Pela Liderança durante a 21ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reflexões sobre os acontecimentos ocorridos na Escola Raul Brasil em Suzano(SP). Manifestação favorável à criação de uma comissão destinada a debater o tema das redes sociais.

Autor
Simone Tebet (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
Nome completo: Simone Nassar Tebet
Casa
Senado Federal
Tipo
Pela Liderança
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Reflexões sobre os acontecimentos ocorridos na Escola Raul Brasil em Suzano(SP). Manifestação favorável à criação de uma comissão destinada a debater o tema das redes sociais.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2019 - Página 22
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • ANALISE, FATO, MORTE, CRIANÇA, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, MUNICIPIO, SUZANO (SP), NECESSIDADE, ERRADICAÇÃO, VIOLENCIA, COMBATE, CRIME CIBERNETICO, DEFESA, CULTURA, PAZ.

    A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS. Pela Liderança.) – Obrigada, Sr. Presidente.

    Sr. Presidente, Srs. Senadores, Sras. Senadoras, que me perdoe o educador e poeta que emprestou o nome à Escola Raul Brasil, em Suzano, no Estado de São Paulo, mas hoje bem que ela poderia ser chamada simplesmente de Escola Brasil. É que, infelizmente, hoje fomos acometidos por mais uma barbárie, que, além de trazer comoção e dor a todos nós, tem muito o que nos ensinar, Sr. Presidente. Esses tiros não foram a esmo. Na realidade, os atiradores miraram em todos nós.

    É preciso que não deixemos que a comoção e a indignação dobrem a esquina, para logo ali atingir outras escolas, outras famílias, outras crianças, outros adolescentes, e que as nossas ações não se restrinjam a meros soluços.

    Eu digo isso, Sr. Presidente, me lembrando de Michelangelo. Michelangelo sempre dizia que a arte estava no mármore, bastava ao artista tirar-lhe os excessos e se fazia a luz, e dali brotava a escultura. Hoje, fazendo um paralelo com as crianças, eu fico imaginando: as crianças são um diamante bruto, basta lapidarmos e fazermos dessas crianças seres humanos éticos, responsáveis, cidadãos, ao contrário do que hoje a sociedade no Brasil e no mundo faz com essas crianças, que é dilapidar a sua inocência. No tempo que se perde, o tempo precioso da primeira infância, em que se pode construir um verdadeiro cidadão, em vez de lapidarmos, estamos dilapidando, estamos estragando a inocência das nossas crianças.

    Nós estamos apresentando às nossas crianças um mundo obscuro. Estamos, portanto, entregando a essas crianças, através do excesso da tecnologia, um mundo que não é real. E digo isso, Sr. Presidente, porque me lembro de que, na época da minha avó, o que reinava era um círculo redondo da conversa familiar; já na minha época, com os meus pais, o círculo familiar deu lugar a um semicírculo à frente de uma televisão – e lembro já a minha avó dizendo: "Onde já se viu? Onde foram parar as conversas?", já fazendo uma crítica à televisão. Hoje nós, com os nossos filhos, nos resumimos, individualmente, a estar cada um em um quarto diante de uma tela de celular, através das redes sociais. Nós não mais ensinamos nossos filhos. Nós não conseguimos saber o que nossos filhos estão aprendendo, que mundo obscuro está sendo divulgado através das redes sociais.

    Num momento de comoção, de dor, em que temos que nos solidarizar com as nossas famílias, com as famílias que perdem crianças e jovens, no momento em que esta Casa, sim, tem que fazer o seu papel na CCJ, nas Comissões, em Plenário, aprovando e atualizando o Código de Processo Penal, o Código Penal, é preciso avançar nessa discussão, é preciso termos a profundidade devida. Não basta alterarmos lei! Não basta ficarmos aqui, de forma imediata, dando uma satisfação à sociedade, aumentando pena, discutindo redução da maioridade! Isso tudo tem que estar na pauta do Congresso Nacional, mas é absolutamente inócuo, Sr. Presidente.

(Soa a campainha.)

    A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS) – Desculpe-me, mas, pela relevância do tema, mais pelo menos dois minutos.

    Se nós não só investirmos na educação... Eu vou mais longe: a pauta da violência é tão prioritária quanto a pauta da educação, mas o que eu quero deixar como mensagem hoje é que, mais do que a pauta da violência, mais do que a pauta da educação, é preciso que criemos, ainda que temporariamente, uma comissão provisória ou uma subcomissão, com pelo menos um membro de cada agremiação partidária, para que possamos debater e entender de que forma nós podemos atacar, de forma eficiente, as redes sociais.

    Eu encerro, Sr. Presidente, apenas relembrando algumas coisas muito rápidas em relação às redes sociais: elas transmitem hoje o engenho da morte. Nós estamos falando ali de privacidade que é exposta através de fake news, da vingança pornográfica. Quem antes, até 4 anos, 5 anos atrás, Senador Telmário, tinha ouvido falar em estupro coletivo sendo divulgado em rede social, como aconteceu com a menina no Rio de Janeiro em 2017? Estupro coletivo! Quem ouvia falar de suicídio de crianças e adolescentes por sofrerem bullying nas escolas? Antes, elas eram trazidas para o seio familiar e nós conseguíamos explicar para essa criança que fazia parte do processo da vida; hoje, não, hoje isso é compartilhado com o mundo. Essas crianças e jovens não conseguem lidar com a discriminação, com o bullying e começam a se automutilar – depois do automutilamento, o próximo passo é o suicídio.

    Estamos importando de todos os países – não sabemos de onde surgem – aqueles tipos de brincadeiras que de brincadeira não têm nada em que há marginais por trás do anonimato que seduzem crianças e adolescentes, estimulando que é preciso ter coragem para...

(Soa a campainha.)

    A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS) – ... ligar o botijão de gás, como aconteceu lá na Rússia, acender um fósforo de madrugada e explodir a casa, até chegando, no caso da baleia azul, depois das séries de brincadeiras, a estimular o suicídio. Eu poderia aqui elencar uma série de episódios nefastos que a rede social traz: do homicídio ao suicídio à toda forma de discriminação.

    Eu só encerro dizendo necessariamente que só há um caminho para acabar com a cultura da violência que é a educação, mas, sem trabalharmos e efetivarmos através de uma legislação rigorosa o combate a qualquer tipo de crime cibernético nas redes sociais, nós não conseguiremos de volta ou conseguiremos trazer para o País a cultura da paz.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Muito obrigado, eminente Senadora Simone Tebet. Cumprimento V. Exa. pelo pronunciamento, que interessantemente vai no mesmo caminho do Senador Paulo Paim, que falava há pouco sobre a questão também da pacificação nas redes sociais. Como V. Exa. bem colocou, além de o tema ser fundamental, hoje, nessa tragédia, certamente há algum reflexo. Vamos acompanhar com muita cautela. V. Exa. fez um pronunciamento muito arguto e extremamente oportuno. Meus cumprimentos a V. Exa.

    Vamos agora, na ordem dos oradores inscritos, dar a palavra – já está posicionado – ao eminente, caro amigo, Senador Lasier Martins, Podemos, do Rio Grande do Sul. Com a palavra V. Exa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2019 - Página 22