Discurso durante a 95ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro da comemoração dos 110 anos da imigração japonesa no Brasil.

Autor
Pedro Chaves (PRB - REPUBLICANOS/MS)
Nome completo: Pedro Chaves dos Santos Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Registro da comemoração dos 110 anos da imigração japonesa no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/2018 - Página 13
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, IMIGRAÇÃO, PESSOAS, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, DESTINO, BRASIL, REGISTRO, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO, PAIS.

    O SR. PEDRO CHAVES (Bloco Moderador/PRB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, o nosso boa-tarde.

    Comemoramos, no dia 18 de junho, os 110 anos da chegada da primeira leva de imigrantes japoneses ao Brasil. Os 781 pioneiros, de 165 núcleos familiares, enfrentaram 52 dias de viagem marítima, desde o porto de Kobe, no Japão, até Santos, a bordo do navio Kasato Maru, em 1908.

    Teve início, naquele momento, o importante laço permanente que estabelecemos com a Terra do Sol Nascente, 28 anos depois das primeiras tentativas de aproximação diplomática e comercial levadas a cabo ainda no nosso Segundo Reinado.

    A chegada dos imigrantes japoneses atendia à necessidade brasileira de expansão da mão de obra voltada ao nosso principal produto de exportação da época, o café. Também auxiliava a política de incentivo à emigração de trabalhadores por parte do governo japonês, às voltas com problemas resultantes da escassez de terras férteis e preocupante desocupação da população devido às mudanças introduzidas pela Revolução Meiji, na segunda metade do século XIX.

    Ao longo do século XX, quase 200 mil japoneses se instalaram no País, gerando uma descendência que já ultrapassou a casa dos 2 milhões de pessoas. O Brasil detém, assim, a maior colônia japonesa fora do Japão.

    Os japoneses e seus descendentes nikkeis se tornaram referência em diversos setores da vida nacional, incluindo o cultural, o que surpreenderia bastante alguns que acreditavam, até meados do século XX, que a aparente distância entre as culturas seria a barreira definitiva jogando contra a integração.

    O impacto da presença japonesa em nosso País foi sentido muito rapidamente. A intenção dos contratantes brasileiros era de que os japoneses trabalhassem nos cafezais do oeste paulista, fronteira agrícola da época, em regime assalariado. Entretanto, Sr. Presidente, a realidade dos baixos salários e dos descontos correspondentes ao endividamento junto aos contratantes acabou por afastar da exclusividade agrícola boa parte dos quadros, diversificando suas atividades no comércio e serviços.

    O regime de parceria, onde os imigrantes eram mais autônomos e responsabilizavam-se pelas fases iniciais de implantação dos cafés, reduziu os problemas. Aqueles, entre os imigrantes, com verdadeira vocação agrícola tornaram-se fundamentais na nossa agricultura brasileira.

    Desde então, a colônia japonesa é reconhecida pela seriedade, sobriedade, respeito e ordem com que trata as questões do trabalho. Como resultado, no final dos anos 30, já eram responsáveis pela produção de 46% do algodão no solo brasileiro, 57% da seda e 75% do chá brasileiro. Aclimataram várias espécies vegetais, permitindo que incorporássemos aos nossos hábitos alimentares mais de 50 delas, incluindo o caqui, a maçã Fuji, a mexerica poncã e o morango – isso graças, na verdade, à cultura japonesa. Destacaram-se na formação dos cinturões verdes que cercam as grandes cidades brasileiras, abastecendo boa parte de legumes e hortaliças dos grandes centros até os dias de hoje. Da mesma forma, a expansão da produção de fibras vegetais a partir do rami e da juta muito se deve a esse grupo.

    Não só inovaram nos produtos, mas na forma de produção. E notável a contribuição japonesa para o cooperativismo agrícola brasileiro. Em tempos mais recentes, inovaram nos métodos de gestão, especialmente nas áreas industriais.

    A colônia japonesa sempre deu grande ênfase à educação. No início, quando acreditavam que a experiência brasileira poderia ser temporária, a educação serviria para não perder contato com a pátria-mãe. Os próprios imigrantes tinham nível cultural respeitável: nos primeiros 30 anos de imigração, a taxa de alfabetização dos imigrantes japoneses desembarcados em São Paulo era de quase 90%, muito acima da taxa nacional, que girava, na época, em torno de 30%. Depois, percebendo que a integração na sociedade brasileira era inevitável – e a ascensão, necessária –, apostaram fortemente na formação técnica e científica para todos os seus filhos. Desde a década de 90, estima-se que mais da metade dos nipo-brasileiros em idade adulta possuem algum grau de educação universitária, contra a atual média nacional de pouco mais de 15%. A média de escolaridade dos descendentes é de 8,1 anos, segundo o IBGE, contra 4,7 anos do total da população brasileira.

    Por trás desses números, Sr. Presidente, o respeito pela educação, pela escola, pela hierarquia e pela meritocracia está sempre presente na cultura japonesa.

    Como resultado, notamos, a partir dos anos 1960, crescente número de nikkeis em postos importantes nas indústrias, nas universidades, especialmente naqueles postos ligados à ciência e tecnologia, além de terem-se mantido como referência em agronomia e áreas correlatas.

    O Brasil, de sua parte, está honrado em receber, no seio da população brasileira, os japoneses e ter sido escolhido como morada definitiva para eles e todos os seus descendentes.

    Aqui, no Brasil, o Estado do Mato Grosso do Sul é o lar da terceira maior colônia japonesa, atrás apenas de São Paulo e do Paraná.

    A chegada de japoneses em Mato Grosso do Sul foi relativamente precoce. Vieram 75 deles, de 26 famílias das levas iniciais de pioneiros, atraídos pelo trabalho na construção de estradas de ferro, mais bem remunerado do que a atividade agrícola.

    Já em 1909, deslocaram-se, por via marítima e fluvial, subindo o estuário do Rio da Prata até Porto Esperança, onde se juntaram a outros japoneses, vindos da Argentina e do Peru, e foram incorporados aos trabalhadores da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, eixo do povoamento e desenvolvimento de Mato Grosso do Sul.

    Com a estrada completada, em 1915, alguns trabalhadores, a maioria de origem em Okinawa, se fixaram na região, sendo o primeiro deles Kosho Yamaki, que adquiriu, em 1914, uma pequena chácara em Campo Grande.

    A partir de 1917, outras famílias okinawanas se instalaram a poucos quilômetros do pioneiro, fundando a Colônia do Segredo.

    Em pouco tempo, acompanhando o crescimento da cidade, Campo Grande formou um cinturão verde, onde se destacam 23 núcleos japoneses, instalados entre 1914 e 1960. Seus descendentes representam hoje, aproximadamente, 10% da população da nossa capital, segundo a Associação Nipo-Brasileira.

    Outro polo significativo em meu Estado é a região de Dourados, onde os japoneses começaram a chegar em meados da década de 1930.

    Na implantação da Colônia Agrícola de Dourados, houve significativa participação japonesa, especialmente depois que o fazendeiro Yassutaro Matsubara, de Marília, São Paulo, conseguiu a destinação de mil lotes para famílias japonesas junto ao querido Presidente Getúlio Vargas. Já começou aí a primeira reforma agrária.

    Matsubara também foi o responsável, na década de 1950, por atrair japoneses para cidades mais ao norte, no atual Estado do Mato Grosso, onde a colônia envolveu-se no cultivo e produção de borracha na Gleba Rio-Ferro.

    A presença japonesa beneficiou, em muitos aspectos, o Mato Grosso do Sul, assim como todo o País.

    Hoje, com a miscigenação e a integração, já no início da quinta geração japonesa no Brasil, vimos a crescente incorporação de valores orientais importantes na cultura daquelas regiões onde optaram por se instalar.

    Nos tempos que vivemos hoje, a valorização da família, da sabedoria dos idosos – porque eles têm grande respeito aos idosos –, da tradição, da educação, do trabalho, do respeito à autoridade, a valorização do conhecimento e do esforço, na forma da milenar tradição japonesa, são acréscimos bem-vindos ao patrimônio cultural brasileiro, multiétnico por excelência.

    A presença física e cultural facilitou a aproximação econômica. Hoje o Japão é um dos grandes parceiros comerciais brasileiros, inclusive no que diz respeito à transferência de tecnologia, essencial para a sustentação do nosso crescimento. Grandes empresas de matriz japonesa participam ativamente do nosso mercado, do nosso dia a dia.

    O fluxo de trabalhadores nascidos no Brasil em direção ao Japão também é notável a partir da década de 1980. O Japão tem a terceira maior colônia de brasileiros no exterior.

    Fomos nações opostas por desígnios geográficos. Nós nos aproximamos e trocamos o que tínhamos de mais precioso: nossas culturas e nossos valores, levados por nossos cidadãos. E seremos, cada vez mais, irmãos de sangue, além de parceiros econômicos.

    Arigato, japoneses e seus descendentes! Que nossos laços durem mais 10 mil anos. Banzai!

    Tenho dito.

    Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/2018 - Página 13