Pronunciamento de Ana Amélia em 18/04/2018
Discurso durante a 50ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Indignação sobre entrevista dada pela Senadora Gleisi Hoffmann à Rede Al Jazeera pedindo apoio pela liberdade do ex-presidente Lula.
- Autor
- Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
- Nome completo: Ana Amélia de Lemos
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ATIVIDADE POLITICA:
- Indignação sobre entrevista dada pela Senadora Gleisi Hoffmann à Rede Al Jazeera pedindo apoio pela liberdade do ex-presidente Lula.
- Aparteantes
- Humberto Costa.
- Publicação
- Publicação no DSF de 19/04/2018 - Página 25
- Assunto
- Outros > ATIVIDADE POLITICA
- Indexação
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- COMENTARIO, CONTEUDO, VIDEO, GLEISI HOFFMANN, SENADOR, MULHER, DECLARAÇÃO, OFENSA, JUDICIARIO, MINISTERIO PUBLICO, IMPRENSA, DESRESPEITO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, CRITICA, POLITICA EXTERNA, PAIS, BRASIL, REGISTRO, RECUSA, PEDIDO, DEFESA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, MANIFESTAÇÃO, O GLOBO.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nossos telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, eu vou repetir aqui o que, na Comissão de Constituição e Justiça, nesta manhã, já falei, porque fui surpreendida com um vídeo que me foi enviado por, pelo menos, dez fontes diferentes, de várias partes do nosso País.
Nesse vídeo, a Srª Senadora Presidente do Partido dos Trabalhadores faz uma exortação para apresentação na rede da TV Al Jazeera, com sede no Catar, fazendo afirmações graves, denegrindo a imagem do Poder Judiciário brasileiro, do Ministério Público brasileiro, atacando a imprensa do nosso País de uma maneira que não respeita os princípios, eu diria, constitucionais e da boa relação que temos com as instituições e, mais ainda, não entendendo que o País vive uma democracia e um Estado democrático de direito.
Exatamente por isso, penso que essa mensagem que chega ao ponto de dizer que a política externa brasileira é determinada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos é eivada de uma falta de fundamentos e de respeito com quem está servindo hoje à diplomacia e à Casa de Rio Branco.
Eu queria dizer que, há pouco, o TRF 4, por unanimidade, mais uma vez, não aceitou o pedido da defesa do ex-Presidente Lula, também lembrar que 84% da população brasileira, em pesquisa recente do Datafolha, acaba de apoiar a Operação Lava Jato e que também a maioria da população brasileira é favorável à prisão em segunda instância.
Nós temos não um processo que tenha por base apenas aquilo que o PT consigna chamar de perseguição política porque, nesta semana, precisamente, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal denuncia, por unanimidade, o ex-Presidente do PSDB Senador Aécio Neves por corrupção. Ou seja, a lei é a mesma para todos. Aqui tem que se entender desta forma. A lei é igual para todos, e ninguém está acima dela.
Eu queria dizer que, depois de ter perdido o poder, em 2016, por um processo de impeachment legítimo, baseado e fundamentado na Constituição brasileira, aqui presidido pelo Ministro Ricardo Lewandowski, e de ter perdido também o apoio popular em alguma medida que esperava ter quando foi decretada a prisão do ex-Presidente Lula, quando se imaginava que milhares e milhares de brasileiros estariam ali fazendo uma recusa ao que aconteceu, mas nada disso... Tão somente a militância do Partido dos Trabalhadores, através dos seus diversos movimentos, é que foi à sede do sindicato do ABC paulista naquela vigília que durou mais de 24 horas, enquanto o ex-Presidente se apresentava à Justiça, como determinava o Juiz Sérgio Moro, que comanda a Lava Jato.
Eu queria dizer que aqui também foi reconhecido, há pouco, que a visita que os Senadores fizeram à sala do Estado-Maior da Polícia Federal em Curitiba revela que o Presidente está em instalações razoáveis e sendo bem tratado.
Discutir se isso é ou não prisão política cabe apenas ao discurso de quem, não tendo argumentos para fazer uma defesa consistente para provar a inocência do réu, vale-se do discurso político, que é um direito, mas não é correto do ponto de vista da realidade.
Só espero que, dada a gravidade do conteúdo dessa exortação publicada pela TV Al Jazeera para essa convocação ao apoio dos países do mundo árabe, não tenha sido também um pedido para que o Exército islâmico venha ao Brasil atuar aqui e que aqui não estejamos tratando de uma possível incursão na Lei de Segurança Nacional, a Lei nº 7.170, de 1983, que, no seu art. 8º, explica do que se trata a incursão na Lei de Segurança Nacional.
A Lei de Segurança Nacional, no seu art. 8º, diz: "Art. 8º - Entrar em entendimento ou negociação com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, para provocar guerra ou atos de hostilidade contra o Brasil."
Essa hostilidade pode estar entendida exatamente naquilo que a gente suspeita que possa ter sido o objetivo dessa manifestação publicada, nesta semana, pela TV Al Jazeera, com sede no Catar e com grande repercussão e influência no mundo árabe.
A propósito, eu gostaria que...
O Sr. Humberto Costa (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Peço um aparte a V. Exª.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Já lhe concederei, Senador Humberto Costa.
Eu peço, por gentileza, ao Sr. Presidente desta sessão, Senador João Alberto, a transcrição do texto, por escrito, dessa manifestação feita pela Presidente do PT à TV Al Jazeera, bem como do editorial de hoje do jornal O Globo, cujo título é "Aécio convertido em réu abala teoria persecutória do PT". Vou ler apenas um texto, mas peço que, na íntegra, um e outro texto sejam transcritos nos Anais do Senado Federal como documentação histórica.
Leio o texto do jornal O Globo:
A Primeira Turma do Supremo [Tribunal] prestou um serviço ao Judiciário, ao Ministério Público e a todo organismo do Estado que atua contra a corrupção nos elevados escalões públicos.
A aceitação da denúncia contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) por corrupção, pela unanimidade dos cinco ministros da Turma – Marco Aurélio Mello, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Alexandre de Moraes –, e por obstrução da Justiça, esta acusação acolhida por 4 votos a 1, reforça a imagem de independência do MP e do Judiciário, acusados em discursos políticos de visar apenas ao PT.
[Prossegue o editorial.]
Por coincidência pedagógica, a aceitação da denúncia contra o senador da oposição, feita ainda pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot e referendada por Raquel Dodge, sua sucessora, ocorre não muito tempo depois da rejeição, pelo STF, de pedido de habeas corpus em favor de Lula, com a consequente prisão do ex-presidente, condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Assim avança a República – [diz o editorial].
Como se já não fossem suficientes demonstrações da atuação pluripartidária do Estado na operação de limpeza da vida pública – há tucanos, emedebistas e outros [inclusive progressistas do meu partido] em diversas fases de inquéritos no ramo da corrupção –, agora o senador mineiro Aécio Neves, ex-presidente do partido, último dos candidatos da legenda a Presidente da República, terá de se defender no STF da acusação de corrupção no relacionamento com Joesley Batista, da JBS, e de atuar contra a Lava-Jato (obstrução de Justiça).
Então, sugiro a transcrição.
Concedo um aparte ao Senador Humberto Costa e, depois, ao Senador José Medeiros.
O Sr. Humberto Costa (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Senadora Ana Amélia, primeiro eu realmente, até hoje, não estou conseguindo entender qual é a estratégia que V. Exª adotou para a condução do mandato de V. Exª, que eu reconheço é um mandato de qualidade. V. Exª tem sempre apresentado propostas interessantes, muitas vezes temos divergências, mas reconheço que V. Exª é uma boa Senadora.
(Soa a campainha.)
O Sr. Humberto Costa (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – No entanto, já há algum tempo, V. Exª tem praticamente se concentrado, única e exclusivamente, em fazer ataques frontais ao PT, ao Presidente Lula, o tempo inteiro, quase que espezinhando uma pessoa que está presa, condenada injustamente – V. Exª pode ter a visão de que não foi injustamente, mas isso não dá direito a nenhum de nós de promover esse tipo de espezinhamento, de humilhação. Acho que V. Exª inclusive não precisa disso. V. Exª é uma pessoa que tem uma postura extremamente aberta, e há tantos problemas a serem discutidos no Brasil, e V. Exª apenas diuturnamente a relembrar todo o calvário que o Presidente Lula está vivendo, a atacá-lo sem que ele possa inclusive se defender.
(Interrupção do som.)
O Sr. Humberto Costa (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Espero que V. Exª retome a boa linha do mandato, que sempre desenvolveu aqui.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Caro Senador Humberto Costa, lamento profundamente que V. Exª não tenha entendido. Em nenhum momento, há, de minha parte, prazer, alegria e regozijo com a prisão do ex-Presidente.
Conheci o ex-Presidente Lula e convivi com ele como jornalista e repórter. Tive também um convite dele: fui a primeira jornalista a visitar o início das obras da duplicação da 101, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. E reconheço todos os benefícios que ele fez como Presidente da República no campo social. Mas isso não me dá o direito, Senador, como Senadora do meu Estado do Rio Grande do Sul, a não reconhecer os crimes praticados.
E não sou eu, Senadora, que trata...
(Soa a campainha.)
O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. Bloco Maioria/PMDB - MA) – Para concluir, Excelência.
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Eu pediria a V. Exª, dada a relevância do tema, que pelo menos mais dois minutos V. Exª me concedesse, como tem feito generosamente, Senador.
Não é a Senadora que está abordando isso, mas é a Justiça, Senador Humberto Costa, é a Justiça em várias instâncias. Então, nós temos que ter clareza sobre isso.
E a militância que está defendendo o Presidente lamentavelmente, no meu Estado, nas paralisações e nos chamados trancaços, hoje impediu que filhos de uma família que precisavam fazer quimioterapia em Porto Alegre pudessem fazê-la, Senador. E V. Exª, que foi Ministro da Saúde, sabe do que estou falando, sabe da relevância que tem isso.
Então, falo dessas coisas. Eu admito o contraditório, tenho um respeito enorme pela democracia, que é o que nós vivemos, e, por respeitar a democracia e as instituições do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal e a imprensa livre no Brasil é que acho...
(Soa a campainha.)
A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... exagerado, inadequado e também injusto o pronunciamento feito pela Senadora Presidente do PT à TV Al Jazeera, para o mundo árabe. Eu penso que dessa forma nós não vamos a lugar algum.
Mas tenho a noção exata das minhas limitações e daqueles conteúdos que aqui, nesta Casa, tenho ponderado: nunca me regozijando com a dor, o desprezo ou qualquer situação de sentimentos que tenha em relação ao ex-Presidente. Apenas institucionalmente tenho me manifestado aqui e é dessa forma que vou continuar trabalhando em relação a esses temas.
Muito obrigada, Presidente desta sessão, Senador João Alberto.
DOCUMENTOS ENCAMINHADOS PELA SRª SENADORA ANA AMÉLIA.
(Inseridos nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)
Matérias referidas:
– Manifestação feita pela Presidente do PT à TV Al Jazeera;
– "Aécio convertido em réu abala teoria persecutória do PT", Jornal O Globo, de 18/04/2018.