Discurso durante a 76ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a produção de energia elétrica no País.

Preocupações em torno das diversas crises institucionais que o Brasil enfrenta, em especial as estimuladas pela atual agenda do Governo Federal.

Autor
Rogério Carvalho (PT - Partido dos Trabalhadores/SE)
Nome completo: Rogério Carvalho Santos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINAS E ENERGIA:
  • Comentários sobre a produção de energia elétrica no País.
GOVERNO FEDERAL:
  • Preocupações em torno das diversas crises institucionais que o Brasil enfrenta, em especial as estimuladas pela atual agenda do Governo Federal.
Aparteantes
Confúcio Moura, Reguffe, Wellington Fagundes.
Publicação
Publicação no DSF de 21/05/2019 - Página 32
Assuntos
Outros > MINAS E ENERGIA
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • COMENTARIO, PRODUÇÃO, ENERGIA ELETRICA, MATRIZ ENERGETICA, ENERGIA EOLICA.
  • PREOCUPAÇÃO, CRISE, ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL, CRITICA, JAIR BOLSONARO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUSENCIA, DIALOGO, LEGISLATIVO, REGISTRO, EDUCAÇÃO, CORTE, RECURSOS FINANCEIROS.

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE. Para discursar.) – Eu queria cumprimentar o Presidente Elmano, cumprimentar todos os Senadores e Senadoras aqui presentes, Senador Telmário Mota, Senador Confúcio Moura. Está aqui o Wellington Fagundes, o Styvenson, o Reguffe, o nosso querido Paulo Paim e tantos outros Senadores que já estiveram aqui hoje, dando sua contribuição ao debate político no nosso País.

    Presidente, eu vim aqui hoje como brasileiro, assim como todos os brasileiros estão se perguntando por que o nosso País, este gigante, este País que tem a maior biodiversidade do mundo, este País que é hoje uma das maiores potências petrolíferas do mundo, este País que tem nióbio, que tem ouro, que tem diamante, este País que tem minas, praticamente todos os minérios, que tem minério que pode ser enriquecido com urânio, que tem tecnologia na área nuclear, que tem uma capacidade de geração de energia elétrica como poucos países do mundo...

    Hoje a nossa matriz energética, a segunda fonte de geração de energia hoje já não é mais a termoelétrica, já é a eólica. Nós temos as hidrelétricas, ou seja, um país que tem um grande potencial.

    Um país que tem uma diversidade cultural que sempre nos orgulhou, que é um grande patrimônio – o povo nordestino com a sua alegria, com a sua riqueza cultural; o povo do Norte com a sua riqueza cultural; o povo do Sul; do Sudeste; do Centro-Oeste –, ou seja, nossa conformação, nossa mistura, nosso sincretismo religioso, cultural. Grandes conquistas ao longo da nossa história, o respeito à diversidade, a clareza e a compreensão sobre a pluralidade de gêneros, isso tudo, ao longo do tempo, a gente foi conquistando.

    Ao mesmo tempo, a gente foi conquistando determinados marcos históricos, como, por exemplo, a Constituição de 1988, que trouxe o nosso sistema de seguridade, saúde, previdência, assistência social, como algo concreto que define o que é ser cidadão brasileiro.

    Do nosso jeito, do nosso modo, fomos bordando o que é ser brasileiro, bordando o Brasil, construindo uma imagem de Nação, a imagem de um povo alegre, de um povo acolhedor, de um povo que resolve as suas questões de forma pacífica, de um povo que não se mete na briga dos outros, de um povo que não é capaz de agredir outra nação por nenhum motivo, respeitando sempre a autonomia e a altivez dos povos e a autodeterminação dos povos.

    Este é o Brasil, o Brasil em que a gente foi se acostumando a viver e a gostar – e se apaixonar por este Brasil.

    E, de repente, não mais do que de repente, a gente entra num buraco, a gente entra num buraco que parece não ter saída, um labirinto em que a gente se perde agora tentando criar uma agenda para o País que parece que não é uma agenda que diz respeito às questões reais do nosso País.

    Então, é a agenda para armar os nossos meninos, as nossas meninas; é o estímulo a armar adolescentes, ensinar a atirar; é o estímulo ao ódio contra os diferentes gêneros que compõem a humanidade e a nossa sociedade; é o estímulo ao racismo, à discriminação; é o estímulo à discriminação de todas as formas.

    E vejam: isso tem, infelizmente uma origem, que foi propalada e defendida por uma pessoa que se chama Olavo de Carvalho, que é o principal mentor do Presidente Bolsonaro e da sua família e que diz que tem que desconstruir, que não veio para construir, mas, sim, para desconstruir. E o que é que significa isso? A desconstrução de quê? A desconstrução daquilo que nos fez ser brasileiros? Daquilo que nos fez ter uma identidade universal? É isso que eles querem destruir? Querem destruir aquilo que é a grande conquista do povo brasileiro, que é ter um sistema de proteção social, que é ter um sistema de seguridade? É isso que eles querem desconstruir?

    E aí fazem uma agenda paralela, que não dialoga com a realidade do Brasil, porque, se a agenda do Governo estivesse dialogando com a realidade do Brasil, nós não estaríamos vivendo, neste momento, uma desaceleração da economia, que chega, neste momento, a 0,68% no primeiro trimestre. A nossa indústria tem uma queda de aproximadamente 6,1%, se fizermos a projeção, ano a ano, do primeiro trimestre. Se estendermos isso e compararmos com o ano de 2018, são 6,1% a menos que nós vamos crescer ou que vamos diminuir no tamanho da indústria. Nós estamos com 28,3 milhões de desempregados – 25% da população brasileira, neste momento, estão desempregados ou subempregados. E a gente olhando para o lado de fora do que é o Brasil!

    Recentemente, o ataque veio ao tema que estava sendo abordado aqui brilhantemente pelo Senador Confúcio, que é a educação. Vejam os senhores o risco que a gente está correndo. O ataque à educação veio inicialmente a três universidades, e o argumento era que aquelas universidades estavam vivendo uma balbúrdia – balbúrdia, diga-se, liberdade de expressão. E, por conta da liberdade de expressão dessas três universidades, essas universidades são punidas, como se, ao gerir um país com a complexidade do Brasil, as relações institucionais pudessem ser tratadas como mero instrumento de domínio meu ou do dirigente de um órgão como o Ministério da Educação e de outro órgão, assim fazendo prevalecer uma vontade individual ideológica que massacra três instituições, a UFMG, a Universidade Federal da Bahia e, se eu não estou enganado, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, porque estava havendo balbúrdia! Aí a sociedade reage, e dizem: "Não, nós vamos fazer um corte". Fazem um corte de 30%, e, quando a sociedade reage, dizem que não é um corte, que é um contingenciamento, mas é um corte, porque, no contingenciamento, continua, no sistema, aquela verba sendo destinada às universidades, dizendo que ela está simplesmente suspensa momentaneamente. Agora, não; é um corte, pois eles retiraram a verba. E aí nós vimos as manifestações agora mais recentes. Depois que a população foi para a rua, que reagiu aos cortes, que disse que as universidades são um patrimônio do povo brasileiro e que não cabe a ninguém, nem a nenhum Governo, destruir esse patrimônio, a população deu o recado: não destrua esse patrimônio, porque esse patrimônio não pertence a nenhum Governo, ele pertence ao Estado e ao povo do Brasil. Foi esse o recado que as ruas deram ou que a rua deu para este Governo, que mandou para o Governo Bolsonaro.

    E, como se não bastasse, o Ministério da Educação de novo vem e agora diz, Confúcio, que os pró-reitores agora serão escolhidos não mais pelos reitores; agora serão escolhidos pelo MEC, tirando a autonomia dos reitores, que são gestores das universidades, de definir quem são os seus auxiliares. Isso é patrulha ideológica! Isso é uma doença que acomete o Governo central e que está acometendo todo o nosso País: é "ideologiose", a doença da ideologia. Eu posso ter os meus princípios de defesa de um Estado democrático, de um Estado que faça distribuição de riqueza, de um Estado mais solidário, mas são meus princípios! Eu não posso atropelar e, pela minha vontade, criar um ambiente paralelo ao que é o País para fazer prevalecer uma ideologia que não dialoga com a história deste País. E é isso que a gente está vivendo neste momento.

    Preparemo-nos, porque este mesmo Governo, que, neste momento, ataca a autonomia das universidades, que persegue as universidades e transforma as universidades no seu grande inimigo, porque supõe que as universidades são um lugar de uma ideologia diferente da dele ou são polo difusor de uma ideologia diferente da dele e, por isso, devem ser destruídas, massacradas, ofuscadas... Se isso é verdade, então, se eu penso diferente deste Governo, eu também vou ser perseguido, massacrado. Vejam a gravidade do que aconteceu essa semana com a demissão do Presidente do Inep. Ele foi demitido por quê? Porque tentou utilizar dados invioláveis dos alunos do Enem para fins que não se sabem quais, mas para bisbilhotar, para criar algum tipo de constrangimento, com certeza. Então, se eu não gosto e se eu não quero estar com você, eu persigo, eu puno.

    Aí vejam os fatos vindo, vejam que estão dando demonstrações de aonde querem chegar. Esta semana, o Presidente disse que o País é ingovernável. Esta semana, o Presidente disse que não consegue dialogar com o Parlamento. Esta semana, ele disse que não consegue dialogar com quem foi eleito para representar os diversos segmentos da sociedade brasileira que representam a diversidade do Brasil. Ele disse que não suporta, em outras palavras, governar na democracia! Ele disse, em outras palavras, que ele não consegue governar o País em um regime democrático! Ele apontou para onde ele quer ir; ele está dizendo a todos que quer montar, neste País, um governo que subjuga tudo e todos à sua lógica ideológica.

    E nem o Senado, nem a Câmara, nem nenhum Parlamentar podem abrir mão deste que é o maior dos princípios e pilares de uma sociedade que é a democracia. O que está em risco, neste momento, Senador Confúcio, é a democracia; o que está em risco, neste momento, é a vontade da maioria prevalecer; e o que está em risco, neste momento, é a possibilidade de a gente construir um caminho para o Brasil a partir do diálogo, do entendimento, do acolhimento dos diferentes.

    E olhem. Eu quero mandar um recado: na história deste País, em tantos setores, mesmo com a loucura com que este Governo conduz as suas intervenções, nunca se viu tanta boa vontade dos diversos setores para construir o entendimento. Se a gente observar as medidas provisórias que este Governo mandou para as duas Casas e que foram discutidas nas Comissões mistas, veremos que houve entendimento, houve acordo naquilo que foi possível. Então, não é que estas Casas não tenham a disposição de construir entendimento em favor do País; é que quem governa o Brasil não sabe o que é governar, não sabe o que é a democracia e não sabe o que é construir entendimentos a partir da ideia, a partir daquilo que é central que é ter o que apresentar.

    O problema que a gente está vendo é que há pouca suficiência para apresentar ao Congresso que caminho nós vamos seguir. Nós não recebemos aqui nenhuma política para gerar emprego e renda, para aquecer a economia, para tirar o País da paralisia; nós não vimos nenhum plano de investimento do setor público para aquecer a economia; nós não vimos nenhuma proposta para melhorar a performance da nossa indústria, da indústria da construção civil, dos diversos setores que representam cadeias produtivas que, quando ativadas, movimentam toda a economia e podem gerar emprego, renda, podem aquecer e podem tirar a economia da paralisação; nós não estamos vendo uma política para que as empresas públicas possam cumprir o papel estratégico de gerar empregos, negócios, renda; nós não estamos vendo nada disso. Então, o País corre o risco de parar.

    Eu quero dizer a todos, inclusive ao Governo, do qual não faço parte, que o Senado não vai cruzar os braços diante dos desafios do País. Eu tenho certeza de que, aqui no Senado, os partidos que estão aqui representados apresentarão, sim, uma agenda consensual para evitar o mal maior, que é a derrocada da nossa economia e a depressão econômica. Nós, apesar de oposição, não queremos uma depressão econômica, porque quem paga não é o Presidente e o seu clã; quem paga é o povo do Brasil! E nós não vamos compactuar com o quanto pior melhor. Nós vamos construir, nesta Casa, com todos os pares de todos os partidos, caminhos que possam melhorar a performance econômica, que, por que não dizer de forma clara, inclua todos os brasileiros.

    Nós não podemos também abrir mão de garantir aos mais pobres o direito à prosperidade, à tranquilidade e ao conforto mínimo, que é o que as pessoas querem. Quem trabalhou com gente, como o Senador Confúcio, que exerceu a profissão lidando com gente muito necessitada, sabe que o projeto de vida dessas pessoas ou da maioria das pessoas é o projeto de ter uma vida minimamente confortável – poder comer, poder se vestir, poder sonhar com a casa e poder ter um filho fazendo uma faculdade.

(Soa a campainha.)

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – E o de quem tem uma pequena propriedade rural é ter energia elétrica, é poder ter um equipamento, é poder fazer funcionar a vida com menos sacrifício. Esse é um desafio que está dado para a gente.

    Eu queria, Sr. Presidente, para concluir, dizer que, apesar dos descaminhos deste Governo, tenho certeza de que aqui, juntos... E foram eleitos 54 Senadores novos ou Senadores que já estavam e que renovaram os seus mandatos, mas que, portanto, foram eleitos, e 513 do outro lado, na outra Casa Parlamentar. Nós também fomos eleitos. Aqui o grande comandante de tudo isso é o povo, é S. Exa. o povo; aqui nós não vamos bater continência para a bandeira americana; aqui nós não vamos bater continência para nenhum dirigente. Nós vamos bater continência para os interesses do Brasil. Não à submissão e à subserviência que este Governo demonstrou diante de outro país! Ele não tem que bater continência nem se subordinar, porque é uma ofensa ao povo brasileiro a hora em que ele bate continência para a bandeira dos Estados Unidos e para o Governo americano. Parece uma bobagem, mas isso é uma agressão ao nosso País, ao nosso povo, à República e ao que ele representa. Ele não está ali como Bolsonaro; ele está ali como o Presidente do Brasil, representando esta instituição que é a Presidência da República, e ele não pode humilhar e trazer todos nós como subservientes! Não que aquela pátria não mereça o nosso respeito, mas, antes de tudo, merecem respeito o povo brasileiro e o Brasil. E, aonde ele for, é levada a condição de Presidente da República, dada pelas urnas, mas, da mesma forma, para concluir, nós fomos levados a estar aqui nesta tribuna pelas urnas, por S. Exa. o povo do Brasil.

    Aqui, nesta Casa, nós vamos travar todos os debates para garantir que o Brasil não entre numa depressão econômica, para que o Brasil não entre no caos e na desorganização social. Que nós, juntos, consigamos definir o rumo do Brasil!

    Muito obrigado, Sr. Presidente...

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO. Para apartear.) – Senador Rogério, um aparte.

    Antes, o primeiro ou o segundo discurso da tarde foi do Senador Alvaro Dias, que, mesmo sendo adversário político do Presidente Bolsonaro, falou que a base política dele é o povo, que aquilo que for importante para o povo é importante para ele, importante para o nosso País. V. Exa. também com toda a sua vibração...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – ... aborda o mesmo sentido: o respeito aos princípios democráticos, o respeito à diferença de opinião, o debate livre e aberto. Assim também falou o Paim, que fez um discurso memorável hoje à tarde aqui. V. Exa. completa a tarde com o seu pronunciamento amplo. O senhor mergulha desde o mundo das universidades, que deu oportunidade a V. Exa. de ser doutor na Unicamp e a mim também de formar, graduar em Medicina pela Universidade de Goiás... E isso é uma oportunidade raríssima na minha situação, pois sou sertanejo do fundo do Matopiba, aqui do Estado do Tocantins com Piauí e Bahia. Então, eu concordo com V. Exa. que o mais importante de tudo é o debate democrático, é o respeito por pensar diferente, é ouvir as alternativas da oposição.

    Luís Eduardo Magalhães, quando assumiu a Presidência da Câmara nos anos 90, falava que os Deputados tinham medo de fazer oposição e que ele gostaria, como Presidente, que houvesse o debate e houvesse a oposição. E ele era do PFL naquela ocasião. Ele gostaria que os Deputados Federais subissem à tribuna e se opusessem para que o debate na Câmara, naquela ocasião, fosse mais bonito e mais frutífero, para que fossem feitos os acordos que a democracia estabelece como limite.

    Eu quero parabenizar V. Exa. pelo seu discurso. O senhor é preparadíssimo, aborda temas maravilhosos sendo declaradamente de oposição, mas também apontando os rumos, os caminhos que o Brasil deve perseguir.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Parabéns a V. Exa.!

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – Obrigado, Senador Confúcio.

    O SR. PRESIDENTE (Elmano Férrer. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PI) – Antes, eu queria que a nossa imortal Senadora Ana Amélia tivesse assento aqui, mas eu gostaria, meu nobre Rogério Carvalho, de fazer uma rápida consideração a respeito do pronunciamento de V. Exa., sobretudo da parte introdutória, ou seja, mostrar a riqueza do nosso País, a dimensão das oportunidades econômicas sob todos os aspectos: mineral, recursos e um povo de um universo de 208 milhões de brasileiros. V. Exa. mostrou toda essa realidade que nós somos e temos, mas como usar isso... E, em outra parte, houve as considerações com relação ao Governo.

    Nós estamos aqui há praticamente 4,5 meses, como também o Governo que aí está, o Governo do Bolsonaro...

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Elmano Férrer. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PI) – E eu queria registrar aqui a presença da nossa eterna Senadora Ana Amélia e dizer que sua ausência aqui tem sido sentida por nós todos, por mim, principalmente, pela grande contribuição que deu ao Brasil aqui nesta Casa. É um prazer recebê-la sempre. Falo em nome de todos os demais Senadores e do Presidente desta Casa, Davi Alcolumbre. Seja bem-vinda a esta Casa, que continua sua!

    Agora, nobre Rogério, é exatamente a nossa Casa do Senado que é a Casa da moderação, da conciliação, do entendimento. Eu vejo que é uma oportunidade. Assim como nós viemos para cá numa eleição direta, pela vontade da maioria do povo dos nossos Estados, nós temos que buscar a construção disso através de mãos dadas. Eu creio que realmente, no princípio de qualquer Governo, há um descompasso. Realmente, há uma pressa muito grande do povo por uma resposta deste atual Governo. Eu fui convidado pelo Fernando Bezerra para ser Vice-Líder. Essa preocupação nos toca a todos, mas eu vejo que o entendimento e o diálogo, agora sobretudo, mais do que nunca, estão a merecer uma busca incessante. E creio que nenhum partido se furtará a esse diálogo. Sabemos que há incompreensões de um lado e de outro, mas eu acredito muito no diálogo, na busca do entendimento dentro de uma democracia plena que é a que nós estamos vivendo.

    O pronunciamento de V. Exa. foi de grande profundidade, de grande conteúdo. Eu creio que é isto: a democracia tem que ser exteriorizada, materializada através de pronunciamentos como V. Exa. o fez nesta Casa hoje.

    Eu ainda aposto e creio que nós, esta Casa e a Câmara dos Deputados, vamos encontrar uma solução política. A solução realmente é política. E esse é um desejo de todos. Vejo na equipe do Governo que aí está vários valores – há na equipe militares que estão na reserva servindo ao País, há talentos. Temos realmente um descompasso aqui e acolá que talvez seja a maior preocupação das oposições hoje no nosso País.

    Reconhecemos todos a situação dramática da paralisação econômica. Nós estamos, de algum tempo, desde 2008, numa crise inquestionável em decorrência da mudança das eleições – houve uma mudança radical, não resta dúvida. Daí a inteligência nossa de buscar essa convivência com os contrários.

    As palavras de V. Exa. foram de grande conteúdo, com uma análise profunda do momento que nós vivenciamos. Eu queria, com essas considerações, parabenizar V. Exa. pela qualidade do pronunciamento e pela preocupação de V. Exa. que é a minha como cidadão, como Senador. Tenho preocupação com o momento que nós vivenciamos, mas sempre acreditando no diálogo, no entendimento, que é isso que V. Exa., no final do pronunciamento, fez aqui.

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – Obrigado, Sr. Presidente.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF. Para apartear.) – Senador Rogério, eu quero voltar ao que eu falei aqui...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Eu fiz um pronunciamento, na semana passada, sobre o momento que o País vive.

    Este País neste momento tem que ter respeito à posição, ao posicionamento e à opinião de todas as pessoas, independentemente de como elas pensam.

    Hoje, a gente vive uma espécie de ditadura do pensamento único, em que ninguém pode discordar, em que discordar virou um crime. Não se pode pensar. E pensar diferente é um crime. E não é assim que a gente vai construir um país.

    Eu acho que a primeira premissa deve ser que o posicionamento do outro deve ser respeitado, seja ele qual for. V. Exa. tem o direito de fazer críticas ao Governo, os Parlamentares que estão aqui, da base, têm o direito de defender o Governo. Todos têm o direito de opinar nas suas redes sociais. O que não pode é a pessoa ser agredida pela opinião dela, o que está ocorrendo muito no nosso País hoje.

    Essa ditadura do pensamento único, de que eu falei semana passada, ocorre quando a pessoa não consegue respeitar sequer – não é concordar, é respeitar – a posição do outro. Isso faz com que as pessoas passem a ser constrangidas de emitir as suas opiniões. E não é assim que a gente vai construir um país. Não é assim que a gente vai construir o país com o que a gente sonha.

    Eu acho que o respeito à opinião diversa, o respeito à opinião divergente é algo que deve ser premissa neste País, não só no Parlamento, mas também na sociedade, nas redes sociais. Senão, este País não vai por um bom caminho.

    Eu acho que todas as pessoas têm de ter o direito de emitir as suas opiniões, têm de ser incentivadas a emitir as suas opiniões e não podem ser constrangidas de falar o que pensam e de expressar o que está na sua consciência.

    Então...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – ... eu considero que este é um momento muito perigoso do País, em que as pessoas passam a ser constrangidas de poderem falar o que pensam, de poderem emitir as suas opiniões.

    E não vai ser assim que nós vamos construir o país com o que a gente sonha para os nossos filhos, para os netos, para aqueles para quem a gente quer deixar o País.

    Eu queria, aqui, dizer a V. Exa., que veio para esta Casa mostrando um enorme conteúdo, uma enorme preocupação, que V. Exa. tem de ter o direito de emitir as suas opiniões, assim como todos os Parlamentares aqui, assim como todos os cidadãos. Eu conheço pessoas hoje que, antes, colocavam a sua opinião numa rede social e não colocam mais porque dá briga, porque não aceitam a opinião contrária.

    Não é assim. Não é sem ter o respeito à posição do outro que a gente vai construir o país dos nossos sonhos.

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – Eu queria, Sr. Presidente, para concluir, primeiro agradecer...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT) – Senador Rogério, também gostaria de fazer um aparte a V. Exa.

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – Pois não, Senador Wellington.

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT. Para apartear.) – Primeiro, registro com satisfação a atuação de V. Exa., sempre moderado, um médico humanitário, com certeza. Foi Secretário do seu Estado, Sergipe.

    Nós temos muito mato-grossenses que foram para lá também, em busca da soja, da cultura da soja, depois de terem ido ao Rio Grande do Sul.

    V. Exa. foi também Deputado Estadual, Deputado Federal. Tivemos oportunidade de ter um mandato juntos. Agora, estamos aqui no Senado da República.

    Claro, com esta mudança tão grande, com tantos novos Parlamentares aqui no Senado, muitos poderiam imaginar que isto aqui iria virar a Casa da confusão. E olhem que surpresa agradável: muito pelo contrário. O Senado volta a ser a Casa da moderação, com discursos como o que V. Exa. acaba de fazer aqui...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT) – ... colocando os pontos, marcando posição, mas também chamando à responsabilidade, porque eu já disse algumas vezes, da tribuna, que Juscelino Kubitschek dizia que governar é a arte de saber perdoar e de agregar.

    Então, a campanha é normal, cada um coloca os seus posicionamentos, até posicionamentos que, depois, não serão implantados por alguns no seu mandato. E eu, inclusive, fiz um projeto de lei no sentido de que, para todos no Executivo que apresentassem o seu programa de governo, teria que ser lei, teria que ser cumprido, para não existir exatamente a campanha da falácia.

    Mas V. Exa... Nessa linha, muitos ganham a eleição, mas ganhar a eleição é uma etapa. Depois de ganhar a eleição, tem que governar, seja um Prefeito, um Governador, um Presidente da República. E governar para todos, não pode governar com a visão...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT) – ... de governar apenas para quem votou naquele cidadão. Não, nós aqui como Senadores também temos o compromisso de ajudar o País, de ajudar os nossos Governadores, de ajudar os nossos Prefeitos.

    Eu disputei uma eleição em Mato Grosso e estou lá... Já estive com o Governador em várias reuniões levando, hipotecando o meu apoio e levando recursos. Se ele fizer um bom mandato, será muito bom para o Estado; se não fizer, vamos disputar a eleição novamente.

    Agora, essa atenção que V. Exa. mostra, inclusive, mostrando a pluralidade do País, mas também as diferenças regionais tão grandes... Para isso, temos que ter, acima de tudo o diálogo, acima de tudo o respeito às ideias como foi tão falado aqui, e as posições diferentes também, porque regionalmente nós temos as posições que nos levam a estar aqui a defender as nossas bandeiras.

    Então, quero parabenizar V. Exa., inclusive, que atendeu uma mato-grossense, apresentando um projeto aqui da Amália Barros, que é o projeto dos monoculares, Senador Elmano. É uma pessoa do Mato Grosso, uma grande líder, uma jovem que teve um problema em um dos olhos. Ela, então, apresentou essa reivindicação, e um Senador lá do Sergipe foi atender uma mato-grossense exatamente através das suas pesquisas, vendo a importância de apresentar esse projeto. Eu tenho a felicidade de ser coautor, e vamos aprovar, porque isso é trazer dignidade, trazer mais respeito.

    Quando a Ana Amália lutou por esse projeto... Ela tem uma boa condição de vida, não é para ela, é justamente para as pessoas mais carentes serem, com as próteses, atendidas pelo SUS.

    Então, parabéns a V. Exa., tenho certeza de que vamos conviver aqui mais quatro anos, e eu vou aprender muito com V. Exa.

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – Eu queria agradecer, Sr. Presidente, ao Senador Reguffe, ao Senador Wellington Fagundes, ao Confúcio e a todos que pediram apartes.

    Eu queria dizer o seguinte: eu tenho a convicção de que nenhuma explicação individual é capaz de explicar a complexidade da realidade. Portanto, se a gente tem um foco, se a gente tem algo para resolver, quanto mais visões sobre aquele problema, sobre aquela situação, maior a riqueza da leitura sobre o problema e sobre a situação e, portanto, a possibilidade de a gente construir soluções mais complexas, mais completas também vem junto.

    Por isso, a democracia, apesar da dificuldade de construir o entendimento, apesar da dificuldade de articular, de trazer, ela...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROGÉRIO CARVALHO (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - SE) – ... quando produz, produz saídas e caminhos mais consistentes, porque dão conta da complexidade da vida.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/05/2019 - Página 32