Discurso durante a 53ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar o 59º aniversário de Brasília.

Autor
Professor Israel Batista (PV - Partido Verde/DF)
Nome completo: Israel Matos Batista
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar o 59º aniversário de Brasília.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2019 - Página 19
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, CELEBRAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, BRASILIA (DF).

    O SR. PROFESSOR ISRAEL BATISTA – Senhoras e senhores, muito bom dia.

    Quero cumprimentar o Sr. Presidente, Senador Izalci Lucas; a Sra. Senadora Leila Barros; o Sr. Senador Chico Rodrigues; meu amigo e Vice-Presidente da Câmara Legislativa, Deputado Distrital Rodrigo Delmasso; representando o nosso Governador do Distrito Federal, o Sr. Vitor Paulo. Quero cumprimentar aqui a Sra. Presidente do Memorial JK, Dona Anna Christina Kubitschek. Quero cumprimentar o Pe. João Firmino, nosso pároco da Catedral. E quero cumprimentar o Sr. Roosevelt Dias Beltrão, Presidente do Clube de Pioneiros de Brasília.

    Brasília valeu a pena. Profetizada por D. Bosco, sonhada por JK, construída por milhares de brasileiros, completamos 59 anos da Capital que despertou a autoestima do nosso Brasil. Um povo desprezado pelo mundo, envergonhado com sua condição miscigenada, mostrou-se capaz das maiores ousadias. No alvorecer da segunda metade do século XX, havia uma profunda mágoa nacional com a trajetória brasileira. Nós estávamos de mal com a nossa história, sempre contada pelo viés do deboche, como se fôssemos herdeiros de criminosos degredados, misturados a raças inferiores. Sim, o racismo era uma ferida aberta. E, se ainda hoje machuca o orgulho brasileiro, naqueles tempos era uma chaga ainda mais inflamada.

    Não acreditávamos no nosso potencial criativo, Senador Izalci, e, por isso, nós não conseguíamos mostrar ao mundo a que tínhamos vindo. Desde a era Vargas, ensaiávamos um processo de desenvolvimento que ainda não havia se consolidado. Apesar da industrialização e do rápido crescimento urbano, as vastidões territoriais brasileiras eram inexploradas. Éramos uma Nação sem feitos extraordinários, sem conquistas consideráveis na ciência ou nos esportes, sem grande projeção econômica, sem repercussão artística nenhuma que nos distinguisse. Como Nação, padecíamos de uma profunda falta de autoestima.

    Mas as coisas estavam prestes a mudar. Depois do dramático início dos anos 50, com o suicídio de Vargas, o Brasil parecia entrar numa nova era. A vitória de Juscelino Kubitschek nas eleições de 1955 e o início da construção da nova Capital colocaram o País numa espiral de autoconfiança nunca vista na história brasileira.

    Brasília foi simbólica para o Brasil. Ela significou desenvolvimento nacional e chancelou de vez a marca de um País que estava pronto para a modernidade. Precisávamos pôr fim a uma tradição de fundar capitais na costa, fruto da colonização de fora para dentro. Precisávamos fazer nascer um centro administrativo nos moldes das grandes capitais europeias, como Londres, Madri, Roma e Paris, que ficavam na beira de rios no interior.

    Brasília trouxe ao centro do País a luz do desenvolvimento e da conexão entre os mais diferentes povos de nossa Nação. Nem Sul, nem Norte, nem Sudeste, nem Nordeste; aqui se fez a Capital de todos. Em sua vinda para a terra que prometia a realização de sonhos, muitas famílias foram ficando pelo caminho, fazendo surgir novas comunidades e até cidades inteiras, conectando a imensidão de nossas terras. Naquele momento histórico, em que ainda havia a ansiedade de nos vermos, de uma vez por todas, livres das amarras do império português, sem resquício de colonização, enfim as portas se abriam para sermos genuinamente brasileiros.

    O novo tempo chegou com o mandato de JK, o Presidente Bossa Nova, capaz de concretizar seu lema de campanha "50 anos em 5". Kubitschek alavancou o processo de modernização do País. Ganhamos o título de Capital da Esperança por André Malraux. Somos, então, o sonho brasileiro que ainda hoje incentiva muitas famílias a abandonarem seus lares e se aventurarem em terras candangas.

    A menina dos olhos de JK ficou pronta em 21 de abril de 1960. O mundo quedou-se boquiaberto diante da capacidade nacional. Era um poema a arquitetura moderna. Naquele momento, morria qualquer crise de autoestima do povo brasileiro. Diante do olhar internacional, provávamos que a cor da nossa pele não nos fazia menores, pois éramos capazes de imensas façanhas. Uma injeção de ânimo atingia nossas veias.

    Além da arquitetura, avançávamos em todas as áreas: da economia às artes. Com todas as críticas que já conhecemos, algumas delas bem fundamentadas, a economia se expandia. Nosso PIB crescia mais de 7% ao ano. Havíamos conquistado a Copa de 1958 na Suécia. A Bossa Nova tornava-se um movimento de repercussão internacional e logo faria o samba dançar com o jazz no Carnegie Hall, em 1962. Garota de Ipanema se tornaria um hit nas paradas de sucesso, sendo uma das canções mais regravadas e traduzidas da história da música mundial.

    O impacto da criação de Brasília para a economia do Centro-Oeste foi grandioso. Brasília foi o passo mais consistente da política nacional de Marcha para o Oeste, levado adiante por tantos pioneiros, como os bandeirantes e o próprio Marechal Rondon. De uma região esquecida e inexplorada até 1960, com pouco mais de 1% da produção regional, o Distrito Federal cresceu extraordinariamente nos últimos 59 anos.

    Segundo estudo do Ipea, Brasília representa cerca de 40% do PIB regional do Centro-Oeste, chegando a ultrapassar, em importância econômica, os limites do Centro-Oeste. É a terceira capital com maior PIB do Brasil. Tem renda per capita média 150% maior que a renda per capita média brasileira. Tem IDH comparável ao das grandes nações. E, claro, temos também grandes desafios. Com nosso IDH tão alto, com o PIB tão alto, com a renda per capita tão alta, nós ainda também amargamos o pior Índice de Gini do Brasil, historicamente – o Índice de Gini mede a desigualdade. Brasília também tem muita desigualdade, e a gente tem que atacar isso, Senador Izalci. Somente em 2018, fomos ultrapassados por Manaus, mas essa foi a primeira vez que nós fomos ultrapassados. Nós, historicamente, somos campeões nessa chaga, que é a desigualdade.

    Brasília foi a primeira construção do século XX a ser declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pelas Nações Unidas, por meio da Unesco. Quem aqui chega se deslumbra com a beleza arquitetônica ímpar, sob o nosso céu esplêndido, também sem igual.

    Projetada por Lúcio Costa, desenhada por Oscar Niemeyer e construída por milhares de operários, pioneiros que, além de acreditaram em um Brasil grande, o fizeram com as próprias mãos.

    Em três anos, a recém-criada Brasília já tinha uma população de 80 mil candangos. Hoje é a terceira maior cidade do Brasil, com 2,974 milhões de habitantes. Visto todo o seu êxito, Brasília é uma das mais importantes metrópoles brasileiras, símbolo de uma era que cumpriu o seu papel de consolidar o domínio sobre o nosso Território continental.

    Cidade vitoriosa, Patrimônio da Humanidade, valeu a pena para o Brasil inteiro.

    Parabéns, Senador Izalci, pela sua iniciativa. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2019 - Página 19