Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexão a respeito dos desafios a serem enfrentados pelo próximo Presidente da República.

Autor
Ione Guimarães (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/GO)
Nome completo: Ione Borges Ribeiro Guimarães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Reflexão a respeito dos desafios a serem enfrentados pelo próximo Presidente da República.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2018 - Página 36
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, DIFICULDADE, ATUAÇÃO, FUTURO, GESTÃO, GOVERNO FEDERAL, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEPUTADO FEDERAL, JAIR BOLSONARO, ENFASE, NECESSIDADE, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA, CRIAÇÃO, EMPREGO, PAZ, UNIÃO, POPULAÇÃO, PAIS.

    A SRª IONE GUIMARÃES (PTB - GO. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, foi com muita honra e orgulho que exerci, por dois meses, o mandato de Senadora da República, após a licença da Senadora Lúcia Vânia.

    Esse período de exercício do mandato foi de enorme aprendizado para mim. O Brasil é um País complexo, diverso e enorme, com mais de 200 milhões de habitantes, mas ao mesmo tempo delicado, porque precisa de autoestima e de identidades únicas.

    O povo brasileiro é especial porque, se perder a delicadeza do gesto, a gentileza do trato, a disciplina social, a noção de autoridade e o respeito às tradições e à família, torna-se frágil, se divide e, com isso, se fragmenta como Nação.

    Foi com essas premissas em vista que procurei nortear minha breve, porém muito proveitosa atuação como Senadora da República. E são exatamente essas mesmas premissas que gostaria de deixar como legado para meus pares aqui, no Senado, bem como para o novo Governo que se inicia em 1º de janeiro de 2019.

    Acredito que o político, como representante da vontade popular, tem de ter sempre isto em mente: de um lado, a consciência do coletivo, a capacidade de pensar em termos de política pública; e, de outro, a sensibilidade da delicadeza do indivíduo, que, na sua pequenez, na sua ínfima existência frente ao coletivo de centenas de milhões, é a verdadeira razão de ser de todo Governo. Se o indivíduo não estiver feliz, íntegro, saudável; então o coletivo com certeza também não estará.

    Por isso, Sr. Presidente, como acabei de dizer, é preciso que o governante tenha em vista sempre essa delicadeza do gesto, essa gentileza do trato, a disciplina social, a noção de autoridade e o respeito às tradições e à família. De outra forma, a sociedade torna-se frágil e se fragmenta.

    O processo eleitoral que acabamos de viver no Brasil foi um dos mais traumáticos, ou, talvez, o mais traumático da história recente da Nação. Eu digo isso na condição de médica, na condição de quem tem um olhar especialmente atento a pequenos detalhes que, no fim das contas, fazem grande diferença na saúde e no bem-estar das pessoas.

    Para me fazer mais clara, gostaria de citar um pequeno texto extraído das redes sociais:

Nesta eleição, perdemos todos. Teve gente que perdeu a vergonha de dizer coisas que não deveriam ser ditas em público. Teve gente que perdeu o respeito pelos que considerava amigos, teve gente que perdeu o carinho pelos familiares. Teve gente que perdeu o senso de segurança, de legitimidade, de pertencimento. Muita gente perdeu a máscara – de um jeito que quase não tem volta.

    Sei que há aqui, entre as Sras. Senadoras e os Srs. Senadores, vários economistas, engenheiros, bacharéis em Direito, médicos, mas, como médica, vejo algo que talvez os senhores não vejam. Vejo que nosso povo padece, no momento, de uma grande dor, de um sofrimento emocional único, porque esta última eleição foi, de fato, diferente das outras.

    E é nesse sentido que desejo deixar uma breve e singela mensagem aos novos governantes que assumirão a direção do País a partir de 1º de janeiro próximo.

    Senhor futuro Presidente Bolsonaro: a primeira coisa de que o nosso País precisa é de um curativo para suas feridas e de um caloroso e aconchegante abraço. O senhor, agora, será Presidente de todos os brasileiros. Depois disso, é claro, vem a área econômica. O País precisa voltar a crescer! A população precisa de emprego!

    Como médica, Senhor Presidente, aprendi a diagnosticar a doença, mas também aprendi que cada doença tem sua origem. Pode ser um vírus, pode ser uma bactéria, mas muitas vezes também pode ser um problema psicossomático que reverbera em áreas inesperadas.

    Casos de violência doméstica, por exemplo, são inaceitáveis. Nenhum homem tem desculpa para agredir sua esposa, companheira ou filhos.

    Mas, pensando em termos de políticas públicas, se esse marido ou companheiro tivesse um emprego digno, será que ele não evitaria o bar, não evitaria a bebida, não passaria a tratar melhor sua esposa ou companheira? A gente discute tanta coisa em política, mas esquece que um emprego decente para um pai de família, uma mesa posta, a barriga das crianças cheia, isso faz muita diferença! Acredito que o emprego esteja diretamente relacionado com a condição de cidadania dos indivíduos.

    Esse é o meu modesto recado de despedida para o próximo Presidente da República, Sr. Jair Bolsonaro: embora a política seja complicada, as pessoas precisam de pouco para viver e ser felizes. Precisam de quatro "esses": salário, ou seja, emprego; segurança, saúde e saber, ou seja, educação.

    Se o senhor, se nosso governo e nosso Congresso conseguirem prover isso para as pessoas, teremos um País melhor. Parece simples, e, na verdade, é simples.

    Saúde se escreve com "s", um "s" maiúsculo de pessoas que se sentem bem consigo mesmas.

    O que quero dizer com isso, Sr. Presidente, é que, se as pessoas tiverem emprego, saúde, segurança e educação, a sociedade certamente prosperará, não só materialmente, mas também em termos psicológicos e pessoais.

    Finalizo com uma velha história que ouvi há muitos anos:

    Uma vez, um velho professor recebeu sua neta em sua casa. Ele estava ocupado e precisava distrair a menina. Então, pegou um mapa-múndi e o picotou em centenas de pedaços. Pediu, então, à garota que montasse o quebra-cabeças...

    Qual não foi sua surpresa, quando, apenas 15 minutos depois, a menina apresentou o mapa-múndi todo montado. Ele perguntou à neta: "Como conseguiste montar um mapa tão complicado?"

    Ao que a menina respondeu: "Vovô, no verso da imagem, havia a foto de uma pessoa. Eu montei a pessoa, e o mapa-múndi automaticamente ficou correto."

    Então é isso, Sr. Presidente, neste momento em que me despeço desta rica experiência como Senadora da República – ao menos por enquanto –, quero deixar meus votos de que o Brasil volte a se desenvolver de forma sustentável. Especialmente, respeitando as preferências e características individuais de seus cidadãos, a sua diversidade, sem o que não teremos qualquer terreno para o desenvolvimento econômico tão necessário ao nosso progresso como Nação.

    Muito obrigada e um grande abraço a todos e a todas com quem convivi durante esses meses como Senadora da República.

    Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigada a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2018 - Página 36