Aprovei, claro. Entre leis que aqui aprovei e outras que como sugestão foram aprovadas no Executivo, pode-se chegar a 100 leis. Eu vou mostrar.

    Tudo aquilo, Senador, que eu apesentei como proposta de campanha eleitoral, tudo é lei. Não há uma que eu deixei de aprovar. Há uma que, se não me engano, aprovei aqui no Senado por unanimidade e está na Câmara, mas aqui eu aprovei tudo.

    De noventa por cento do meu programa, quando fui candidato ao Senado, tudo é lei. O que não foi aprovado na Câmara aqui eu aprovei: garantir que o aposentado voltasse a receber o número de salários mínimos que recebia na época em que se aposentou aqui eu aprovei, por unanimidade, e está lá na Câmara dos Deputados.

    Então, eu vou fazer um apelo ao Ministro Fux, que está trabalhando muito nesta questão. Não pode o pessoal atacar uma menina como essa só porque ela ganhou na sua região o título de rainha da região e vai concorrer à rainha do Rio Grande do Sul. Vi outro caso no Piauí semelhante a esse, é um caso semelhante. Ela se elegeu rainha do Piauí, Miss Piauí, e aquela disputa o título de Miss Rio Grande do Sul.

    Eu, para mim, branco, negro, índio... A beleza das pessoas, a capacidade das pessoas, a honra das pessoas, a ética da pessoa não se mede pela cor da pele, pelo amor de Deus!

    Eu vou terminar com uma frase que é do Nelson Mandela. Ele disse um dia: "Como é triste, como é hediondo você querer ensinar uma criança a odiar a outra pela cor da pele." Você chegar para uma criança negra e dizer: "Você não pode gostar dessa porque é branca." Ou chegar para uma criança branca e dizer: "Você não pode gostar dessa criança porque ela é negra." Isso é cruel demais! À medida que ela for crescendo, ela vai entender que mentiram para ela; que os pais mentiram, que lhe contaram mentiras como se fossem verdade. Isso abala qualquer um.

    Meu querido Senador, vamos ter eleições. Agora, que o povo decida, mas podem crer que, das causas que me mantiveram no Parlamento até hoje eu não abandono uma. Defenderei sempre brancos, negros, índios, ciganos, trabalhadores rurais, trabalhadores urbanos. Defenderei sempre as mulheres, como aqui sempre defendi. Defenderei sempre crianças e adolescentes, e vamos ter uma audiência pública amanhã, porque eu quero saber e vou demonstrar lá como se descobre quem são os assassinos da violência contra crianças e adolescentes.

    Assassinaram uma menina de sete anos – violentaram-na, estupraram-na e assassinaram-na. Está na cadeia! E aqui virá a polícia do Rio Grande do Sul para dizer como agiu para que isso acontecesse. É preciso que haja exemplos para o Brasil.

    Essa luta eu vou travar sempre, sempre, Senador, com muito orgulho, e com homens como V. Exª, porque sei que tem também esse compromisso.

    Claro que eu luto pelas coisas do Rio Grande, como V. Exª luta pelas coisas do seu Estado, mas eu sempre tenho um olhar para as pessoas. Para mim, não importa se é empresário, se é produtor rural, se é trabalhador rural, se é um simples estudante. Todos, para mim, são homens e mulheres. Nós temos que pensar nas pessoas em primeiro lugar, na qualidade de vida de todos.

    Eu sempre tive uma relação respeitosa, qualificada, de alto nível, e todos eles sabem, mesmo produtores rurais e mesmo grandes empresários. Tenho orgulho de dizer que, até hoje, sou funcionário do grupo Tramontina. Nunca tive um problema com o grupo Tramontina, desde que lá entrei até sair para ser dirigente sindical. E eles vieram me visitar aqui no Senado. Sempre tive uma relação excelente com as federações de empregados e de empregadores.

    Então, aqueles que, em véspera de eleição, começam a atirar pedras, eu diria – pela simbologia, atirar pedras –, na história de cada um não vão conseguir. O povo gaúcho e o povo brasileiro sabem quem é quem. Sabem quem é quem. Sabem quem é a Bancada gaúcha, como atua, como trabalha.

    Eu sempre digo: que os melhores voltem, em cada Estado, porque aqueles que mais atuam, que defendem as grandes causas, que voltem. E que haja a renovação daqueles que efetivamente não atenderam a expectativa da nossa gente, do povo gaúcho, do povo brasileiro, porque a lei que fazemos aqui não é uma lei que vale só para o Rio Grande. Uma lei aprovada aqui influencia a vida de 200 milhões de brasileiros. Por isso, o nosso compromisso é enorme.

    Enfim, vida longa ao bom senso. Vida longa àqueles que pregam a paz, a liberdade, a igualdade e a justiça. Vida longa a toda nossa gente. E vida longa à democracia.

    Obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – Senador Paulo Paim, antes que V. Exª saia da tribuna, eu quero ser solidário a esse manifesto que V. Exª fez com relação ao sucesso dessa moça na região, que foi escolhida na região...

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Por unanimidade.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – ... por unanimidade, como a que pudesse vir a disputar a miss do Rio Grande do Sul.

    Eu não tenho nenhuma dúvida de que esse fato que aconteceu com ela e que está acontecendo são fatos isolados. Esse não é o sentimento, jamais, do povo gaúcho. Tenho certeza absoluta disso, até pela eleição de V. Exª. Se V. Exª é reconduzido aqui há 30 anos, é porque o povo gaúcho não tem, na sua índole, na sua formação...

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Para concordar com V. Exª, de seis milhões de votos válidos, eu fiz quatro milhões.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – Pronto. Então, essa é a prova mais concreta.

    E V. Exª tem toda a razão e todo o direito de levantar a voz contra essa minoria, essa exclusão, esses fatos isolados, que acabam maculando toda uma sociedade, toda uma população que, por justiça, não merece isso. O Rio Grande do Sul, por justiça, não merece isso.

    Então, eu tenho certeza de que essa menina tem que entender que a vida é uma luta permanente, e a democracia não permite o sossego. E V. Exª veio para cá com essa missão. Se existe um Senador aqui que não tem sossego com relação aos cuidados para que a democracia não seja arranhada, não seja ferida, esse Senador se chama Paulo Paim. V. Exª é um dos primeiros a chegar aqui e um dos últimos a sair. V. Exª faz política com amor. V. Exª faz política não olhando, mas vendo. Ver é sentir, e V. Exª sente o que as pessoas realmente querem e do que precisam. Como V. Exª bem colocou, você não olha a cor, não olha a religião, não olha o estado social; você vê a pessoa e se coloca no lugar dela, e aí sente a problemática dela.

    Eu quero sempre louvá-lo, parabenizá-lo e dizer que...

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – ... V. Exª, sem nenhuma dúvida, é um orgulho do Parlamento brasileiro. O Rio Grande do Sul contribui bastante ao colocá-lo aqui, porque V. Exª usa esse mandato para defender principalmente aqueles indefesos, os excluídos. V. Exª diz aqui que sempre pautou seu trabalho aqui na defesa e que pode provar... E V. Exª ainda tem que recorrer a documentos e estar provando isso materialmente, o que é lamentável, mas faz parte um pouco da vida humana. O ser humano sempre está cobrando algum testemunho. Mas o maior testemunho são seus 30 anos, reconhecidos nesta Casa, em defesa do trabalhador brasileiro, do idoso brasileiro, do negro brasileiro, da criança, da mulher, do índio, dos excluídos da sociedade brasileira.

    Então, sem nenhuma dúvida, eu tenho orgulho de ter vindo a esta Casa, filho de uma empregada doméstica e de um vaqueiro, e sentar-me aqui do lado de grandes pessoas, de grandes figuras políticas. É verdade que há uns aqui que deveriam estar na cadeia, mas eles estão aqui porque a sociedade os colocou, estão aqui porque alguém os colocou, e nós temos que respeitar isso. Eu sempre digo que eu respeito as urnas. Pode até doer muito. Mas, neste momento de grande cruzada contra a corrupção, quero até apelar nesta nossa fala e dizer para a sociedade brasileira: não vamos esperar que a punição dos corruptos venha só do Judiciário ou só do Ministério Público, não. Vamos fazer a nossa parte! As urnas se aproximam, as eleições se aproximam. Analisem! O passado, o histórico, as propostas... Enfim, a partir daí você toma a sua decisão.

(Soa a campainha.)

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – O povo sofre muito, e isso é bíblico, quando é governado pelos maus. Então, nós temos como selecionar mais.

    "Ah, mas a política corrompe!". Não, isso não é verdade. Não é a política que faz ninguém virar ladrão. É quando você vota em ladrão ou em quem tem indícios disso e o coloca na política. O nosso Parlamento não merece ter hoje a imagem tão desgastada que nós temos. Quem erra somos todos nós da sociedade, ao depositarmos o nosso voto nas urnas.

    Eu vejo aqui esses servidores do Senado, de prontidão. Eu sempre digo que, se os Senadores correspondessem, Senador Cristovam, à capacidade dos servidores do Senado, eu não teria nenhuma dúvida de que a sociedade brasileira estaria muito mais servida de políticas públicas, com mais celeridade, com interesses individuais sendo banidos e de que o coletivo iria prevalecer.

    Portanto, eu quero aqui ser solidário a V. Exª nessa manifestação em favor dessa moça e dizer para ela: levante a cabeça, dê a volta por cima. Talvez esse tijolo que colocaram hoje no seu caminho amanhã vai construir a sua vitória. Vá em frente! O Brasil é nosso.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Muito bem! O Senador Cristovam chegou. Quero só lhe dizer que o seu documento foi lido – eu li o seu documento – e que V. Exª foi muito aplaudido.

    Um dos líderes daquele momento, da primeira vez em que nós iluminamos aqui o prédio com a cor azul, lembrou que V. Exª estava lá, eu estava lá, e foi um símbolo da luta em defesa dos autistas.

    V. Exª foi muito aplaudido embora não estivesse lá.

    O SR. PRESIDENTE (Telmário Mota. Bloco Moderador/PTB - RR) – O Senador Cristovam tem o hábito de dizer, ele é uma sabedoria em pessoa... Eu digo que, quando chegamos a esta Casa e falamos o nome de Cristovam, é sinônimo de educação; Paim, é sinônimo de proteção ao trabalhador. E assim outros têm essa configuração. Existem uns que são sinônimos da corrupção! Existe tudo isso aqui. Aqui também há essas coisas.

    Agora, o Senador Cristovam tem a mania de dizer o seguinte: "A bola tem que ser redonda para todos! No futebol, nasce um craque lá na periferia, lá na várzea, porque a bola é redonda." Por isso que o Senador Cristovam sempre pede: "Vamos fazer da educação brasileira uma bola redonda. Assim, nós vamos ter uma sociedade mais justa, mais igualitária, uma sociedade mais inteligente e com maior desenvolvimento. E nós vamos ter um Parlamento que vai nos orgulhar muito!".

    Senador Cristovam com a palavra.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Só para lembrar que o senhor estava falando que o Paim defende trabalhadores, idosos e que eu defendo a educação.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – E o senhor defende os índios, sempre está aqui presente na defesa da população indígena no Brasil, o Estado de Roraima, com um vigor que me surpreende, porque eu sei as dificuldades que o senhor enfrenta na política local. Poucos Estados têm uma política tão acirrada e difícil quanto Roraima, e o senhor sempre está na batalha. E agradeço ter lembrado essa metáfora que eu sempre faço com a bola. A bola permite, por ser redonda para todos, que negros e pobres cheguem à Seleção Brasileira de futebol. E a gente não vê intelectuais, não vê doutores, de origem pobre e de origem negra, exatamente porque a escola é quadrada para os pobres desde o início. A gente precisa redondear as escolas, fazer com as escolas o que a gente fez com o futebol: bola redonda para todos. E quero lembrar que, no Brasil, nós corremos o risco, Senador Paim, de perder isso, não porque a bola vai ficar quadrada, mas porque, além da bola, para ser um futebolista, é preciso ter um campo de pelada, e os campos de pelada estão desaparecendo por causa da violência urbana e da especulação urbana, da especulação imobiliária. Agora mesmo, no Rio, uma quadra dessas, em que o povo vai jogar, vai ser transformada em prédios. Uma quadra de um clube desses, bem popular, que tem quase cem anos, vai acabar. E hoje as mães não deixam as crianças irem bater bola nas quadras que ainda existem, com medo de bala perdida, com medo de violência. Então, nossas crianças estão começando a ser impedidas de jogar bola. O que é que vai acontecer? Para ser futebolista, vai ter que ser sócio de um clube, onde vai existir um campo protegido das balas perdidas e da especulação. É como se fosse um condomínio para poder jogar bola. E só vão terminar grandes jogadores aqueles que puderem entrar num campo que pertence a um clube. Agora, quem vai perder com isso? Não só os pobres, não só esses que não vão entrar: o Brasil vai perder, porque milhares e milhares de grandes craques vão deixar de chegar ao desenvolvimento do seu talento, porque não tiveram oportunidade – o que acontece com a educação. Por isso a gente não tem nenhum Prêmio Nobel no Brasil, porque a escola é quadrada para alguns e redonda para outros. É preciso redondear as escolas. E sei que isso é uma luta do Paim, é uma luta do senhor e de todos os que têm o sonho de um Brasil melhor.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Muito obrigado, Senador Cristovam. De minha parte, V. Exª sempre é muito diplomata. E, toda vez que V. Exª fala, pode saber que grande parte do Brasil está ouvindo o seu ensinamento.

    Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/04/2018 - Página 41