DISCURSO ENCAMINHADO À PUBLICAÇÃO, NA FORMA DO DISPOSTO NO ART. 203 DO REGIMENTO INTERNO.

    O SR. VENEZIANO VITAL DO RÊGO (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) - Quando um regime autoritário se instala, uma das primeiras medidas é, invariavelmente, agrilhoar a imprensa. Assim, elimina-se o direito ao pluralismo de ideias; pasteurizam-se as mentes; sacrifica-se a Liberdade.

    Um País que repudia a intolerância e zela pela Democracia precisa apoiar e se orgulhar-se de sua imprensa livre!

    E o Brasil tem todos os motivos para rejubilar-se da qualidade de seus veículos de comunicação, que têm resistido, ao longo da história, aos projetos antidemocráticos que eventualmente se instalam no poder.

    Hoje, Sr. Presidente, celebramos o aniversário da Folha de S.Paulo, um dos mais importantes periódicos brasileiros, muitas vezes premiado e reconhecido internacionalmente por sua qualidade, independência e compromisso com a opinião pública.

    Fundada em 19 de fevereiro de 1921, a Folha de S.Paulo traçou uma belíssima história de aperfeiçoamento tecnológico, qualificação de seus profissionais e de resistência aos arroubos autoritários em momentos de turbulência política.

    Em quase um século de história, a Folha se notabilizou pelo compromisso com o pluralismo e pela defesa intransigente da liberdade de expressão. E, ao longo dos anos, quanto mais acompanhava os desenvolvimentos tecnológicos do setor, mais qualidade impunha no exercício do papel de órgão difusor de informação.

    Entre muitas outras inovações, a Folha de S.Paulo foi o primeiro jornal brasileiro a utilizar os infográficos, recursos visuais que apresentam as informações de forma mais objetiva e acessível ao público leitor.

    Sras. Senadoras, Srs. Senadores, ilustres convidados, ao tratar da modernização do jornalismo brasileiro, é necessário dar o devido destaque a Otávio Frias Filho, que, além de jornalista, também era ensaísta e dramaturgo.

    Otávio foi diretor de redação da Folha de S.Paulo e diretor editorial do Grupo Folha. Esteve por 34 anos à frente do jornal e faleceu em setembro de 2017. Sua gestão, entre outros princípios, guiou-se pela meta de consolidar o veículo como referência no jornalismo apartidário, pluralista, crítico e independente.

    Sua vida no jornalismo foi repleta de atuações memoráveis!

    Os que acompanham a história do jornalismo brasileiro se recordam de seu relevante trabalho, ao conduzir a Folha de S.Paulo na campanha pelas "Diretas Já", em 1983. O jornal teve um papel decisivo, de liderança, em relação aos demais órgãos de imprensa.

    Pouco tempo antes de falecer, em 17 de junho de 2018, Otávio Frias publicou o artigo intitulado "Intervenção Militar", em que aponta os riscos do autoritarismo na política e faz uma defesa intransigente da democracia como -- em suas palavras - “O único sistema capaz de regular uma sociedade atravessada por incontáveis interesses contraditórios”.

    Sua atuação no jornalismo revelou uma das faces de um homem nobre, digno e honrado, sempre comprometido com a verdade e com a defesa do pluralismo.

    Formado em jornalismo e pós-graduado em ciências sociais, Otávio também expressou sua sensibilidade por meio da literatura e da dramaturgia. Deixou-nos belíssimas coletâneas de ensaios, entre as quais se destacam De Ponta Cabeça, Queda Livre e Seleção Natural.

    No campo da dramaturgia, entre suas peças encenadas estão Típico Romântico, Rancor, Don Juan e a versão teatral de O Terceiro Sinal.

    Inúmeras foram as manifestações de grandes jornalistas, escritores e responsáveis por veículos de comunicação de todo o mundo na ocasião do falecimento de Otávio Frias. Valho-me, nesse momento, das palavras do jornalista Vincent Peyrègne, diretor-executivo da Associação Mundial de Jornais, a respeito do nosso homenageado:

Em um contexto difícil, ele construiu para si uma reputação excepcional, de grande integridade. Aquele que, com humildade, recusava o título de repórter soube se impor como um pilar nessa profissão. (...) Ele sempre se colocava na posição de mediador, favorecendo um diálogo aberto com seus leitores. Nesse sentido, era um pioneiro. Seguindo tais princípios, encampava igualmente os valores de um jornalismo progressivo, que transcende os meros fatos em favor da análise, da contextualização, da investigação, iluminando o debate de opiniões e, dessa maneira, passando de provedor de notícias a conhecimento empoderador.

    Assim, Otávio Frias deixou um legado importantíssimo, contribuindo fortemente para o reconhecimento internacional acerca da qualidade jornalismo brasileiro.

    Em tempos de Internet e de periódicos digitais, a Folha segue com seu pioneirismo. Realiza um jornalismo contemporâneo dinâmico e investigativo, que desperta a consciência crítica e incentiva o debate sobre temas fundamentais para o fortalecimento da opinião pública brasileira.

    Sua relevância se firma a cada fato político divulgado, em todos os momentos históricos em que a informação, o bom jornalismo, o debate qualificado são decisivos para o enriquecimento da nossa vida cultural e, sobretudo, para a preservação da democracia.

    Concluo meu pronunciamento, Sr. Presidente, congratulando-me com a ilustre Senadora Kátia Abreu, autora do requerimento que resultou na realização da presente Sessão Especial. Homenagear os grandes brasileiros e os veículos de comunicação que cumprem sua missão com desvelo é dar visibilidade a exemplos de compromisso com um futuro melhor para o nosso País.

    Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

    Muito obrigado.