Discurso durante a 92ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise sobre a história da educação no Brasil, da Proclamação da República até 1930.

Autor
Confúcio Moura (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Confúcio Aires Moura
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Análise sobre a história da educação no Brasil, da Proclamação da República até 1930.
Aparteantes
Eduardo Girão, Paulo Paim, Wellington Fagundes.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/2019 - Página 13
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • ANALISE, HISTORIA, EDUCAÇÃO, BRASIL.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO. Para discursar.) – Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, Senador Kajuru, Senador Paim, os demais que estão nos gabinetes, nosso querido Presidente Izalci Lucas, é com imensa satisfação que eu retorno a esta tribuna para dar continuidade aos discursos em série que eu estou fazendo sobre a história da educação, desde o descobrimento do Brasil até hoje.

    Eu ainda estou na Velha República de 1920, da Proclamação da República até 1930.

    Há 40 anos que eu estou estudando, e hoje o meu discurso vai ainda na Velha República, mostrando a educação nos anos 20 – de 1920 a 1930. Essa série que eu estou fazendo, igual a essas séries da Netflix, é para mostrar, verificar o que é que a gente pode fazer hoje, o que é que deu errado nesse sequenciamento histórico do Brasil, onde nós erramos. É igual à mãe do menino, que, de vez em quando, quando o menino faz besteira, entra para o alcoolismo, entra para as drogas, ela fala: "Mas onde é que eu errei? Onde é que eu errei?" Então, nós estamos aqui agora analisando onde é que nós erramos no Brasil sobre a educação, porque, passado esse tempo todo, até hoje a educação brasileira, infelizmente, é uma das piores do mundo. É muito mal avaliada no cenário mundial.

    Então, assim, eu continuo o meu discurso em série, e hoje eu estou aqui exatamente no ano de 1920. Uma das primeiras tentativas de universalização do acesso ao ensino foi a reforma de Sampaio Dória em São Paulo, em 1920, preocupado com o fato, naquela época, de a metade da população de sete a 12 anos estar fora da sala de aula. Então ele era chefe de instrução pública do Estado de São Paulo e propôs uma etapa inicial de dois anos de educação gratuita obrigatória. O projeto, logicamente, não avançou, mas inspirou outras iniciativas importantes mais para frente.

    Em 1922, era a vez do Ceará, por meio da reforma realizada por Lourenço Filho, encampar o ideal do ensino público, universal e gratuito. Em 1925, as mudanças chegam à Bahia com Anísio Teixeira – Anísio Teixeira é, realmente, importantíssimo; estudou, trabalhou muito na educação brasileira, até pouco tempo atrás –, também com suas ideias revolucionárias. Em 1927, Francisco Campos reforma as bases do ensino no Estado de Minas Gerais. Por fim, em 1928, Fernando Azevedo, no Distrito Federal, Rio de Janeiro, e Carneiro Leão, em Pernambuco, também propõem a ampliação de rede de escolas e a reformulação curricular.

    Como se pode perceber, as propostas ocorrem, sobretudo, no âmbito dos Estados – isso é importantíssimo ser falado: ocorre nos Estados; é São Paulo, Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro, Minas Gerais, que foram fazendo as coisas acontecerem na área da educação por iniciativa dos seus Governadores. As discussões passam ao largo do Congresso Nacional – no Senado, Câmara dos Deputados, não se falava nada de educação –, limitado pelas restrições impostas pelo modelo federativo, adotado na Constituição de 1891.

    Destacam-se, porém, três grandes reformas federais no período, todas elas gestadas pelo Ministério da Instrução Pública, sem muita participação do Congresso Nacional. A reforma de Rivadávia Corrêa, de 1911 – um pouquinho antes –, de cunho liberalizante, que promove uma desregulamentação radical na educação; a reforma de Carlos Maximiliano, de 1915, que reverte a autonomia conferida, cria o exame vestibular – em 1915! – e estabelece a inspeção rigorosa dos estabelecimentos de ensino.

    E aqui há a reforma de Rocha Vaz, essa reforma de 1925, que institui – parece que é hoje, olhem bem essa coisa aqui – , o controle ideológico sobre o sistema de ensino – olhem, o que o professor pensa e o que o aluno pensa em 1925 –, que instituiu o controle ideológico com a criação do componente curricular, a Instrução Moral e Cívica. Então, aquela disciplina Moral e Cívica foi criada em 1925 por Rocha Vaz. Olhem bem a preocupação com o controle ideológico e as expressões das escolas.

    À parte das iniciativas governamentais, são criadas ao longo da década as primeiras escolas operárias geridas pela própria comunidade e inspiradas nos ideais anarquistas e na pedagogia libertária de Francisco Ferrer Guardia.

    Por fim, começam a se destacar no período os precursores da Escola Nova, que defendiam a escola pública, laica, igualitária, sem privilégios, cujo manifesto, porém, seria oficialmente publicado em 1932, já no período Vargas. Nesse último caso, o entusiasmo pela educação começava a ser substituído pelo otimismo pedagógico, que passava a ver na qualidade da educação um dos fatores que limitavam a sua universalização.

    Propugnava a Escola Nova não apenas o alargamento e a difusão da rede de ensino público, mas a transformação pela educação do homem brasileiro com a devida preparação técnica para as tarefas sociais.

    Todas essas disparidades, Srs. Senadores, vão sendo canalizadas para a lenta e progressiva construção de um consenso sobre a importância da educação, que deságua na criação, em 1924, da Associação Brasileira de Educação, liderada por Heitor Lyra da Silva. A Associação Brasileira de Educação promoveu, entre 1927 e 1929, as três primeiras conferências nacionais voltadas para os interesses da educacionais. É importante isso.

    A movimentação do período em que ideais positivistas e humanitários de católicos anarquistas escolanovistas passaram a concorrer pela definição da agenda nacional do País. Não produziu, porém, resultados expressivos. Olhem que tristeza: todo diagnóstico feito, mas não foi para frente o movimento da Associação Brasileira de Educação. Não apenas a taxa de analfabetismo continuava muito expressiva, isso em 1927, mas também as taxas de reprovação atingiam a metade dos alunos matriculados, e a evasão escolar também era uma regra geral.

    Em 1935, ou seja, cinco anos após o fim da República velha, 54 % das crianças brasileiras ainda estavam fora da sala de aula. Olhem, 54%, na década de 1930, não estudavam de jeito nenhum. Pelo senso de 1940, em pleno Estado Novo, a taxa de analfabetismo no Brasil era de 56%.

    Em 1920, a taxa de analfabetos era de 65%; em 1900, era 65%. Então, vejam o analfabetismo campeando no Brasil por essa situação no século XX.

    No entanto, o período da República Velha foi essencial para que compreendamos, hoje, a gênese de muitas características que ainda hoje delineiam a educação brasileira. Esse retorno às origens é essencial para que superemos a encruzilhada atual.

    Em primeiro lugar, a ideia de que a educação é a solução para todos os problemas do País parece ter surgido no contexto da Primeira República, a República Velha. Embora tenha o mérito de tornar a educação um tema central na agenda nacional, esse destaque termina por deslocar da economia e da formação social a origem dos problemas relevantes e pode mesmo encobrir a consideração de outros problemas estruturais que seguramente afetam o Brasil. É importante, pois, que reflitamos sobre estes pontos: a educação, a economia e também as políticas sociais.

    Em segundo lugar, Sr. Presidente, a Primeira República foi o celeiro que germinou boa parte das ideias pedagógicas que ainda hoje orientam o sistema educacional brasileiro, assim como os seus muitos dilemas – entre o ensino positivista e o ensino humanista, por exemplo; entre o modelo seriado e o modelo não seriado de progressão escolar; entre a quantidade de vagas e a qualidade do ensino, o número de alunos por sala; entre a educação como instrumento de conservação ou de transformação da sociedade; entre a educação como responsabilidade dos entes federais ou como matéria da própria União.

    Então, a gente pode observar que as ideias surgiram, muitas, ricas, extraordinárias ideias, pensamentos avançados em 1920, 1930.

    Também é um tema frequente da Velha República a preocupação com a possibilidade de se transplantarem para o contexto brasileiro os modelos educacionais que funcionavam bem em outros países, assim como várias alternativas metodológicas disponíveis, sejam elas baseadas na memorização, na autoridade, na criação ou na liberdade.

    Enfim, Sr. Presidente, olhar para a República Velha é investir na própria origem do nosso sistema educacional. Como já recomendava o mexicano Octavio Paz, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, em momentos de crise, como a que vivemos hoje, uma sociedade deveria se voltar para o seu próprio passado e ali procurar algum sinal.

    A Primeira República é normalmente referida como República que não foi, que não cumpriu promessa de extensão de direitos e de cidadania e que se tornou, efetivamente, governo de todos para todos. Então, segundo muitos, essa República não existiu, mas a gente viu que existiu. Voltar a ela é uma oportunidade de entender por que, até hoje, mais de cem anos depois, a sua proposta permanece, pelo menos em termos educacionais, inconclusa, incompleta, inacabada.

    É minha sugestão, Sr. Presidente, que nos proponhamos a reatar os fios da nossa história, não apenas para que não venhamos a repetir os mesmos erros, mas sobretudo para que possamos acertar, e acertar conscientemente os rumos da educação deste País.

    Caríssimos Senadores, telespectadores, eu fico muito preocupado com essa história triste do descaso com a educação ao longo dos tempos, da nossa história. Houve um apagão. Eu estou aqui destacando pontos luminosos aqui e ali de pessoas fantásticas que já se preocuparam no passado, mas que não conseguiram ter consistência nas suas ideias. Eu acho que o Senador Girão está aqui, e aqui eu citei o nome de um cearense que fez um trabalho lá na década de 20 e parece que lá deu certo, que lá o pouco foi andando, foi andando, foi andando, e o Cid Gomes aqui, sentado, me falou: "olha, Confúcio, das 100 melhores escolas brasileiras, 80 estão no Ceará."

    Vejam uma coisa dessas: das 100 melhores escolas brasileiras, de todo o País, de todas as 27 unidades federadas, de 100 escolas mais destacadas pelo MEC, 80 estão no Estado do Ceará. Isso é um motivo de muito orgulho daquele Estado, e olhem bem a coisa: não é iniciativa do Ministério da Educação. Os destaques nacionais são ideias de Prefeitos, ideias de Governadores insurgentes, não seguindo a cartilha do MEC. E parece que a história vai e volta, e hoje nós estamos repetindo.

    Na semana que vem eu farei uma série de discursos. A década de Vargas é hoje. É interessante! No próximo discurso, por isso que eu estou chamando a atenção aqui, igual novela, na melhor parte a gente termina, na época de Vargas era exatamente a mesma lenga-lenga do que estamos vendo hoje aqui, essa dificuldade do Ministro, essa falta de coerência, as manifestações, a não aceitação de tudo.

    Parece que a história vai vai e volta, é um ciclo permanente de fazer e desfazer. A falta de consecução, a falta de um Presidente pegar o que o outro fez e dar continuidade. Isso dá um prejuízo para a Nação, tão grande que você não é capaz de imaginar. Um Presidente, um Governador faz, faz, faz, faz e, quando termina o mandato o outro fala: "tudo o que ele fez está errado, vamos começar da estaca zero". E é um prejuízo para a Nação incrível, a falta de consecutividade, a falta de sequenciamento, a falta de respeito, a falta de compromisso estratégico com o País.

    Assim, Sr. Presidente, eu encerro as minhas palavras por hoje, agradecendo esta atenção.

    Eu deixo sempre para fazer os meus discursos sobre a educação, ou na quinta, ou na sexta, ou na segunda-feira, porque é mais tranquilo. Na terça e na quarta é dia de pauta cheia e a gente não deve ficar atrapalhando aquelas propostas constitucionais, os debates interessantes, e um discurso longo termina atrapalhando os líderes de encaminharem as proposições. Então eu deixo assim mais para o final de semana e, graças a Deus, a gente tem aqui o Izalci, o Kajuru, tem o Girão, tem os Senadores que tocam as sessões não deliberativas.

     Se não fôssemos nós cinco, seis, sete que tocamos aqui, quase sempre os mesmos, a sessão não existira nos fins de semana. Então, nós estamos aqui para dar esse brilho e trazer as ideias lindas, dos discursos memoráveis, porque dá mais tempo, para que a população brasileira saiba a atuação efetiva e a vontade dos Senadores.

    Gente, muito obrigado.

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT) – Senador Confúcio...

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – Senador Confúcio, um aparte.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Pois não, Senador.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – Senador Wellington, fique à vontade para fazer primeiro.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Pois não, Senador Wellington Fagundes.

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT. Para apartear.) – Sempre a oportunidade de poder aparteá-lo é extremamente importante, porque V. Exa. sempre está na tribuna com a educação, a calma que faz com que a gente possa também ter um pouco mais de serenidade. Isso é muito bom.

    V. Exa. aborda aí o tema, vem já fazendo uma série de pronunciamentos sobre a questão da educação. Isso é fundamental, porque às vezes, muitos que nos assistem não conhecem, não têm a oportunidade de ver um pronunciamento com qualidade e principalmente falando de educação historicamente. Falando historicamente do que aconteceu no passado, mas claro, pensando no futuro, nas futuras gerações, respeitando os idosos, enfim. Então, por isso eu quero parabenizá-lo, e também fazer uma reflexão aqui quanto ao papel daqueles que estão à frente do comando da educação brasileira, principalmente o Ministério da Educação.

    Essa semana passada, V. Exa. até esteve conosco na Comissão de Educação, onde estávamos lá com as cinco novíssimas universidades criadas no Brasil: duas universidades em Goiás, Jataí e Catalão; também mais duas no Nordeste, Parnaíba; e mais uma no Mato Grosso, no meu Mato Grosso, na minha cidade natal, Rondonópolis, a Universidade Federal da Região Sudeste de Mato Grosso.

    Todas essas universidades estão sendo criadas a partir do desmembramento das universidades atuais, ou seja, já são campi consolidados, como é o caso de Rondonópolis, com um campus de mais de quarenta anos, onde já temos praticamente todos os cursos naquela universidade, naquele campus – cursos da área de Engenharia, Zootecnia, Medicina, enfim, todas as áreas. E então, através de um trabalho que fizemos, conseguimos então, junto com outros companheiros, tanto aqui do Senado, como da Câmara, provocar, e a Presidente mandou, à época a Presidente Dilma, o projeto de lei para o Congresso Nacional, e aqui acompanhamos na Casa e conseguimos aprovar e ter a sanção presidencial.

    Isso criou, claro, uma expectativa muito grande na nossa população, já que Mato Grosso é um Estado com 900 mil quilômetros quadrados, muito grande, e com regiões bem diferenciadas, que são a região do Araguaia, a região do Norte de Mato Grosso, com sede em Sinop, e Rondonópolis ao sul, juntamente com a nossa capital, que é um centro. Cuiabá é o centro geodésico da América do Sul. E Barra do Garça é o centro do Brasil. Então essa população criou uma expectativa, e está aí todo o processo esbarrado numa burocracia da criação de dois cargos, para que a gente possa ter definitivamente a soberania dessas universidades, implantando ou nomeando o reitor pro tempore, e aí ela passa a ter o seu CNPJ.

    É bom dizer que todas essas universidades já têm o orçamento deste ano. E têm a tutoria das universidades. Essa transição está sendo totalmente tranquila. As universidades todas, e eu falo em especial a de Mato Grosso, apoiaram a criação, o que vem sendo trabalhado exatamente dado o tamanho e a importância da economia do nosso Estado. O nosso Estado é o Estado que mais produz produtos agropecuários.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Wellington Fagundes (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - MT) – Então, esse é um aspecto que eu gostaria de colocar. Sobre a educação brasileira, a meu ver, neste momento, o Ministro precisava se debruçar exatamente para que a gente pudesse fazer com que as nossas universidades tivessem a vocação desenvolvimentista regional.

    Eu cheguei a dizer para o próprio Presidente da República, Jair Bolsonaro, da necessidade de ele decidir logo isso. É claro que se podem escolher reitores que serão nomeados com a visão deste novo Governo. Ao invés de ficar o embate se o Ministério está cheio de esquerda, de direita, vamos fazer a modernização necessária e vamos pegar principalmente essas novas universidades, em que há a total possibilidade de o Governo implementar, de forma até inusitada, até com mais facilidade, a visão deste Governo de fazer uma universidade desenvolvimentista.

    Mas V. Exa. também discute a educação como um todo. É claro, eu tenho citado a questão do ensino profissionalizante, de como ele é fundamental para o Brasil. Agora há pouco estava o Senador Kajuru falando do Sistema S. Precisamos também fazer com que o Sistema S possa ser dinamizado, e não acabar com um sistema que está funcionando muito bem.

    Quero parabenizar aqui o Presidente Davi, que já orientou a criação de uma comissão especial, exatamente para a gente trabalhar a modernização do Sistema S. Nós não podemos nem pensar em falar acabar com um sistema que funciona muito bem, o Sistema s como um todo, principalmente na área da educação.

    E há, é claro, a questão do ensino básico. É fundamental investirmos nas nossas crianças. Fala-se tanto de armas, de armar a população. Mas, olha, não quero nem entrar nesse mérito; eu quero entrar no mérito de que uma criança, numa creche, custa 10% de um preso numa cadeia ou numa penitenciária.

    Então, ao invés de se construir penitenciária, vamos investir nas nossas escolas, vamos investir nos nossos professores, para fazer a revolução de que este País tanto fala. Para isso, é preciso investir principalmente no professor, na qualificação do professor, em salário digno, enfim, fazer com que a gente possa estimular a educação, fazer com que a família participe também do processo educacional das nossas crianças.

    Eu sempre tenho utilizado o termo "escolarizar a nossa educação". O que é escolarizar a educação? É levar a família para dentro das escolas, a Associação de Pais e Mestres, fazer com que a família se envolva no processo educacional, porque hoje muitos acham: "Não, isso é problema da escola. A educação é problema da escola." Não, a principal função da escola é ensinar; educar cabe à família, que vai junto à escola participar daquele processo. Às vezes, o pai pode ser inclusive ensinado também pela escola. Mesmo que ele não esteja lá, que ele seja ensinado a como cuidar do filho, desde a saúde e tudo o mais, como a convivência das crianças, a preservação do patrimônio público. Às vezes, a gente vai numa escola que foi reformada e, seis meses depois, ela está totalmente depredada.

    Então, penso que esse pronunciamento que V. Exa. vem aqui fazendo, digamos, numa sequência, é exatamente para chamar – penso que V. Exa. tem essa pretensão – a atenção, historicamente, à complexidade.

    Não é só a decisão de um Ministro – entrou de plantão, muda tudo. Não, tudo isso precisa ser feito paulatinamente, com muita seriedade e, claro, com muito cuidado.

    Eu quero parabenizar V. Exa., que já foi Governador e Deputado Federal e que hoje aqui no Senado é essa voz que tem mostrado serenidade e principalmente experiência, que será importante para que a gente possa fazer essa revolução tão necessária no País.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Muito obrigado, Senador.

    Senador Girão.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE. Para apartear.) – Meu querido Senador Confúcio Moura, mais uma vez, parabéns pelo seu discurso, pelo seu pronunciamento sempre muito sereno, muito objetivo nessa pauta que o senhor abraçou desde o início desta jornada aqui no Senado.

    Eu só queria, já que o senhor citou o meu Ceará, que é considerado a Terra da Luz, porque foi o primeiro local no Brasil a libertar os escravos; é a Terra da Luz... Eu acho que a gente vive uma escravidão ainda nessa questão da educação. Embora os índices lá do Estado do Ceará sejam índices acima da média nacional, reconhecendo que houve uma busca por excelência, eu me questiono: com todos esses investimentos que houve, com todas essas 80 escolas – das 100 melhores escolas do Brasil, 80 estão no Ceará –, por que o Estado do Ceará é um dos mais violentos do mundo? Por que Fortaleza é a sétima capital mais violenta do mundo, do Planeta Terra? Essa relação é o que me intriga. Não é você ter uma educação formal ou uma educação tradicional com altos índices de excelência que traz...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – ... uma sociedade mais pacífica. Pelo menos, o investimento do Estado do Ceará nesse aspecto não mostrou isso. É algo em que eu queria me aprofundar com V. Exa., que é um estudioso da educação no Brasil: por que acontece isso? Será que é o tipo da educação?

    Aí eu vou para aquela tese que eu já levei para a Comissão de Educação, que eu já trouxe para o Plenário algumas vezes: no meu modo de entender, com todas as minhas limitações e imperfeições, inclusive nessa área, acredito que a chave sejam valores humanos. Tem que haver um diferencial no ensino, um diferencial no que está formalmente estruturado no MEC; é preciso um componente chamado formação de caráter, formação de valores, de princípios, valores humanos.

    E aí eu vou àquela escola da Índia de que eu lhe falei que é Sathya Sai Educare, que eu tive oportunidade de visitar na Índia e faz uma revolução na cultura da paz, uma revolução com base em cinco valores: amor, não violência, retidão, verdade e paz. E eu tive a oportunidade de visitar uma escola aqui no Brasil – já há dezenas de escola nesse modelo.

    E eu fui visitar uma escola do Senador Styvenson, que está sentado ali, ao lado do Presidente desta sessão, o Senador Izalci, que é uma escola compartilhada com a Polícia Militar do Rio Grande do Norte. Ela foi adotada. São educadores, pedagogos, junto com a Polícia Militar. Rapaz, eu saí de lá encantado com a amorosidade dos alunos, com a ordem, com a disciplina... Isso, sim, no meu modo de entender, faz uma diferença verdadeira na educação e vai baixar os índices de violência na comunidade. Na comunidade lá, no bairro... Senador Styvenson, como é o nome? Bom Pastor?

(Intervenção fora do microfone.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – Bom Pastor. Olhem como ficou marcado o bairro lá de Natal, onde tive a oportunidade de ver a escola. Os índices já começaram a cair. A escola iria fechar, porque o tráfico já estava entrando, já estavam as crianças indo embora, os pais já preocupados... Com esse acolhimento da Polícia Militar...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – ... junto com toda a estrutura da Secretaria de Educação do Rio Grande, as filas de espera para entrar na escola já são muito grandes, e os resultados... Se o senhor tirar um final de semana e visitar essa escola... Eu sei que o Presidente, o Senador Izalci, vai querer que V. Exa. visite também as escolas aqui do DF, que estão nessa linha, e as de Goiás também – em Goiás, é mais pura, escola já militarizada.

    É algo a se pensar, porque a educação formal não está dando resultado no Brasil! Precisamos ter um componente a mais.

    Era esse o aparte que eu gostaria de fazer.

    Eu lhe agradeço pela atenção.

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Muito obrigado, Senador Girão.

    Que esses apartes sejam incorporados...

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador Confúcio, V. Exa. me permite um minuto só?

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Pois não, Senador Paim.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – Só quero dizer a V. Exa. que eu estou um pouco animado com a negociação que está acontecendo para a sessão do Congresso que vai ser na terça para a gente aprovar aquele recurso de que o Governo diz que está precisando – que, se não engano, é 250 milhões, mais ou menos isso –, e, pelo outro lado, o Governo liberaria o dinheiro que ficou no caixa do Tesouro correspondente à educação. Aquele corte que houve, enfim, o Governo liberaria. Espero que esse acordo aconteça. Investimento na educação é o caminho.

    Parabéns!

    O SR. CONFÚCIO MOURA (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Muito obrigado.

    Eu peço à Mesa para incorporar esses apartes importantíssimos, ricos ao meu discurso, que fica mais completo com esses posicionamentos.

    Agradeço a todos e peço aos Senadores que vão falar que me desculpem, porque me prestigiaram tanto com seus apartes, e eu vou ter uma audiência lá no Ministério de Ciência e Tecnologia agora, às dez e pouquinho, e eu não vou poder ficar para corresponder e aparteá-los também. Então, muito obrigado a todos.

    Bom dia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/2019 - Página 13