Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o Dia da Lembrança do Holocausto e da Bravura.

Autor
Jaques Wagner (PT - Partido dos Trabalhadores/BA)
Nome completo: Jaques Wagner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Considerações sobre o Dia da Lembrança do Holocausto e da Bravura.
Aparteantes
Roberto Rocha.
Publicação
Publicação no DSF de 08/05/2019 - Página 51
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • MEMORIAL, GENOCIDIO, NAZISMO, BRAVURA.

    O SR. JAQUES WAGNER (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - BA. Para discursar.) – Sr. Presidente, eu venho à tribuna nesta tarde para falar sobre o Dia do Holocausto e da Bravura.

    Caros Senadores e Senadoras, demais convidados, Sr. Presidente, na semana passada, ao entardecer da noite de 1º de maio até o final do dia 2 de maio, celebrou-se o Yom HaShoá, Dia do Holocausto e da Bravura. Nesse dia, as torres do Congresso Nacional, por sua decisão, foram iluminadas com a frase: "Holocausto nunca mais", uma expressiva e significativa homenagem da sociedade brasileira, uma iniciativa da Conib, que recebeu a acolhida de V. Exa., como Presidente da Casa, e do Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Rodrigo Maia.

    Em 19 de abril de 1943, coincidentemente no dia da comemoração da Páscoa judaica, ocorreu o heroico Levante do Gueto de Varsóvia, um acontecimento amplamente documentado em livros e filmes. Naquele dia de liquidação total do gueto, data hebraica 28 do mês de nissan, aconteceram atos de coragem na capital polonesa, combates de poucos contra muitos, de fracos contra fortes, de valentes judeus contra a sofisticada máquina de extermínio dos nazistas. Essa coragem dos combatentes fez com que ao redor do mundo houvesse solidariedade moral e espiritual com as 6 milhões de vítimas brutalmente assassinadas pelo Terceiro Reich.

    Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, essa data foi escolhida pelo museu Yad Vashem, localizado em Jerusalém, para a realização das cerimônias em memória dos judeus assassinados na Europa conquistada pelo Exército alemão. Em Israel, essa data é um feriado, aprovado pelo Parlamento israelense no final da década de 50, para que todos possam rememorar juntos essa tragédia que se abateu sobre a humanidade.

    Outros milhares conseguiram sobreviver, com um custo muito alto de saúde física e mental, pois muitos traumas foram experimentados, deixando sequelas para o resto da vida. O holocausto é a culminância da barbárie da Segunda Guerra Mundial, que fez aproximadamente 50 milhões de vítimas, predominantemente no território europeu.

    Existem legados que são individuais e outros, coletivos. A experiência do holocausto deixa um legado de dor, de solidariedade, mas de muitos aprendizados. Podemos destacar vários autores que escreveram sobre esse momento sinistro da civilização: Primo Levi, Elie Wiesel, entre muitos outros.

    O holocausto é parte indissociável da memória do povo judeu, mas não é um tema particular do povo judeu, ainda que tenha sido este o mais atingido. Outros segmentos da sociedade também foram vitimados: ciganos, presos políticos que pensavam de modo diferente do pensamento dominante do Estado nazista, homossexuais, deficientes físicos e mentais, entre outros. O holocausto pode ser uma importante ferramenta educativa para trabalhar na redução do preconceito, da discriminação, na redução do discurso de ódio, no combate à intolerância religiosa, ao antissemitismo e a todas as formas de preconceito.

    Há poucos dias, foi noticiado que uma rede social de grande importância finalmente decidiu remover páginas de extremistas de direita e antissemitas. Já não era sem tempo. O significado e o ensinamento do holocausto podem nos trazer o reforço de valores importantes, que devem nortear a convivência pacífica das diferenças. Valores como justiça, equidade, humanidade e direitos humanos são alguns dos valores que essa trágica experiência de humanidade nos ensinou e que devem ser preservados a qualquer custo.

    Nas últimas décadas, vem aumentando consideravelmente o número de memorais e museus construídos pelas comunidades judaicas espalhadas pelo mundo – Argentina, França, Inglaterra, Áustria, Alemanha, Holanda, Estados Unidos, Polônia e Rússia. Em nosso País, temos dois equipamentos públicos e comunitários: o Museu do Holocausto, em Curitiba, o Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto e, em breve, o Museu Judaico, ambos localizados em São Paulo. O Rio de Janeiro também terá seu memorial. Todas são formas legítimas de honrar aqueles levados à morte, apenas porque pertenciam a um determinado grupo, em nome de uma suposta raça pura.

    O número de sobreviventes do holocausto no mundo inteiro está minguando. Eles nos estão deixando, e aqueles que ainda estão com vida atingem a faixa etária de 85/95 anos. Certamente, num futuro próximo, a falta de sobreviventes será sentida e, ao mesmo tempo, ela nos obrigará a contar apenas com suas histórias de vida e testemunhos abrigados em museus, memoriais e projetos educativos.

    Temos que nos orgulhar do fato de que esta temática será matéria de estudos dos alunos brasileiros. Este é um dos temas incorporados à Base Nacional Comum Curricular, aprovada em 2017.

    Uma das missões do povo judeu é alertar, sinalizar e se manifestar contra toda e qualquer atitude discriminatória. A violência que nos foi dirigida deixou marcas profundas em nossa identidade. E é sempre bom lembrar, Sr. Presidente, que, muitas vezes, o preconceito se inicia contra um agrupamento, mas nunca termina nesse agrupamento e se espalha como uma erva daninha contra vários grupos humanos.

    Temos a convicção de que é necessário manter vivo na memória da civilização o que foi o holocausto e educar as gerações atuais e as futuras para a prevenção de que nunca mais aconteça nada parecido com nenhuma etnia, nenhuma nação, nenhum povo.

    Caros Senadores e Senadoras, este País sempre foi acolhedor de muitos povos, e é exatamente este um dos aspectos que fazem da nossa Nação brasileira ser grandiosa, plural e vibrante.

    Parabéns, Sr. Presidente, pela acolhida à demanda da Conib. Parabenizo o Presidente da Câmara...

    O Sr. Roberto Rocha (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MA) – Senador Wagner...

    O SR. JAQUES WAGNER (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - BA) – E quero encerrar dizendo: "Holocausto nunca mais!".

    O Sr. Roberto Rocha (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MA) – Senador Wagner.

    O SR. JAQUES WAGNER (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - BA) – Pois não.

    O Sr. Roberto Rocha (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MA. Para apartear.) – Permita-me cumprimentá-lo. Eu quero cumprimentá-lo pelo registro. Eu acho que V. Exa. traz, neste dia, um assunto muito importante para a nossa reflexão. Trata-se de uma página muito triste da história da humanidade, em que, dos 9 milhões de judeus na Europa, à época do regime nazista, dois terços foram exterminados no maior genocídio do século passado. Nós tivemos 6 milhões de pessoas vítimas do holocausto, sendo 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens. É preciso que a gente sempre se lembre dessa página negra da nossa história, como faz V. Exa., para que a gente possa ter iniciativas como a de V. Exa. e do Presidente, Senador Davi, que determinou que fosse colocada, nas duas torres do Congresso Nacional, a expressão "Holocausto nunca mais". Por essa razão, cumprimento V. Exas. por essa iniciativa.

    O SR. JAQUES WAGNER (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - BA) – Muito obrigado.

    Sr. Presidente, era o que eu tinha a comunicar.

    Muito obrigado.

    O SR. PRESIDENTE (Davi Alcolumbre. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - AP) – Eu gostaria também, a tempo, Senador Wagner, de registrar a presença, na tribuna de honra do Senado da República, do Presidente da Confederação Israelita do Brasil, Dr. Fernando Lottenberg. Leve o abraço à comunidade israelita, judaica no nosso País.

    Eu tenho a honra e o privilégio de presidir esta Casa e de acolher essa solicitação de colocar, no Congresso Nacional, essa mensagem para a humanidade e para o Brasil, naturalmente. Então, cumprimento o discurso de V. Exa. nesta tarde.

    Sou judeu...

    O SR. JAQUES WAGNER (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - BA) – Somos.

    O SR. PRESIDENTE (Davi Alcolumbre. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - AP) – Somos judeus, de origem judaica. Minha família veio do Marrocos há mais de cem anos e fincamos pé e raiz no Estado do Amapá. Hoje tenho a honra de presidir o Senado ao lado de V. Exa. e de grandes Senadores que compreendem que essa mensagem é contra o preconceito, contra o racismo, contra a discriminação seja ela qual for.

    Parabéns pelo discurso de V. Exa.!

    Eu abraço e cumprimento a comunidade judaica no Brasil.

    O SR. PLÍNIO VALÉRIO (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - AM) – Presidente...

    O SR. JAQUES WAGNER (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - BA) – Obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/05/2019 - Página 51